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Lost Soul Aside | Review

Depois de anos de expectativa e diversos adiamentos, Lost Soul Aside finalmente chegou ao mercado no fim de agosto de 2025, disponível para PlayStation 5 e PC. O jogo, desenvolvido pela Ultizero Games e publicado pela Sony, nasceu como um projeto ambicioso: entregar uma experiência de ação estilizada nos moldes dos grandes RPGs de ação japoneses, mas com a pegada de um hack & slash moderno. A proposta, em teoria, tinha todos os ingredientes para conquistar o público: combates intensos, personagens carismáticos e uma narrativa épica que mistura fantasia e ficção científica.

Na prática, porém, o resultado fica aquém do esperado. Após horas de gameplay, a impressão que fica é a de um jogo que brilha em momentos específicos, principalmente nas batalhas contra alguns chefes, mas que não sustenta a promessa inicial devido a falhas técnicas, uma narrativa rasa e decisões de design que comprometem a experiência. Os detalhes dessa conclusão eu trago agora, em mais uma review do Pizza Fria!

Do sonho solo ao peso das expectativas

A história de Lost Soul Aside fora das telas é interessante. Em 2016, o jogo chamou a atenção do mundo inteiro quando seu criador publicou um trailer feito sozinho na Unreal Engine 4. Na época, a proposta de um RPG de ação com visual estilizado, lembrando produções de alto orçamento da Square Enix, impressionou pela qualidade alcançada por apenas uma pessoa.

O feito não passou despercebido: a Sony rapidamente entrou como parceira, a Ultizero Games foi fundada e o projeto ganhou fôlego para se tornar um lançamento de peso. Com isso, a ambição cresceu junto — o escopo se expandiu, o tempo de produção se estendeu por quase uma década e a expectativa dos jogadores atingiu níveis altíssimos.

Esse contexto ajuda a entender parte da frustração que acompanha o jogo hoje. Principalmente porque, ao transformar um sonho solo em um produto posicionado como título premium da Sony, Lost Soul Aside passou a ser comparado diretamente com os grandes nomes do gênero. É nesse ponto que a obra não consegue sustentar o peso das próprias promessas, entregando um resultado que mais lembra um híbrido inacabado de indie e AAA.

O primeiro trailer de Lost Soul Aside foi um sucesso.

Uma história de potencial desperdiçado

A jornada de Lost Soul Aside começa de forma promissora. Assumimos o controle de Kaser, um jovem que se une ao Lorde Arena, uma entidade em forma de dragão, em busca de salvar sua irmã, que, pasmém, teve sua alma sequestrada. A premissa até tem o peso dramático necessário para engajar na primeira hora, e as cutscenes de abertura realmente se destacam. A direção cinematográfica é bem conduzida, com enquadramentos que remetem a produções de alto orçamento e prometem uma aventura épica.

O problema surge logo depois: a história não consegue manter esse ritmo. O enredo se apoia em clichês já explorados em diversos JRPGs — impérios autoritários, dimensões paralelas e protagonistas atormentados por responsabilidades. O que poderia ser uma narrativa rica e envolvente acaba se transformando em uma colcha de retalhos previsível, sem profundidade nos personagens e sem surpresas que justifiquem o investimento emocional do jogador.

Os diálogos também atrapalham mais do que ajudam. A dublagem em inglês carece de emoção, soando muitas vezes como leitura de roteiro, enquanto a mecânica de avanço das conversas é frustrante: a cada fala, é preciso pressionar quadrado para habilitar o avanço automático, mas esse recurso não fica salvo por padrão. Em outras palavras, a cada diálogo, o jogador precisa escolher entre apertar X para passar manualmente ou ativar o avanço automático novamente. É um detalhe aparentemente pequeno, mas que, ao longo da campanha, se torna irritante e reforça a sensação de que faltou cuidado em aspectos básicos da experiência.

Lost Soul Aside
O quê??? (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

Combate: o brilho que quase salva o jogo

Se há um ponto em que Lost Soul Aside consegue entregar algo consistente, esse ponto é o combate. A jogabilidade lembra bastante os dois capítulos do remake de Final Fantasy VII, especialmente na forma como alternamos entre ataques rápidos, habilidades especiais e a troca de armas em tempo real. A diferença é que aqui não existe a camada estratégica das magias e do gerenciamento de barras de ATB. O sistema é muito mais próximo de um hack & slash puro, no estilo de Devil May Cry.

