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Cross Tails | Review

Cross Tails é um RPG estratégico desenvolvido pela Rideon, Inc e publicado pela KEMCO. O título nos convida a ver a resolução natural de uma pergunta feita por todos nós, a milênios: o que aconteceria se cães e gatos se enfrentassem utilizando espadas, lanças e magia? De fato, esse questionamento certamente fez com que um número considerável de filósofos e pensadores, modernos e clássicos, perdessem suas noites de sono.

E aí, será que vale a pena o investimento para chegar ao cerne dessa velha questão? É o que veremos agora, em mais uma crítica antecipada do Pizza Fria!

Como cães e gatos

Sabem, leitores e leitoras incríveis desse website Pizzatástico: sempre me perguntei de onde haveria surgido a velha ideia de que cães e gatos eram inimigos mortais. Será que foi uma noção imposta pelos desenhos animados e filmes que sempre se repetiam nas sessões de cinema vespertino na televisão? Será que foi algo que já presenciamos? Ou será que foi uma histeria coletiva?

Pergunto porque vi algo fascinante dias atrás. Tenho a vívida impressão de ter presenciado um combate entre os dois possíveis rivais, utilizando armas medievais e magias que não eram desse mundo. “Mas isso é impossível, seu absoluto loucohomem”. Talvez seria, leitora, se deixarmos de lado dois pontos importantes dessa história. Primeiro, que eu havia consumido quantidades copiosas de balas de goma em rápida sucessão. Segundo, que eu estava jogando nosso videojogo da semana: Cross Tails.

Independentemente da quantidade elevada de açúcar que porventura me corra nas veias, devo dizer que aprecio um bom e velho joguinho de estratégia em turnos. Seja mais focado na realidade como Jagged Alliance 3, ou fantasioso como o adorável Disgaea 6, se houver bonecos andando em quadradinhos e trocando tapas, pode acreditar que irei me interessar. Sou um homem simples de gostos simples, afinal.

Cross Tails
Há uma treta com lagartos também, me parece. (Imagem: Divulgação)

A trama de Cross Tails revolve em torno de um mundo judiado pela guerra e suas consequências. Parte dessa treta envolve o reino canino de Ranvenfurt e a república felina de Hidiq, que travam uma guerra de atrito em suas fronteiras por tanto tempo que ninguém se lembra direito o motivo do ódio, apenas que ele deve ser cultuado e alimentado sempre que possível. Uma questão interessante de se explorar, de fato. Será que realmente sabemos os reais motivos de odiar algo? Ou será que apenas reagimos e seguimos cegamente as direções de uma querela que nem se justifica mais?

Nosso ponto de vista alterna entre o Felix e Sharimaa, de Ranvenfurt e Hidiq respectivamente, que possuem histórias individuais que se interconectam em vários pontos, até culminarem na resolução de um conflito muito maior. Poder escolher qual lado jogar primeiro é muito bom, tanto pelo fator rejogabilidade quanto para conhecermos melhor os dois lados do conflito.

Ainda que seja apresentada de modo clichê, com personagens sem muito sal, a história de Cross Tails me agradou e levantou questões interessantes para um debate, como falei acima. O maior problema, aqui, é a forma com que é apresentada. Os textos em inglês são bem fracos, e sugam muito do clima das cenas. Não digo que são errados, gramaticalmente falando, mas as frases são construídas de maneiras estranhas que mais nos fazem rir ou torcer o nariz do que nos investir na narrativa.

Cross Tails
Nossos protagonistas. (Imagem: Divulgação)

A jogabilidade de Cross Tails se divide, majoritariamente, entre a preparação de nossas unidades para os combates e os próprios conflitos em si. Além disso, o título oferece um sistema de classes, lembrando muito meu amado e adorado Final Fantasy Tactics, que permite aos heróis utilizar duas classes para customizar significativamente o kit de habilidades de cada uma e como nossos esquadrões irão operar.

Comecemos pela parte gerencial da coisa. Todos nossos bonecos possuem uma classe que não pode ser alterada, única para heróis e genéricas para unidades comuns, e mais dois espaços para colocarmos aquelas a que todos tem acesso. Cada uma destas evolui do nível 1 até o 5, e avançar nas que temos disponíveis faz com que outras apareçam. Por exemplo, um warrior habilidoso eventualmente libera a opção de se tornar um knight. Um knight com níveis de wizard libera uma classe específica, magic sowrdsman. E por aí vai.

Essa é uma das maiores forças de Cross Tails. Dentre as diferentes classes e suas habilidades, temos um leque interessante de opções para criar times e bonecos exatamente da maneira que quisermos. Por exemplo, meu Felix passou uma boa parte do jogo como um tank com uma subclasse de cura, tornando-o uma parede que impedia o avanço de qualquer gatuno mal intencionado.

Podemos melhorar essa classes através de CP, que é obtido ao fim de batalhas específicas para o avanço da trama ou as chamadas free battles, que possuem a finalidade de treinar nossas unidades e angariar fundos para o exército. Devo dizer que uma boa parte do meu divertimento veio de subir as classes de meus heróis, vendo o que mais eu poderia liberar e como poderia montar uma máquina de guerra canina de respeito. Positivo, com certeza.

Cross Tails
Temos uma boa quantidade de habilidades, passivas e ativas. (Imagem: Divulgação)

Do lado do combate, temos um sistema de turnos e ações bem padrão para o gênero, sem inventar muita moda nem fazer nenhum erro gritante. No começo de cada batalha, colocamos nossos bonecos em posições específicas e, ao longo da treta, vamos andando por quadradinhos enquanto atacamos de perto, de longe e nos curamos.

