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SHUTEN ORDER | Review

FFãs de visual novels, especialmente da Spike Chunsoft, foram presenteados neste ano com relançamentos de clássicos como Never 7, continuações de franquias consagradas como AI: The Somnium Files e projetos originais, como The Hundred Line. Para encerrar o ano, chega SHUTEN ORDER, uma aventura que transita por cinco diferentes gêneros.

Será que a nova obra do criador da série Danganronpa acerta nessa proposta narrativa eclética? Confira a seguir em mais uma análise exclusiva do Pizza Fria!

Cinco histórias, um assassino

Gostaria de iniciar esta review destacando que SHUTEN ORDER constantemente apresenta desdobramentos inesperados desde a primeira hora de jogo. Nenhum desses elementos foi mostrado em materiais promocionais, então fique tranquilo: nenhuma informação que possa estragar sua experiência será revelada aqui. Esta é uma análise cautelosa.

Acompanhamos Rei Shimobe, que desperta em um quarto de hotel sem qualquer lembrança sobre si mesmo ou do mundo ao redor. Pouco depois, ele é informado por dois anjos de que foi assassinado horas antes, mas retornou à vida graças ao poder de Deus. Essa dádiva vem acompanhada de uma missão: identificar seu assassino, que está entre os cinco ministros da cidade onde Rei se encontra, chamada Shuten Order. É nesse ponto que o jogo apresenta seu elemento central — as diferentes rotas narrativas.

SHUTEN ORDER
O jogador pode escolher entre cinco histórias em qualquer ordem, o que faz com que a construção de mundo e as revelações variem de acordo com a sequência escolhida. Montar o quebra-cabeça na ordem desejada é um dos principais atrativos da narrativa. (Imagem: Reprodução/Higor Neto)

Cada suspeito possui uma campanha praticamente independente, com mudanças significativas até mesmo nos balões de fala, na jogabilidade e na interface. Os gêneros explorados incluem investigação policial clássica, romance escolar, narrativa de múltiplas perspectivas, death games e survival horror. Cada rota é densa, repleta de personagens exclusivos e marcada por inúmeras reviravoltas.

Em média, levei cerca de oito horas para concluir cada história. Ao final de todas as rotas, o contador do Nintendo Switch marcou 60 horas — um tempo bem aproveitado. A narrativa é tão detalhada que, ao término da jornada, até programas de televisão fictícios e hobbies dos personagens permanecem vivos na memória.

SHUTEN ORDER
Apesar da presença de escolhas em todas as histórias, cada rota de SHUTEN ORDER apresenta situações únicas e condições narrativas próprias. (Imagem: Reprodução/Higor Neto)

As histórias realmente se diferem uma da outra?

Romance escolar, investigação policial, death games… temas bastante distintos, certo? As rotas de SHUTEN ORDER realmente apresentam variações, mas o tom permanece similar em todas. Violência e suspense não se limitam apenas à rota de horror. Elementos de romance também aparecem em mais ocasiões do que na rota escolar, e todas as cinco histórias trazem um nível moderado de humor. No fim, todas as campanhas compartilham a mesma essência: a investigação para descobrir quem matou o protagonista.

As mudanças de jogabilidade são simples, mas funcionais. Em algumas rotas, o jogador pode caminhar em ambientes 3D, mas, na maioria delas, as decisões se resumem a escolhas narrativas, que em 99% dos casos servem para avançar de forma linear. Falhar em resolver uma cena do crime na rota de detetive, não escapar do perseguidor na rota de horror ou até não conseguir seduzir as irmãs no romance resultará apenas em um breve “fim de jogo”, seguido do retorno a poucos instantes antes da decisão.

Essa linearidade não chega a ser um ponto negativo, até porque algumas escolhas erradas oferecem cenas elaboradas que duram alguns minutos antes do “Game Over” aparecer. Como mencionei, cada rota traz muitos personagens exclusivos, além de minigames e puzzles que tornam a experiência divertida. Portanto, respondendo à pergunta: sim, apesar da estrutura semelhante, as histórias se mostram únicas.

SHUTEN ORDER
Escape Rooms também marcam presença no game. (Imagem: Reprodução/Higor Neto)

Visuais e música

Nomes conhecidos também marcam presença na arte e na trilha sonora de SHUTEN ORDER. Shimadoriu e Masafumi Takada retornam como ilustrador e compositor, respectivamente, entregando trabalhos que reforçam a individualidade de cada história. Algumas músicas se destacam tanto que ficam na memória, como a do minigame de sedução.

