The Inquisitor | Review
The Inquisitor é um jogo de ação e aventura, com elementos de investigação e mistério, desenvolvido pela The Dust S.A. e publicado pela Kalypso Media. O título nos coloca no comando de um inquisidor feliz e sorridente, longe de ser violento, que é enviado para a cidade de Koenigstein para investigar um possível vampiro que transformou o lugar em seu novo local de caça.
E aí, será que vale a pena investir nesse rolê? É o que veremos agora, em mais uma análise chiquérrima do Pizza Fria.
Ninguém espera a inquisição
Quem nunca parou e se perguntou, leitores e leitoras, como as coisas seriam se uma ou outra coisa tivesse tomado um rumo diferente? Se eu tivesse ido pela esquerda ao invés da direita, comido bolo ao invés de cachorro-quente ou, até, tivesse calibrado seu Delorean para ir até o futuro ao invés da louca época do velho oeste. Ah, as incertezas da vida.
The Inquisitor faz isso, de certo modo, ao reimaginar alguns pontos da fé cristã. Não vou me ater aos pontos mais finos da coisa, tampouco debater, para evitar que coloquem ancinhos e tochas nas portas de meu castelinho. Basta dizer que, no que se refere ao universo do jogo, os acontecimentos referentes à crucificação do Cristo foram bem diferentes. Ao invés de se sacrificar por nossos pecados, ele se revoltou e buscou a vingança contra geral.
Admito que fiquei interessado, principalmente pela proposta do jogo de abordar um assunto polêmico enquanto, ao mesmo tempo, tenta recontar uma parte complexa da história da humanidade. Afinal, a era da inquisição e da caça às bruxas foi um período bem sangrento, impiedoso e, também podemos adicionar, vergonhoso de nosso jornada enquanto habitantes desse planeta, nessa realidade. Mas e aí, o jogo conseguiu isso? Bom, vejamos.
História
The Inquisitor conta as presepadas de Mordimer Madderdin, um servo fiel do Cristo Vingativo enviado, pela Igreja, até a cidade de Koenigstein. O local anda sendo assombrado por um vampiro, dizem as más línguas, e a inquisição decide que é nosso dever dar um fim nessa parada. Contudo, desgraça pouca nunca vem sozinha. Ao chegar no local, Mordimer vai se dar conta que existem forças muito mais tenebrosas do que um mero sugador de sangue pairando sobre a deprimida e barrenta cidade.
Um outro ponto interessante do título é sua revisão acerca da temática religiosa, alterando determinados preceitos e simbolismos do cristianismo para gerar choque e curiosidade no jogador. Contudo, ao menos em minha visão, o jogo perde chances de fazer comentários mais profundos, como por exemplo até que ponto essa realidade paralela foi diferente das caçadas realizadas pelos inquisidores nessa época de nossa história. Além disso, também se deixou escapar o tom de estranheza que poderia haver. Sua boa execução, como feito em Little Goody Two Shoes, por exemplo, teria caído como uma luva.
Fora isso, The Inquisitor apresenta algumas tramas de mistério, envolvendo conspirações e assassinatos que até divertem e compelem na investigação, apesar dos personagens envolvidos não serem lá muito carismáticos, nem as surpresas serem tão surpreendentes assim. No geral, senti que esse aspecto foi o que mais poderia ter elevado a experiência, e até a salvado em alguns momentos. Mas, infelizmente, não foi o caso.
Pelo menos podemos nos deliciar com uma tradução muito bem feita, que inclusive se importa em transcrever com maestria todos os documentos, poesias e maluquices faladas pelos personagens. É algo legal de se ver, e me agradou bastante.
Jogabilidade
A jogabilidade de The Inquisitor se divide em três grandes partes: investigação de pistas, exploração do desmundo e combate. Começando pela primeira, vários momentos nos colocam de frente para assassinatos, quebra-cabeças, e outras coisas mais, que devemos investigar para encontrar pistas que nos direcionem para o vampiro que buscamos ou outro objetivo qualquer.
Uma boa busca pode levar até escolhas que, de vez em quando, mudam uma ou outra coisinha na trama, além de mais oportunidades de entender um pouco mais sobre o mundo e o que se passa por ele. A cidade que exploramos é bem cheia de atmosfera, o que a coloca como um dos pontos altos do jogo. Contudo, explorá-la não é legal. O boneco anda devagar, não consegui achar um mapa e o sistema de viagem rápida é mais enjoado do que útil.
