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Endless Ocean Luminous | Review

Oceanos repletos de vida e em constante mudança estão de volta com Endless Ocean Luminous – série que se originou no Wii, ganhou uma continuação por lá mesmo e que até então estava dormente como um tesouro submerso e esquecido.

Agora, 14 anos depois, temos a chance de mergulhar outra vez no Nintendo Switch e viver uma experiência de exploração subaquática.

Bem, eu disse Nintendo Wii? Antes Endless Ocean, a desenvolvedora Arika – a mesma de Tetris 99, Super Mario Bros. 35 e Pac-Man 99 – já tinha se molhado em games de aventura com mergulho autônomo no PlayStation 2, Everblue e Everblue 2.

Com esta bagagem que mistura aventura, simulação de mergulho e multiplayer online, Endless Ocean Luminous chega com exclusividade ao Nintendo Switch em 2024, publicado pela própria Nintendo em mídias física e digital com preço um pouco abaixo do cheio (R$ 249 na eShop).

Quer saber se Endless Ocean Luminous vale a pena pular de ponta ou se suas águas são traiçoeiras demais para você? Vou te explicar minha experiência nesta análise para o Pizza Fria!

Será que Endless Ocean Luminous é pra mim?

Fica claro desde o começo que o jogo busca proporcionar uma experiência tranquila e de baixo esforço, livre de resistência e combates, quase um passeio contemplativo e de pesquisa sem compromisso.

O esforço necessário foca na simples atividade de escanear a vida marinha e ler curtos trechos informativos sobre cada espécie – seja real, seja mitológica ou mesmo extinta! – para expandir seu conhecimento subaquático.

Se você for daqueles que apreciam esse tipo de jogo, Endless Ocean Luminous é mais que perfeito, pois chega a ser desintoxicante. No entanto, para a maioria dos jogadores, a falta de diversidade nas atividades e a simplicidade da mecânica dificilmente justificam o investimento.

No geral, o título mantém a premissa básica de seus antecessores, Endless Ocean (Nintendo Wii, 2008) e Endless Ocean: Blue World (Nintendo Wii, 2010), colocando o jogador em um traje de mergulho imerso pelo gigantismo do oceano.

Endless Ocean Luminous
O ponto forte: apreciar a paisagem e mergulhar virtualmente sem compromisso. (Imagem: Reprodução, Nintendo Switch na doca)

A principal atividade é usar um escâner (segurando o botão L) para catalogar uma impressionante variedade de vida aquática pelo Veiled Sea (Mar Velado), seja mergulhando sozinho ou em mergulhos compartilhados no modo online. Ao escanear a riqueza dos biomas marinhos, preenchemos um catálogo que abriga mais de 500 espécies, desde corriqueiras estrelas-do-mar até grandes e extintas criaturas como os ictiossauros. Contudo, a mecânica de escanear se torna rapidamente repetitiva.

O ato de registrar um ser inédito retira uma misteriosa alga bioluminescente responsável por ocultá-las, transformando essa água em uma moeda “luminosa” chamada P que usaremos para comprar novos trajes, emotes (poses dos mergulhadores) e adesivos, além de melhorar a posição no ranking global da temporada.

E vale destacar que o Mar Velado é dinâmico, pois muda a cada mergulho a depender também do horário no jogo, se é dia ou noite, gerando assim diversos biomas para explorar, como recifes de corais, florestas de algas, regiões polares, fluxos de magma subaquáticos e trincheiras no fundo do mar!

Endless Ocean Luminous
Escanear seres marinhos para recolher luz, repetidamente. (Imagem: Reprodução, Nintendo Switch na doca)

Outra mecânica, porém não tão crucial, é fotografar as centenas de espécies – foi com a divertida e insustentável leveza do clique que perdi horas e mais horas de mergulho e de descompressão virtual. Os visuais não são embasbacantes, mas sim competentes, pois o fundo do mar é colorido e brinca com os tons de azul-marinho impostos pela densidade da água salgada, além de servir como lar para criaturas – ainda que algo borradas – bem animadas e imponentes no meio da vastidão.

