LEGO Voyagers | Review
Dois dos menores blocos plásticos possíveis, um mundo inteiro para explorar. Em LEGO Voyagers, a nova aventura cooperativa, não há pressa para salvar o universo nem chefões para derrotar – assim como o último jogo que analisei, Is This Seat Taken?. O que existe é a jornada de duas pequenas peças que, lado a lado, atravessam mundos construídos com muita imaginação e a precisão de um mestre montador experiente.
Desenvolvido por Light Brick Studio (LEGO Builder’s Journey) e publicado pela Annapurna Interactive, o título é, de fora a fora, uma brincadeira de montar pecinhas de LEGO se transforma em uma (des)coordenada procissão para superar desafios em conjunto. Eu te conto um pouco como foi a nossa experiência nesta análise para o Pizza Fria!
Navegue pela nossa análise de LEGO Voyagers
A essência cooperativa de LEGO Voyagers
Logo no começo, LEGO Voyagers deixa claro que a cooperação é a alma da experiência, pois você escolhe entre jogar com mais uma pessoa, de modo local ou online. No modo multijogador local, como joguei com minha mulher, a tela não se divide: ambos os jogadores compartilham o mesmo enquadramento, o que exige coordenação constante, especialmente quando as pecinhas se afastam e a câmera se distancia.
Primeiro mudamos o idioma para o português do Brasil, o que muda pouca coisa, somente os textos dos menus, pois os tijolos apenas fazem barulhinhos como uns Pikmin e nada mais. Em seguida, como num bom jogo de tabuleiro, escolhemos quem ficaria com qual cor (eu fiquei com o bloco azul; ela, com o vermelho).
O minimalismo das peças 1×1 (isto é, uma unidade de largura e uma de profundidade, muitas vezes chamadas studs) com um só olho induz a pessoa no controle a dizer “este sou eu”, e as texturas chapadas e coloridas de LEGO Voyagers ajudam bastante a criar uma atmosfera de um terrário de brinquedo. Essa escolha de design aproxima os personagens e os jogadores, criando um diálogo silencioso entre movimentos, pulos e encaixes.

(Imagem: Reprodução / Carlos Maestre)
Jogabilidade: quando blocos viram pontes
Invariavelmente, os primeiros minutos foram assim mesmo: cada um por si, tentando entender como controlamos um paralelepípedo de plástico por ilhotas. A alavanca direcional faz seu bloco girar – ou seria melhor dizer capotar? – numa direção, um botão o deixa em pé, outro botão cola seu bloco à peça solta de LEGO mais próxima.
É nesta fusão que a magia acontece: com as peças espalhadas, a obrigação de vocês (sua e de quem estiver jogando contigo) é unir forças e avançar ao construir pontes juntos. À medida que progredimos pelo tutorial, um verdadeiro playground virtual, ficou claro: LEGO Voyagers é simples, mas exige ter brincado um pouco com massinha. Ou seja, exige um pouco de coordenação motora.
Cada stud chega à sua casa, anoitece e, na manhã seguinte, ambos se sentam para ver a decolagem de um foguete LEGO. Mas… alguma coisa acontece e ele se fragmenta no ar, espalhando várias peças mundo afora.

Bom, construir pontes, pilotar barcos, entender quebra-cabeças ambientais, com alavancas separadas. Um exemplo simples: uma antena bloqueia a passagem. Um jogador controla o movimento na vertical, o outro na horizontal. Depois de alguns tropeços e risadas, a ponte articulada finalmente cai. É nessa mistura de comunicação fora da tela e coordenação dentro dela que o jogo se destaca.
Eventualmente, notamos que ações separadas de construção não são o suficiente para vencer o desafio proposto: sabe como eu disse que um botão cola o seu bloco a uma peça jogada por aí? Pois é, essa mesma função serve para unir os dois bloquinhos controlados por jogadores e ampliar o efeito de suas ações, já que vocês ganham altura e assim, se coordenarem direitinho, conseguirão escalar degraus altíssimos – isso para entregar a mais básica das vantagens.
Embora a escolha da cor não afete a jogabilidade – pois os blocos são idênticos no começo –, a viagem trará mudanças nas pecinhas individuais e testará as habilidades de cada jogador separadamente. É assim que, à medida que avançamos, o jogo brinca com a própria forma das peças. Uma delas ganha altura extra – dois studs empilhados – e isso muda completamente a lógica dos quebra-cabeças. É um toque simples, mas que renova a jogabilidade a cada capítulo e mantém a curiosidade acesa a cada novo cenário.
Mais adiante, o jogo explica como rotacionar as peças quando você está colado nelas e sobre o tabuleiro do mundo… Nós demoramos um pouco para pegar o jeito, pois a perspectiva isométrica foi impiedosa para nossa noção espacial: saltar fendas e correntezas exigiu múltiplas tentativas nossas, até que finalmente entendemos melhor como posicionar nossos bloquinhos dentro do espaço da tela.
Vale dizer ainda que também tentamos vasculhar todos os cantinhos para encontrar segredos e rotas alternativas, o que levou a uma aventura LEGO com algo em torno de 7 horas.