Cross Tails também oferece um sistema de estratégias, que podem ser configuradas antes do combate se iniciar e conferem positivos e negativos para todo o time, dependendo do efeito desejado. Por exemplo, alguns sacrificam defesa em troco de um aumento igual para o ataque, ou maior experiência, e assim por diante. É um sistema simples, porém efetivo, que dá mais uma camada de personalização para nossas estratégias e permite com que possamos jogar mais arriscado, se assim o desejarmos.

Uma outra mecânica interessante é o hate. Ele funciona como a boa e velha ameaça, muito utilizada em MMORPGS, que indica se uma unidade é mais prioritária ou não aos olhos do inimigo. Esse lance é bem simples, mas é muito divertido e facilita muito vida na hora de tirar os olhos do mago inimigo de nosso humilde curandeiro. Felix, herói de Ranvenfurt, é um que pode utilizar magias desse estilo para se certificar de que todos os tabefes irão para as orelhas dele, e não de um aliado menos parrudo.

Cross Tails
Os combates são bem divertidos. (Imagem: Divulgação)

Cross Tails não é um jogo fácil, necessariamente. Mas as mecânicas aplicadas, mais alguns combos marotos que podem ser utilizados através do sistema de mistura de classes, garantem que nunca estaremos despreparados para o que o mundo desejar atirar em nossa direção. Seja aprendendo novas habilidades, treinando em batalhas livres, ou investindo em equipamento, sempre há um caminho.

Em suma, título não reinventa a roda. Não temos mecânicas inovadoras ou super intrincadas, nem uma infinidade de conceitos e atributos. Mas, o que existe é bem implementado e cumpre bem seu papel de entregar uma experiência de qualidade, que diverte e desafia em igual medida, sem punir o jogador em excesso ou nos fazer morrer de raiva. Um único negativo que percebi é relacionado ao posicionamento de certos inimigos em alguns mapas com muito relevo. Precisar ficar andando por vários turnos para chegar em um arqueiro é um saco.

Cross Tails
Algumas arenas possuem vários níveis. (Imagem: Divulgação)

Sons e Visuais

Cross Tails possui aquele estilo fofinho, com personagens pequenos e com proporções aumentadas. Admito que achei os modelos bem legais, e ajuda a dar uma cara bem única. Somado, claro, ao fato de envolver cães e gatos. Uma coisa que senti falta foram portraits para unidades genéricas. Apenas personagens importantes tem uma imagem própria, o que torna alguns diálogos estranhos quando os vemos falando com inimigos, soldados e outras coisas do tipo. Muitos jogos do estilo possuem esse tipo de relação de único – genérico, e a maioria não lida dessa forma.

Em se tratando de som, o jogo entrega músicas bem arroz com feijão, sem nada que vá se prender na mente. Não chegou ao ponto de me fazer jogar no mudo, mas não surpreendeu. A sonoplastia também é limitada, sem dublagem ou muitos efeitos sonoros para coisas como explosões, magias e gritos de batalha. Essa foi uma coisa que me deu mais falta.

Cross Tails
Mais retratos cairiam bem. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Cross Tails?

É o tempo, caninos e felinas, de darmos o pulo do gato (lol) e descobrir se compensa voar de cabeça nessa parada. Bom, comecemos pelo positivo. Cross Tails oferece uma experiência bem divertida de RPG de estratégia, entregando um sistemas de classe legal de usar e algumas mecânicas que tornam os combates menos enfadonhos e mais dinâmicos. O ciclo de jogo é maneiro, e não passamos raiva a toa. Além disso, a história com dois protagonistas opostos também permite uma visão mais ampla da trama e do conflito que a sustenta.

Pelo lado menos agradável, o título possui um roteiro escrito de maneira bem estranha que, somado aos visuais simples e sonoplastia rasa, vende uma imagem muito menos digna do que o devido. Isso, somado aos outros pontos que vimos e algumas pontas soltas na interface confusa, impedem que Cross Tails se erga muito acima do mar de outros títulos do gênero.

Isso invalida a experiência? De forma alguma. Por mais que possua suas falhas, Cross Tails me divertiu e não me arrependi de nenhum momento gasto durante meu tempo com ele. Contudo, o pensamento que não me fugiu a mente foi o de que poderíamos ter algo muito mais impactante aqui, mas que teve seu potencial desperdiçado por conta de pequenos problemas facilmente evitados.

Cross Tails chega nesta quinta-feira, 20, para Xbox One, Xbox Series X|S, PC, via Steam e Microsoft Store, Nintendo Switch, PlayStation 4 e PlayStation 5.

*Review elaborada em um Nintendo Switch, com código fornecido pela KEMCO.

Cross Tails

+ R$ 112,45
7

História

6.0/10

Jogabilidade

8.0/10

Sons e Visuais

6.0/10

Extras

8.0/10

Prós

  • Dois pontos de vista opostos para a mesma história
  • Mecânica de hate e estratégias elevam a experiência
  • Bom sistema de classes e habilidades adiciona profundidade ao combate
  • As batalhas são divertidas de se enfrentar

Contras

  • Mal escrito, com personagens rasos e pouco interessantes
  • Sonoplastia básica, com poucos sons e sem vozes
  • Visuais simples e com poucas gravuras de personagens
  • Potencial desperdiçado por conta de pequenas falhas que acabam se acumulando
  • Sem localização em PT-BR

Matheus Jenevain

    Redator de idade não especificada e habilidade excepcional (segundo o próprio, acredite se quiser). Curte Metroidvanias, RPGs e jogos de luta. Reza toda noite, intensamente, para receber um remake de God Hand. Nunca foi atendido.