Minha única ressalva em relação à trilha sonora é a quantidade limitada de composições. Certos temas para momentos mais calmos ou tensos acabam sendo reutilizados em várias rotas, o que reforça a sensação de que o tom das histórias é semelhante. Já a direção de arte impressiona: a quantidade de retratos de personagens e cenários é enorme e mantém alto nível de qualidade. O único ponto fora da curva está nos breves segmentos em jogabilidade 3D, que destoam das muitas horas em 2D.

Antes de jogar, havia certa apreensão quanto à resolução e serrilhados na versão de Nintendo Switch 2, utilizada nesta análise. Para minha surpresa, SHUTEN ORDER se manteve visualmente belo tanto no dock quanto no modo portátil. Apenas em cenas em que os retratos dos personagens aparecem de longe é possível notar alguns serrilhados na versão portátil.

SHUTEN ORDER
Cores fortes e imagens vibrantes complementam perfeitamente a narrativa marcada por constantes reviravoltas. (Imagem: Reprodução/Higor Neto)

Alguns pequenos deslizes

Já ficou claro que SHUTEN ORDER possui uma história rica e surpreendente do início ao fim, mas ao longo dessa jornada também encontrei alguns obstáculos.

A campanha do ministro da ciência, Teko Ion, apresenta uma narrativa em que constantemente é preciso retornar a cenas anteriores e de diferentes personagens para realizar as escolhas corretas e avançar. A introdução dessa mecânica se mostrou cansativa, pois força o jogador a falhar repetidas vezes para entender sua lógica nas primeiras horas. Foi a única rota em que demorei a me sentir realmente envolvido pela trama.

SHUTEN ORDER
A rota de horror também se destaca por ser notavelmente mais curta. Enquanto as demais levaram em média entre oito e nove horas para concluir, essa foi finalizada em cerca de cinco horas. É possível que parte da história da ministra responsável por essa campanha, Manji Fushicho, tenha sido destinada a um conteúdo bônus de pré-venda, no qual ela protagoniza uma narrativa adicional. (Imagem: Reprodução/Higor Neto)

Entre as dezenas de personagens presentes, um pequeno grupo possui um desfecho abrupto e pouco satisfatório se comparado ao desenvolvimento dos demais. A impressão é de que o objetivo foi apenas chocar o jogador, mas o impacto sobre o enredo é mínimo, o que acaba desvalorizando quase toda uma campanha.

O enredo de SHUTEN ORDER apresenta tantas reviravoltas que os momentos finais chegam a causar estranheza. A história se torna mais previsível, e os desfechos acabam seguindo exatamente o que se espera. Isso não compromete a qualidade geral, mas reduz parte do impacto. Outro ponto é a quantidade excessiva de flashbacks, alguns relembrando fatos ocorridos há poucos minutos ou até mesmo apresentando flashbacks dentro de outros flashbacks, o que enfraquece o recurso quando realmente seria necessário.

SHUTEN ORDER
Por fim, os segmentos de fuga sofrem com interrupções frequentes de diálogos, o que compromete a imersão. (Imagem: Reprodução/Higor Neto)

Vale a pena comprar SHUTEN ORDER?

SHUTEN ORDER entrega uma experiência imperdível para fãs de visual novels e de boas narrativas em geral. São diversos temas abordados, dezenas de personagens bem desenvolvidos e uma quantidade impressionante de reviravoltas — é preciso jogar para acreditar. Narrativamente, o título é completo e memorável. Sua proposta de reunir diferentes gêneros em um único game poderia ter ainda mais impacto se não fosse pelos tons narrativos semelhantes entre as rotas e pela trilha sonora que, em alguns momentos, soa repetitiva.

Ainda assim, os visuais marcantes, os personagens carismáticos, a performance consistente dos dubladores e os minigames criativos se sobressaem às pequenas falhas encontradas ao longo da jornada. O resultado é um título que se torna aquisição obrigatória para quem aprecia visual novels e histórias bem construídas.

SHUTEN ORDER é um projeto colaborativo liderado por Kazutaka Kodaka, criador da série Danganronpa, e será lançado para Nintendo Switch e PC, via Steam, no dia 5 de setembro de 2025.

*Review elaborada em um Nintendo Switch 2, com código fornecido pela Spike Chunsoft US.

SHUTEN ORDER

BRL 249,00
9.5

Gráficos

10.0/10

Sons

8.8/10

História

9.5/10

Ritmo

9.5/10

Prós

  • Construção de mundo excelente
  • História e personagens densos
  • Excelentes visuais
  • Bom tempo de campanha e ritmo

Contras

  • Atmosfera parecida entre as histórias
  • Excesso de flashbacks
  • Preço elevado