Bravely Default II | Review
Bravely Default II é o mais recente título da série Bravely, conhecida por combinar as tradicionais jogabilidade e estrutura do gênero RPG com mecânicas modernas, além de uma belíssima direção de arte. Lançado exclusivamente para Nintendo Switch em 26 de fevereiro de 2021, o jogo apresenta o terceiro (e desconectado) conto da franquia.
Quer saber se vale a pena jogar Bravely Default II? Confira minha opinião nesta análise completa para o Pizza Fria!
Ficha técnica de Bravely Default II
Exclusivo para Nintendo Switch | 12.4 GB |
Desenvolvido por Claytechworks | JRPG |
Publicado por Nintendo 🌐 e Square Enix 🇯🇵 | 1 jogador |
Idiomas 🇯🇵 🇺🇸 🇫🇷 🇩🇪 🇮🇹 🇪🇸 🇰🇷 🇨🇳 | 12 anos |
Para esta análise, joguei Bravely Default II no Nintendo Switch, alternando entre os modos portátil e atracado na doca. Foram aproximadamente 75 horas (‼️) de uma jornada em busca dos três finais, passando por todas as Salas do Tormento (tradução livre de Halls of Tribulation) e, consequentemente, deixando todas as 24 profissões no nível lendário.
Um breve histórico da série Bravely
Bravely Default (2012) e Bravely Second: End Layer (2015), ambos lançados para o Nintendo 3DS e diretamente relacionados entre si, precederam Bravely Default II. Contudo, Bravely Default II se passa em um mundo novo, com novos personagens nos papeis de Heróis da Luz e eventos com pouca relação às respectivas sagas de Agnès e de Yew.
Assim como seus predecessores, Bravely Default II foi publicado mundialmente pela Nintendo, enquanto a Square Enix o publicou no Japão. A desenvolvedora da série no Nintendo 3DS, Silicon Studio, deu lugar para Claytechworks (site oficial). O time é, entretanto, praticamente o mesmo, além de importar talentos artísticos de Octopath Traveler e de contar com a produção de Tomoya Asano, o principal idealizador da série Bravely.
Asano concebeu Bravely Default após concluir o desenvolvimento de Final Fantasy: The 4 Heroes of Light para Nintendo DS, em 2009. Originalmente, o título seria uma continuação direta, mas acabou evoluindo em um jogo próprio que, por sua vez, preserva muitas características de seu código genético.
Desta forma, Bravely Default II se mantém fiel ao proposto: é um RPG com características marcantes da variação japonesa, inspirado em clássicos como Final Fantasy III, Final Fantasy IV e Breath of Fire. Isto significa que o jogador vivenciará combates em batalhas por turno, uma história fantástica com ares medievais e elementos mágicos, além de tramas políticas, muitas missões secundárias, garimpo de experiência por níveis e por itens (os famosos termos grinding e farming), profissões alteram a classe dos personagens e, por fim, dezenas de horas de jogo.
Contudo, Bravely Default II incorpora características modernas para manter um ritmo acelerado e interessante, como a mecânica que dá nome ao jogo, cuja função é permitir adiantar ou acumular turnos para usá-los em sequência. Mais detalhes no miolo desta análise!
Bravely Default II sob um olhar técnico
Ao ser uma tentativa de modernizar os clássicos JRPGs (isto é, RPGs vindos do Japão) com gráficos detalhados e mecânicas modernas dos jogos pós-smartphones, Bravely Default II confronta um dilema: como adaptar um gênero inerentemente lento como RPGs, com garimpo e repetição em excesso, refém da cadência narrativa, em algo veloz e que incite o retorno constante do jogador? Parte da resposta está em manter a história dentro do esperado enquanto ajustes à interface de Bravely Default II proporcionam uma velocidade incomum para o gênero.
Enredo – o fio condutor de todo RPG
O essencial em um RPG é sua história, certo? Hm… Todo jogo que deseje manter o jogador conectado por uma longa jornada precisará contar histórias interessantes ou depender muito de uma jogabilidade viciante. Para evitar spoilers, vou me ater ao pretexto de Bravely Default II e a uma avaliação, embora subjetiva, crítica.
