Cyberpunk 2077 | Review
Depois de ser adiado várias vezes, Cyberpunk 2077 finalmente está entre nós! No entanto, o game da CD Projekt RED chegou sofrendo uma série de críticas por estar mal otimizado para os consoles da geração anterior e com muitos, muitos bugs. Nós tivemos acesso ao jogo e podemos então falar das nossas experiências ao longo de mais de 50 horas de gameplay entre missões primárias, secundárias e muitas voltas pela cidade de Night City.
Portanto, se você está interessado em uma crítica honesta sobre o que o tão aguardado título nos trouxe, vem comigo em mais uma análise do Pizza Fria!
Questões sobre Cyberpunk 2077 que precisam ser ditas
Antes de iniciarmos essa análise, se faz extremamente necessária a compreensão das críticas levantadas por jogadores do mundo todo (e que culminaram em memes e vídeos engraçados). Cyberpunk 2077 foi anunciado em 2012, tendo aí na conta cerca de 8 anos de desenvolvimento. Até aí, tudo bem. No entanto, no ano do lançamento, o jogo sofreu três adiamentos, diversas denúncias de crunch vindas de seus funcionários e, no final das contas, foi lançado quase que quebrado em algumas de suas versões, gerando revolta e até mesmo a remoção temporária da venda na PlayStation Store, que foi bombardeada com pedidos de devolução do dinheiro. Ou seja, tudo está errado e as ações da empresa só caíram por conta disso.
No entanto, CD Projekt RED já prometeu uma série de atualizações que melhorarão o jogo. Porém, como falar de um jogo que hipoteticamente poderá vir a ser algo, e não foi entregue tal como prometido? Pois é, fica difícil trabalhar com essa ideia, ainda mais num cenário onde funcionários e jogadores saem lesados da situação. Todavia, ainda há muita coisa pra falar sobre Cyberpunk 2077 e, feitas as observações iniciais, podemos finalmente abordar o jogo em si.
Bom dia, Night City!
Logo ao iniciarmos Cyberpunk 2077, nos deparamos com um vídeo de introdução que dá uma noção do que esperar na agitada cidade de Night City, onde tudo acontece. O cenário do game é repleto de “vida” e muito bem detalhado. No entanto, ainda não entrega a experiência que foi prometida nos Night City Wire, que foram apresentações virtuais dedicadas a falar do game. Tal detalhamento ainda está distante até mesmo do queridíssimo Grand Theft Auto V (GTA V), que ainda é uma referência incrível de jogo de mundo aberto. Ou seja, cá veio minha primeira decepção, mesmo vendo um potencial incrível na vida da cidade grande.
Sobre o detalhamento, ao percorrer o mapa, percebemos o caos de uma cidade futurista repleta de pessoas e veículos por todos os lados. Mas é engraçado perceber que boa parte dos transeuntes mal tem expressões (algo que é problemático em todos os personagens do jogo). Mesmo com cenários ricos e bem desenhados, o jogo ainda não traz a tal imersão prometida. Mesmo assim, é bonito e muito bem feito, ao menos em um PC equipado com uma RTX, e isso precisa também ser ressaltado. Mas beleza não é tudo, e a CD Projekt RED precisa dar uma geral nisso, pois o jogo está cheio de bugs e animações toscas do trânsito, sobretudo se analisado à distância.
Como é ser o/a V?
Logo após Cyberpunk 2077 começar, você poderá finalmente criar seu personagem, V. Sendo assim, você deverá escolher três caminhos iniciais para o/a personagem (os chamados lifepaths), onde você poderá escolher entre Nômade, Marginal e Corporativo. O primeiro, vive perambulando pelas Terras Baldias, que ficam nos arredores da cidade; o segundo, é cobra criada da cidade, conhecendo todo tipo de gente e todos os cantos; por último, o Corpe é uma espécie de figurão corporativo. Todas essas escolhas trazem algumas alterações no início da narrativa e no decorrer dela. Portanto, escolha de acordo com seus gostos e veja as diferentes formas como ela pode se desdobrar.
