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Sorry We’re Closed | Review

Sorry We’re Closed é um survival horror peculiar. Quando pensamos em títulos do gênero, especialmente aqueles da era do PS1 e PS2, logo nos vêm à mente grandes mansões aterrorizantes, como em Resident Evil, câmeras fixas que transformam cada passo em uma experiência tensa ou até mesmo cidades envoltas em névoa e repletas de criaturas grotescas, como em Silent Hill.

No entanto, o novo jogo desenvolvido pela À La Mode Games, apesar de seguir a estrutura dos clássicos, consegue inovar ao apresentar uma abordagem única e cheia de personalidade. Ele combina elementos tradicionais de terror de sobrevivência com mecânicas de shooters arcade em primeira pessoa, que me lembraram bastante Resident Evil: Dead Aim – e sim, sou uma das duas pessoas que jogaram esse game e adoraram. Além disso, Sorry, We’re Closed surpreende ao incorporar mecânicas sociais no estilo Persona, permitindo interagir com diversos personagens que vivem na mesma rua da protagonista. O destaque fica para a forte representação LGBTQIA+, com NPCs bem desenvolvidos e histórias envolventes.

Com tudo isso, fica claro que Sorry We’re Closed foi uma grande surpresa ao longo da minha experiência. Originalmente lançado para PC, via Steam, em novembro do ano passado, o jogo agora chega aos consoles com controles adaptados e várias novidades. Mas será que ele mantém sua qualidade ao longo de toda a campanha? Confira agora, em mais uma análise antecipada do Pizza Fria!

Um demônio em busca de amor

Sorry We’re Closed é um jogo peculiar, especialmente pelos temas que aborda em sua narrativa. Em sua essência, a história gira em torno do amor – suas dificuldades, desafios dentro de um relacionamento e as diferentes formas, positivas ou destrutivas, de lidar com ele. Embora essa temática não seja inédita no gênero – Silent Hill 2, por exemplo, explora um conceito semelhante de maneira distorcida –, aqui, o assunto é tratado de forma mais direta e integrada à trama.

No jogo, assumimos o papel de Michelle, uma mulher que está lidando com a solidão e a tristeza após o término de seu relacionamento com a namorada. Agora, com o coração despedaçado, ela tenta seguir em frente enquanto trabalha em uma loja de conveniência em uma movimentada rua de Londres. Nesse cenário, interagimos com diversos vizinhos, cada um com sua própria rotina e problemas pessoais. Durante a campanha de Sorry We’re Closed, podemos ajudá-los a resolver suas dificuldades ou, se preferirmos, sabotar essas relações.

A história toma um rumo sombrio após uma noite aparentemente comum de trabalho. Depois de algumas interações com os moradores da rua – o que já serve para nos familiarizar com os personagens centrais da narrativa –, Michelle tem um sonho perturbador: um demônio invade sua casa e pede para que a protagonista aceite o seu amor, afirmando que seus sentimentos são infinitos. Assustada, a personagem rejeita a proposta imediatamente, deixando a criatura desapontada. No entanto, o demônio promete retornar, alegando que, em breve, Michelle entenderá seu verdadeiro propósito.

Sorry We're Closed
Admita, nada melhor do que no meio da noite aparecer um demônio de meio metro pedindo pra aceitarmos o amor dela né? (Imagem: Divulgação)

Ao despertar, Michelle descobre que foi amaldiçoada e precisa encontrar uma maneira de se livrar desse fardo. Assim, sua jornada finalmente começa, levando-a a explorar locais sobrenaturais e enfrentar ameaças aterrorizantes – tudo isso enquanto encara seus próprios demônios internos.

Uma narrativa empolgante e bem desenvolvida

Sorry We’re Closed sabe explorar muito bem sua temática central. Conforme os dias passam, podemos interagir com uma variedade de personagens – tanto humanos quanto criaturas sobrenaturais – que enfrentam diferentes dilemas, muitos deles relacionados a relacionamentos e conexões pessoais. A forma como escolhemos ajudá-los influencia diretamente a narrativa, tornando cada interação significativa.

O jogo utiliza essas interações de maneira inteligente para refletir a dor da protagonista após seu término, o que contribui para um ótimo desenvolvimento de personagem. Além disso, por meio dos diálogos com os NPCs, descobrimos mais sobre o passado de Michele e sua visão de mundo. Nossas decisões ao longo de Sorry We’re Closed moldam o desfecho da história, já que o jogo possui múltiplos finais interligados às escolhas feitas nas missões opcionais com os moradores da rua de Londres.

