New Super Lucky’s Tale | Review
A primeira impressão de New Super Lucky’s Tale pode ser a de ver um jogo de plataforma um tanto genérico. Afinal de contas, Lucky não é um mascote tão reconhecível como Mario e Sonic e, além disso, os visuais infantis não são saltam aos olhos logo de cara. Contudo, ao jogar, é fácil perceber como a desenvolvedora Playful cumpre com esmero a proposta do jogo.
O time aproveitou a experiência adquirida com Super Lucky’s Tale (2017) e colocou o aprendizado em prática para ter o produto com o qual sonhou. Assim, New Super Lucky’s Tale é uma reimaginação do original, com melhorias e redesenhos. O diretor criativo Dan Hurd diz que a ideia central do jogo é ser uma plataforma de parquinho, sem nada impondo direções aos jogadores, deixando-os com o próprio tempo e brincando por cada fase. Será que é isso mesmo? Confira a análise de New Super Lucky’s Tale do Pizza Fria!
Uma história de muitas páginas
New Super Lucky’s Tale apresenta Lucky Swiftail, uma raposinha valente tentando descobrir sua força interior ao mesmo tempo que tenta ajudar sua irmã, Lyra, a proteger o Livro das Eras. Dentro desse livro, existem mundos inteiros a serem explorados e personagens com vida própria. Mas nem tudo é pacífico, já que Jinx, o misterioso vilão e gato mago, tenta a todo custo roubar o Livro das Eras para propósitos malignos.
Pela aventura, devemos enfrentar os filhotes de Jinx (a gangue conhecida como Kitty Litter) e fazer amigos, como ietis, várias minhocas caipiras e tantos outros personagens coloridos que habitam o livro. Sem a ajuda de Lucky, todos serão presas fáceis para os planos nada bem intencionados do gato e mago Jinx e de seus filhotes.
A história é um pouco clichê, até mesmo brega, e começa com o protagonista sugado para as páginas do livro. Dentro do Livro das Eras estão retratados cinco mundos (Sky Castle, Veggie Village, Wrestful Retreat, Gilly Island e Hauntingham), apresentando ambientes clássicos dos jogos de plataforma.
Habilidades para recuperar as páginas do Livro das Eras
A aventura de Lucky começa em Sky Castle, um ambiente fantástico com ares medievais no alto das nuvens. A introdução segue pelo tutorial, responsável por ensinar as mecânicas básicas e as habilidades de Lucky. Já de começo, a raposa conta com todos os movimentos possíveis: o salto pode se transformar em salto duplo, que por sua vez pode ser prolongado com o auxílio do golpe, que também pode ser usado em terra. Quando estiver no chão, os gatilhos servem para escavar a terra fofa.
Apesar de parecer um repertório pequeno, New Super Lucky’s Tale traz elementos estratégicos para o uso de cada habilidade. Às vezes, o chão é de pedra ou duro ao ponto de Lucky não poder escavar. Abaixo da terra, Lucky fica invisível aos inimigos, cujos pontos fracos devem ser explorados de maneiras distintas. As abelhas, por exemplo, lançam ferrões que podem ser rebatidos, enquanto a abordagem mais segura contra os alhos (sim, alhos) é acertá-los ao emergir da terra.
A cada fase, a herança collectathon se faz presente com quatro páginas a serem resgatadas. Cada uma das páginas obedece sempre aos mesmos critérios: toda fase tem uma página encontrada ao final (obrigatória para completar o nível), uma página dada ao pegar 300 moedas douradas, outra ao conseguir encontrar as letras espalhadas que compõem “Lucky” e, por fim, uma página oculta, encontrada nas mais diferentes oportunidades.
A aventura se estende pela visita à engraçada fazenda com visual campestre gerida por minhocas caipiras de Veggie Village, uma referência explícita à franquia Worms e sátira de texanos. Já Wrestful Retreat mistura ietis, luta livre e deserto. Gilly Island preenche os requisitos necessários para ser a fase da praia. Finalmente, o fantástico Hauntingham é um parque de diversões fantasma bem vivo e colorido. Esses cinco mundos são hubs centrais para suas respectivas fases e também trazem páginas escondidas em minigames e em quebra-cabeças cujo objetivo é alinhar as estátuas de Lucky com a marca verde no chão.
O lugar de New Super Lucky’s Tale nos jogos de plataforma em 3D
Os últimos anos trouxeram uma revitalização do estilo plataforma em três dimensões, predominante principalmente durante a era de Nintendo 64 e de PlayStation. Os nomes daquela época que definiram o estilo têm um peso imenso na história dos videogames: além de Super Mario 64, a geração e o gênero foram definidos por Banjo-Kazooie e sua continuação Banjo-Tooie, e Spyro e Crash Bandicoot – ambos com três jogos.