Com quatro tipos de armas desbloqueados gradualmente, cada uma com árvores de habilidades próprias, o jogo oferece liberdade para criar combos elaborados e adaptar o estilo de luta ao gosto do jogador. A fluidez das animações é, em muitos momentos, satisfatória, e enfrentar inimigos em sequência gera aquela sensação agradável, típica dos melhores jogos do gênero.

O grande destaque, sem dúvida, são os confrontos contra alguns dos chefes do jogo. Eles exigem atenção ao padrão de movimentos, uso preciso de esquivas e domínio das ferramentas de combate. Nessas horas, Lost Soul Aside mostra o potencial que poderia ter alcançado, entregando batalhas memoráveis. A sensação de vitória após derrotar alguns desses chefes é autêntica, e é fácil perceber o esforço da equipe em criar inimigos marcantes.

Mas mesmo nesse aspecto positivo há ressalvas. O jogo demora a liberar suas melhores mecânicas, o que faz com que as primeiras horas sejam arrastadas e limitadas. Além disso, a falta de ajuste de opções de dificuldade prejudica a experiência: inimigos comuns são fáceis demais, enquanto alguns chefes apresentam picos de desafio abruptos, gerando frustração em vez de satisfação. Essa inconsistência, somada ao excesso de inimigos que funcionam como verdadeiras esponjas de dano, acaba desgastando o sistema de combate com o passar do tempo.

Lost Soul Aside
O combate é o que há de mais interessante no game (Imagem: Divulgação)

Estrutura linear e repetitiva

Ao contrário de RPGs modernos que investem em mundos abertos, Lost Soul Aside segue uma estrutura linear, basicamente corredores que conectam arenas de combate e algumas áreas de exploração limitada. Essa decisão poderia ter funcionado bem se houvesse variedade de cenários ou missões, mas não é o que acontece.

Com o tempo, a fórmula se torna previsível: avançamos pelo mapa, enfrentamos grupos de inimigos, chegamos a uma área maior com mais adversários, seguimos adiante até encontrar um chefe. Essa repetição excessiva desgasta, especialmente porque o design de inimigos carece de variedade. Muitos são reciclados em versões maiores ou com cores diferentes, sem oferecer novos desafios.

As tentativas de diversificar a jogabilidade com segmentos de plataforma ou pequenos puzzles falham miseravelmente. Os pulos de Kaser são travados, a câmera frequentemente atrapalha e os quebra-cabeças são tão simplórios que parecem adicionados apenas para estender artificialmente a campanha. Em vez de enriquecer a experiência, essas partes ressaltam ainda mais as limitações do jogo.

Lost Soul Aside
Blue Eyes White Dragon, é você? (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

Gráficos: brilho nas cutscenes, decepção no gameplay

Visualmente, Lost Soul Aside é um título que engana. Nas cutscenes, a qualidade das animações e dos efeitos chega a impressionar, com momentos que poderiam estar em produções da Square Enix ou até mesmo em um filme animado de alto orçamento. Contudo, quando voltamos ao gameplay, a realidade muda drasticamente.

Os cenários em tempo real apresentam texturas de baixa resolução, pop-in de elementos e modelos de personagens que parecem datados. As expressões faciais são fracas, muitas vezes quebrando a imersão em momentos dramáticos. Essa discrepância entre as cutscenes e o jogo em si é gritante e dá a sensação de que houve um desequilíbrio no investimento de recursos: o time priorizou as cenas cinematográficas em detrimento do que realmente importa, a jogabilidade contínua.

Além disso, o excesso de efeitos visuais durante os combates, como partículas e explosões de luz, cria poluição visual que prejudica a leitura da ação. Em batalhas mais caóticas, é difícil enxergar o que está acontecendo, e a câmera pouco colaborativa só agrava o problema.

Lost Soul Aside
As cutscenes têm qualidade, que contrastam um pouco com os gráficos dentro do jogo (Imagem: Reprodução/Lucas Soares)

Som: trilha inspirada, dublagem frustrante

Se os gráficos oscilam entre momentos belos e outros decepcionantes, o mesmo acontece com o áudio. A trilha sonora é, sem dúvida, um dos pontos altos. Misturando orquestrações grandiosas com guitarras pesadas, as músicas elevam a intensidade das batalhas e dão um ar épico às cutscenes. Em alguns momentos mais tranquilos, faixas melódicas e suaves lembram produções clássicas de estúdios japoneses, mostrando o cuidado na composição.

