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Into the Dead: Our Darkest Days | Preview

Into the Dead: Our Darkest Days é um jogo de sobrevivência que aposta fortemente em mecânicas de gerenciamento — seja de recursos, da base ou das próprias pessoas envolvidas na trama. O título marca a estreia da franquia Into the Dead nos PCs, que já ultrapassou mais de 150 milhões de downloads em dispositivos móveis.

Inicialmente, a proposta do game me lembrou This War of Mine, principalmente pela forma como foca em uma jornada emocional e psicológica, centrada nos personagens e na dura realidade de sua luta diária por sobrevivência em meio a um apocalipse zumbi ambientado no Texas. Felizmente, o game promete ainda mais, tendo uma narrativa que se distancia dos clichês tão comuns nesse gênero— nada de heróis superpoderosos enfrentando hordas de infectados com bravura. Aqui, cada esquina representa um perigo real, cada decisão pode custar caro, e a tensão é constante.

Como um entusiasta de longa data de jogos de zumbis — e, confesso, já um tanto cansado da abordagem saturada que vem dominando o gênero nos últimos anos — me surpreendi positivamente com a proposta de Into the Dead: Our Darkest Days. Em vez de seguir o caminho tradicional, influenciado por títulos como Left 4 Dead, com foco absoluto na ação desenfreada, o jogo aposta em uma experiência mais contida, estratégica e humana.

Mas será que essa proposta de Into the Dead: Our Darkest Days é o suficiente para sustentar uma aventura envolvente? Confira em mais um preview antecipado aqui no Pizza Fria.

Sobrevivendo em Walton City

Into the Dead: Our Darkest Days começa com uma cinemática, ambientada em Walton City, no Texas, logo após um surto de vírus zumbi devastar a região. Através de uma transmissão de rádio, ouvimos que a cidade está além de qualquer salvação — a única esperança é fugir. Esse momento de abertura já estabelece o tom sombrio da narrativa e prepara o jogador para uma experiência de sobrevivência intensa e centrada no drama humano.

Na sequência, é preciso escolher uma entre algumas duplas de personagens disponíveis. Cada uma delas possui um histórico próprio, com características únicas que influenciam diretamente na forma como enfrentaremos os desafios da jornada. Alguns personagens se destacam pela força física, outros pela resiliência mental; há também aqueles com maior afinidade com armas de fogo ou armas brancas. Essa variedade contribui para uma abordagem estratégica logo de início em Into the Dead: Our Darkest Days, já que a composição da dupla pode determinar não apenas o estilo de jogo, mas também as chances de sobrevivência nos primeiros dias do apocalipse.

Into the Dead: Our Darkest Days
Os pontos fortes e fracos de cada personagem são um aspecto essencial a se considerar para a sobrevivência. (Imagem: Divulgação)

Após a escolha dos personagens, a jornada começa de forma angustiante: estamos em um abrigo improvisado e precário, prestes a ser invadido por zumbis. A urgência de encontrar um novo refúgio é clara, e é nesse contexto que somos introduzidos às principais mecânicas de gerenciamento do jogo. A partir desse ponto, o jogador passa a lidar com três status fundamentais para cada personagem: energia, fome e saúde mental.

A energia é consumida ao realizar tarefas prolongadas — como consertar barricadas, fabricar itens ou realizar explorações mais longas — e só pode ser restaurada com descanso. No entanto, no início da campanha, há apenas uma cama disponível, o que exige um gerenciamento cuidadoso de turnos de sono entre os sobreviventes.

A fome, por sua vez, representa um desafio ainda maior. A obtenção de alimentos depende exclusivamente da exploração, e nem sempre os recursos encontrados estão em boas condições. Inicialmente, o abrigo não conta com uma cozinha — uma instalação que precisa ser construída manualmente — o que impede o preparo adequado dos alimentos. O consumo de comida estragada pode acarretar efeitos colaterais, como a perda acelerada de energia. Além disso, doenças só podem ser tratadas com o uso de medicamentos, que são extremamente escassos.

O terceiro dos status é o da saúde mental. Negligenciar esse aspecto pode acarretar consequências graves: personagens deprimidos tendem a executar tarefas de forma ineficaz ou, em alguns casos, recusam-se a realizá-las por completo. Existem formas de controlar esse estados de forma temporaria, como o uso de álcool ou medicamentos, mas a recuperação duradoura exige a construção de espaços voltados ao lazer, o que adiciona outra camada de complexidade à gestão do abrigo.

Essas mecânicas de gerenciamento funcionam bem e conseguem transmitir uma sensação constante de tensão ao jogador. No entanto, durante o período em que experimentei Into the Dead: Our Darkest Days em acesso antecipado, percebi que a progressão ainda se mostra bastante limitada. Os status dos personagens não apresentam grande variedade de estados positivos ou negativos, o que resulta em uma experiência com pouca diferenciação entre campanhas distintas.

