Aztecs: The Last Sun | Preview
Jogos históricos sempre me deixam animado (e preocupado). Aztecs: The Last Sun, é um desses jogos. Distribuído pela Toplitz Productions e desenvolvido pela Play2Chill, o jogo nos coloca na função de conduzir uma civilização ancestral da América do Sul, os astecas, cercada por deuses exigentes, rituais sombrios e desafios diários para manter todo o povo vivo. Assim, assumimos o comando da lendária cidade de Tenochtitlán, onde cada escolha entre construir templos, gerir recursos e enfrentar forças sobrenaturais pode definir o destino de um império.
Mas será que esse jogo funciona bem, ou é somente mais um entre tantos no mercado atual. Confira aqui nossa preview com todas as impressões iniciais de Aztecs: The Last Sun, game disponível em acesso antecipado para PC via Steam, GOG.com e Epic Games Store!
Um city builder diferente
Aztecs: The Last Sun busca se destacar em um mercado extremamente saturado de títulos de gerenciamento urbano, prometendo oferecer mais do que a simples evolução de vilarejos até grandes metrópoles. Porém, a proposta aqui é bem diferente: o jogador não é um mero prefeito ou engenheiro, mas o próprio governante da capital asteca, com o peso de liderar uma civilização inteira em meio às incertezas dos séculos XIII a XVI, tendo de lidar com feitiços, deuses irados e sacrifícios de sangue, a principal mecânica do jogo.
Nesse sentido, o título tenta capturar o fascínio pelo exótico e o enigma de uma cultura pouco explorada nos games. Ao invés de fábricas ou sistemas de transporte modernos, há templos, canais, mercados flutuantes e a constante presença dos deuses. A ideia central em Aztecs: The Last Sun é clara: transformar a experiência de construir uma cidade em uma luta pela sobrevivência cósmica, onde política, religião e guerra se entrelaçam. Porém, a impressão que tive é que o jogo traz a história dos astecas extremamente estereotipada e sem muito aprofundamento, sobretudo na parte dos sacrifícios. Nisso, o título poderia se aprofundar um pouco mais, falando de tecnologias da época e outros detalhes.

Precisão histórica? Não sei…
É justamente aqui que mora um dos maiores dilemas de Aztecs: The Last Sun. Ao apostar na ambientação asteca, a expectativa natural é de um retrato minimamente fiel, ou ao menos respeitoso, dessa civilização. No entanto, os desenvolvedores parecem ter preferido um caminho mais simplista, reduzindo toda a complexidade cultural a um amontoado de estereótipos. Mas essa é só minha impressão. Os astecas são lembrados por sua engenharia monumental, pela agricultura sofisticada das chinampas (os famosos jardins flutuantes) e por sua rica cosmologia.
Contudo, no jogo, esses elementos aparecem apenas de forma muito superficial. O que se sobressai é a ênfase repetitiva nos sacrifícios humanos como combustível para agradar os deuses, criando a impressão de que essa prática era a única engrenagem social possível. Essa escolha narrativa pode até criar impacto inicial, mas esvazia a profundidade histórica e transforma uma cultura multifacetada em uma caricatura sangrenta.

Jogos com ambientação histórica, como a franquia Assassin’s Creed e Ghost of Tsushima, mostram ser possível balancear diversão com pesquisa rigorosa, trazendo nuances que enriquecem a experiência. Em Aztecs: The Last Sun, a simplificação compromete não só a imersão, mas também a chance de oferecer ao jogador um aprendizado cultural legítimo. Uma pena, já que povos da América Central e do Sul só aparecem no mundo dos jogos de maneira igualmente estereotipada, mostrando o quão limitado é o conhecimento do mundo dessas regiões ricas em cultura e várias outras coisas.
Mecânicas de construção e gerenciamento
Apesar das fragilidades históricas, Aztecs: The Last Sun segue o manual básico de um city builder. É necessário planejar o crescimento urbano, equilibrar recursos escassos, lidar com logística complicada e manter a população satisfeita. O mapa central se passa em uma ilha no Lago Texcoco, exigindo soluções engenhosas para lidar com a falta de espaço e a constante pressão por expansão. Ou seja, o título não traz grandes novidades.
A construção de templos, mercados e habitações segue a lógica já conhecida do gênero, mas adiciona camadas de religiosidade e rituais que interferem diretamente na administração. A cada ciclo, o jogador precisa decidir entre investir em obras públicas ou dedicar esforços às cerimônias, sempre de olho no favor dos deuses. Essa mecânica poderia ser interessante se não fosse conduzida de maneira tão mecânica: tudo se reduz a quantidades de sangue e a barras de energia divina, transformando o sagrado em meras estatísticas numéricas.