Outro grande ponto do jogo é o chamado desmundo, um mapa das sombras no qual corremos de um lado para o outro em busca de fragmentos de pistas para os mistérios que enfrentamos. Somos caçados por um grande olho no céu, alguns inimigos no chão, flechas e tudo mais. Contudo, devo dizer que cada vez que o jogo me lançava nesse lugar, e não foram poucas, eu queria largar mão do controle e ir fazer outra coisa.
A experiência do desmundo é maçante e demorada demais, além de pouco adicionar para nos divertirmos de fato. Além de nossa “luz” acabar, os controles estranhos do jogo (e suas hitboxes malucas) causam um número sem fim de mortes desnecessárias. Somado ao fato de que não temos salve manual (que eu tenha achado), e os checkpoints são todos estranhos, fica fácil dizer que cada ida nesse lugar era, de fato, uma tortura. Será que eu era o alvo de Mordimer e não sabia?
O terceiro pilar de The Inquisitor, o combate, não se sai muito melhor. Além de não termos nenhuma melhoria ou sistema do tipo, os movimentos, controles e golpes são tão lentos e estranhos que não tem como descerem redondo. Aparar golpes é estranho, porquê nada indica quando estamos ou não para sermos atingidos. Certos inimigos colados em nós passam seus ataques direto, enquanto outros do outro lado da rua tem suas espadas defendidas por nosso Inquisidor que, valentemente, dá uma defesa mágica no vento.
Além disso, os movimentos são todos estranhos e desengonçados. Mordimer parece bêbado ao esquivar, enquanto suas animações de cura fazem parecer que ele coça as orelhas para, magicamente, fechar os cortes e feridas que possui. O que me lembra que nem ver o quão perto da morte é possível, pois o jogo não indica corretamente, nem mostra se a cura funcionou ou não.
E, fora isso, temos os bugs. Personagens fazendo a famosa T pose, o jogo agarrando, crashando, o boneco ficando agarrado nos lugares, saves não acontecendo quando deveriam, e muitos outros que minha mente, provavelmente, bloqueou. Em verdade, acredito que The Inquisitor poderia ter ficado um pouco mais no forno.
Sons e Visuais
A parte visual de The Inquisitor, infelizmente, também não ajudam. Os gráficos, em muitos momentos, remontam ao que víamos na geração passada e, em algumas momentos, até a retrasada. Serrilhados a torto e direito, texturas sem carregar, personagens sem expressão (com o rosto vidrado e travado), animações agarradas e estranhas, em fim.
O mesmo pode-se dizer dos sons. Salvo uma trilha sinistra mais interessante, aqui e acolá, quase nada se destaca. As dublagens também não ficaram muito legais, com nosso protagonista parecendo de saco cheio e irritado independente do que se passa no momento. Trágico.
Vale a pena comprar The Inquisitor?
E aí, inquisidores e inquisidoras do mundo das massas italianas. Será que The Inquisitor é uma experiência sublime e mágica, ou uma tortura sem fim que nos punirá até o fim dos dias? Bom, acredito que não seja muito difícil de responder pelo que conversamos até aqui. Salvo uma ou outra ideia interessante aqui e acolá, seja na temática ou investigação, pouco se salva.
O título roda mal, possui diversos erros técnicos e, além disso, falha em pontos críticos que poderiam até compensar esses deslizes. Contudo, vacilos como o desmundo, o combate, os visuais, e tudo que falei até agora, fazem ser quase impossível enxergar o pouco de bom que há aqui. O que é uma pena, visto que eu realmente queria ter curtido The Inquisitor.
No fim das contas, o jogo não conseguiu realizar nada de nota com a boa premissa que tinha em suas mãos. Ao tentar procurar a trama de mistério e vampiros, a temática de realidade alternativa foi deixada de lado, e os erros técnicos e de fundação da experiência acabam por amaldiçoar todo o conjunto da obra. Sendo assim, infelizmente, fica complicado recomendar The Inquisitor para geral.
The Inquisitor foi lançado no dia 8 de fevereiro para PlayStation 5, PC, via Steam e Xbox Series X|S.
*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela Kalypso Media.