Bravely Default II é um remix dos contos fantasiosos dos anos 1990 e, como disse acima, a série Bravely é a sucessora espiritual de Final Fantasy: The 4 Heroes of Light, cuja história introduz os quatro Heróis da Luz. Para cada herói, o mundo reserva um de quatro cristais elementais – Vento, Água, Terra e Fogo.
Se você jogou Bravely Default ou Bravely Second, então pode considerar Bravely Default II como sendo a versão marombada em todos os quesitos. História é o menor deles – você reunirá quatro integrantes para seu grupo e partirá para restaurar o equilíbrio natural. Aliás, Bravely Default II não é diretamente conectado com nenhum dos anteriores.
Três anos antes dos eventos do prólogo de Bravely Default II, o Império de Holograd invadiria e derrubaria o Reino de Musa. No meio do caos, três dos cristais foram roubados e, entre os poucos sobreviventes, restava a princesa Gloria, cuja missão é recuperar o cristal restante para prevenir uma catástrofe sobre o mundo de Excillant.
A abertura apresenta Seth, o personagem que você controlará e pode nomear como quiser, um marinheiro cuja embarcação naufraga. Enquanto Seth se afoga, já submergido nas ondas de mar violento, ele escuta uma voz misteriosa que pergunta se você aceita sua benção. A voz é, na verdade, a manifestação do cristal do Vento, que escolhe Seth como o predestinado. Ao aceitá-la, o cristal o guia de volta para a superfície.
E, assim, durante todo Bravely Default II, seu objetivo está marcado: percorrer o mundo em busca dos cristais, pois sem eles não existe equilíbrio natural e tudo eventualmente será consumido por um mal enorme.
Sendo Bravely Default II um jogo que exigirá ao menos 50 horas para mostrar seus créditos, estes parágrafos apenas arranham a superfície de uma trama que explorará traições familiares, políticas, intervencionismo entre cidades-estados, golpes militares e dilemas morais e ambientais. Tudo isso às vezes parece ser forçosamente inserido para cobrir todas as áreas possíveis de temas mundanos: tímidos comentários sociais sobre fome e racismo, por exemplo, são vistos no decorrer.
Há um enorme volume de informação, histórias paralelas nas 100 missões secundárias, mas nada surpreendente ou revolucionário. Bravely Default II faz bem o feijão com arroz e nada mais. Alguns momentos fora da curva tradicional dessa visão de fantasia medieval com ares de Europa até lembram Full Metal Alchemist: Brotherhood.
Essa saga se estende por um total de sete capítulos e, neles, três finais (um ruim, um bom e um secreto e completo). Não se preocupe, pois nenhum deles e nenhum item é perdido: você obrigatoriamente deve presenciar todos.
Aliás, meio toque de gênio é o jeito como os desenvolvedores encontraram para inserir finais múltiplos e, ao mesmo tempo, consequentes dos anteriores. Porém, parecem ter ficado com preguiça em algum momento e, depois da primeira conclusão, o processo de buscar novas rotas e mais objetivos fica obscuro.
O destaque fica para os quatro carismáticos Heróis da Luz, ou seja, aqueles que eventualmente serão abençoados pelos cristais. Em inglês, desenvolvedores inusitadamente resolveram por uma dublagem em inglês britânico. Por isso, regiões em Bravely Default II carregam os sotaques regionais e de países das ilhas da Grã-Bretanha e da Irlanda.
O integrante de seu grupo chamado Elvis, da cidade dos magos, fala com um sotaque irlandês e tem a personalidade de uma pessoa com ânimo inabalável. É divertido ver todos interagindo e a evolução do grupo como amigos.
Se por um lado a história é suficientemente bem-feita para manter Bravely Default II andando mesmo sem ser algo de outro mundo, por outro lado fica fácil perceber como essa narrativa serve as múltiplas facetas de jogabilidade pintadas com uma camada de um Final Fantasy do Super Nintendo.