Into the Dead: Our Darkest Days
Faltou maior variação de estados positivos e negativos para os personagens. (Imagem: Divulgação)

Um dos elementos que mais senti falta foi a infecção por mordidas de zumbis — um aspecto clássico do gênero que poderia adicionar uma camada dramática ainda mais intensa à dinâmica do abrigo e às decisões morais que o jogador teria que tomar. Felizmente, a desenvolvedora já confirmou, por meio do roadmap oficial, que a infecção será implementada em atualizações futuras.

Into the Dead: Our Darkest Days
A desenvolvedora promete várioas novidades para Into the Dead: Our Darkest Days durante o acesso antecipado. (Imagem: Divulgação)

Gerenciamento de refúgio

O aspecto mais central de Into the Dead: Our Darkest Days é a forma como os jogadores gerenciam os recursos dentro do abrigo. O título adota uma perspectiva lateral em 2D, com ambientes divididos em cômodos e andares pelos quais os personagens podem transitar livremente. A qualquer momento é possível alternar entre os sobreviventes, atribuindo-lhes diferentes funções e controlando o avanço do tempo conforme executam suas tarefas.

Por exemplo, podemos alocar um personagem para consertar barricadas — uma ação essencial para a defesa do abrigo, desde que haja madeira disponível. A cada novo dia, os zumbis enfraquecem essas barreiras, e se elas forem destruídas, o abrigo será invadido, levando à morte quase certa. Em paralelo, o segundo personagem pode ser designado para construir itens como armas improvisadas ou medicamentos, ambos vitais para a sobrevivência em longo prazo.

Into the Dead: Our Darkest Days
Definir as tarefas corretas para cada personagem no abrigo é essencial para a sobrevivência a longo prazo. (Imagem: Divulgação)

Cada ação realizada em Into the Dead: Our Darkest Days consome parte das barras de fome e energia, exigindo uma gestão cuidadosa dos alimentos disponíveis e dos períodos de descanso. Além do crafting de itens, a construção de novos cômodos dentro do abrigo também é crucial. Ambientes como cozinhas, bancadas de fabricação e salas de lazer não só ampliam as opções de sobrevivência, como também impactam diretamente no bem-estar físico e mental dos personagens. Contudo, essas construções demandam recursos escassos, o que exige decisões estratégicas difíceis sobre qual estrutura priorizar.

Na minha primeira campanha, cometi o erro de investir na construção de uma bancada de armas antes de erguer uma cozinha. Essa escolha se revelou fatal: os personagens passaram fome, adoeceram, e como durante minhas expedições não consegui encontrar comida em bom estado, ambos acabaram morrendo. Esse aprendizado por tentativa e erro é um dos elementos mais envolventes do jogo, ainda mais considerando que cada dupla de personagens possui necessidades distintas, baseadas em seus pontos fortes e fracos.

A tensão da busca por recursos

A busca por recursos nas áreas externas é uma das partes mais tensas e estratégicas de Into the Dead: Our Darkest Days. Através do mapa disponível no abrigo, escolhemos qual região explorar, definindo também o que levar na mochila — que, vale lembrar, tem espaço bastante limitado. Cada local oferece uma estimativa do nível de perigo e da quantidade de suprimentos disponíveis. Isso nos obriga a pensar nos riscos da missão e decidir quais as necessidades imediatas do abrigo.

Durante a exploração, o ideal é mover-se agachado ao entrar em casas, pois sons podem atrair os zumbis. Contudo, esse é um ponto que, em minha opinião, ainda precisa ser melhorado. A inteligência artificial dos inimigos em Into the Dead: Our Darkest Days não reage com tanta sensibilidade ao som quanto seria esperado — muitas vezes, mesmo passando bem próximos aos infectados, conseguimos nos esgueirar sem consequências. Os zumbis só se tornam uma ameaça ao nos verem diretamente ou quando são alertados por outro ataque, o que reduz significativamente a tensão desses trechos.

Into the Dead: Our Darkest Days
Na exploração, furtividade é o segredo do sucesso. (Imagem: Divulgação)

Ainda assim, o sistema de furtividade funciona de forma eficaz em algumas situações. Portando usando armas brancas, como tesouras, garrafas quebradas ou facas (quando temos sorte de encontrar), é possível eliminar os inimigos de maneira silenciosa. No entanto, essas armas têm durabilidade limitada e não são confiáveis em confrontos diretos. Quando tudo falha, é possível atacar com as mãos, mas o processo é extremamente demorado e ineficaz — enfrentar mais de um zumbi dessa forma quase sempre leva à morte. E se um dos personagens morrer durante a missão, o jogo continua com o sobrevivente restante, o que torna a experiência ainda mais desafiadora.

