VARIOUS DAYLIFE | Review
No último dia 13 de setembro, de surpresa, a Square Enix lançou o RPG e simulador VARIOUS DAYLIFE para Nintendo Switch. O game, originalmente disponibilizado para assinantes Apple Arcade, em 2019, também ganhou versões para PlayStation 4 e PC dois dias após o lançamento na eShop. A questão é que, há pouco mais de um mês, o game deixou o serviço da Apple, e agora só está disponível para as plataformas citadas.
Desenvolvido pela DOKIDOKI GROOVE WORKS e pela própria Square Enix, VARIOUS DAYLIFE chega às novas plataformas exatamente como seu produto original: ou seja, um jogo mobile, portado para novas plataformas, com telas maiores, e tudo mais o que isso pode representar. Com altos e baixos, será que o mais novo RPG de simulação social vale a pena? A resposta eu te conto agora, em mais uma review do Pizza Fria!
Um jogo “mobile” de mesa
Veja bem, caro(a) leitor(a). Eu, pra chegar aqui, editor de um site de jogos, ou sou um baita fã de jogos, ou sou maluco. Talvez um mix dos dois, por insistir em escrita em pleno 2022, mas uma paixão é uma paixão, não é mesmo? Enfim… Nessa longa estrada da minha vida, eu já joguei de tudo, e em tudo, um pouco. Fliperama, consoles de diferentes gerações, computadores de diferentes épocas, mini games, celulares, tablets, televisores e tantas outras opções que me fogem a memória agora, mas tenha em mente isso. Se dá pra jogar em alguma coisa que foi acessível ao público brasileiro da década de 90 pra cá, eu provavelmente tive em minhas mãos, nem que por alguns minutos.
Eu disse isso tudo pra ressaltar que não sou uma pessoa preconceituosa com jogos. Apesar de boa parte dos meus títulos favoritos de todos os tempos sejam de consoles de mesa, eu já gastei muitos meses da minha vida em outros tipos de jogos, como estratégia, MMO, RPGs e simuladores em computadores, jogos de luta em fliperamas e até mesmo o jogo da cobrinha, que foi um fiel companheiro no início da adolescência, enquanto trocava SMS com amigos e paqueras.
VARIOUS DAYLIFE, como disse anteriormente, é um jogo mobile, que acaba de ser portado para as novas plataformas, exatamente como funcionava em celulares. E infelizmente, isso não saiu como planejado. Apesar de ser uma representação fiel, o game tem características muito comuns que nos acostumamos a ver em títulos para smartphones, mas que são completamente diferentes daquelas que compõem em um jogo de sucesso em consoles e computadores.
Desenvolvedores já nos ofereceram ports incríveis em um passado não muito distante, inclusive a Square Enix, com o belíssimo trabalho em Final Fantasy VII Remake, que reconstruiu e adaptou um clássico do PS1 para PS4 (depois PS5 e PC), mas desta vez, o resultado não foi legal. Ao jogar os primeiros minutos de VARIOUS DAYLIFE no PC, eu tive a impressão de que o jogo não deveria estar na plataforma, ao menos, não da forma como ele está.
Isso porque VARIOUS DAYLIFE traz características que marcaram o mercado mobile de jogos freemium, como uma exploração rasa, movimentação bem limitada e automática e outros pequenos detalhes. Eu escolhi começar essa review pontuando sobre essas questões, que vou detalhar melhor abaixo, para que fique bem claro que: se você não estiver jogando em um Nintendo Switch, com doses gentis de gameplay, talvez o título não seja para você.
E isso fica ainda mais evidente quando apenas 41% dos jogadores de VARIOUS DAYLIFE recomendam o game na Steam. E isso em um jogo praticamente sem bugs para atrapalhar a experiência: as críticas dos jogadores giram em torno de elementos de design, narrativa e, principalmente, gameplay. O que vou explicar a partir de agora.
Ser simples é bom, mas nem tanto
Entender como VARIOUS DAYLIFE funciona não é tão complicado. Na verdade, o conceito do jogo é bem simples. Trata-se de um RPG de aventura e simulação do cotidiano, numa Era Imperial, com elementos de magia, classes e muitos trabalhos diferentes. O nosso personagem principal conta com algumas opções de personalização, e em seguida, o jogo começa.
Conhecemos nossa party, composta por quatro personagens, e aprendemos o básico do jogo: movimentação, combate, evolução dos personagens e missões. E aí começam os problemas de VARIOUS DAYLIFE. No começo da narrativa, chegamos ao continente de Antoecia, ainda inexplorado, e que precisa ser conhecido pelas pessoas que ali moram. Fazemos parte de um grupo de expedição, ao mesmo tempo em que temos que gerenciar elementos da nossa vida social na região.
Explorar Antoecia é uma atividade contempladora. Isso porque o jogador não participa ativamente das incursões. As “dungeons” que o jogo nos leva são apenas figurativas e nosso trabalho é gerenciar a saúde do grupo para que todos saiam com vida ao final do passeio. Você não explora nada, ao entrar em uma missão principal, os personagens caminham, entram em batalhas (essas sim, você controla) e no final enfrentam um boss. Simples e pouco prazeroso.