Jogabilidade – o ponto alto de Bravely Default II
Talvez os elementos, tanto inovadores quanto tradicionais, sejam os responsáveis por artificializarem a narrativa de Bravely Default II ou por deixá-la segundo plano. Mas, como já deve ter ficado entendido, esse é o propósito mesmo: ter um RPG classicão com uma revitalizada moderna.
Vamos ao quê não pode faltar: a mecânica que dá nome à franquia se chama Brave/Default. Em Bravely Default II, você eventualmente guiará o grupo de quatro Heróis da Luz em batalhas de turno. Diferentemente de Bravely Second: End Layer, os encontros não são aleatórios, já que você vê os inimigos perambulando ou fazem parte do roteiro.
Esses combates acontecem em sistemas de batalhas de tempo ativo (Active Time Battle em inglês ou ATB), como em Chrono Trigger – o atributo de velocidade do personagem dita o preenchimento de uma barra que, quando cheia, representa a vez executar uma ação. Plot twist: esse estilo somado ao Brave/Default cria um esquema de crédito de turnos.
Funciona mais ou menos assim: ao entrar no combate, além das opções de item e da classe de Seth, Elvis, Gloria ou Adelle, temos as escolhas Brave ou Default.
Brave permite que um personagem atue múltiplas vezes em um único turno, mas cada ação consome um Brave Point (BP). Além da ação inicial, você pode usar o comando Brave até três vezes por turno, o que significa um total de quatro comandos.
Quando o assunto é acumular BPs, é aí que Default entra em campo: ele coloca o personagem em postura defensiva, reduzindo danos e, a cada turno em Default, o personagem recebe um Brave Point e pode acumular até três.
Normalmente a batalha começa com saldo neutro de BPs e, por exemplo, se você decidir usar até quatro vezes o comando Brave, você atuará quatro vezes seguidas – podendo escolher cada uma das quatro ações e ficando com saldo negativo. Por outro lado, escolha acumular BPs com Default e evite ficar inativo por muitos turnos.
Nesse exemplo eu digo quatro, mas quantos turnos são acumulados ou gastos de uma única vez é uma decisão completamente sua e abre campo para oportunidades estratégicas. Bem utilizado, os ventos de uma boa e rápida batalha soprarão a seu favor; faça mau uso e seja dilacerado por inimigos, já que eles também podem usufruir de BPs.
Uma das modernizações evidentes dentro das batalhas é a possibilidade de acelerar as animações de combate, podendo escolher entre quatro velocidades. Eu tive a paciência de assistir as animações em tempo real por, provavelmente e no máximo, uma hora. A partir daí o combate sempre esteve com aceleração máxima.
O problema decorrente dessa configuração é que, às vezes, o texto corre um pouco rápido demais. Imagine tentar envenenar uma criatura e não conseguir. Você tenta de novo no turno seguinte… Nada… Depois, ao acaso, consegue ler rapidamente algo como “imune a veneno”. A ausência de um log de eventos durante batalha em Bravely Default II pesa nessas circunstâncias, mas ainda assim continuei sempre acelerado, já que o aprendizado estava lá.
Outro componente importante e muito similar à série Final Fantasy são as profissões. Bravely Default II tem um total de 24 asteriscos (Asterisks, no jogo), que são as “escrituras” responsáveis por liberá-las. As profissões são certamente o aspecto mais interessante do jogo, pois elas definem a classe de Seth, Elvis, Gloria e Adelle.
A grande sacada em Bravely Default II é que um personagem recebe pontos de experiência em todas as batalhas, mas também recebe Job Points, que definem o nível de domínio da profissão. Você começa a busca com o trabalho de Freelancer e aos poucos deve encontrar mais asteriscos para obter mais profissões.
Cada um dos quatro protagonistas pode ativar uma profissão primária e uma secundária por vez, sendo que apenas a principal recebe pontos para progressão em um total de 12 níveis. Quanto mais evoluem, mais golpes aprendem.
