What the Golf? | Review
Dizer que What the Golf? não tem nada a ver com golfe é uma grande mentira, já que o próprio nome carrega o esporte. O trocadilho um pouco sujo do inglês – “What the f—?” – deixa o nome em português algo como “Que p—- golfe é esse?!”. Assim sendo, a melhor apresentação seria “um jogo de golfe longe do convencional”. As noções básicas de bater com certa força e direção para se chegar a um objetivo inegavelmente estão lá, mas é só. O jogo então segue a tendência recente de uma comédia leve, jogabilidade simples e diversão em ambientes coloridos, como em Untitled Goose Game.
“Golfe é chato, ajude-nos a consertá-lo” foi a frase que o estúdio dinamarquês Triband usou para o financiamento coletivo de What the Golf? antes de atingir 120% da meta pedida. A grana ajudou a empresa a tornar-se responsável pelo desenvolvimento e também pela publicação do game, divulgando-o assim como a “aventura antigolfe perfeita”. A versão para Nintendo Switch saiu em 21 de maio de 2020, oito meses depois do lançamento para Windows e sistemas iOS e adicionou o modo para dois jogadores. Confira nossas impressões sobre What the Golf? em mais uma análise do Pizza Fria!
O jogo de golfe para pessoas que não jogam golfe
Já tentou jogar algum jogo de golfe antes? Pode ser Mario Golf ou mesmo Golf Story. A princípio, inúmeras informações na tela, como a direção do vento, sobre qual terreno no qual a bola repousa, o tipo de taco – seja de madeira, seja de ferro… Além disso, uma barra centralizada na parte inferior da tela que qualquer iniciante dificilmente entende de primeira – um clique para ajustar a força e, na volta do ponteiro, tentar acertar a precisão do disparo.
Com o objetivo clássico do golfe de bater na bolinha e de chegar ao buraco, What the Golf? se livra de todas as complicações antes que o jogador desista: escolha uma direção, aplique a força necessária, acerte a bandeira, simples assim. Golfe? Bem, apesar de What the Golf? não se aprofundar nas mecânicas citadas, é a jogabilidade simples e o humor nos desafios que prendem a atenção de jogadores.
Pressione A e direcione o analógico esquerdo, definindo a força e direção da “tacada”, solte. Assim começa o jogo – também é possível utilizar a tela de toque. Então, continue levando a bola até a bandeira e pronto, conquiste o buraco.
Antigolfe e criatividade
Bolinha? Foi o que disse acima? Bem, rapidamente as situações ficam inusitadas a partir do momento que não a bola, mas o golfista, ou os tacos, ou ovelhas começam a ser os objetos das tacadas. Não quero entregar as situações do jogo, já que aquele breve momento de surpresa encarrega-se por tornar o jogo engraçado e por desprender o riso.
A cada buraco (ou cenário), uma nova pegadinha é apresentada com a finalidade de manter o conteúdo inovador. Por exemplo, um dos buracos iniciais apresenta uma meleca pegajosa no lugar da bola e o cenário é visto lateralmente; nele, devemos aplicar a tacada e descolando de parede em parede até a meleca chegar à bandeira. Às vezes, o buraco remixa pegadinhas anteriores da mesma forma e, desse modo, a meleca pode encontrar barris explosivos ou a bola pode ser, na verdade, uma daquelas bolinhas saltitantes.
Essa variedade e o potencial de surpreender a cada novo buraco representa as forças de What the Golf? Em uma ocasião, a barra que mede a força serve de espada para repelir hordas de “inimigos” (jogos de golfe têm inimigos?). Em resumo, a descoberta do inusitado e a leveza de um gameplay simples tornam o jogo ideal para se jogar pequenas doses e sem oferecer uma dificuldade muito acentuada.
Visuais a serviço da diversão
Dada a quantidade de remixagens, cada buraco acaba sendo diferente do anterior. Surpreendentemente, a Triband conseguiu criar um leque enorme dessas situações absurdas. Entretanto, para manter a coerência visual, o estilo de What the Golf? é bem simples, mostrando cores sólidas como em Untitled Goose Game. Entretanto, não é nenhum demérito: o estilo é limpo e funciona quase sempre. Salvo em alguns buracos com a perspectiva em profundidade, nos quais a direção da tacada pode ficar comprometida, não há grandes reclamações sobre o visual minimalista. Talvez sessões mais demoradas possam cansar a vista com o estilo repetitivo e pouco variado.
No modo principal, um mapa visto de cima aproveita a mecânica geral para navegar por diversas salas e encontrar os cenários diferentes. Cada buraco, logo que completo pela primeira vez, oferece em seguida dois desafios. Quase sempre são restrições na quantidade de tacadas ou não esbarrar na água. Desafio soa como uma palavra forte, já que acabam sendo quebra-cabeças interessantes, longe de impossíveis e sempre ampliando as mecânicas apresentadas. Funciona, é viciante e, ao conseguir passar, a sensação de recompensa sempre volta.
Ponto forte, ponto fraco
Surpreendentemente, o ponto forte é também o ponto mais fraco do jogo: o modo multijogador. A Triband consegue migrar toda a criatividade citada para o modo party, para dois jogadores, nesta versão do Switch. E é justamente por isso que o ponto forte é sua fraqueza, já que apenas duas pessoas podem jogar ao mesmo tempo por limitações de design. Além disso, há uma opção com uma série de desafios atualizados diariamente e uma tabela com a liderança mundial – caso esteja se sentindo competitivo, vale conferir.
Não falei muito da música porque, assim como os gráficos, ela faz o serviço sem comprometer. A música ambiente não distrai, não rouba a cena e também não vai ficar grudada na cabeça.
Vale a pena comprar What the Golf?
Antes que alguém diga o contrário, acredito que a análise de What the Golf? é dizer que se trata de um jogo único. Um híbrido da diversão proporcionada por WarioWare e Untitled Goose Game batidos no liquidificador. Não há uma história para ser vista e nem visuais surpreendentemente incríveis para admirar. A graça está no absurdo de cada buraco, como extrair milhares de cachorros-quentes da barraquinha ou marcar um gol de tabela com a bola de golfe. O jogo é excelente em pequenas doses – entrar, jogar um pouco e sair. Além disso, há um modo para dois jogadores no Nintendo Switch, cuja única decepção é não aceitar mais que duas pessoas e ser apenas local. O ritmo arcade e sem interrupções deixa What the Golf? ainda melhor.
É um ótimo jogo com situações estranhas, viciante e que testa o jogador e sua atenção. A maioria das pessoas certamente se divertirá com o ritmo e voltará ao game pelos seus desafios. O critério que mais afasta What the Golf? de ser recomendado para o console da Nintendo, talvez, seja seu preço no eShop Brasil de R$ 105, já que na Epic Games Store custa R$ 37,99. Já no iOS, ele está disponível como parte da assinatura do Apple Arcade.
Apesar de estar traduzido para diversos idiomas, inclusive português do Brasil, esta opção afeta somente a interface e o jogo praticamente não requer leitura. No Nintendo Switch, pode ser jogado em diferentes modos de jogo (TV, semiportátil e portátil) e também com botões, toque na tela ou giroscópio, oferecendo ainda um modo para dois jogadores.
Finalmente, vale citar na análise de What the Golf? que o jogo foi nomeado em premiações e faturou pelo menos três prêmios de melhor jogo para dispositivos móveis: Game Developers Choice Awards (2020), IGN’s Game Awards (2019) e o grande prêmio da conferência Indie Cade Europe (2018).
*Review elaborada no Nintendo Switch, com código fornecido pela Nintendo.