Apesar de esquecidos por algum tempo, os jogos de plataforma voltaram a ser tendência a partir de 2017, com indies como Yooka-Laylee – dos desenvolvedores de Banjo-Kazooie – e A Hat in Time. Mas o prêmio de “revival” fica com Super Mario Odyssey, lançado no mesmo ano, para Nintendo Switch, responsável por conseguir inovar e ser significativamente marcante. Claro, estes exemplos contaram com bons financiamentos, sobretudo Super Mario Odyssey, desenvolvido pela própria Nintendo. Qual espaço resta para um novo nome, como New Super Lucky’s Tale?
De acordo com o diretor criativo Dan Hurd, New Super Lucky’s Tale é um jogo de plataforma de parquinho (playground platformer). A proposta deste conceito é que o jogo não imponha sobre o jogador a pressão de executar uma determinada tarefa com correria. Por isso, fica claro que a desenvolvedora trabalhou com o objetivo de criar um jogo dedicado principalmente aos novatos em videogames. Desta forma, ela conseguiu criar um jogo único, que se destaca dos citados acima.
O “novo” em New Super Lucky’s Tale
A desenvolvedora Playful Studios aproveitou a experiência adquirida com Super Lucky’s Tale (2017), lançado juntamente com o Xbox One X, e voltou a trabalhar no título que seria publicado como New Super Lucky’s Tale em novembro de 2019 para Nintendo Switch. Esta é uma versão expandida e reimaginada, dando forma a visão original de seus criadores. Eventualmente, em agosto de 2020, New Super Lucky’s Tale chegou ao PlayStation 4, Xbox One e PC com Windows 10 ou via Steam. O jogo é a continuação de Lucky’s Tale (2016, lançado em conjunto com Oculus Rift).
As duas expansões do original estão incorporadas em New Super Lucky’s Tale. A primeira delas, Gilly Island, é o quarto mundo da campanha, enquanto Guardian Trials rompe com a facilidade e oferece desafios para o pós-jogo.
Outras coisas são mais difíceis de perceber para quem – assim como eu – não jogou Super Lucky’s Tale. A Playful Studios lista entre as melhorias, o reposicionamento de certos itens e também a reprogramação por completo do sistema de câmera com o intuito de oferecer um melhor controle sobre a visão.
Plataforma de parquinho para iniciantes e variedade
Durante a aventura em New Super Lucky’s Tale, o jogador assume o papel da raposa-vermelha Lucky para superar os desafios de plataforma que a Playful Studios define como “plataforma de parquinho”. Como dissemos, a noção é não impor nenhuma pressão sobre o jogador para que execute determinada tarefa com correria. Desta forma, iniciantes e jogadores casuais se sentirão bem-vindos.
Além disso, o jogo parece buscar inspiração principalmente em Super Mario 3D World (2013, Nintendo) e seus cenários compactos. Isso significa que, em vez se deparar com fases expansivas como em Yooka-Laylee (2017, Playtonic), o jogador rapidamente encontra objetivos e situações para explorar. Por isso, assim como em um parquinho, o trunfo da brincadeira é poder escolher o brinquedo que preferir ou que estiver com mais vontade no momento. Toda essa característica confere um certo aconchego às fases e aos lobbies de cada um dos cinco mundos.
A ideia de brinquedos diferentes acrescenta variedade de estilos em New Super Lucky’s Tale além de algumas referências à história dos videogames. Além de ter aconchegantes cenários tridimensionais, em alguns momentos, as fases são em 2D e até mesmo autorunners – ou seja, Lucky corre sozinho em duas dimensões e o jogador deve estar atento aos saltos ou ao escavar na hora certa para colecionar moedas.
Outras fases são labirintos com paredes móveis, enquanto os lobbys oferecem encanamentos escondidos com páginas adicionais logo após resolver um quebra-cabeça ou ao conseguir recuperar todas as moedas com Lucky preso em uma bola ao movimentar uma única plataforma como uma bandeja.
Formas de curtir New Super Lucky’s Tale, também para veteranos
Isso tudo não significa que veteranos não encontrarão diversão em New Super Lucky’s Tale. Minha experiência com o jogo se divide em duas sensações distintas.
A volta no parque
A primeira experiência, ao jogar a campanha de New Super Lucky’s Tale pela primeira vez, foi uma verdadeira válvula de escape do jeito mais bruto de jogar que, às vezes, jogadores mais experientes nos impomos, e foi uma experiência relaxante. Uma verdadeira fuga, sem muito compromisso contra o cronômetro ou por recordes e nem sequer me preocupei diretamente com as conquistas (troféus, para quem joga no PlayStation em vez do Xbox). Existe um ritmo livre e experimental a ser explorado pela aventura que poucos outros títulos conseguem atingir.
