Harvestella | Review
Harvestella é um JRPG, misturado com simulador de roça e da vida diária no campo, desenvolvido e publicado pela Square Enix. Visto por muitos como um mix de Final Fantasy com Harvest Moon (ou Stardew Valley, para os mais novos), o título propõe uma história clássica dos JRPG de fantasia sobre uma base forte de agricultura familiar. Interessante.
Será que essa ideia, perdoem-me a piada, vingou? É o que veremos agora, em mais uma análise do Pizza Fria.
Chocobo rural
LEITOR(A)! Cuidado onde pisa, acabei de gastar uma parte considerável de meu tempo e energia (que poderiam ter sido gastos comendo ou jogando videojogos) arando este pedaço de terra para plantar leguminosas e outras coisas do campo. De fato, leitor(a). Ao passado foi relegado o Matheus citadino, acostumado com as comodidades e facilidades da modernidade. É a nova era, meus caros.
Mas, não pensem que essa mudança veio do nada. Muito pelo contrário. Como toda grande mudança em minha vida, o impulso inicial se deu após o contato com um jojinho de computador. Sendo, no caso, nosso objeto de fofocas desta semana: Harvestella. E que curioso é seu caso, afinal. Lembro-me nitidamente de ter lido que o título teria uma pegada de JRPG clássico, como vemos nos outros títulos da S.E, somado aos elementos de fazendinha de velhos conhecidos nossos como Rune Factory ou Stardew Valley.
Mas senhor Tatu, você poderia me perguntar, os outros dois títulos que falou acima já não faziam isso? Bem, de certa forma. Mas o que diferencia Harvestella, como veremos, é a proximidade de estilo e feel com títulos já consagrados da produtora. Diria, inclusive, que ele se conecta muito mais com um JRPG de ação, como um Star Ocean The Divine Force por exemplo, do que com qualquer simulador de campesinato.
Continuemos. Harvestella coloca-nos no comando de [insira seu nome aqui], protagonista espetacular criado por nós. Devo dizer que a Square Enix ganhou pontos comigo por colocar a opção de não-binário na seleção de gêneros de nosso boneco. Representatividade é importante, e sempre deve ser louvada. Uma pena, infelizmente, que a suíte de criação seja extremamente básica, com modelos pouco diferenciados e quase nada para se customizar.
A história começa com nossa protagonista acordando sem memória, para surpresa total da nação, em meio a um fenômeno natural chamado Quietus. Por algum motivo, ele começou a ocorrer uma vez por estação e é temido por todos devido ao seu suposto poder destrutivo. Nada acontece com a gente, por outro lado. Somos salvos por uma médica chamada Cres e apresentado para todos da vila de onde ela veio.
Daí em diante, a trama segue no bom e velho estilo dos JRPG já consagrados da empresa. Temos cristais em decadência, fadas, conflitos internos, viagem no tempo (?), entre outros. Mais interessante que isso, no entanto, é a forma como Harvestella constrói seus personagens centrais e auxiliares. Seja através das missões principais, seja das secundárias, temos muitas oportunidades para entender como cada um funciona e os motivos para tal. Além disso, o jogo põe à mesa questões pesadas relacionadas a perda, ao ciclo da vida e outras temáticas que nos convidam à reflexão. Magnífico!
A jogabilidade de Harvestella se divide em duas partes, basicamente: fazendinha e JRPG. Comecemos pela primeira. Como todo simulador rural, temos dias divididos entre quatro estações. Cada estação tem suas plantinhas específicas, podemos colher e vender o que quisermos, aumentar nossa propriedade, criar novos itens e pratos baseado no que queremos, o padrão. Os dias passam e precisamos de energia para tudo que fazemos, que se recupera ao comer ou descansar.
Eu achei essa metade muito bem-feita, ainda que simples. Temos a opção de fazer bastante coisa em nossa terra, e tudo cresce bem rápido. Além disso, melhorias para equipamentos, receitas de crafting e outras coisas mais podem ser obtidas aos montes através de missões principais e secundárias, entrega de pedidos específicos de uma fadinha ou por exploração.
Tudo funciona bem, mas não chega a um nível de complexidade como visto em Stardew Valley, ao menos. A impressão que tive é que a simulação chocobo rural em Harvestella serve mais como um ganha pão para comprarmos itens e melhorarmos nossos equipamentos do que algo definitivamente essencial ao sucesso. Em boa medida, podemos dizer que não seria surpresa nos pegarmos fazendo várias missões, curtindo a vibe, e nos esquecendo de colher as cenouras plantadas semana passada.
Não que seja ruim, pelo contrário. O crescimento rápido do plantio e as quantidades obtidas fazem com que nossa fazendinha fique rentável bem rápido. Mas, talvez seja um pouco linear e direto demais para aqueles que buscassem uma experiência mais alinhada com o que é visto em outros títulos do gênero. Mais focado em ser uma fonte de renda do que algo a mais, de certo modo.