Estilo visual e sonoro: um terrário de brinquedo
A estética é minimalista, mas carregada de charme. Eu apenas consigo ver as situações como pequenos terrários criativos, montados dentro de aquários, com peças que você reconhece de qualquer caixa de LEGO, mas colocadas por aí de forma a deixar pistas para o problema em questão.
Sinceramente, não sei se a música está composta em MIDI, tudo parece indicar que sim. Os temas compõem o cenário e ilustram muito bem a passagem do tempo, já que a trilha cresce em locais específicos, justo antes de momentos cruciais. Vocês não assoviarão as faixas por aí, mas LEGO Voyagers entrega melodias bacanas o suficiente para aumentar o volume, ouvir os nhoms-nhoms dos bloquinhos e deixar jogadores imersos do início ao fim.
O resultado é uma narrativa visual que dispensa diálogos e cenas longas, mas não economiza na simplicidade de construir sentido pelo mero ato de aproximar pessoas, uma vez que o título faz os jogadores rirem e planejarem – juntos.

Se a comparação é inevitável, LEGO Voyagers lembra muito Biped: ambos exigem coordenação, comunicação e um certo senso de humor para lidar com as inevitáveis trapalhadas. O “desprogresso” sempre será culpa de um dos dois. Um salto errado, uma desconexão fora do tempo certo.
E aqui vale um esclarecimento importante: fora o fato de serem feitos com peças LEGO e terem foco cooperativo, LEGO Voyagers não tem relação alguma com os jogos LEGO licenciados no estilo Traveller’s Tales/Telltale. Não há aqui o humor pastelão, as cutscenes cheias de piadinhas visuais ou a ação e coleta de minikits. A proposta é outra: uma experiência mais contemplativa, com puzzles ambientais, física e coordenação verdadeira como protagonistas.
Nada disso deve impedir a euforia maior de avançar, ainda que os jogadores tenham habilidades em níveis muito diferentes.
Um momento desses foi durante a primeira hora e meia, quando os blocos coordenam um barco com dois motores paralelos. Faz-se necessário saber dosar a potência – ora quem está à esquerda, ora quem está à direita – para curvar prum lado, para ir reto, para curvar para o outro. Quando chegamos nesse ponto, saímos da orla alternando comandos de um para o outro. Ainda tínhamos que recolher as peças espalhadas em ilhotas e concluímos, “não vamos ter paciência para isso hoje”.

Desligamos, voltamos no dia seguinte e tudo mudou: naturalmente, mesmo sem palavras, pegamos o jeito por pura intuição, respeitando o momento do outro de acelerar (ou frear) e resolvemos a seção do barquinho em poucos minutos. E, assim, a física dos movimentos e a necessidade de pensar em conjunto tornam cada obstáculo uma pequena coreografia improvisada.
Em outros segmentos, uma pessoa pressiona um botão enquanto a outra avança. Talvez a alavanca ao lado vire repentinamente a plataforma ao lado e dispare o bloquinho pelo ar? Existem inúmeros desses desafios que exigem certa assincronia também. Alguns trechos forçam mais o lado do raciocínio lógico: blocos que emitem energia devem ser reposicionados para abrir portões… E agora?
O melhor de tudo – e talvez para jogadores nos seus 40, com tempo escasso, ou mesmo para pais que queiram jogar com os filhos – é que o ritmo de LEGO Voyagers se prova aconchegante e certeiro. Não há penalidades severas por errar, e o jogo parece mais interessado em ver vocês experimentarem soluções do que em punir falhas.
Outro detalhe: deixem o jogo encostado uma semana e saberão exatamente de onde continuar e como continuar. É improvável pegar o título e não querer levá-lo até o fim. Essa filosofia de design transforma cada fase em um convite para brincar, explorar e, claro, construir memórias.

Vale a pena comprar LEGO Voyagers?
Foram cerca de 7 horas de jogo — uma duração enxuta, mas que nunca se arrasta. Considerando os quase R$ 90 de lançamento, pode parecer alto. Mas se a ideia é ter uma experiência cooperativa polida, cheia de charme e que não desperdiça tempo, a conta acaba fechando.
Se você gosta de experiências cooperativas que misturam criatividade, física e um toque de narrativa visual, a resposta é um sonoro sim. Dificilmente o título vai render algo próximo às 10 horas, mas LEGO Voyagers certamente está repleto de excelentes desafios cooperativos, carisma visual e sonoro e de boa jogabilidade. Caso o preço do lançamento pareça elevado, não deixe de listar o game e fique atento a promoções.
Duas pecinhas minúsculas, um mundo inteiro para explorar. LEGO Voyagers não entrega apenas puzzles cooperativos: entrega memórias. Se você busca criatividade, coordenação e aquela sensação boa de construir algo junto, este é o tipo de jornada que prova que até os menores blocos sustentam noites divertidas e inesquecíveis de jogatina.
LEGO Voyagers será lançado em 15 de setembro de 2025 para Nintendo Switch, PlayStation 4 e PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC, via Steam e Epic Games Store, com suporte a multiplayer local e online, além do recurso Friend’s Pass, que permite que dois jogadores joguem juntos mesmo que apenas um possua o jogo.
*Review elaborada em um Xbox Series X, com código fornecido pela Annapurna Interactive.
LEGO Voyagers
BRL 90,99Prós
- Cooperação criativa e intuitiva
- Visual minimalista encantador, com cenários que parecem terrários LEGO
- Evolução simples, mas eficaz, das peças (studs empilhados, novas mecânicas)
- Sem punições severas, favorece experimentação
- Compatível com multiplayer local e online, com Friend’s Pass
Contras
- Perspectiva isométrica pode confundir nos saltos e deslocamentos
- Preço de lançamento pode parecer alto para a duração
- Falta contraste nos menus


