Duck Detective: The Secret Salami | Review
Ah, nada como alimentar a Senhora Justiça! Para isso, Duck Detective: The Secret Salami é um game de mistério que coloca jogadores no papel de Eugene McQuacklin, um pato detetive recentemente separado e desesperado por um trabalho para tirá-lo da miséria.
Parodiando os clichês dos filmes noir de investigadores solitários e deprimidos dos anos 1940, Duck Detective: The Secret Salami brinca com as aventuras point and click trazendo o caso do “mistério do salami” e te fará buscar pistas num escritório isométrico com um elenco animal (literalmente) e excelente trabalho de voz.
Já deu pra entender que este é um jogo de mistério e aventura, certo? Desenvolvido e publicado pela Happy Broccoli Games, um estúdio indie com menos de 20 pessoas, o título chegou no último 23 de maio para PC e Nintendo Switch. Uma versão para Xbox também está nos planos.
O Mistério do Salami
Numa noite chuvosa, debochadamente simulando a narrativa de filmes clássicos como Pacto de Sangue (1946) e O Falcão Maltês (1941), Duck Detective: The Secret Salami começa na bagunçada sala de Eugene McQuacklin, um pato que tenta ganhar a vida como investigador particular depois de sair da força policial, se divorciar e que se engana quanto ao seu irremediável vício em pão de forma.
A luz entrepassa as lâminas das persianas, o distintivo repousa sobre o arquivo e as fatias de pão espalhadas pelo colchão mofado arrinconado no canto do cenário isométrico dão o tom inicial ao deixarem claro que McQuacklin, o nosso Pato Detetive, não está nada bem. Para piorar a situação, os envelopes passados por baixo da porta reforçam os aluguéis atrasados e a ameaça de despejo.
Assim, o lugar de trabalho do Pato Detetive é o tutorial do título cuja proposta é garimpar detalhes ao interagir com objetos – cartas, celulares, qualquer coisa que possa trazer informações novas para serem conectadas. Desta forma, entendemos o que aconteceu com Eugene e porque ele se encontra nesta situação.
Quase todo objeto investigado adiciona algumas palavras ao seu caderno de anotações e, para que tudo faça sentido na cabeça de Eugene, devemos preencher as frases na aba de deduções (“Deducktions”, no belo trocadilho em inglês do game). Ao colecionar palavras, o jogador sempre aumenta suas chances de completar corretamente as frases que levam Eugene McQuacklin a tirar conclusões – esta é a base do título.
De repente, o telefone toca! Pensando que era Ana, sua ex-mulher, quem ligava, ele atende desesperado e diz ser um pato mudado. Mas – surpresa! – era um caso novo, um caso sobre… o mistério sobre almoço roubado e um ladrão que deixa salami no lugar do que foi levado.
No dia seguinte, de ressaca, o Pato Detetive chega ao escritório da BearBus, uma pequena empresa de ônibus com cultura e clima organizacional avacalhados, para dizer o mínimo. Entretanto, problema à vista: Eugene não se lembra quem ligou! Este é o primeiro enigma a ser decifrado numa série de reviravoltas estranhas!
Aos poucos, cabe a você, jogador, ligar pistas para descobrir o nome dos personagens animais e suas motivações e alianças – uma girafa recepcionista que está triste porque os colegas esqueceram de seu aniversário; a gata do serviço ao cliente, workaholic e estressada, sem aumento e que sempre tem sua caneca roubada; o crocodilo de quem ninguém gosta falsamente (?) incriminado… Além deles, uma ovelha, um pinguim, um búfalo e um urso. Sem contar o coala protestando na frente da empresa por se sentir desrespeitado!
Jogabilidade
Bem no comecinho, Duck Detective: The Secret Salami ensina uma técnica, já que a girafa recepcionista não acredita que você foi contratado por alguém da BearBus para investigar o sumiço da comida. A “Inspeção” nos aproxima de um bilhete ou de um personagem com uma lupa e nos permite examinar minuciosamente os detalhes. Essa vistoria adiciona novas palavras ao repertório além de nos ajudar a conectar os pontos da trama.
Com a lupa em mãos, por exemplo, você lê o sobrenome no crachá da recepcionista, Wintheimer, vê pelos olhos chorosos dela que ela está triste, assim como seu broche entrega seu gosto por K-pop. Desta forma, o detetive ganha não só as palavras “K-pop fan”, “sad” e “Wintheimer” como também dicas sutis que servirão no futuro breve.