Alguns encontros com animais colossais são de tirar o fôlego (não literalmente) em especial pelo ritmo cadenciado do mergulho – apesar de você até nadar mais rápido ao pressionar repetidamente o “Dolphin Kick”, o estilo de Endless Ocean Luminous quer que você aprecie seu entorno, admire como o mundo é grande.

E desta forma, o game estimula o jogador a tirar a câmera para fotografar peixes, répteis e mamíferos ou brincar de fotografia livre. Não há missões nem pontuação, somente o feito artístico de composição graciosa com a luz e os filtros disponíveis. Vale dizer que você guarda uma foto especial para cada espécie encontrada, se quiser…

Todos os registros, aliás, ficam salvos a partir do menu principal na enciclopédia de vida marinha, o que significa que todos os três modos de jogo contam para arquivar a fauna de Endless Ocean Luminous: mergulhos compartilhados, mergulhos solo e história.

Endless Ocean Luminous
Nunca joguei pensando tanto num sashimi como em Endless Ocean Luminous. (Imagem: Reprodução, Nintendo Switch na doca)

Modos de Jogo

História

Como disse, Endless Ocean Luminous conta com três modos principais de jogo: mergulhos solo, mergulhos em grupo e história.

Começando pelo Modo História, que ao longo de cinco capítulos traz uma série de missões curtíssimas em forma de tutorial para apresentar a jogabilidade e cair na água de fato. Aqui, você é o novato no Project Aegis, que se dedica não só a explorar e catalogar tudo no Mar Velado, mas também a conservá-lo.

Assim, enquanto você aprende as primeiras braçadas, a inteligência artificial Sera te guiará e explicará como mergulhar, como escanear criaturas e como recolher tesouros diversos do fundo do mar. Aparece também um outro mergulhador, Daniel, que ensina algumas coisas com notas de rivalidade – será que você é capaz de encontrar mais tesouros do que ele?

Endless Ocean Luminous
Sem tradução ao português, Endless Ocean Luminous tem apenas os diálogos da inteligência artificial. (Imagem: Reprodução, Nintendo Switch na doca)

Esse tutorial-história acaba sendo atravancado, pois as missões não avançam automaticamente e forçam mergulhos nos outros modos – tanto faz se sozinho ou acompanhado. As barreiras artificialíssimas impõem objetivos como escanear milhares de criaturas. Tudo bem, a tarefa nem é tão árdua, mas é estranho demais ser removido à força de um modo de jogo que escolhi seguir para uma única sessão.

Eventualmente, percebemos que nossa maior missão é evitar o declínio e restaurar o World Coral (equivalente à nossa Grande Barreira de Coral), vital para a vida nas águas. A verdade é que, na terceira interrupção do modo história, tentei ficar apenas nos mergulhos de modos paralelos, aprendendo e completando quase tudo por lá. Entretanto, asseguro que a história é curtinha, devendo ser encarada como intervalos narrativos no meio das sessões de nado sem compromisso para evitar a desmotivação de não poder prosseguir.

Um dos desafios é completar a Mystery Board, uma relíquia de uma civilização antiga em forma de tabuleiro que contém 99 enigmáticos espaços esperando que você o decifre por completo. Não se preocupe, você faz progresso nos outros modos. E por falar neles…

Endless Ocean Luminous
Ao terminar o tempo limite da exploração, o jogo gera um ID para que você revisite aquele mapa. (Imagem: Reprodução, Nintendo Switch na doca)

Mergulho solo e mergulho compartilhado

Aqui a proposta muda: o Mar Velado gerará um mapa enorme a cada nova imersão numa grade quadrada para ser explorado sozinho, com amigos ou mesmo com estranhos. O objetivo é catalogar todas as espécies marinhas possíveis e os segredos de cada área.