Porém, a dublagem derruba qualquer tentativa de imersão. As vozes em inglês soam artificiais e sem emoção, tornando diálogos sérios em algo involuntariamente engraçado. A alternativa em japonês, embora melhor, também não chega a impressionar. Para completar, a mixagem de áudio apresenta inconsistências: efeitos que somem, músicas que cortam abruptamente e desequilíbrios de volume entre falas e trilha sonora.

Lost Soul Aside
Sempre ter que apertar botões para avançar as falas é o cúmulo (Imagem: Divulgação)

Desempenho no PlayStation 5 Pro

Jogando no PlayStation 5 Pro, a performance de Lost Soul Aside foi razoavelmente estável, mas longe de impecável. O modo performance garante 60 quadros por segundo na maior parte do tempo, mas há quedas em batalhas com muitos efeitos visuais. Além disso, engasgos frequentes ocorrem quando o jogo faz autosave ou carrega novos ambientes, quebrando o ritmo da ação.

Embora não tenha encontrado crashes graves, a experiência é marcada por pequenos problemas técnicos que reforçam a sensação de falta de polimento. É aceitável em um projeto de menor escala, mas inaceitável quando se considera o posicionamento de Lost Soul Aside como um título premium publicado pela Sony.

Vale a pena comprar Lost Soul Aside?

Lost Soul Aside é um jogo que, apesar de alguns momentos de brilho, não consegue sustentar a expectativa criada em torno dele. A narrativa é genérica, os personagens não convencem e a estrutura de fases repete padrões até a exaustão. O combate é, sim, divertido e pode empolgar quem gosta de hack & slash, mas sofre com desequilíbrios, repetição e falta de variedade.

Visualmente, há um abismo entre o que é mostrado nas cutscenes e o que se vê no gameplay, e no áudio, a ótima trilha não compensa a dublagem fraca e os problemas de mixagem. No PlayStation 5 Pro, o desempenho é aceitável, mas repleto de pequenas falhas que reforçam a ideia de um produto inacabado.

No fim das contas, Lost Soul Aside parece um título preso entre duas gerações. Ele tenta emular a grandiosidade de franquias como Final Fantasy e Devil May Cry, mas tropeça em quase todos os aspectos fora do combate. Para fãs hardcore de jogos de ação, pode haver algum valor nas batalhas contra chefes e na trilha sonora. Mas, para o público em geral, é difícil recomendar, especialmente considerando o preço de lançamento.

A sensação que fica é de frustração: havia um potencial enorme, mas que se perdeu em meio a escolhas equivocadas e execução inconsistente. Um jogo que poderia ter sido memorável, mas que acabou se tornando apenas mais um na prateleira dos esquecíveis.

Lost Soul Aside chegou no dia 29 de agosto para PC, via Steam e Epic Games Store, e PlayStation 5.

*Review elaborada em um PlayStation 5 Pro, com código fornecido pela Sony.

Lost Soul Aside

BRL 339,90
5.8

História

5.0/10

Gráficos e Sons

6.0/10

Gameplay

6.5/10

Extras

5.5/10

Prós

  • Sistema de combate, com combos criativos e variedade de armas.
  • Confrontos contra chefes são desafiadores
  • Trilha sonora
  • Legendado em PT-BR

Contras

  • Narrativa previsível e personagens pouco carismáticos.
  • Diálogos mal implementados e dublagem fraca.
  • Gráficos inconsistentes, poluição visual e câmera problemática.
  • Problemas técnicos frequentes, como quedas de fps e stuttering.

Lucas Soares

Jornalista e fã de videogames desde criança. Já teve Mega Drive, Game Boy Color, PS1, PS2, PS3, PS4, PSVR, PS Vita, Nintendo 3DS e agora tem "só" um PS5, um Nintendo Switch e um PC Gamer. Para ele, o melhor jogo da história é Chrono Trigger, mas Metal Gear Solid 3, Final Fantasy X, The Last of Us Part II e Red Dead Redemption 2 completam o Top-5.