Artis Impact | Review
Existem jogos que te desafiam, outros que testam sua paciência ou seus reflexos. Mas há aqueles raros que apenas pedem para que você esteja presente. Artis Impact, que chega hoje, 7 de agosto de 2025, é uma dessas experiências. Desenvolvido de forma independente por Mas, um artista da Malásia, o jogo propõe uma jornada pós-apocalíptica que, curiosamente, não é sobre o caos ou a destruição, mas sim sobre humanidade, conforto e conexões perdidas entre ruínas pixeladas.
Nessa análise antecipada do Pizza Fria, exploro como o jogo encontra seu lugar entre o experimental e o nostálgico, usando ferramentas simples, que vão desde visuais desenhados à mão, combate por turnos descomplicado e facilitado, além de uma narrativa contada mais por gestos do que por grandes reviravoltas. Artis Impact não é uma aventura tradicional. É uma carta de amor aos RPGs clássicos, mas também um lembrete de que ainda há espaço para delicadeza em um mundo que acabou.
Uma protagonista, um Bot e o silêncio entre os dois
No comando da enigmática Akane, somos lançados em um mundo devastado por inteligências artificiais, ou melhor, pelo medo que os humanos desenvolveram delas. Akane, que faz parte de um grupo que caça essas entidades, é acompanhada pelo fiel Bot, um companheiro digital que funciona como guia, conselheiro e escudo emocional. O relacionamento entre os dois é o fio condutor de uma narrativa que evita o óbvio. Há espaço para humor, para conflitos éticos e, principalmente, para o silêncio, esse que tanto diz sem palavras.
A ambientação mistura o ruído do fim com pequenas sementes de vida: cidades reconstruídas em meio aos escombros, moradores com rotinas estranhas e simples, e uma heroína que pode tanto lutar contra máquinas quanto passar um dia limpando uma loja ou descansando em uma cama aconchegante. A história não se impõe: ela vai sendo sentida em fragmentos, em olhares e em interações que não parecem importantes até que sejam.

Um mundo feito à mão, pixel por pixel
A direção de arte é, sem exageros, o maior trunfo de Artis Impact. Cada cenário, personagem e criatura foi desenhado manualmente, com um cuidado que extrapola o que normalmente se espera de um jogo feito em RPG Maker MV. A estética abraça o contraste: paisagens desoladas em branco e preto são intercaladas com cenas de cores vibrantes, especialmente nas batalhas. O resultado é uma experiência visual quase cinematográfica, mas em baixa resolução e com alma.
A fusão entre pixel art colorida e ilustrações monocromáticas cria uma dualidade emocional constante. Os tons escuros carregam a melancolia, enquanto as cores surgem como fagulhas de calor humano. E isso tudo se desenrola com animações fluidas, cortes dramáticos e uso estratégico de luz e sombra. Há momentos em que uma simples tela de combate carrega mais expressão do que longas cutscenes renderizadas de grandes produções.

Entre uma batalha e um croquete de batata
Ao contrário do que se espera de um RPG com ambientação futurista, o combate em Artis Impact é propositalmente simples. As batalhas por turnos não exigem conhecimento avançado de builds, sinergias ou min-max. Elas existem mais como uma coreografia entre Akane e Bot, com habilidades que se complementam, animações elegantes e uma cadência relaxante. É como se o jogo dissesse: “não corra, aprecie”. É um “cozy RPG”.
E quando as lutas dão lugar à exploração, Artis Impact mostra seu outro lado. Akane pode cozinhar pratos como croquetes de batata, trabalhar em lojas, conversar com dezenas de NPCs, fazer favores ou simplesmente dormir. Há uma rotina possível nesse mundo quebrado, e ela é encantadora. O jogo valoriza o ordinário, o trivial. E, nesse processo, constrói algo especial: uma sensação de pertencimento.
Vale destacar que nem tudo é totalmente intuitivo. Alguns trechos exigem tentativa e erro para encontrar caminhos ou eventos ocultos, e certos combates no início do jogo podem parecer desproporcionais. Mas isso faz parte da curva de estranhamento inicial, que logo é diluída à medida que o jogador compreende que Artis Impact não quer pressa, apenas presença.

Trilha que acompanha… e depois toma conta
A música em Artis Impact não se impõe logo de cara. Pelo contrário: ela começa tímida, quase imperceptível, como se respeitasse o espaço entre o jogador e o mundo que está descobrindo. Mas é justamente aí que ela ganha força. Em momentos-chave, algumas faixas surgem com tanto peso emocional que se tornam o centro da experiência. E não por excesso de instrumentos ou drama mas pela precisão com que invadem o silêncio.
Essa trilha sonora é parte da arquitetura sensorial do jogo. Ela sabe quando apenas acompanhar, sabe quando calar e sabe exatamente quando dominar. Em algumas sessões, é impossível não parar o que se está fazendo apenas para ouvir. E isso contribui para o que Artis Impact faz de melhor: criar memórias que não dependem de texto ou mecânica, mas de sensação.

Na sombra da arte, algumas rachaduras
Mesmo com toda sua força estética e emocional, Artis Impact não é perfeito. A escrita, especialmente nos primeiros momentos, escorrega ao utilizar estereótipos e diálogos menos inspirados, principalmente entre personagens femininas secundárias. Também há falhas técnicas meio bizarras, como a mistura de idiomas entre o português e o inglês, alguns problemas de interface, textos que avançam automaticamente e transições de cenário que podem confundir.
Além disso, quem buscar uma narrativa estruturada, com arcos completos e fechamento tradicional, pode se frustrar. O jogo prefere sugerir do que explicar, e nem todas as tramas secundárias chegam a uma conclusão. É uma escolha artística clara, mas que pode deixar lacunas para quem prefere uma linearidade mais evidente.

Vale a pena comprar Artis Impact?
Se você busca uma jornada acolhedora, sem pressão, que mistura combate leve, arte inspiradora e pequenas histórias sobre humanidade, Artis Impact é uma excelente escolha. O jogo não quer te impressionar com números, loot ou sistemas elaborados: ele quer te convidar a ficar. A viver com Akane e Bot por algumas horas. A se perder entre a solidão e o riso, o branco e o preto, o silêncio e a música.
Sim, vale a pena comprar Artis Impact. Não porque ele reinventa o gênero ou entrega uma experiência tecnicamente impecável, mas porque ele oferece algo raro: um espaço para sentir. E, como o próprio jogo mostra, às vezes tudo que a gente precisa é de um lugar para descansar, mesmo que seja no fim do mundo.
Artis Impact está disponível somente para PC, via Steam, por R$ 57,99. O game conta com 10% de desconto até o dia 14 de agosto.
*Review feita em um Steam Deck, com código fornecido pela Feuxon.
Artis Impact
BRL 57,99Prós
- Direção de arte feita à mão, com contraste visual marcante.
- Trilha sonora que constrói emoção de forma precisa.
- Combate por turnos acessível e de ritmo relaxante.
- Atividades paralelas que reforçam a sensação de pertencimento.
- Relação entre Akane e Bot bem construída e envolvente.
Contras
- Diálogos iniciais com estereótipos e pouca inspiração.
- Mistura de idiomas que prejudica a imersão.
- Estrutura narrativa fragmentada pode frustrar quem busca linearidade.