Sorry We're Closed
Decidirmos se iremos ou não ajudar os residentes do bairro é uma parte crucial de Sorry We’re Closed. (Imagem: Divulgação)

Esse sistema de Sorry We’re Closed lembra bastante Persona, pois, a cada noite, diferentes NPCs surgem no bairro, e cabe ao jogador decidir se vale a pena ajudá-los em suas quests pessoais ou não. Essa mecânica adiciona um dinamismo interessante, exigindo que administremos bem nosso tempo e escolhamos com sabedoria quem realmente queremos conhecer melhor. Além disso, esse aspecto amplia significativamente o fator replay do jogo, incentivando múltiplas jogadas para explorar diferentes finais.

Outro ponto que me surpreendeu foi a forma como Sorry We’re Closed desenvolve seus personagens secundários. Cada NPC possui uma personalidade única e histórias envolventes, o que é ainda mais impressionante considerando que o título não conta com dublagem. O texto é muito bem escrito, e cada diálogo contribui para que nos importemos com os personagens, independentemente do tamanho de suas jornadas dentro da trama. Um dos destaques é Marty, funcionário de uma loja de discos com vasto conhecimento sobre o ocultismo. Suas interações sempre resultam em conversas intrigantes e ajudam Michelle a entender melhor o mundo sobrenatural no qual se encontra.

Um survival horror com uma pitada de fliperamas

Sorry We’re Closed me surpreendeu bastante com sua jogabilidade. O jogo presta várias homenagens a clássicos do gênero survival horror, criando uma experiência nostálgica para os fãs do estilo. No entanto, ele não se limita a replicar fórmulas antigas, inovando ao combinar mecânicas de maneira única e elevando a experiência dos jogadores.

A estrutura principal segue a tradição de Resident Evil e Silent Hill, com câmeras fixas que reforçam a tensão e a imersão. Durante a exploração da rua de Londres, podemos interagir com NPCs e objetos de interesse, e cada observação da protagonista adiciona detalhes ao mundo de Sorry We’re Closed. Por exemplo, ao visitar a loja de discos onde Marty trabalha e examinar um pôster, Michelle comenta que a cantora retratada desapareceu, e que Marty mantém o cartaz como forma de tributo. Pequenos momentos como esse enriquecem a ambientação e ampliam nosso entendimento daquele universo.

Sorry We're Closed
O game usa a exploração para encontrarmos itens importantes e informações sobre os acontecimentos ao nosso redor. (Imagem: Divulgação)

Porém, a grande inovação do jogo acontece quando entramos no Underworld, a dimensão sobrenatural onde enfrentamos criaturas monstruosas. Nesses momentos, Sorry We’re Closed muda drasticamente sua perspectiva: Michelle possui um poder chamado Terceiro Olho, e ao ativá-lo, a câmera passa para a visão em primeira pessoa, transformando os combates em uma experiência mais dinâmica. O jogo conta com três armas principais – um machado, uma pistola e uma espingarda, cada uma com suas vantagens estratégicas.

O sistema de combate de Sorry We’re Closed também possui uma mecânica peculiar. Não basta apenas mirar e atirar: quando os inimigos se aproximam, podemos ativar o Terceiro Olho para identificar seu ponto fraco, representado por um coração. Acertar esse ponto causa dano crítico, tornando os combates mais táticos e exigindo precisão do jogador. Esse sistema é particularmente útil em batalhas contra chefes.

Sorry We're Closed
Acerta no coração que é sucesso! (Imagem: Divulgação)

Infelizmente, nem tudo é perfeito nesse sistema de combate. Contra alguns inimigos, a mecânica pode ser inconsistente, com a protagonista errando tiros que deveriam acertar, inclusive disparos críticos contra criaturas que estão bem próximas. Esse problema se torna ainda mais evidente quando enfrentamos múltiplos inimigos ao mesmo tempo, já que a mira tenta se ajustar entre os alvos e acaba se confundindo, resultando em disparos desperdiçados. Felizmente, esses problemas de Sorry We’re Closed não ocorrem com tanta frequência a ponto de comprometer a experiência como um todo, mas são momentos frustrantes que poderiam ser melhor polidos.