Fora isso, as atividades na cidade, chamada Erébia, também são pouco envolventes. Ao melhor estilo de um jogo mobile premium, nós temos que escolher Trabalhos para o nosso protagonista fazer em cada parte do dia, como garçom, guerreiro, secretário, cada um com sub trabalhos dentro. Cada trabalho apresenta uma porcentagem de Risco e Risco de Falha, que se baseiam diretamente no Vigor e no Humor do protagonista. E eles são concluídos ao apertar de um botão, o jogador também não joga.
Escolher esses trabalhos também determina o caminho da evolução do personagem. Executar trabalho como garçom, por exemplo, pode diminuir seu PM, mas aumenta o carisma e a agilidade, enquanto o trabalho como guerreiro aumenta nossa força, mas diminui o carisma. Você precisa gerenciar o caminho da evolução do protagonista, aos poucos, a medida em que vai cumprindo os Trabalhos. E essa é uma parte fundamental em VARIOUS DAYLIFE porque é através dela que subimos de nível. A EXP ganha em batalha ajuda, mas não é fundamental e é preciso realizar muitos trabalhos antes de encarar dungeons mais avançadas.
De quebra, ao realizar esses Trabalhos, nós ganhamos dinheiro, que precisa ser gasto em duas atividades distintas: a primeira é para melhorar o humor do personagem, realizando atividades de lazer com seus companheiros de party, e melhorando laços de amizade, que consequentemente abrem novos Trabalhos para ganharmos mais dinheiro. A segunda é que só há uma forma de evoluir a party: gastando dinheiro, no que o jogo chama de Treinar Aliados. E isso torna a experiência ainda mais tediosa e longa.
Como falei acima, o único momento em VARIOUS DAYLIFE em que o jogador, de fato, joga, além de andar pela cidade, é durante as batalhas. Fora isso, é preciso tomar uma série de decisões e gestão de equipe, que mais se parecem com um jogo de estratégia e gestão do que um simulador de convivência. Eu buscava algo similar ao que vi em Eiyuden Chronicle: Rising, mas o resultado foi completamente diferente, e para pior.
Um audiovisual complicado
Se houvesse algo que salvaria VARIOUS DAYLIFE, seria o audiovisual. Seria, porque apesar do jogo apresentar um visual caricato, aparentemente leve e divertido, na prática o que vemos é algo bem diferente.
O principal problema, pra mim, foi que ao jogar em 4K, o game fica muito serrilhado. A resolução parece não acompanhar a qualidade gráfica, muito melhor em resoluções e telas menores. Para efeito de comparação, joguei em uma TV 4K de 55′ e em um monitor Full HD de 25′, e o visual ficou bem melhor na tela menor. Talvez seja um resquício do port vindo de dispositivos móveis, mas não ficou bom. Vale ressaltar, no entanto, que o FPS se manteve estável em 60 durante todo o gameplay.
Pela cidade, nossa movimentação é em 2D, com um cenário em 3D ao fundo. Ou seja, só vamos para direita ou esquerda, e acessamos os edifícios de Erébia apertando o botão de ação. O jogo tem ciclos de dia-noite que são definidos de acordo com os Trabalhos do personagem, além de clima dinâmico. E a região até tem um visual bonito e bem construído, não fossem os problemas de resolução.
No entanto, o grande porém de VARIOUS DAYLIFE é a animação dos personagens durante uma conversa. Eles ficam se movendo infinitamente, mexendo a boca e os olhos de uma forma estranha, que mais parece um bug do que uma movimentação natural. Apesar de ter textos traduzidos em português do Brasil, o idioma falado do jogo é um inventado, com burburios dos NPCs, o que torna a experiência estranhamente bizarra.
Vale a pena comprar VARIOUS DAYLIFE?
VARIOUS DAYLIFE é realmente um jogo bem difícil de indicar para PC e, possivelmente, para PS4. Talvez no Nintendo Switch, no modo portátil, o jogo faça mais sentido, mas o seu formato é bem tedioso para jogatinas prolongadas, mais comuns em plataformas de mesa. Além dos problemas audiovisuais e de gameplay, a narrativa não empolga, e chega a ser bem infantil em alguns momentos.
Apesar disso, conta com pontos positivos. A trilha sonora é bacana, o jogo tá todo localizado em PT-BR e pode ser uma porta de entrada para novos jogadores, visto que é algo realmente simples e não exige muito. Mas é só. Não espere nada sensacional ou de tirar o fôlego, nem um gameplay muito animado. VARIOUS DAYLIFE é um título que, ao meu ver, foi lançado para plataformas que não combinam com seu estilo.
Para piorar, temos a questão do preço no Brasil. VARIOUS DAYLIFE é vendido oficialmente por R$ 129,90 para PC, via Steam, e R$ 154,50 para Nintendo Switch e PlayStation 4. Um jogo que, até um mês atrás, era gratuito para assinantes Apple Arcade (cuja assinatura custa R$ 9,90 por mês). Então, no estado atual, fica muito difícil recomendar a compra, mas, no fim das contas, a decisão é só sua…
*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce GTX, com código fornecido pela Square Enix.