Além disso, as profissões deixam o aprendizado de habilidades passivas, permitindo ativar um total de cinco. Por exemplo: nas cinco caixinhas de habilidades passivas, você pode ativar More Money, para receber mais dinheiro, aprendida com a profissão Gambler, e combiná-la com outras quatro de efeitos diversos, tais quais entrar na batalha atacando automaticamente, receber mais JPs, recuperação de pontos de magia ou de saúde e por aí vai. Minha favorita é a que libera o dano acima de 9999 pontos.
Comecei Bravely Default II na dificuldade difícil (também disponíveis média e fácil). Nas primeiras horas de jogo e acostumado a garimpar experiência em jogos como Pokémon, talvez tenha acabado passando do limite e, mesmo no difícil, inimigos não ofereceram resistência na maior parte da aventura.
O garimpo precoce foi feito usando petiscos para atrair inimigos, que por sua vez causa batalhas consecutivas e multiplica os pontos de experiência e JPs. Desta forma, chegar ao nível máximo, ou seja, ao nível 12 de cada profissão foi relativamente simples.
Infelizmente, os inimigos têm seus níveis definidos pela área que ocupam na progressão de Bravely Default II e por isso eles fogem quando seu grupo está muito forte ou atacam sem piedade quando são eles os mais fortes.
Bravely Default II se beneficiaria muito de um nivelamento automático ou algo similar, respeitando a diversidade entre áreas e o momento da jornada.
Com o desenvolver da história, você visitará cidades e encontrará missões que levarão a trupe a labirintos cada vez mais elaborados. Uma diferença enorme em relação à demonstração prévia de Bravely Default II é a falta de minimapas nos labirintos da versão final.
As 100 missões secundárias contêm todo tipo de busca: algumas pedem uma poção ou três itens simples, outras exigem dedicação e atacar criaturas poderosas ou resgatar entes queridos.
No menu, é possível ligar ou desligar marcadores que revelam o destino dos objetivos. Fica a critério do jogador, que também pode alterar a dificuldade a qualquer momento.
Apesar de suar frio antes das lutas história a frente, mais pelo temor de não saber o que aconteceria do que realmente pela dificuldade, a escalada em desafio seria bem-vinda para aproveitar em plenitude o potencial estratégico das profissões, remanescentes de Final Fantasy Tactics.
Após o quinto capítulo, arcos de pedras vistos pelas regiões de Bravely Default II se ativam e levam a lutas incrivelmente difíceis e você deve ir preparado com as melhores habilidades de cada profissão. Eles são conhecidos como Halls of Tribulation (Salas do Tormento em tradução livre). Nestes cenários, chefes pedirão uma segunda chance em batalhas que exigem mais atenção do jogador e, ao serem vencidas, liberarão mais níveis para as profissões, liberando mais habilidades e golpes. Não entre despreparado!
Dentro de Bravely Default II ainda encontramos um jogo de tabuleiro popular por todo o continente, chamado B & D. Usando cartas com propriedades especiais e que ocupam quadrados, B & D é uma mistura do clássico jogo de tabuleiro Combate com Damas e Magic. Seu objetivo é ocupar o mais território que seu adversário até todas as cartas estarem na mesa. Você encontrará cartas variadas com outros jogadores pelo mundo e montará decks cada vez mais fortes.
Outro jogo dentro do jogo é a interessantíssima função de exploração: uma senhora que tem uma loja em todas as cidades oferece seu barquinho para navegar pelos mares. Mas há um detalhe: com limite de 12 horas de exploração, você deve partir quando colocar seu Nintendo Switch para hibernar. As ações acontecem sem intervenção do jogador e, ao voltar, você recolherá os itens e o dinheiro que Seth encontrar em suas viagens. Apesar de legal, este recurso foi uma das razões para Bravely Default II ter ficado extremamente fácil rapidamente, pois logo na primeira viagem recebi uma quantidade absurda de ouro e de orbs de experiência.