As questões na escolha de gênero contam com alguma influência no jogo, mas foram muito pouco aprofundadas. Ou seja, chove no molhado, ainda que você possa escolher genitais, identificação de gênero, voz, e etc.. No geral, a customização é bem modesta, indo novamente ao contrário do que a desenvolvedora tanto prometeu. Para alguns isso é um problema, para outros, só um detalhe infeliz. Mas voltando ao ponto da customização do/da personagem, temos uma série de características físicas (incluindo o tamanho e tipo da genitália), algo que particularmente não mudou em nada a minha jogabilidade, a não ser o bug que acabava deixando vazar o membro para fora da calça, sendo uma coisa bem bizarra de se ver. Pois é…
Trazendo poucas características para customização, há também a questão das roupas e acessórios, que aí sim, estão em uma quantidade interessante. Porém, segundo informa a GOG, se você criar ou mantiver muitos itens, o arquivo de salvamento poderá se corromper, causando um baita problema aos jogadores. Sendo assim, temos mais um problema em Cyberpunk 2077. Mas voltando aos itens presentes no jogo, eles são divididos como em outros títulos, como raros, épicos, normais… enfim, nesse ponto, a desenvolvedora mandou bem. Mas tem um “probleminha” aí: para você manter bons stats, vai ser muito difícil andar “na beca”. Isso acontece pois a maior parte das vestimentas e acessórios que encontrei com bons pontos eram espalhafatosos demais. Mas ai vai de cada um…
Por último, vale lembrar que Cyberpunk 2077 conta com alguns aspectos que eles bem tentaram aproximar dos RPGs, onde é possível subir níveis e evoluir uma árvore com diversas habilidades diferentes como combate corpo a corpo, manejo de armas, hacking e outras. Esses são pontos interessantes para a customização do personagem e, atrelados aos diálogos com múltiplas escolhas, tentam fazer jus a essa veia de RPG. No entanto, a sensação não é bem essa. Isso é um problema? Particularmente, para mim não, pois os diálogos são interessantes e essa árvore é uma mão na roda para jogadores que curtem customizar a jogabilidade, escolhendo, por exemplo, jogar furtivamente, ou, como eu gosto, que gosta de chegar explodindo tudo.
Uma história agitada…
Antes de mais nada, vale ressaltar que nossa análise não trará nenhum spoiler sobre o jogo, mas apenas uma opinião geral sobre a história e missões do game. Um ponto que merece ser observado em Cyberpunk 2077 é sua história que, tal como outros jogos, é dividida em missões principais e paralelas. No entanto, algumas dessas sidequests podem ter impacto na história principal. Sendo assim, a sugestão que dou é não sair rushando pelas missões principais, pois as missões secundárias apresentam interações interessantes, apresentando novos personagens. Sobre eles, achei a maior parte bem interessante, sendo este aspecto algo que traz um pouco mais de profundidade ao que o jogo se propõe, mesmo saindo um tanto da temática cyberpunk…
Sobre as interações entre o/a protagonista e os outros personagens, elas trazem em alguns momentos respostas exclusivas de cada lifepath, podendo ocasionar em mudanças na trama. Esse cuidado é interessante, mas honestamente, não notei mudanças tão bruscas no miolo da história. Porém, como já vem sendo noticiado na internet, a narrativa de Cyberpunk 2077 conta com seis tipos de finais que irão variar com algumas escolhas feitas momentos antes da missão final. Portanto, escolha bem o seu caminho e as respectivas decisões.
Ao se observar a história e os personagens, percebemos alguns personagens bem carismáticos. No entanto, faz-se extremamente necessário ressaltar a incrível participação de Keanu Reeves no papel de Johnny Silverhand, sendo o personagem o ponto mais interessante da narrativa. A captação de movimentos do ator atrelada, que foi muito bem feita, dá vida ao personagem que acompanha V ao longo da jornada, sendo um ponto muito positivo e que, por várias vezes, se ressalta na narrativa, sendo uma adição incrível ao jogo.
Sons, gráficos e a jogabilidade de Cyberpunk 2077
Não há como não iniciar essa parte sem dizer que Cyberpunk 2077 é totalmente localizado para o Brasil, contando com legendas e uma dublagem engraçada e bem feita. Aliás, esse ponto também pode não ser unânime, pois tal como o áudio original, em inglês, os dubladores brasileiros fizeram os mais variados sotaques para se aproximar da proposta original, e isso trouxe um certo tom cômico, é verdade. Mas, no geral, é bem legal e os dubladores envolvidos merecem os parabéns. Na maior parte, os sons do jogo são bem executados, mas também contam com alguns probleminhas. Um exemplo é a própria dublagem, que vez ou outra, muda a entonação ou a pronúncia de determinado nome. Mas são detalhes mesmo.