Os mergulhos em grupo permitem que até 30 jogadores explorem simultaneamente, compartilhando descobertas por meio de emotes – as poses dos mergulhadores – ou emojis posicionados sobre a cartografia descoberta.

A colaboração em equipe é essencial para completar os objetivos de escaneamento enviados pelo centro de comando dentro do tempo limitado daquele local de mergulho. Já que se trata de um mapa procedural – isto é, gerado pela máquina a cada jogatina – algumas tarefas bem específicas acontecem ciclicamente, como é o caso de catalogar criaturas raras e especiais que só habitam o Mar Velado.

Endless Ocean Luminous
Encontre tesouros perdidos, mas lembre-se que nem todos são valiosos. (Imagem: Reprodução, Nintendo Switch na doca)

Encontrar essas UMLs (“vida marinha não identificada” ou, em inglês, unidentified marine life) é a recorrente missão principal, consistindo em receber um sinal de rádio que pede para encontrar os espécimes com sinais biométricos estranhos antes de encontrar a majestosa criatura.

Para isso, vários círculos – às vezes sete, outras vezes nove – destacam as regiões onde estão tais espécimes. Você deve então nadar de um a outro, escaneando até o final todos os seres marinhos até encontrar aquele com anomalias biométricas. Soa fácil?

Some à área considerável dos territórios a verticalidade de uma fossa oceânica e a capacidade labiríntica das formações rochosas ou das geleiras. Ou ainda de ruínas antigas e naufrágios… Ou todas as anteriores. Enquanto escaneia milhares e milhares de peixinhos tentando encontrar uma agulha no palheiro.

A recompensa é ver bichos raros, abrir curiosidades e, se riscar todos da lista, o UML aparecerá em um novo lugar para que você e outros mergulhadores possam estudá-lo. Não vou estragar a surpresa, mas esses encontros são especiais, ainda que Endless Ocean Luminous seja repetitivo.

Endless Ocean Luminous
A missão global é catalogar todos os seres vivos, incluindo criaturas especiais conhecidas como UML. (Imagem: Reprodução, Nintendo Switch na doca)

Além dos UMLs, enquanto mergulhamos livremente, encontraremos artefatos esquecidos, ruínas, e o que mais pudermos para completar a Mystery Board. 

O modo de mergulho em grupo conta com 30 jogadores simultâneos e tem tudo para ser uma experiência colaborativa de exploração, mas na maior parte do tempo, sem canal de voz, acaba sendo uma extensão da experiência solo, com a adição de marcar itens para outros jogadores e utilizar emojis para comunicação. Uma interação muito limitada entre jogadores que desperdiça o sentimento de atividade em grupo, agora superficial (desculpe).

Por outro lado, os mergulhos solo sempre permitem retomar de onde paramos, visando completar a totalidade de cada tipo de animal e segredo em diferentes áreas. Embora todos os mapas gerados ganhem uma ID de para que seja possível visitá-los em outro mergulho, sozinho ou com mais jogadores, usei o recurso uma só vez, pois preferi deixar o game criar novos mapas. 

E tudo isto resume o fluxo de jogo: simplesmente mergulhar, sozinho ou em grupo, e continuar a marcar criaturas e itens de interesse até completar tudo. A contemplação livre é mais forte que a jogabilidade, com cenários de naufrágios, cavernas, templos subaquáticos e outras peculiaridades para descobrir. Os momentos mais emocionantes são os encontros com grandes criaturas, como o tubarão baleia.

Endless Ocean Luminous
Recolha luz, registre a vida marinha e ganhe posições no ranking online. (Imagem: Reprodução, Nintendo Switch na doca)

Visuais e Sons

Visualmente, Endless Ocean Luminous é atraente para um jogo de médio porte no Nintendo Switch. Os modelos dos animais são detalhados e realistas, ainda que as texturas deixem a desejar. O ponto alto está nos efeitos de iluminação e como a água contribui para criar uma atmosfera subaquática agradável.