Outro aspecto que deixa a desejar em Sorry We’re Closed são os puzzles. Como um grande fã de survival horror, sempre valorizo quebra-cabeças bem elaborados dentro do gênero, pois são nesses momentos que o jogador faz uma pausa na tensão do terror para refletir e encontrar maneiras de avançar. No entanto, aqui o jogo falha em entregar desafios instigantes, apostando em soluções simples e pouco criativas. A maioria dos enigmas envolve apenas usar o Terceiro Olho para encontrar um local específico e interagir com ele, sem exigir muito raciocínio.

Há, sim, um momento na campanha em que o jogo tenta ser um pouco mais elaborado, exigindo que o jogador explore o cenário em busca de objetos e os combine na ordem correta. No entanto, mesmo esse segmento não apresenta grande complexidade, o que é decepcionante.

Gráficos e trilha sonora

Outro aspecto em que Sorry We’re Closed acerta em cheio é o seu estilo visual. O jogo emula de maneira impressionante a estética dos survival horrors da era do PS1 e PS2, utilizando texturas de baixa resolução e imagens pixeladas de forma intencional e estilizada. Esse design cria um contraste marcante com as cores do ambiente, resultando em uma estética única e memorável. Pode parecer estranho elogiar texturas de baixa resolução, mas, nesse caso, elas são usadas de forma inteligente para compor cenários visualmente apelativos.

Um dos aspectos visuais mais marcantes está nos personagens e nos fundos dos cenários, que apresentam um visual propositalmente borrado. Esse efeito não apenas remete à limitação técnica dos consoles antigos, mas também acrescenta um toque punk rock e surrealista à direção de arte, reforçando o tom sombrio e estranho do jogo.

Sorry We're Closed
O game acerta nos visuais, fazendo uma excelente mistura de texturas em baixa resolução e imagens pixeladas. (Imagem: Divulgação)

A trilha sonora também se destaca bastante, utilizando majoritariamente músicas instrumentais de suspense para criar uma atmosfera opressiva e inquietante.

Desempenho

Minha experiência foi no PlayStation 5. Tive uma experiência fluida durante toda a campanha, e o game não contou com travamentos e nem quedas de FPS.

Vale a pena comprar Sorry We’re Closed?

Sorry We’re Closed é um excelente survival horror e, arrisco dizer, um dos poucos jogos recentes que realmente tentaram inovar dentro do gênero. Com uma narrativa envolvente, personagens carismáticos e uma representação LGBTQIA+ bem trabalhada, o jogo entrega uma jornada instigante e cativante. Michelle, a protagonista, é desenvolvida de forma profunda ao longo da trama, e as escolhas do jogador impactam significativamente suas relações com os demais personagens, além de influenciar o desfecho da história.

A jogabilidade também se destaca como um dos grandes acertos do jogo, combinando câmeras fixas com um sistema de combate inspirado em shooters de fliperama. Essa mistura resulta em uma experiência marcante e cheia de personalidade, mesmo que, ocasionalmente, o combate apresente falhas que comprometem a precisão dos ataques. Ainda assim, o jogo consegue equilibrar bem suas mecânicas, mantendo a experiência imersiva e instigante do início ao fim.

No geral, Sorry We’re Closed é um título que recomendo fortemente para fãs de survival horror, especialmente aqueles que procuram algo inovador e criativo dentro desse gênero que, felizmente, vem demonstrando que está de volta com força total.

Sorry We’re Closed foi desenvolvido pela á la mode games e lançado no dia 6 de março para Xbox One, Xbox Series X|S, PlayStation 4, PlayStation 5 e Nintendo Switch. O game também está disponível no PC, via Steam.

*Review elaborada em um PlayStation 5, com código fornecido pela Akupara Games.

Sorry We're Closed

BRL 73,99
9.3

História

10.0/10

Gameplay

8.0/10

Gráficos e Sons

10.0/10

Inovação

9.0/10

Prós

  • Sorry We're Closed acerta na história cativante e cheia de suspense
  • Um forte elenco de personagens queer bem desenvolvidos ao decorrer da trama
  • A ambientação é excelente e acerta ao criar uma ambientação de terror com um aspecto surrealista
  • A trilha sonora é muito boa, combinando trilhas instrumentais e músicas que vão do rap ao hip hop

Contras

  • Sem legendas em PT-BR
  • O combate é meio frustrante as vezes
  • Falta de puzzles desafiadores

Leandro Paiva

Um estudante de jornalismo e o primeiro estagiário do site. Degustador nato de coxinha e pizza fria com ketchup. Amante de RPG, principalmente aqueles em que é possível pescar em vez de fazer a missão principal. Piadista em tempo integral e um grande degustador de café. Defensor de Birds of Prey e da DC em geral nas horas vagas.