Um detalhe que me agradou bastante durante a exploração foi o sistema de interação com portas fechadas. Não podemos ver o que há do outro lado, apenas ouvir. É através desses sons que devemos deduzir a posição dos inimigos, aguardando o momento certo para entrar e tentar um ataque furtivo.

Nas minhas explorações, adotei a estratégia de priorizar a coleta de itens essenciais conforme a necessidade do abrigo. Por exemplo, se meus personagens estavam passando fome, toda a busca era centrada em encontrar alimentos, deixando outros itens para uma próxima exploração. Essa abordagem é eficiente, já que os recursos permanecem no local caso voltemos em outro momento.

Into the Dead: Our Darkest Days
As vezes é necessário focar nos recursos essenciais para apenas sobreviver e voltar para explorar outro dia. (Imagem: Divulgação)

Outro elemento interessante durante as expedições são os telescópios posicionados em prédios. Ao localizá-los, podemos desbloquear novas áreas do mapa para explorarmos, o que amplia significativamente o escopo da campanha. Além disso, algumas dessas regiões escondem potenciais novos abrigos. Encontrá-los e migrar para eles, caso tenhamos os recursos necessários para torná-los habitáveis, garante uma progressão natural da narrativa, permitindo que os sobreviventes passem de condições precárias para estruturas mais seguras e funcionais.

Gráficos e trilha sonora

Into the Dead: Our Darkest Days apresenta uma direção de arte que me surpreendeu de forma positiva. Durante o dia, os cenários são vibrantes e detalhados, criando um contraste eficaz com o terror que se revela quando o jogador entra em casas escuras e estreitas, onde a presença de infectados pode ser iminente em qualquer cômodo.

Além disso, outro ponto que me chamou atenção positivamente foi a variedade dos ambientes. Ao longo da campanha, exploramos locais como motéis, residências abandonadas, mercados e até mesmo uma base de bombeiros. Essa diversidade de cenários enriquece a ambientação e impede que a repetição comprometa o ritmo da exploração.

Into the Dead: Our Darkest Days
Apesar de estar em acesso antecipado, a variedade de cenários surpreende em Into the Dead: Our Darkest Days. (Imagem: Divulgação)

A trilha sonora segue uma abordagem minimalista e extremamente eficaz. O game opta por utilizar a música de forma contida, deixando os sons ambientes — como passos, portas rangendo e grunhidos distantes — tomarem o protagonismo durante os trechos de exploração. Essa escolha estética contribui de maneira expressiva para a imersão, potencializando o sentimento de solidão e insegurança em um mundo silencioso dominado pelos zumbis.

Desempenho

Minha experiência foi em um PC equipado com uma RTX 3060. Jogando na resolução 1080p com DLSS no modo Qualidade, o título manteve uma taxa estável acima de 90 quadros por segundo, mesmo durante momentos mais intensos de exploração. No entanto, ao elevar a resolução para 1440p, utilizando o mesmo preset de DLSS, foi possível notar quedas de desempenho significativas, chegando a 50 FPS em algumas regiões mais abertas da cidade. Para contornar esse problema, a utilização do modo Equilibrado do DLSS se mostrou eficaz, mantendo o desempenho acima dos 60 FPS.

O que esperar de Into the Dead: Our Darkest Days?

Into the Dead: Our Darkest Days tem potencial dentro do gênero de sobrevivência, especialmente ao adotar uma abordagem mais tática e intimista em um cenário zumbi. Ainda que apresente algumas limitações notáveis neste estágio de acesso antecipado — sobretudo no que diz respeito à progressão narrativa e à pouca tensão nos confrontos diretos com os infectados —, o título já consegue se destacar graças à sua variedade de cenários e à complexidade envolvente na gestão de recursos e personagens dentro do abrigo. O sistema de gerenciamento, apesar de simples em alguns aspectos, é eficaz em criar tensão e engajamento, e revela um escopo ambicioso que pode evoluir significativamente com o tempo.

Se os desenvolvedores cumprirem as promessas já divulgadas, incluindo a implementação de novos finais, mais duplas jogáveis com características únicas, estados emocionais mais variados e, sobretudo, um sistema de infecção zumbi que traga consequências reais e difíceis de contornar, Into the Dead: Our Darkest Days tem tudo para se consolidar como uma das experiências mais marcantes do gênero nos últimos anos.

Into the Dead: Our Darkest Days foi desenvolvido pela PikPok e será lançado no dia 9 de abril em acesso antecipado para PC, via Steam.

*Preview elaborado em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela PikPok.

Leandro Paiva

Um estudante de jornalismo e o primeiro estagiário do site. Degustador nato de coxinha e pizza fria com ketchup. Amante de RPG, principalmente aqueles em que é possível pescar em vez de fazer a missão principal. Piadista em tempo integral e um grande degustador de café. Defensor de Birds of Prey e da DC em geral nas horas vagas.