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Alfred Hitchcock – Vertigo | Review

Microids e a Pendulo Studios tiveram uma tarefa árdua em aproveitar a ideia de um dos maiores gênios do cinema mundial, Alfred Hitchcock, para construir um jogo com a premissa de um dos filmes mais brilhantes que eu já vi, Vertigo. Alfred Hitchcock – Vertigo carrega um peso enorme em seu nome, algo que automaticamente causa grandes expectativas aos jogadores, sobretudo naqueles que, como eu, são fãs de cinema e narrativa. Nos colocando em uma aventura investigativa, o título é envolto em mistérios e diálogos que fazem toda a diferença no decorrer da história. O jogo, que já está disponível para PC, via Steam e GOG, teve seu lançamento para consoles adiado para este ano, mas sem data definida.

Sem mais delongas, vamos nos aprofundar na trama cheia de mistérios de Alfred Hitchcock – Vertigo e ver se realmente o título chega à altura do “Mestre do Suspense”. Vem comigo, em mais uma análise do Pizza Fria!

Uma narrativa diferenciada, mas ainda muito linear

Em Alfred Hitchcock – Vertigo, somos colocado na pele de Ed Miller, um escritor confuso que saiu mais confuso ainda após seu carro cair em um desfiladeiro na Califórnia. E a confusão aumenta ainda mais quando Ed insiste em dizer que viajava com mulher e filha, mas não nenhuma delas foram encontradas nos destroços do carro, algo que deixa o personagem (e o jogador, obviamente) ainda mais perturbado. Completamente traumatizado pelo ocorrido, o personagem começa a ter sérios problemas com vertigens. A partir do acompanhamento terapêutico, feito sob muito custo por conta de seu enorme ego, Ed vai tentar descobrir o que aconteceu realmente naquele dia trágico.

Desta maneira, somos introduzidos a um mundo em que não sabemos distinguir o que é “real” e o que não é. Assim, as investigações ocorridas ao longo da trama são perturbadoras, nos levando ao centro da mente humana. E como a própria sinopse do game diz: a verdade é por vezes pior do que a loucura. E enquanto descobrimos cada detalhe do game, somos imersos nas perturbações e Ed, recordando diversos acontecimentos de sua vida.

Alfred Hitchcock - Vertigo
Onde tudo começa em Alfred Hitchcock – Vertigo. (Imagem: Divulgação)

Como é possível de se perceber, a narrativa é totalmente diferente da conhecida pelo filme de Alfred Hitchcock. O mais próximo que o game tem com Vertigo (ou Um Corpo que Cai), filme de 1958 é a mistura insana entre o que é verdade e o que é ficção. Alfred Hitchcock – Vertigo consegue fazer isso muito bem, deixando nós, jogadores, completamente envoltos e curiosos para saber os desfechos possíveis para a vida de Ed. Ele tinha mesmo uma família ou está alucinando com suas próprias histórias? Essa é uma das várias perguntas que nos fazemos ao longo do jogo…

Ah, e um ponto importante é que o jogo, por ter uma história bem profunda, conta com alguns gatilhos como algumas tentativas de suicídio (algo que já aparece no início do game), dopar uma pessoa para tirar proveito sexual dela e até mesmo matar uma criança. Assim, é bom deixar claro que é um jogo forte e que tais aspectos devem ser considerados. Saúde mental é muito importante! Não consegui formar uma opinião sobre como ou por qual motivo colocaram isso em um jogo, mas a arte está aí para causar incômodo, e com os jogos não seria diferente.

Alfred Hitchcock - Vertigo
Revisitar o passado é algo comum no jogo. (Imagem: Divulgação)

A jogabilidade é feita de pequenas ações e memórias, muitas memórias…

Logo de imediato, somos bombardeados com inúmeros acontecimentos, algo que nem dá tempo pra gente entender tudo de cara. Até aí, tudo bem. Mas tal como outros jogos mais narrativos, Alfred Hitchcock – Vertigo utiliza-se do pressionar de botões para executar certas ações em cena. Em alguns casos, esse tipo de recurso traz até uma certa dramaticidade. No entanto, é irritante que em outros variados momentos como cuidar do gato ou beber água, você tenha que seguir o que é pedido na tela. Isso corta bastante a fluidez do game que, por ser bem narrativo, segue um ritmo variado de jogador para jogador.

A trama começa a tomar forma a partir das sessões de hipnose feitas pela Dra. Julia Lomas, que vai quebrando aos poucos a resistência do protagonista com a ideia de ser analisado. Ao longo dessas sessões, Ed volta no tempo em variadas memórias, conseguindo recordar de detalhes que a narrativa do game em um primeiro momento deixa obscuro. Esse ponto da jogabilidade de Alfred Hitchcock – Vertigo traz um “quê” interessante das relações das pessoas com o passado. No caso de Ed, confrontamos lembranças de infância e de outros momentos de sua vida. Tudo isso com a Dra. Lomas forçando a mão para encontrar possíveis respostas. Mas enfim, a psicologia não é bem assim, mas valeu a ideia pela dramaticidade.