Hora do lado B. Harvestella também é um JRPG de ação de respeito, casando um sistema de jobs, como vimos em vários jogos da franquia Final Fantasy, com um esquema de batalha em tempo real. Nossa heroína pode equipar uma série de classes diferentes, indo desde usuários de força bruta até magos, por exemplo. Algumas são liberadas de acordo com a história, outras através de membros que encontramos para nosso time.
O combate, como falei, ocorre em tempo real e é bem simples. Temos um botão para ataque, para correr mais rápido, para trazer o menu de skills e um para trocarmos de job. Podemos manter até três deles no acesso rápido. Isso é bom porque sempre precisamos trocar de especialidade e elementos para poder dar o dano adequado aos inimigos. Ponto positivo, pois ajuda a combater o marasmo trazido pela pouca complexidade na hora do furdunço.
Além disso, podemos recrutar diversos personagens para compor nossa equipe. Levamos dois conosco a todo momento, e eles são uma grande ajuda. Passaremos boa parte do tempo explorando, e o apoio é essencial. Ainda que lutar seja muito fácil, achei até um tanto relaxante. Se vier esperando algo mais desafiador pode ficar levemente frustrado, entretanto.
Sons e Visuais
Visualmente, Harvestella é um jogo competente. As artes são muito bonitas, e me lembram muito o que vi em títulos como Bravely Default. Os cenários, e modelos, são variados, bonitos e bem animados. Isso é essencial, pois ajuda a deixar o mundo vivo e nos dá a sensação de que as estações passam e que os lugares que visitamos e exploramos estão sempre vivos e pulsantes. Contudo, as texturas deixam um pouco a desejar. Certos pontos do jogo senti uma vibe bem geração anterior, mas nada que afundasse o barco.
A trilha sonora é sensacional, com músicas agradáveis e positivamente fascinantes. Seja cultivando ou explorando, sempre haverá um som para te relaxar e dar aquela sensação maravilhosa de conforto. Contudo, uma pena não terem colocado dublagem em nada. Temos sons básicos de “oooh”, “hyaa”, e outras baboseiras. Mas ter apenas texto sem nenhuma voz acompanhando é tão década passada. Que rude.
Vale a pena comprar Harvestella?
Leitoras e leitores, é tempo! Irei descer a letra e voltar para o trabalho exaustivo de observar a grama crescer. Que sofrência! Bom, vejamos se Harvestella realmente vai ter o que é preciso para manter nossa atenção. Como de praxe, comecemos pelo que há de pior. O título casa bem o lado fazenda com o JRPG, mas o primeiro parece muito mais um apoio do primeiro do que tudo. Ainda é maneiro construir e manter nossa roça, mas quem procurar algo mais para o lado Harvest Moon da força pode ficar um pouco decepcionado. Além disso, os visuais são bons, mas as texturas fazem tudo parecer last gen. E sem dublagem de voz? Sério?
Por outro lado, os elementos caipiras ainda são bem relaxantes, o jogo aborda temáticas interessantes e provocantes, o sistema de jobs é redondinho e temos muito conteúdo para explorar e encontrar. Entre missões principais, secundárias e coisas do campo, temos muito o que fazer e bastante a descobrir. Harvestella, definitivamente, se tornou meu jogo de relaxamento e tranquilidade da estação. Barbudos carecas lutando na neve? Pfft, até parece. O negócio do futuro, bacanas, são as máquinas agrícolas.
Em toda seriedade, Harvestella é uma boa pedida para todos os fãs de jogos de fazendinha e JRPG, de ação ou não, em geral. O excesso de simplicidade em alguns pontos, somado com as texturas simplistas e a falta de vozes, pode espantar aqueles que busquem algo mais hardcore. Mas o relaxamento refino da experiência, somado às diversas mecânicas e a grande quantidade de conteúdo, fazem com que o tempo gasto com o jogo vale a pena. Logo, recomendo.
Harvestella chegou no dia 4 de novembro e está disponível para Nintendo Switch e PC, via Steam. O game alcançou uma média de 73 pontos no Metacritic.
*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce GTX, com código fornecido pela Square Enix.
Harvestella
+ R$ 249,90Prós
- Jogabilidade relaxante
- Trilha sonora chique
- Sistema de jobs dá uma complexidade adicional a um combate que seria, de outra forma, muito simples
- Trama bem explorada, com personagens profundos e questões interessantes levantadas
- Opção não-binária é um passo importante
Contras
- Sistema de fazenda acaba sendo coadjuvante, quando poderia ser protagonista
- Texturas fazem o jogo parecer um pouco geração passada
- 2022 ano da copa, e sem dublagem de voz?