Tales of Graces f Remastered | Review
Tales of Graces f Remastered é a versão aprimorada do clássico JRPG originalmente lançado em 2010 para PlayStation 3. A franquia Tales of se destaca por transportar os jogadores para universos distintos a cada novo título, sempre explorando temas variados e narrativas memoráveis.
Meu primeiro contato com a série foi através de Tales of Berseria, que se tornou meu favorito por sua atmosfera mais sombria e por apresentar personagens extremamente marcantes. No entanto, ao contrário desse jogo, Tales of Graces f Remastered aposta em uma história mais heroica, trazendo visuais aprimorados e diversas melhorias de qualidade de vida, permitindo que os jogadores personalizem a experiência da melhor forma possível.
Mas será que essa nova versão consegue oferecer uma aventura tão impactante quanto o original? Descubra agora na review do Pizza Fria!
O fim da juventude
Tales of Graces f Remastered segue a tradição dos JRPGs ao apresentar um início mais lento, focado na construção de personagens e ambientação. A história se inicia com o jovem Asbel e seu irmão ainda crianças, treinando para um dia assumirem a posição de Lorde da região. No entanto, enquanto todos ao seu redor acreditam que esse é seu destino, Asbel secretamente sonha em se tornar um cavaleiro honrado que lutará pelo rei.
O primeiro capítulo do jogo é dedicado à introdução dos personagens centrais e ao estabelecimento de suas motivações. O evento mais marcante desse início ocorre quando Asbel e seu irmão encontram uma misteriosa jovem de cabelos roxos, que não se lembra de sua identidade ou de seu próprio nome. Demonstrando seu instinto heroico, Asbel decide ajudá-la a recuperar suas memórias e, provisoriamente, a nomeia Sophie, inspirado em uma flor comum da região.
Mesmo sem lembranças de sua verdadeira origem, Sophie rapidamente desenvolve uma forte conexão com Asbel e promete protegê-lo de qualquer perigo. No entanto, o protagonista, incomodado com a ideia de ser protegido, insiste que é ele quem deve cumprir esse papel.

Como estamos falando de crianças, não demora para que essa aventura inicial tome um rumo trágico quando eles se arriscam além do que deveriam. Esse evento impactante fortalece os laços entre os personagens, levando-os a prometerem estar sempre ao lado um do outro, um clássico trope dos JRPGs, onde o poder da amizade supera qualquer obstáculo.
Porém, conforme o tempo passa, os personagens acabam seguindo caminhos distintos, e Asbel toma uma decisão inesperada que surpreende aqueles ao seu redor. O jogo então avança no tempo, mostrando o protagonista como um cavaleiro treinado e habilidoso. No entanto, um evento urgente o obriga a retornar para casa, onde ele precisará lidar com as consequências de suas escolhas, reencontrando amigos e familiares, embora nem todos estejam felizes com seu retorno.
Uma história sobre o poder da amizade com uma pitada de intrigas politicas e ficção cientifica
A narrativa de Tales of Graces f Remastered não é das mais complexas, na verdade, em vários aspectos, ela pode ser considerada simples até demais. A construção dos personagens principais, por exemplo, se apoia fortemente em tropos clássicos dos JRPGs, tornando os heróis caricatos e limitando seu desenvolvimento ao longo da trama. O maior exemplo disso é o próprio protagonista, que mantém o arquétipo do “grande herói da história” sem apresentar um crescimento significativo. O mesmo acontece com a evolução do relacionamento entre os personagens, as motivações do vilão e até mesmo a verdade sobre Sophie, que seguem caminhos bastante previsíveis.

No entanto, essa simplicidade não prejudicou minha experiência, principalmente porque desde o início já estava claro o tom da narrativa, o que me permitiu ajustar minhas expectativas. Além disso, eu já tinha ouvido várias vezes que a história de Tales of Graces f não alcança a grandiosidade de outros títulos da franquia, o que de fato se confirmou. Ainda assim, mesmo com um enredo previsível, o jogo conseguiu me surpreender em alguns momentos, especialmente pelo carisma dos companheiros de jornada.
Acompanhar um príncipe atormentado por um passado sombrio, uma garota sem memórias e com habilidades misteriosas, e a amiga de infância de Asbel tentando resgatar os laços do passado foi uma experiência divertida. Mesmo sem reviravoltas grandiosas, a interação entre os personagens ajudou a manter o jogo envolvente.
Além das cutscenes principais, o jogo traz diálogos opcionais que podem ser ativados em determinadas áreas do mapa. Nessas conversas, os personagens fazem observações sobre os acontecimentos recentes ou até mesmo sobre algo curioso que avistaram na região. Esse recurso fortalece a conexão dos jogadores com o elenco, pois permite entender suas perspectivas individuais, o que, ocasionalmente, gera atritos entre eles, ainda que tudo se resolva dentro do clássico “estamos discordando, mas o poder da amizade é mais forte”. Apesar da previsibilidade, esses momentos ajudam a dar mais personalidade aos personagens e tornam a jornada mais envolvente.
A exploração e o level design são simples demais
Embora Tales of Graces f Remastered seja um jogo originalmente lançado em 2010, os problemas que encontrei na exploração não estão relacionados aos típicos corredores infinitos ou missões secundárias limitadas, como era comum na época (um bom exemplo disso é Final Fantasy XIII). O maior problema aqui está na repetição excessiva dos cenários, que muitas vezes dá a sensação de estarmos percorrendo as mesmas áreas constantemente.
No início, isso não incomoda tanto, especialmente porque a versão remasterizada adicionou um indicador de caminho que pode ser mantido ativo o tempo todo, facilitando a navegação. No entanto, a situação se complica em momentos que exigem a exploração de áreas fechadas e mais lineares. Um exemplo disso ocorre logo no começo do jogo, quando precisamos atravessar uma grande fortaleza com vários andares e ativar alavancas em locais distintos. O problema é que todos os andares são extremamente semelhantes, tornando fácil se perder. Para piorar, o marcador de objetivo nem sempre funciona corretamente, apontando para locais errados ou até mesmo para o andar incorreto.
Além disso, Tales of Graces f Remastered não oferece um indicativo claro de onde devemos ir no menu de missões, o que resulta em uma navegação frustrante, muitas vezes, a única solução é andar aleatoriamente até encontrar o caminho certo. Essa parte se torna ainda mais desgastante devido à grande quantidade de inimigos presentes na fortaleza, forçando batalhas frequentes sempre que passamos pelo mesmo lugar.