E digo isso de uma forma extremamente positiva, pois New Super Lucky’s Tale trouxe ar fresco e me deu a surpresa agradável em um nível que nem mesmo o peso-pesado Super Mario Odyssey conseguiu. Não entenda errado: são jogos de plataforma de grandezas completamente diferentes, mas o jogo do encanador ainda impõe uma espécie de “obrigação audaz”. Isso não diz respeito à liberdade pelo cenário e inovação, quesito no qual claramente Super Mario Odyssey reina supremo, mas à leveza dada ao jogador, o aspecto lúdico coeso de cada pequena brincadeira no parquinho.
A ideia é contrária de propósito: se uma das reclamações comuns em Super Mario Odyssey era a quantidade quase excessiva de luas (Moons) e situações talvez abstratas demais, por outro lado, New Super Lucky’s Tale prende seus objetivos com força nuclear em uma lista simples de quatro tópicos por fase. Não há sobrecarga na lista de afazeres e mensuramos com certa facilidade o que já conquistamos em cada mundo ou fase.
Em busca de desafio
Pera lá. Eu disse cinco mundos? A verdade é que existe um sexto mundo adicional, Foxington, liberado logo após terminar a campanha. Em vez de ter fases-padrão, este é o lugar para veteranos e complecionistas se esbaldarem, já que, além de trazer o conteúdo adicional incorporado em New Super Lucky’s Tale, Foxington, guarda 16 desafios difíceis em estilos completamente diferentes. Ao completar cada uma das 16 “fases”, o jogador ganha um medalhão e sempre há um balde de cachorros-quentes escondidos, necessários para obter 100% de conclusão.
Foxington guarda fases com Lucky dentro da bola de gude, fases de obstáculos e também cenários com chefes em anabolizantes e hordas de inimigos (mais fortes e espertos). Por falar em chefes, ainda durante a campanha, toda luta contra um chefe escala em dificuldade e se transforma em um bullet hell que exige reflexos e coordenação.
Caso queira buscar a platina de New Super Lucky’s Tale, prepare-se para encarar de frente as Provas do Guardião (Guardian Trials), os desafios extraordinários montados pela irmã mais velha de Lucky e um dos complementos pagos do jogo original. A experiência é igualmente recompensadora em relação ao descanso relaxante da campanha.
Gráfico e som
Gráficos polidos e imersão
O formato plataforma de parquinho é um feito incrível quando somado aos cenários coloridos, que são graficamente bem polidos, principalmente os modelos de todos os personagens, especialmente de Lucky. Há uma atenção especial ao detalhe e texturas, tanto quanto animações, estão refinadas e cumprem seu papel: mergulhar jogadores no universo do Livro das Eras. Em contrapartida, o polimento cobra seu custo com telas de carregamento constantes entre seções.
New Super Lucky’s Tale não é um jogo demandante do hardware, o trunfo é da direção artística. Ainda assim, essa interrupção levemente demorada por loadings chega a incomodar sobretudo quando estamos em um trecho rápido ou ao entrar equivocadamente e voltar de imediato para outra área.
Apesar de demorados, a imersão não chega a ser necessariamente rompida, uma vez que é impressionante ver o trabalho gráfico refinado de um estúdio independente. Os inimigos são cheios de personalidade e os traços dos modelos são limpos e não há miséria de polígonos.
Os cenários compactos de New Super Lucky’s Tale também oferecem detalhes e vários pontos de referência, tornando a navegação fácil e ajudando a memorização. Você dificilmente ficará perdido por aí e saberá onde procurar pela próxima página pendente. Em Foxinton, alguns filtros entram e ação e uma séries de desafios acontece como se fossem parte de um videoteipe de ginástica, tudo com um visual coloridão em neon e anos 80.
Som e trilha sonora
Por vezes esquecida, mas a trilha sonora faz um trabalho bem feito em New Super Lucky’s Tale e ambienta cada cenário. A trilha sonora traduz cada parte do jogo em musicalidade, assim como a maioria dos efeitos sonoros. No mundo caipira, o uso de cordas, violas e banjolins ajudam com a imersão. Já nos desafios estilizados de anos 80, predomina o uso pesado de sintetizadores e teclados.
Salvo nas cenas de abertura e de encerramento, não há dublagens e todas as falas acontecem por meio de caixas de diálogo. Talvez seja Lucky o elemento mais retrator justamente pela falta de amostras sonoras do protagonista, deixando-o apenas como um marionete vazio e quase sem personalidade.
