KreatureKind | Review
Lançar uma proposta de Card Game em 2025 é algo desafiador. Tanto os jogos físicos de carta quanto os simuladores dessa prática existem aos montes, alguns adaptados de grandes franquias, outros originais, mas todos buscando mostrar o que possuem de único para se justificar. A Valiant Game Studio, criadores de KreatureKind, o título de nossa resenha da vez, sem dúvida, pode se orgulhar de cumprir a difícil tarefa de mostrar originalidade no gênero, mas isso basta para ser um bom jogo? Confira a resposta a seguir, em mais uma review do Pizza Fria!
A caneta é mais forte que a espada
A primeira coisa que nos chama atenção em KreatureKind é a forma em que as “partidas de carta” acontecem. Em um universo repleto de criaturas mágicas, assumimos o papel de Riley e seus amigos, que buscam remediar o desperdício de magia, prejudicial ao mundo, através de diplomacia com diversas facções de seres fantásticos. Aqui, não queremos evocar monstros para destruir o inimigo ou drenar pontos de vida por meio de combate, e sim CONVENCER os adversários a enxergar nossos argumentos e aderir à nossa causa. Duelos ou partidas estão mais para debates, e isso reflete todo o organismo do Card Game.
Cada debate posiciona um time de até três personagens (ou ativistas), que controlamos, contra equipes inimigas. Cada membro possui uma barra de “HP” – que nesse caso significa “Hypothesis Points” (pontos de hipótese), ao invés de “Health Points” (pontos de vida). Esse medidor é dividido em três segmentos de cores (rosa – emocional, verde – racional, azul – factual). Cada carta corresponde a um desses estilos de argumento, e sua eficácia depende das fragilidades e resistências do oponente – um sistema tipo “pedra-papel-tesoura”. Esgotar o medidor do oponente equivale a “quebrar sua linha de raciocínio”. Fazer isso com todos os membros do time adversário, traz a vitória naquele embate.

Palavras têm poder, principalmente quando faladas em equipe
Os estágios do jogo são divididos em diversos confrontos com equipes adversárias. Após cada avanço, podemos obter novas cartas, que fortalecem nosso arsenal para as batalhas mais difíceis.
Apesar do exterior de fantasia e música relaxante, não é fácil para um iniciante atravessar todas as etapas de um estágio. Perder nos manda de volta para o início, mas mantendo os recursos de até onde chegamos, o que ajuda a aliviar a frustração e anima a entender melhor a sinergia entre nossos personagens.
Ao todo, são sete personagens desbloqueáveis no jogo e é aqui que vemos o elemento de construção de baralhos que KreatureKind traz. Não trabalhamos com um baralho único, cada membro que escolhemos para nosso time de debates tem suas próprias cartas e estilo de jogo.
As primeiras três personagens que obtemos são um exemplo de time balanceado. A protagonista, Riley, tem um bom equilíbrio de defesa e ataque, com opções de dano e cartas de suporte que permitem danificar o HP do adversário mesmo sob ataque. Yui, a segunda ativista, se especializa, em causar efeitos negativos ao oponente, inutilizando suas cartas e Mitra fecha o time sendo focada em gerar escudos e prover suporte continuado às companheiras.

Conforme vamos destravando outros personagens, temos acesso a decks mais extremos, focados totalmente em causar dano, como o músico Luca ou em cura e proteção como Tau, o cozinheiro.
Assim, vemos que mais que um jogo de cartas, é um exercício de montagem de time, típico de RPGs, convidando a experimentar combinações diferentes de três personagens que ressalta o estilo ofensivo, defensivo ou disruptor de cada jogador.
Nem todo argumento tem coerência
A proposta inovadora de KreatureKind é, sem dúvida, seu ponto mais positivo. Porém, existem alguns fatores problemáticos que seguram o jogo de atingir seu potencial total. Para mim, o mais grave é a falta de um modo multiplayer. Um dos maiores apelos de um jogo de cartas é criar estratégias para enfrentar outros jogadores, aprendendo com as deles no processo. Embora seja entendível a ideia do jogo refletir a diplomacia entre seres mágicos, suas regras funcionam perfeitamente em um formato PvP, o que, certamente, iria ajudar a prolongar a vida do jogo e facilitar a criação de eventuais expansões futuras.
Além disso, enfrentar os mesmos adversários controlados por computador evoca rapidamente repetição, ainda que existam vários finais para obter na campanha e cartas para colecionar.
O lado técnico também possui problemas, esses, mais fáceis de corrigir. A capacidade de trocar a música a qualquer momento é bem-vinda, assim como a playlist lo-fi que nos é oferecida. Mas tudo isso se perde com os efeitos sonoros repetidos e constantes. Cada ataque ou dano recebido resulta em uma cacofonia de risadas e gemidos de dor que se tornam repetitivos rapidamente e ofuscam a trilha sonora. Uma opção para desabilitar partes específicas do som é urgente.
A versão que joguei no PS5 também travou em momentos aleatórios, com certa frequência. Isso é particularmente danoso nesse jogo, onde não é possível manter seu progresso em meio a um estágio. Ter que reiniciar tudo por conta de um erro desses após gastar tempo e suor chegando perto do final é algo que nem os mais resistentes à frustração podem aguentar.

Por fim, enquanto é sempre admirável ver um jogo de empresas menores se preocupando com localização, a versão para português, por enquanto, está devendo muito na qualidade. Palavras claramente foram traduzidas automaticamente, como “Deal damage” sendo “Negócio dano”. Em um card game isso tem o problema extra de confundir ainda mais os jogadores, com traduções errôneas de termos importantes para o entendimento das regras.
Vale a pena comprar KreatureKind?
Os desenvolvedores de KreatureKind claramente são criativos e nos deram um produto original em um gênero saturado. O card game é divertido e as combinações entre personagens são abertas o suficiente para agradar quem gosta de sentar durante horas traçando estratégias baseadas em sinergias entre cartas e estilos de jogo. Então ainda há valor na experiência de um jogador. A campanha é curta, mas facilmente reaproveitada para se obter mais finais e experimentar novas cartas e combinações.
No entanto, mesmo com o preço mais acessível do que o normal, é difícil recomendar o jogo no estado atual, com problemas técnicos e a incerteza de um multiplayer (com modalidades local e online crossplay seria perfeito) que, a meu ver, seria muito bem-vindo. Principalmente com o estímulo de jogar a campanha repetidamente para fortalecer nosso baralho.
KreatureKind fez sua estreia no último dia 27 de junho para Xbox Series X|S e PlayStation 5, dois meses após sua estreia para PC, via Steam.
*Review feita em um PlayStation 5, com código fornecido pela Aurora Punks.
KreatureKind
BRL 89,90Prós
- Card Game criativo e divertido
- Boa curva de aprendizado. Fácil de entender, mas complexo nos níveis elevados.
- Arte bonita e música satisfatória.
Contras
- Falta de multiplayer e conteúdo repetitivo para um jogador
- Efeitos sonoros irritantes que ofuscam a boa música
- Problemas técnicos sérios
- Localização em português com baixa qualidade