Outro trecho problemático são as ruínas, que incluem desafios baseados na escolha do caminho correto dentro de um labirinto de pedras. Se pegarmos a direção errada, somos obrigados a enfrentar inimigos mais poderosos. Isso me lembrou os trials de Final Fantasy XIII-2, e, sendo sincero, nunca fui fã desse tipo de desafio que apenas prolonga artificialmente certas partes da campanha. Felizmente, esses desafios não aparecem com tanta frequência e, quando surgem, são relativamente rápidos.
Quando se trata de exploração em busca de tesouros ou objetivos opcionais, Tales of Graces f Remastered também não oferece muito. Há uma ou outra missão interessante, mas, no geral, o mapa serve basicamente para o grinding de artes e títulos. Existem comerciantes espalhados pelo mundo onde podemos comprar equipamentos melhores e aprimorar o Eleth Mixer, um sistema que permite armazenar itens e gerar recompensas aleatórias ao longo da jornada, quase sempre algo útil. O jogo também conta com um sistema de crafting, possibilitando a criação de itens de cura, armaduras e armas utilizando recursos encontrados pelo mundo aberto.
Um sistema de combate complexo na medida certa
O sistema de combate de Tales of Graces f Remastered é, sem dúvida, o ponto mais forte do jogo. Antes mesmo de os confrontos começarem, há vários elementos que os jogadores precisam levar em consideração para otimizar sua performance.
O combate gira em torno do uso de artes e títulos, que funcionam da seguinte forma: à medida que avançamos na história, desbloqueamos novos títulos para os personagens. Por exemplo, quando Asbel se torna um cavaleiro, ele recebe um título correspondente que possui cinco características, algumas são golpes novos, enquanto outras são habilidades passivas. Ao equipar um título, ele ganha experiência conforme participamos de batalhas, e, com o tempo, todas as suas habilidades são desbloqueadas até atingir o nível de maestria. Esse sistema incentiva a experimentação, já que trocar de títulos constantemente permite acessar diferentes habilidades e criar combinações mais eficientes de artes.

Falando em artes, esse é outro aspecto essencial do combate. Elas representam os combos e ataques especiais dos personagens, sendo altamente personalizáveis. Tales of Graces f Remastered oferece uma grande variedade de ataques, e, muitas vezes, derrotar um inimigo mais forte exige montar a combinação correta de golpes. Isso pode ser feito explorando as fraquezas dos inimigos se um adversário for vulnerável a eletricidade, por exemplo, o ideal é equipar habilidades que causem dano elétrico. Além de otimizar as artes do protagonista, também é fundamental configurar a atuação dos companheiros de equipe para garantir que cada um cumpra um papel estratégico na batalha.
O jogo permite alternar entre os personagens em tempo real, mas, na minha experiência, raramente foi necessário assumir o controle dos aliados. Isso porque o sistema de IA oferece diversas opções de personalização, permitindo definir estratégias detalhadas para cada membro da equipe. No meu caso, configurei Sophie para ser a especialista em cura, programando-a para restaurar o HP dos aliados sempre que caísse abaixo de 50% e para reviver automaticamente qualquer personagem que fosse derrotado. Na maioria das situações, a IA segue essas instruções de maneira eficiente, mas ocasionalmente há um pequeno atraso na resposta, o que me fez assumir o controle manualmente em alguns momentos críticos.
Felizmente, essas estratégias podem ser ajustadas em tempo real durante as batalhas. Se uma configuração não estiver funcionando como esperado, podemos modificá-la instantaneamente, o que torna os combates ainda mais dinâmicos e estratégicos. Essa flexibilidade, aliada à variedade de habilidades e à possibilidade de explorar fraquezas inimigas, faz com que o sistema de combate de Tales of Graces f Remastered seja um dos mais satisfatórios da franquia.
Gráficos e trilha sonora
Tales of Graces f Remastered apresenta visuais remasterizados, entregando ambientes melhor modelados e principalmente em relação aos personagens, eles tem bem mais detalhes do que na versão original. De forma geral, a direção de arte do game me agradou, principalmente nos cenários abertos com grandes campos para explorarmos em busca de monstros e itens. Nem tudo é perfeito infelizmente, com os cenários em lugares fechados se repetirem demais tirando bastante esse aspecto de local único durante a exploração.

