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JETT: The Far Shore | Review

O que significa ser a última esperança de sobrevivência da sua espécie? Qual deve ser a sensação de ver seu planeta inteiro se despedir de você, enquanto parte rumo a um destino desconhecido nas estrelas? O que pensar ao deixar pra trás tudo e todos que conhece, sabendo que nunca mais vai vê-los? É movido por essas e outras grandes questões que JETT: The Far Shore tenta mover o jogador.

Desenvolvido pela canadense Superbrothers, em parceria com a japonesa Pine Scented Software, JETT: The Far Shore será lançado nesta terça-feira, 5, para PC, via Epic Games Store, e para PlayStation 4 e PlayStation 5. Jogamos o título antecipadamente e temos muito o que contar sobre ele!

O destino está nas estrelas

A história de JETT: The Far Shore é protagonizada por Mei, uma piloto eremita que parte junto com um grande conjunto de cientistas, estudiosos e pilotos rumo a um destino desconhecido. O objetivo: salvar a sua espécie do esquecimento. “Nós pertencemos ao passado. Você pertence ao nosso futuro. Vá”. Essas são as primeiras palavras ouvidas por Mei no jogo, vindas de uma mística ao se despedir. Assim, a piloto despede de sua família, e parte rumo ao seu destino.

Logo nos primeiros minutos, a intenção do jogo fica bem clara: JETT é composto de momentos. Não momentos de ação intensa ou combate até a morte, mas sim momentos de encanto, fascínio. São momentos de pura quietude, calma, mas que quando feitos de maneira certa, trazem admiração. Logo no início, você (ou a protagonista) precisa andar por uma passarela em direção às naves da sua longa jornada. Em volta dela, milhares de pessoas assistem e murmuram cânticos, em uma forma de abençoar a sua partida do planeta. A cena ficou marcada em minha memória por semanas.

JETT: The Far Shore
“Nós pertencemos ao passado. Você pertence ao nosso futuro. Vá” (Imagem: Reprodução)

Em seguida, Mei embarca em sua viagem, e hiberna até a chegada no seu planeta de destino. Ao chegar, mil anos se passaram, e todos que um dia já conheceu estão mortos há séculos.

JETT: The Far Shore é o segundo projeto da Superbrothers, sendo o primeiro o aclamado Sword & Sworcery EP, lançado há 10 anos. E as similaridades entre ambos não são poucas: os dois focam na sensação de admiração do jogador, colocando sempre momentos icônicos a cada minuto de gameplay. Mas em JETT, parece que a intenção foi elevar isso a um outro nível, deixando de lado os gráficos 2D e a PixelArt em favor de visuais extensos e impressionantes.

JETT: The Far Shore
A esperança de toda a espécie está em suas mãos (Imagem: Divulgação)

O voo rasante

Toda essa atmosfera é incrivelmente bem refletida na própria jogabilidade de JETT: The Far Shore. Ao se deslocar pelo planeta desconhecido, você controla a nave exploradora da equipe de viajantes, os chamados “jetts“. O veículo é feito para exploração de superfície, e portanto não ultrapassa mais do que algumas dezenas de metros de altitude. Durante o voo, a câmera assume um plano muito aberto e afastado da nave, o que cumpre dois propósitos: demonstrar a beleza do cenário ao seu redor, e ilustrar o quão pequeno é você, diante da vastidão do planeta.

Ao sair da nave e andar pela superfície, a câmera assume a 1ª pessoa, permitindo uma visão mais terrena do ambiente. Vendo diretamente com os olhos de Mei, você pode observar de perto a bela vegetação, além de interagir com os colegas de equipe e conhecer a central de controle.

Para selar esse estilo de jogo “atmosférico”, nada mais importante do que uma boa trilha sonora. E nesse ponto, JETT vai um passo além. As músicas do jogo são todas compostas pelo artista Scntfc, um nome importante da música eletrônica e design de som. E todas elas dão um tom essencial para transmitir os sentimentos que o jogo busca: assombro, cautela, admiração. Cada música se encaixa perfeitamente e expande os momentos do jogo.

A gameplay: em queda livre

Infelizmente, nem tudo em JETT: The Far Shore é de se admirar, e em alguns momentos a gameplay desmorona. Durante as explorações e voos longos, a dirigibilidade da nave é fantástica. Desviar de obstáculos e voar em rasante por desfiladeiros e cânions é uma sensação única. Porém, muitas das missões do jogo envolvem muita precisão no posicionamento da nave, seja ao pegar objetos no chão ou passar por cima de locais específicos. Durante isso, manter o controle da nave é muito difícil, e a câmera afastada e lenta na movimentação atrapalha ainda mais. Em alguns momentos, esses problemas chegaram a ser muito frustrantes.

Além disso, o jogo ainda tem um excesso de linearidade, apontando a todo o tempo para onde ir e o que fazer, apesar de ter um vasto mundo implorando para ser explorado. Foram poucos os momentos em que o jogo trouxe algum incentivo para a exploração, o que é uma pena, já que penso que este é o seu ponto forte.

E falando sobre o “apontamento”, temos mais um problema. Além da interface não possuir tradução para português, o inglês escrito é rebuscado, formal e “antigo”, dificultando o entendimento mesmo para quem tem inglês avançado. Para piorar, a língua falada pelos personagens é nativa do seu povo, e portanto fictícia, trazendo mais uma barreira para o entendimento. Isso se tornava um problema ainda maior durante as missões, já que era necessário controlar a nave e ler as legendas simultaneamente para acompanhar as falas e descobrir o que fazer.

Vale a pena comprar JETT: The Far Shore?

JETT: The Far Shore oferece momentos memoráveis para quem o explora. Seu ritmo lento e paisagens incríveis pode agradar fãs de jogos como Death Stranding ou No Man’s Sky, por exemplo. Todavia, alguns problemas em sua jogabilidade quebram a imersão durante algumas das missões do jogo. Além disso, sua barreira de linguagem pode afastar muitos de entender sua belíssima história.

*Review elaborada no PlayStation 5, com código fornecido pela Superbrothers.

JETT: The Far Shore

+ R$ 56,99
7.8

Jogabilidade

8.0/10

Gráficos

7.0/10

Trilha sonora e efeitos

10.0/10

Missões

6.0/10

Prós

  • Atmosfera incomparável
  • Exploração bem executada
  • Trilha sonora única

Contras

  • Missões pouco engajantes
  • Pouco incentivo à exploração
  • Gameplay sem refino em alguns momentos
  • Ausência de textos em PT-BR

Sérgio Barbosa

    Engenheiro desde 2016 e gamer apaixonado desde os 8. Ficcionado em desvendar cada engrenagem por trás de um jogo bem feito, estuda programação e design de jogos no tempo que pode (e às vezes no que não pode).