Metamorphosis | Review

Com uma narrativa curta, mas completamente imersiva, Metamorphosis, game desenvolvido pela Ovid Works e distribuído pela All in! Games traz uma mistura insana do mundo das obras de Franz Kafka, famoso autor de língua alemã conhecido por grandes obras como A Metamorfose, O Castelo e O Processo. O game em questão, que chega nesta quarta-feira, 12, para PC, via Steam e GOG.com, PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch, mescla a narrativa de todos esses contos em uma aventura repleta de puzzles.

A história de Metamorphosis

No jogo, você controlará Gregor Samsa, personagem do conto A Metamorfose, que se transforma em um inseto. Em meio a essa descoberta insana, ele deverá ajudar seu amigo, Joseph K., personagem presente nos contos O Processo e O Castelo a não ser preso de forma injusta. Sendo assim, Samsa parte em uma jornada incrível para desvendar os mistérios de sua bizarra transformação e, ao mesmo tempo, livrar Joseph K. de uma prisão arbitrária.

Com essa história que mescla três contos incríveis de Kafka, Metamorphosis é uma aventura vivida em primeira pessoa, sendo ambientada num mundo completamente surreal, onde suas novas habilidades serão a última esperança de salvação. Portanto, prepare-se para encontrar com diferentes tipos de personagens e quebra-cabeças ao longo da curta jornada, que conta com cerca de 4 horas. E, embora o tempo seja curto, você verá uma série de referências, como a transformação de Gregor, todo o rancor do autor com a burocracia estatal, a busca pela Torre, que nada mais é que uma referência ao castelo, etc. Enfim, o jogo é uma mistura surreal da mente incrível de Kafka.

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Bem-vindo à Torre. Ou seria O Castelo? (Imagem: Divulgação)

A perspectiva de uma “metamorfose ambulante”

Sinceramente, Metamorphosis é uma homenagem interessante às obras de Franz Kafka. Sendo assim, se você já leu pelo menos um pouco sobre o autor, certamente identificará detalhes misturados em meio a jornada. No entanto, fica uma questão: como é a gameplay do jogo? Pois bem, ao encararmos a perspectiva de Gregor em primeira pessoa, sendo possível ver suas perninhas de inseto ao olhar pra baixo, temos a missão de seguir uma série de trajetos em um mundo gigantesco, onde você, como um pequeno inseto, deverá se aventurar.

Ao longo de todo o jogo, você receberá dicas que serão acessíveis por meio de uma visão de cima do ambiente em que você se encontra, não sendo difícil descobrir para onde ir ou onde explorar. Os puzzles são bem simples e, sinceramente, se o jogo investisse um pouco mais na dificuldade deles, talvez fosse mais desafiador. Mas, mesmo assim, confesso que me senti muito imerso no mundo e inclusive acabei lendo algumas coisas de Kafka para saber onde a narrativa se encaixava.

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A proporção das coisas traz uma imersão incrível em Metamorphosis. (Imagem: Divulgação)

Um detalhe que eu particularmente amei foi a sensação de ser um inseto minúsculo em meio ao mundo normal, observando a diferença de escala das coisas ao passo que, em diversos momentos, você observa humanos dialogando tal como nos livros do autor. Além disso, outra coisa que gostei, foi uma espécie de fator intuitivo para conseguir avançar na história. No caso, acho que o ideal para o jogo seria “pensar como um inseto” ao tentar percorrer os caminhos. Portanto, pule, use de material pegajoso para escalar alturas e seja criativo para resolver os problemas propostos, tudo isso por uma nova perspectiva.

Gráficos, diálogos e trilha sonora

Utilizando-se da Unreal Engine, Metamorphosis traz em seus gráficos uma aura surrealista, algo que se encaixa perfeitamente na ideia lúdica do jogo. E tudo isso é muito bem complementado pelos ricos diálogos tidos pelos humanos, personagens secundários que ficam ao fundo reproduzindo longas conversas que ecoam pelas gavetas em que você deverá rastejar. Por isso, não espere gráficos de última geração, pois não faria sentido um jogo com uma viagem tão grande fosse “realista”.

Outro aspecto que também me chamou a atenção foi a trilha sonora, que entra em momentos específicos e transforma toda a narrativa, a deixando ainda mais imersiva e bem insana, tal como as obras do autor homenageado. Somando todos esses aspectos, o título consegue trazer não só uma imersão ao mundo apresentado, mas uma real sensação de ser mesmo um inseto.

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Viaje por um mundo completamente surreal proporcionado por Metamorphosis. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Metamorphosis?

O jogo me encantou pela simplicidade e excelente execução da proposta. Parecia que todas as ideias loucas que eu tinha para atingir o objetivo foram ficando cada vez mais óbvias de acordo com a minha familiarização com a forma diminuta de Gregor. Além disso, antes de jogar Metamorphosis, conhecia a obra de Kafka apenas de nome, tendo lido vez ou outra algumas referências em outros livros.

Mas, ao concluir o jogo, me senti no dever moral de procurar entender algumas de suas obras para, talvez, perceber mais claramente o que se passava no diminuto mundo de Gregor Samsa. A partir disso, confesso que a aventura teve mais corpo, sendo muito mais fácil identificar todas as referências que surgem. Mas, mesmo sem conhecer, o jogo é divertido. O único problema é o tempo dele ser muito curto, algo que pode ser um grande problema para os jogadores atuais. Particularmente, achei que poderia render mais algumas horas, justamente por estar tão imerso.

Um ponto que merece ser ressaltado é que o título é totalmente legendado para o português. Portanto, é possível entender todos os diálogos sem nenhum problema, inclusive quando os insetos falam com suas vozes bizarras. Por fim, se você gosta das obras de Kafka, por favor, jogue; se você ainda não é, por favor, leia pelo menos A Metamorfose e jogue também!

*Review elaborada em um PC equipado com GeForce GTX, com código fornecido pela All in! Games.

Metamorphosis

7.9

História

8.4/10

Jogabilidade

8.4/10

Gráficos e sons

7.8/10

Extras

7.0/10

Prós

  • Legendado em português
  • A sensação de ser um inseto é realmente sentida
  • A mistura nos contos de Kafka é genial

Contras

  • O jogo infelizmente é muito curto
  • Poderia ser mais desafiador

Álvaro Saluan

Historiador e cientista social de formação, é completamente apaixonado por videogames e escreve sobre o tema há uns bons anos. Vê os jogos para além do entretenimento, considerando todo o processo como uma grande e diversificada arte.