Deuses e o modo sobrevivência
Um dos diferenciais de Aztecs: The Last Sun é a presença de elementos de sobrevivência. Durante o dia, o jogador foca em erguer a cidade, mas à noite, precisa enfrentar a fúria da Deusa da Lua, que ataca Tenochtitlán em intervalos constantes. Para se proteger, apenas determinadas áreas da cidade, as chamadas zonas de sangue ficam seguras, desde que abastecidas com sacrifícios suficientes.
Na prática, essa mecânica quebra o ritmo estratégico. Em vez de permitir que o jogador se concentre no planejamento urbano de longo prazo, ele se vê forçado a interromper tudo para repetir o mesmo ritual de coleta e defesa. O resultado é uma experiência cansativa, que substitui a tensão narrativa por uma rotina artificial de sobrevivência. O potencial de criar momentos épicos de resistência contra forças sobrenaturais acaba se perdendo na repetição mecânica.

Gráficos, aspectos técnicos e uma ótima oportunidade desperdiçada
Do ponto de vista gráfico, Aztecs: The Last Sun entrega cenários funcionais, mas pouco memoráveis. Há templos imponentes e canais detalhados, mas a estética geral parece mais voltada ao exotismo do que à verossimilhança. As cores vibrantes e os modelos estilizados reforçam a ideia de fantasia, distanciando ainda mais a obra de qualquer pretensão de realismo histórico. Já a interface é relativamente clara, permitindo que os jogadores acompanhem recursos, rituais e status dos deuses sem grandes dificuldades. Ainda assim, falta polimento: algumas telas parecem confusas e as informações se acumulam de forma pouco intuitiva, o que pode frustrar novatos no gênero.
Ao escolher um cenário tão rico, os desenvolvedores tinham a chance de oferecer uma narrativa envolvente, explorando para além de guerras e sacrifícios, mas também as tensões sociais, alianças políticas e o impacto da colonização iminente. Infelizmente, nada disso aparece com força. A história se limita a um fio condutor mítico, no qual o governante precisa agradar divindades ou encarar punições. Esse foco exclusivo no aspecto religioso simplifica a experiência e diminui a sensação de estar comandando um verdadeiro império. O resultado é que, em vez de se sentir parte da grandiosidade de Tenochtitlán, o jogador vive uma rotina mística, vivida à mercê dos deuses. Não ficou legal…

O que esperar de Aztecs: The Last Sun?
Aztecs: The Last Sun é um jogo que chama muita atenção pela proposta de trazer a perspectiva dos povos astecas. No entanto, deixa muitas dúvidas quanto à sua execução. Ao mesmo tempo em que desperta curiosidade por abordar um império pouco representado na mídia, esbarra na armadilha de reduzir sua riqueza cultural a clichês religiosos como os sacrifícios e brigas eternas entre deuses. Sua mistura de gêneros pode, sim, agradar quem procura novidade, mas tende a decepcionar os fãs mais exigentes de estratégia ou de história. Afinal, a parte de gerenciamento, mesmo sem trazer grandes novidades, é ótima e funcional.
Entre templos erguidos às pressas e noites de terror sob o olhar da Deusa da Lua, o destino de Tenochtitlán está nas mãos do jogador. Porém, a verdadeira questão é se a experiência conseguirá honrar a grandiosidade dessa civilização ou se ficará marcada como mais uma fantasia que preferiu o espetáculo ao conteúdo. Pode ser que a versão 1.0 consiga trazer mais profundidade para Aztecs: The Last Sun, mas só o tempo dirá.
*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela Toplitz Production.