Alfred Hitchcock - Vertigo
A Dra. Julia Lomas tem um baita desafio ao cuidar da vertigem de Ed. (Imagem: Divulgação)

A busca pela “Verdade” (ênfase no V maiúsculo) é feita a partir dessas ações coordenadas pela Dra. Lomas e as ações do próprio personagem no retorno a esse passado. Se as memórias foram criadas por ele mesmo durante seu processo de isolamento na tentativa de escrever um novo livro ou se realmente aconteceram, é algo que você só saberá jogando. Afinal de contas, dar spoilers é um baita vacilo!

A questão que vale deixar clara, sem falar mais da narrativa, é que a jogabilidade de Alfred Hitchcock – Vertigo é extremamente linear. A impressão que fiquei é que as nuances dos diálogos do jogo e os diferentes caminhos que seguimos nos enganam mais do que fazem algum efeito narrativo impactante. Parando para refletir, talvez a ausência de variações torne a experiência de Alfred Hitchcock – Vertigo em algo muito limitado. Contudo, ainda assim é interessante de se perceber a complexidade da mente humana, nos fazendo indagar como as nossas memórias são tão complexas, nos levando a perguntar o tempo todo: “O que é real?”

Alfred Hitchcock - Vertigo
A história é sombria e interessante, mas muito linear. (Imagem: Divulgação)

Questões técnicas

Após observarmos aspectos de narrativa e jogabilidade, chegou a hora de darmos uma pincelada nos quesitos mais técnicos. Alfred Hitchcock – Vertigo é um jogo muito similar em aspectos visuais e sonoros a títulos como Tell Me Why e Life is Strange. Ou seja, não possui gráficos de última geração ou hiper-realistas, mas consegue entregar bem a mensagem que se propõe – embora eu sinta falta de expressões mais verdadeiras nos personagens. Felizmente, essa ausência é suprida pela dublagem do jogo (em inglês), que traz uma maior dramatização dos acontecimentos.

Alfred Hitchcock – Vertigo conta com um grande problema, que é a falta de legendas em português brasileiro. Eu sempre vou me queixar disso, pois embora eu domine o inglês, acho uma injustiça não traduzirem os textos para o enorme público do Brasil, que figura entre os maiores consumidores de games no mundo. Enfim, particularmente, essa uma das minhas maiores críticas ao título.

Alfred Hitchcock - Vertigo
Os gráficos não são dos melhores, mas servem bem ao jogo. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Alfred Hitchcock – Vertigo?

Alfred Hitchcock – Vertigo é um bom jogo narrativo. Não é o melhor de todos, mas apresenta uma história bem imersiva e complexa. Isso pode ser bom para uns e ruim para outros, sobretudo nas questões mais densas que o jogo aborda, algo que pode pesar no veredito de algumas pessoas. Eu particularmente comprei a ideia e gostei do que vi, embora tenha me sentido cansado em alguns momentos de monotonia e excesso de ações inúteis comandadas pelo controle. O jogo nos pega de surpresa o tempo todo, mas parece faltar uma pitada de algo… Talvez necessite um maior dinamismo, ou quem sabe maiores impactos nas variações das respostas ao longo do enredo. Não sei. Mas sinto que ainda falta algo.

Para os fãs de Hitchcock, certamente digo que Alfred Hitchcock – Vertigo tem uma trama ousada, embora não seja tão incrível como o filme do mestre do suspense. Ainda assim, se você gostar de jogos narrativos, vá fundo, pois se tem algo que salva aqui, é a história e a curiosidade constante de saber como terminará a narrativa de Ed. Agora, se você não gostar de jogos com longos diálogos e puzzles, sugiro ficar fora dessa.

*Review elaborada em um PC equipado com GeForce RTX , com código fornecido pela Microids.

Alfred Hitchcock – Vertigo

7.4

História

8.2/10

Jogabilidade

7.5/10

Gráficos e sons

7.5/10

Extras

6.5/10

Prós

  • História interessante
  • Jogabilidade simples

Contras

  • Alguns momentos na narrativa são muito impactantes
  • Diversos eventos inúteis são guiados pelo jogador, não agregando nada na experiência final
  • Não é legendado para o português brasileiro

Álvaro Saluan

Historiador e cientista social de formação, é completamente apaixonado por videogames e escreve sobre o tema há uns bons anos. Vê os jogos para além do entretenimento, considerando todo o processo como uma grande e diversificada arte.