Pequenos detalhes em New Super Lucky’s Tale
Positivos
Nem sempre é fácil categorizar tudo e vale a pena destacar a qualidade da câmera em New Super Lucky’s Tale. Paredes não são obstáculo e Lucky está sempre visível, já que existe uma espécie de filtro circular em torno do protagonista. Nas fases labirínticas, o recurso é excelente, apesar de induzir enganos em relação à perspectiva.
Outro aspecto é o fato de New Super Lucky’s Tale estar traduzido em português do Brasil. A tradução tem alguns pontos questionáveis e bem literais, e também seria legal se tradutores tivessem se dado mais liberdade com alguns nomes e elementos canônicos, mas ainda assim, consegue triunfar, fazer piadas legais e preservar a personalidade de NPCs.
Em terceiro lugar, New Super Lucky’s Tale traz referências a jogos que o inspiraram. São muitas. Dentro de sua já diversificada estrutura com vários estilos de jogabilidade, há um trecho que faz referência ao arcade Donkey Kong de 1981, também lançado para NES. Ainda sobre gorila, as fases de plataforma 2D lembram Donkey Kong Country e continuações.
Sem contar que a banda das minhocas, por exemplo, se chama Soggy Boggy Boys em uma claríssima referência aos ursos de Banjo-Kazooie. Isso porque as próprias minhocas “falam” igualzinho àquelas de Worms. São inúmeras para listar, algo que traz um elemento extra de curiosidade ao explorar o jogo para alguém com certa bagagem de jogos.
Por fim, as abundantes moedas coletadas servem para comprar novas roupas para Lucky. É possível escolher um acessório para a cabeça e outro modelito para o corpo. Cada peça custa normalmente 700 moedas e é divertido ver as combinações, apesar de não afetarem em nada a jogabilidade, somente algumas conquistas.
Negativos
Infelizmente, New Super Lucky’s Tale não passa isento sem alguma coisa que ainda desperte um pouco de frustração do jogador. Meu critério para elencar um tópico costuma ser a percepção causada – se frustrante, então deve ser citado. Apesar de perceber e de saber que New Super Lucky’s Tale é voltado para um público ainda descobrindo jogos de plataforma, Lucky bem que poderia ser mais veloz ou contar com um botão para correr.
Essa reclamação, contudo, era mais subjetiva. Um problema objetivo é a área de contato do personagem com o solo e com plataformas, espaçada, dando uma sensação flutuante aos controles. Não é grave ao ponto de comprometer a experiência geral e nem mesmo a jogabilidade, mas causa um incômodo e compromete, às vezes, a precisão.
A precisão também sofre nas fases autorunners, aquelas em que Lucky corre automaticamente. Apesar de conterem desafios interessantes, o ângulo da câmera é demasiadamente inclinado para meu gosto, prejudicando parte da visibilidade e, consequentemente, o desempenho. Assim criando frustração a cada vez que se perde uma página oculta ou uma das letra de “Lucky”.
Por fim, outro pequeno incômodo, é a distância de renderização, pois alguns inimigos e moedas mais distantes subitamente desaparecem. Este problema não é mais grave graças à característica inerente das fases condensadas.
Vale a pena comprar New Super Lucky’s Tale?
É difícil não recomendar New Super Lucky’s Tale. Dependendo da plataforma, o preço – sobretudo em promoções – é justo para uma experiência divertida e, a princípio, sem muito compromisso. Caso seja um complecionista, tanto quanto um veterano, logo após a campanha relaxante e bem ambientada, há uma série de bons desafios a se encarar. O recheio de referências é mais um dos atrativos. No final, o jogo dura entre 6 e 12 horas e pode ser aproveitado também para apresentar videogames aos membros da família e amigos curiosos com jogos.
As impressões negativas ou as frustrações são pequenas demais para serem levadas em conta no caso New Super Lucky’s Tale. O feito de um time independente como a Playful é incrível, principalmente os controles de câmera. A verdadeira frustração recai sobre a sensação de controles flutuantes e, às vezes, no pico de dificuldade que os chefes trazem.
Por fim, New Super Lucky’s Tale concretiza a descrição de seus criadores: é um verdadeiro jogo de plataforma em um parquinho.
Mais sobre New Super Lucky’s Tale
Jogo de plataforma | Desenvolvido por: Playful Studios |
Somente um jogador | Classificação: Livre |
É possível adquirir New Super Lucky’s Tale nas seguintes plataformas:
- Nintendo Switch, por R$ 199.
- Xbox One, por R$ 147,45. Oferece Play Anywhere e otimizado para Xbox One X.
- PlayStation 4, R$ R$164,90.
- PC
*Review elaborada em um Xbox One, com código fornecido pela PQube.