De modo geral, Bravely Default II importa as mesmas características mecânicas de seus antecessores no Nintendo 3DS. Embora a revolução no gênero tenha acontecido com os dois primeiros títulos do portátil, ela manteve seu frescor no Switch. Garimpar níveis e repetir batalhas em Bravely Default II é divertido, ao contrário da chatice repetitiva de tantos outros RPGs. As inúmeras camadas de mecânicas e menus labirínticos com efeitos passivos de habilidades e múltiplas configurações são um verdadeiro deleite para fãs.
Som fora do comum
No departamento musical, Bravely Default II trouxe de volta o aclamado compositor Revo, quem criou a trilha do primeiro jogo. O compositor é o líder do grupo japonês Sound Horizon, que se autodescreve como “banda de fantasia” e apresenta trabalhos semelhantes às composições de música clássica.
Ao encontrar um inimigo, o combate tem o tema carregado antes da tela ser revelada e quase sempre a experiência é acima do que se espera em um jogo. A trilha sonora cria um estilo peculiar de heavy metal que mistura guitarras e teclados em algo que só pode ser definido como fantasy rock.
Percebi que quando uma batalha contra um chefe se aproximava, já colocava os fones e aumentava o volume, tamanha a expectativa de ouvir o tema dedicado para o vilão ou adversário da vez.
Já nas dublagens, a atuação geral é boa, apesar de soar um tanto homogênea – como se o diretor de dublagem tivesse ordenado todos os atores a imprimirem o mesmo ritmo e, muitas vezes, entonação.
Mas, como disse acima, o Bravely Default II está em inglês britânico, algo que de certa maneira combina melhor com sua ambientação do que meramente o inglês americano. E os regionalismos com sotaques e expressões adicionam valor a esse trabalho, pois fazem o mundo de Excillant parecer mais vivo e verossímil.
Entretanto, por culpa do grinding e das batalhas aceleradas, você eventualmente se cansará de ouvir sempre as mesmas frases e gritos do quarteto.
Visuais de 3DS em alta definição
Finalmente chegamos ao ponto mais crítico e divisivo de Bravely Default II: seus visuais.
Para que não restem dúvidas, a direção de arte é, em um primeiro momento, fantástica. O cenário de fundo é composto por ilustrações aquareladas a mão e criam um efeito único, assim como Bravely Default fez no Nintendo 3DS. A arte e as transições dos menus são limpas e permitem ao jogador navegar pela complexa lista de habilidades sem muita confusão.
As animações de golpes e das magias também são pequenos espetáculos artísticos, além dos diversos modelos das criaturas do jogo e de inimigos não humanos. Apesar de muitos serem reedições com roupagens diferentes, tais roupagens são suficientemente diferentes para manter o interesse e a variedade ativa – além das criaturas terem tipos e desvantagens distintas.
Então onde Bravely Default II dá margem para estranheza? A escolha por personagens humanos em estilo chibi raramente funciona com a composição de cenário aquarelado e criaturas muito definidas.
Em alguns momentos, a impressão que fica é de quando se compram modelos prontos de diferentes bibliotecas e se misturas no mesmo arquivo de renderização. Há outros momentos nos quais o cérebro parece inconscientemente aceitar a mescla, mas algo sempre está deslocado.
E os humanos são realmente o problema visual, pois a animação dos lábios nas cenas é extremamente esquisita e inexpressiva, o que é uma pena, pois desvaloriza o trabalho dos atores.
O detalhamento visual é obviamente mais alto que nos dois primeiros títulos, mas a chegada a telas de alta definição (mesmo que o Switch não seja a máquina mais poderosa no mundo) exigia uma releitura gráfica. Mais de uma vez durante a jogatina me passou pela cabeça que a solução possível seria aplicar cel-shading sobre toda a tela ou explorar filtros sobre os personagens.