Já os gráficos… Esse ponto, mesmo com os bugs e a ausência de expressão dos personagens, merece destaque. Cyberpunk 2077 abre muito bem a geração com gráficos muito bonitos. Ao jogar o game com uma GeForce GTX 1060, já era possível perceber isso. Mas ao usar a RTX 3060 Ti e ligar o ray tracing, o jogo deu um salto bem interessante, trazendo um nível de realismo bem impressionante. Juntamente da história, é um dos pontos altos do jogo. E acredito que em uns meses isso ainda ficará melhor. Veremos…
Um ponto interessante é a jogabilidade. Diferentemente de muitos jogadores, não me senti incomodado com o fato do jogo ser em primeira pessoa. Seria legal poder mudar? Sim, claro, e provavelmente modders ou a própria CD Projekt RED vão trazer isso num futuro próximo. Mas retornando, ela é muito similar aos jogos de tiro tradicionais e funciona muito bem para um jogo cheio de ação. A física dos veículos é simples, mas funciona bem ao que se propõe. Na verdade, esse aspecto é até básico e muito bem explicado pelo jogo logo no início. Não há muito problema para se aprender as dinâmicas do jogo. Tudo é questão de tempo.
Por fim, um ponto em especial merece atenção: a inteligência artificial (ou a falta dela). Em um mundo onde pessoas utilizam-se de próteses cibernéticas para se aprimorarem de diversas formas, Cyberpunk 2077 conta com uma IA um tanto bisonha. Em alguns momentos, os inimigos ficam imóveis ou oferecem pouca (e até nenhuma) resistência, sendo basicamente feitos para treinar tiro ao alvo. Em outros, eles voam pra cima da gente tal como cheaters em jogos de tiro, usando e abusando da tecnologia de 2077. Com um tiro, os danados conseguem dar fim na gente. Isso é meio doido até em dificuldades mais avançadas, sendo mais um problema para a desenvolvedora corrigir. Por conta disso, o jogo não propôs muitos desafios.
Vale a pena comprar Cyberpunk 2077?
Sinceramente, respondendo de forma bem direta, na atual conjuntura, não. A CD Projekt RED prometeu mundos e fundos para os jogadores em Cyberpunk 2077 e não entregou metade do que era previsto. Isso é um absurdo sem tamanho, não só pela quantidade exagerada de problemas relatados nas redes, mas também pela questão do crunch, que de nada adiantou para que o jogo tivesse um melhor aproveitamento, mostrando que tal prática abusiva é um desrespeito com os profissionais da área.
No entanto, mesmo com essa infinidade de problemas, é possível imaginar que o game irá melhorar gradativamente, tal como ocorreu com The Witcher 3 (mas não nessa proporção, claro). Embora o jogo tenha rodado muito bem em meu PC, ficou nítido que ainda falta acertar muitos detalhes. Alguns erros são claros e até mesmo constantes. Como esta crítica se baseia no jogo HOJE, é difícil tecer grandes elogios. Eu fui parte desse hype, aguardei ansiosamente depois de três adiamentos e, embora tenha me divertido com os aspectos citados acima, não posso deixar de ressaltar os inúmeros problemas que encontrei. Portanto, dar uma nota alta não seria nada honesto e refletiria muito mais sobre um possível futuro do que no jogo atual.
Essa cultura de lançar um produto incompleto precisa ser criticada. Jogos custam caro e é uma tremenda injustiça com o consumidor comprar algo nessas condições. Sei que vivemos um momento de pandemia e diversos jogos e suas respectivas desenvolvedoras sofreram com problemas em seus cronogramas. No entanto, será que é só esse o problema? Eu acho que não, mas não me aprofundarei nisso.
De qualquer maneira, sei que a CD Projekt RED tem potencial para resolver os problemas de Cyberpunk 2077 e acredito que o jogo poderá chegar bem perto daquilo tudo que foi prometido sim. Mas essa questão só o futuro responderá e como não sou vidente, me furto a analisar o agora. E ele está bem longe de ser o que foi prometido. Que Mr. Reeves nos ajude!
Cyberpunk 2077 foi lançado no dia 10 de dezembro e está disponível para PlayStation 4 (neste momento, somente em mídia física), Xbox One e PC, via Steam, GOG.com e Epic Games Store. Há versões otimizadas previstas para chegar ao PlayStation 5 e aos Xbox Series X|S. No Metacritic, a versão avaliada está com média de 86 pontos.
*Review elaborada em um PC equipado com GeForce RTX, com código fornecido pela CD Projekt RED.