No entanto, em comparação com outros jogos de exploração subaquática, os cenários podem parecer artificiais e vazios com frequência, em especial se compararmos a versão de Subnautica para PC. Os biomas árticos, tropicais e naufrágios revelam a pouca diversidade depois de umas cinco horas mergulhando, o que progressivamente diminui a sensação de descoberta e o ímpeto por continuar.

Os efeitos sonoros são relaxantes, acompanhados de uma trilha sonora esquecível que tampouco se intromete para incomodar, garantindo a experiência de exploração tranquila. O melhor momento sonoro, certamente, é o encanto de mergulhar por aí e ouvir baleias sem saber onde estão, para então procurá-las, encontrá-las e finalmente nadar ao seu lado.

Endless Ocean Luminous
Os momentos de descoberta são sempre excitantes! (Imagem: Reprodução, Nintendo Switch na doca)

Vale a pena comprar Endless Ocean Luminous?

Verdade seja dita, não há muito o que fazer além de catalogar, mergulhar e fotografar – e assim passei pouco mais das minhas 25 horas como game, nem perto de completar tudo. A escassez na variedade é agravada pela falta de tradução ao português do Brasil (ou mesmo de Portugal).

A quantidade absurda de espécies é incrível para complecionistas, mas meus momentos inesquecíveis com Endless Ocean Luminous estavam desconectados de obrigações, de marcadores, de direcionamento de qualquer tipo: compreendiam mergulho livre e brincar com a câmera fotográfica e a vida marinha tal qual sair pela cidade tirando fotos sem rumo ou mesmo tema.

E, ao ser assim, os competentes porém não surpreendentes visuais podem deixar a desejar. É meio curioso, porque isso me revela que o título não é do tipo “a soma das partes é melhor”, mas sim que temos “uma parte que é melhor que a soma do todo” – a fotografia livre, neste caso.

Endless Ocean Luminous tenta reviver uma franquia sem modernizar sua abordagem, criando empecilhos artificialescos que desmotivam o jogador. Por gostar de fotografia, me encantei jogando do jeito que disse, mas, pelo conjunto da obra, o título é superficial e repetitivo.

Embora ofereça uma experiência relaxante e educativa, a falta de variedade na jogabilidade e a simplicidade dos modos de jogo limitam seu apelo. A execução do projeto mina a interatividade e a liberdade, limitando e muito a potência da magia na exploração submarina. Para aqueles que procuram uma experiência tranquila e descomplicada, Endless Ocean Luminous pode ser satisfatório, mas para a maioria dos jogadores, o conteúdo específico por ser escasso ou mesmo decepcionante.

Endless Ocean Luminous foi lançado em maio deste ano e está disponível exclusivamente para Nintendo Switch. Na eShop do Brasil, o game custa R$ 249,00.

*Review elaborada com código fornecido pela Nintendo.

Endless Ocean Luminous

R$ 249,00
6.4

História

5.0/10

Gráficos e Sons

7.0/10

Gameplay

7.5/10

Multiplayer

6.0/10

Prós

  • Experiência relaxante e educativa
  • Centenas de espécies, entre criaturas reais, míticas e extintas
  • Mar Velado e seus ambientes dinâmicos
  • Contemplativo, em especial para fotografias
  • Visuais atrativos, apesar de o Switch poder mais

Contras

  • Jogabilidade repetitiva
  • Modo História fraquíssimo e arrastado
  • Comunicação limitada com outros jogadores
  • Sem tradução ao português do Brasil
  • Mecânicas de jogo defasadas

Carlos Maestre

Jornalista que passou a pesquisar acessibilidade digital pela constante necessidade de inverter o eixo Y - desde GoldenEye 007. Cresceu com a Nintendo e fã da (atual) Microsoft, quer a velha Rare de volta. Além de achar divertido caçar conquistas, sofrerá uma intervenção a qualquer instante por culpa de Stardew Valley.