E talvez por culpa dos visuais (é difícil saber onde está o problema aí), Bravely Default II sofre com constantes carregamentos. Às vezes temos que sair e entrar em várias casas ou regiões em curtos intervalos e que não mudam muito, mas o jogo precisa recarregar texturas e demora.
Desenvolvido em Unreal Engine 4, apesar do contraste esquisito dos bonecos na composição, os artistas usaram com expertise recursos como desfoque e granulado de filme para dar dramaticidade às cenas e a algumas batalhas. O jogo raramente se engasga e tampouco apresenta problemas de desempenho, tanto na doca quanto no modo portátil.
Personagens de lado, todos os cenários são belíssimos, principalmente quando chegamos ao ponto de encontrarmos a máquina voadora. Existe uma beleza em Bravely Default II que pede para ser revistada e espero que exista o projeto de uma continuação mais elaborada para que possamos voltar a ver a recriação deste universo.
Considerações finais
Bravely Default II é um caso atípico no cenário atual dos jogos. Gostei muito dos jogos no Nintendo 3DS e, sim, até mais de Bravely Second: End Layer. Mas isso aconteceu há anos e, nas circunstâncias atuais de RPGs, a própria Square Enix apresentou o incrível Octopath Traveler.
Tudo bem que os jogos têm essências próprias, mas me parece que Octopath Traveler é o verdadeiro apelo à nostalgia, com trilhas tão boas quanto às de Bravely Default II e com visuais que apelam mais para nossa imaginação. Fora os caminhos possíveis com oito personagens e a história mais instigante.
Contudo, Bravely Default II tem sucesso, pois é consistente, acima da média e muito bem polido em praticamente todos os quesitos que esperamos ver em um jogo. A história é uma remixagem saudosista e, se falha em ser original e surpreendente, consegue ser bem contada e manter a atenção do jogador mesmo assim, principalmente graças ao elenco carismático e engraçado.
Mais uma vez, as composições na série são realmente música para os ouvidos e é difícil não se envolver ao ritmo rocker dos temas de combate.
A miscelânea visual é o agravante indesejado, porém nunca chega a incomodar em demasia.
Finalmente, como um bom RPG, a mecânica inovadora evoca batalhas estratégica que, mesmo quando ficam fáceis, são divertidas de repetir e de garimpar. Bravely Default II tem conteúdo para mais de 80 horas de jogo e, com três finais (você precisa obrigatoriamente vivenciar cada um deles em ordem), instiga o jogador a ver a conclusão da história, além de oferecer desafios adicionais com as Salas do Tormento e um modo New Game +, no qual podemos importar personagens e níveis.
Vale a pena jogar Bravely Default II?
Bom, eu joguei e atrasei esta análise por que quis ver todos os finais e levar o título até o final (ou próximo disso)!
Caso tenha jogado os títulos no Nintendo 3DS e gostado, você sabe o que encontrará aqui. Minha entrada favorita continua sendo Bravely Second e eu sei que é o menos popular entre os fãs. Por isso, acredito que Bravely Default II sirva como uma fundação sólida em um console de mesa para futuros capítulos da série.
Outro caso a se pensar é que, se você jogou RPGs nos anos 1990 e gostava, provavelmente Bravely Default II mereça sua atenção. Quero ver mais ousadia dos desenvolvedores na história e nos visuais, mas Bravely Default II entrega uma jornada simples e polida, quase sem tropeços, envolta em uma jogabilidade profunda e instigante.
*Review elaborada com código fornecido pela Nintendo.
Bravely Default II
R$ 299,00Prós
- Ótima mecânica de combate para JRPG
- 24 profissões mudam a forma de jogar
- Excelente trilha sonora
- Acessível para novatos no gênero, nostálgico para veteranos
- Conteúdo pós-jogo com Halls of Tribulation e New Game +
Contras
- Não está em português
- Cenas demoradas para uma história mais que clichê
- Desequilíbrio dos níveis de inimigos
- Excessivas telas de carregamento
- Ritmo quebrado pelas telas de carregamento e falatórios