Revire a caixa de sugestões para entender que alguém faz aniversário hoje. Olhe o calendário marcado na parede para desvendar quem poderia ser… Ora, ora! Volte ao caderno de anotações, procure a frase sobre a recepcionista e encaixe as palavras corretas para ver os desdobramentos. Quem sabe… talvez tudo do que ela precisa seja um pouco de atenção e alguém que se lembre do aniversário!
Percebeu como os termos não estão em português? O maior crime (desculpe!) de Duck Detective: The Secret Salami é somente estar disponível em inglês e em nenhum outro idioma. Talvez seja pela dificuldade em reorganizar a estrutura da principal mecânica, as Deducktions, mas seria incrível se este delicioso jogo pudesse ser traduzido.
A girafa é apenas o primeiro personagem… Além de termos avulsos, Eugene descobrirá nomes, sobrenomes e funções – é seu papel dar colocar o nome certo abaixo de todos os retratos dos “Suspeitos” e se lembrar do trabalho do elenco.
Com o progresso, seu repertório fica mais extenso e provas serão adicionadas como um valioso recurso para interrogatórios. Por exemplo, um papel escrito serve como indício para confrontar um suspeito, revelando novidades.
Desta forma, pelas diferentes áreas do escritório da BearBus – da recepção ao estacionamento, passando até pela cozinha –, vamos colhendo pistas, conhecendo estações, ler panfletos de itens proibidos nos ônibus e cartas com pedido de promoção, além de decifrar senhas de usuários para logar no computador de colegas de trabalho preguiçosos.
Tudo porque o almoço roubado vira uma bola de neve em função do Bandido Salami, um ladrão sorrateiro que leva pertences deixando salames no lugar. Quem diria? Fãs de aventuras de apontar e clicar terão as mãos cheias por umas três horas em uma aventura divertida e muito bem-escrita, porém unicamente em inglês.
Visuais e sons
Com seu estilo isométrico nas andanças e desenhos simples durante a investigação, Duck Detective: The Secret Salami talvez não chame a atenção dos entusiastas gráficos, mas vale uma distinção: as ilustrações parecem muitas aquelas em ligne claire (linha clara) do autor belga Hergé, criador de As Aventuras de Tintim.
A linha clara é marcada pela ausência de sombras, contornos definidos e desenhos claros e expressivos, assim, pasme, a proposta casa muitíssimo bem com um point and click debochado, fantasioso e maravilhosamente caprichado.
Desta forma, alertas visuais são impossíveis de passar em branco e o microcosmo da BearBus é vivo, saturado, uma charge interativa de um local de trabalho completamente disfuncional, ainda que os personagens praticamente não tenham animações.
O maior trunfo do jogo certamente vive na edição de som: todas as falas estão dubladas (mais uma vez, em inglês) por atores de voz e por uma direção pra lá de competentes. Os animais soam como estão convencionadas as caricaturas em desenho animado de suas respectivas espécies – a gata estressada em especial rouba a cena. Um trabalho incrível que só faz transportar o jogador-investigador para dentro do game.
E restam os temas musicais, belas composições simples, ao tom da paródia dos filmes que citei, como se o pato que você controla fosse Humphrey Bogart ao som de uma jazz lento e algo sombrio. Num jogo tão curto, as composições duram o tempo certo e somam no fator imersão.
Vale a pena jogar Duck Detective: The Secret Salami?
Se você for fã de jogos point and click e não se importar com o texto e falas em inglês, Duck Detective: The Secret Salami proporciona duas ou três horas de uma excelente experiência em busca da solução de um mistério com um preço honesto pela sua breve duração e sua ótima qualidade em geral. Caso contrário… é daqueles nichos difíceis de recomendar aos não iniciados no gênero ou àqueles que encontram uma barreira no idioma. Este é um jogo cujo único pecado é a ausência de tradução.
Particularmente, me surpreendi com o refino de Duck Detective: The Secret Salami e fechei mais duas vezes seguidas para testar se o final dependia de algumas decisões nossas (sem spoilers, mas sim, as escolhas de Eugene interfere na resolução de alguma forma). O desenrolar da trama é tão natural que ficamos com a tristeza de querer um pouco mais, de encontrar mais títulos como este. Se tivesse outro mistério, adoraria passar mais tempo com Eugene McQuacklin.
Por favor, Happy Broccoli Games, crie mais games deste estilo e experimente com eles!
Duck Detective: The Secret Salami está disponível para PC, via Steam e GOG.com, e Nintendo Switch, com uma versão para Xbox chegando em data posterior.
*Review elaborada no Nintendo Switch, com código fornecido pela Happy Broccoli Games.