A trilha sonora também é um aspecto de destaque, principalmente durante os trechos mais emocionantes da trama em que as trilhas se encaixam perfeitamente tornando elas mais impactantes. As músicas que tocam durante os trechos de combate são um show também, tornando as lutas intensas, com destaque para os confrontos contra chefes.
Extras da versão remasterizada
Tales of Graces f Remastered traz visuais aprimorados, com ambientes melhor modelados e personagens mais detalhados em comparação à versão original. De modo geral, a direção de arte do jogo é bastante agradável, especialmente nos cenários abertos, que oferecem vastos campos para exploração em busca de monstros e itens. No entanto, nem tudo é perfeito: os cenários de áreas fechadas tendem a se repetir excessivamente, prejudicando a sensação de unicidade durante a exploração.
A trilha sonora também se destaca, especialmente nos momentos mais emocionantes da trama, onde as músicas se encaixam perfeitamente e aumentam o impacto das cenas. As faixas que tocam durante os combates são outro ponto alto, tornando as batalhas mais intensas, com ênfase nos confrontos contra chefes.
Esta nova versão inclui diversas melhorias de qualidade de vida que tornam a experiência mais fluida e satisfatória. Além do indicador de objetivo que pode ser ativado ou desativado conforme a preferência do jogador, há também a implementação do salvamento automático, um recurso muito útil em momentos de tentativa e erro, como na exploração de ruínas.

Outra novidade é a opção de desativar encontros aleatórios com inimigos no mundo aberto e em masmorras, permitindo uma exploração mais focada na coleta de itens. No entanto, essa funcionalidade deve ser usada com cautela, pois o combate contra inimigos é essencial para o fortalecimento dos personagens. Ainda assim, essa opção se mostrou bastante útil nas masmorras, onde muitas vezes o objetivo era apenas encontrar a saída rapidamente.
Por fim, Tales of Graces f Remastered inclui as duas DLCs, Lineage e Legacies, lançadas anteriormente para o título original. Essas expansões apresentam uma narrativa que se passa após os eventos da campanha principal, enriquecendo a história e o desenvolvimento dos personagens. Faltou, no entanto, aquela legenda em português do Brasil para ampliar o alcance do game em nosso país.
Desempenho
Minha experiência com Tales of Graces f Remastered foi em um PC equipado com uma RTX 3060. O jogo é bastante leve e rodou em 1440p, com gráficos no máximo e 120 FPS sem dificuldades. Além disso, não tive problemas com travamentos ou bugs.
Vale a pena comprar Tales of Graces f Remastered?
Tales of Graces f Remastered é a experiência definitiva do clássico lançado em 2010. Embora alguns problemas da versão original persistam, como o level design questionável em certos momentos, as diversas melhorias de qualidade de vida tornam a experiência mais acessível e agradável. A história, apesar de seguir muitos clichês típicos dos JRPGs, se sustenta graças a um sistema de combate envolvente, que incentiva o jogador a testar novas combinações e estratégias.
O jogo também conta com um sistema tático bem elaborado, permitindo configurar o comportamento dos companheiros durante as batalhas. Com isso, posso afirmar com facilidade que Tales of Graces f Remastered possui um dos sistemas de combate mais completos e bem desenvolvidos que já vi no gênero.
No fim das contas, mesmo com alguns tropeços, Tales of Graces f Remastered é um título que recomendo fortemente para os fãs da franquia Tales, especialmente para aqueles que deixaram o jogo de lado devido às críticas à versão original.
Tales of Graces f Remastered foi desenvolvido pela TOSE CO e lançado pela Bandai Namco Entertainment no dia 16 de janeiro para PC, via Steam, Xbox Series X|S, PlayStation 5 e Nintendo Switch.
*Review elaborada em um PC equipado com uma Geforce RTX, com código fornecido pela Bandai Namco.
Tales of Graces f Remastered
BRL 199,50Prós
- O sistema de combate é excelente e oferece várias opções de combos
- A IA dos companheiros é personalizável e na maior parte do tempo funciona de maneira eficaz
- A direção de arte ainda impressiona, mesmo se mantendo bem fiel ao estilo do original
- Extras que tornam a experiência mais agradável e casual para novos jogadores
Contras
- Alguns cenários se repetem demais
- A narrativa principal é previsível
- Os trials tornam alguns trechos maiores do que eles deveriam ser
- Sem legendas em PT-BR