Pikmin 4 | Review
Quando Shigeru Miyamoto disse que Pikmin 4 estava em desenvolvimento e muito próximo da conclusão, os (não poucos, mas nem tantos) fãs de Pikmin ficaram atentos. Embora a fala seja de 2015, o jogo permaneceu no limbo até ser revelado em um Nintendo Direct de 2022.
Para nossa alegria, Pikmin 4 foi lançado em 21 de julho de 2023 exclusivamente para Nintendo Switch. 🌱🚀4️⃣
Tanto tempo depois, seria esta a hora de Pikmin virar algo especial? Descubra nesta análise para o Pizza Fria!
Nintendo Switch: lar, doce lar
É fácil dizer que o Nintendo Switch se transformou no lar definitivo de Pikmin, já que o console da Nintendo tem em seu acervo o fantástico Pikmin 3 Deluxe (2020) e recentemente recebeu as versões remasterizadas dos dois títulos no pacote Pikmin 1+2 (2023).
Agora, a grande pergunta que passa pela cabeça de novatos ao ver um enorme “4” estampado na capa: “Posso começar a jogar Pikmin por Pikmin 4 ou é preciso jogar toda a série antes de começar Pikmin 4?”
Enquanto o sentimento de Pikmin 4 ter virado meu capítulo favorito não assenta, adianto que os desenvolvedores se preocuparam mesmo em abraçar novos jogadores sem obrigá-los a jogar os jogos anteriores.
Por isso, sinta-se à vontade para começar sua jornada por Pikmin 4 sem medo algum. Afinal, fica bem claro no comecinho que o jogo é uma espécie de reboot ou, no mínimo, faz continuidade retroativa (esse termo bonito conhecido em inglês como retcon). E com as boas notícias de ser o primeiro jogo Pikmin traduzido para português do Brasil. Ou seja, Pikmin 4 está em PT-BR!
Para os veteranos, comento algumas mudanças e faço comparações com os jogos anteriores ao longo do texto.
Pikmin 4: pera, um reboot de Pikmin?
O jogo começa com o capitão Olimar (o primeiro protagonista e descobridor dos pikminhos) narrando sua aventura.
Em resumo, ele conta a história de Pikmin 1, mas com alguns detalhes alterados. Confira a abertura em português do Brasil no vídeo abaixo.
Olimar, um hocotatiano com um dedo de altura, reconta a história de sua viagem pelo espaço que, após um acidente, o deixa isolado em um planeta estranho.
Tudo vai bem até que sua nave, a S.S. Dolphin, cai em um planeta estranho. Durante a entrada na atmosfera, a Dolphin se fragmenta em 30 partes que se espalham pela superfície. Não fosse o bastante, o oxigênio na atmosfera é tóxico para o pequenino hocotatiano e sua reserva de ar é limitada. Ainda bem que o capitão encontra umas criaturinhas, muito parecidas com plantinhas, dispostas a ajudá-lo. Ele as batiza de pikmin, em referência às cenouras pikpik de sua terra natal.
Embora um pikmin sozinho não consiga fazer muita coisa e demore muito para fazê-las, em grandes bandos eles são fortes, derrotam predadores perigosos e removem obstáculos. Olimar se aproveita desta característica (e da boa vontade dos seres) para resgatar as peças…
PLOT TWIST! Desta vez, ele encontra uma cachorrinha que também o ajuda e, ao recuperar rádio interestelar, envia um sinal de emergência com suas coordenadas e seu diário de bordo pelo espaço. Enquanto as primeiras ondas de rádio viajam pela imensidão do espaço, algo mais acontece e Olimar desaparece.
É aí que nós entramos! A Brigada de Resgate recebe o sinal e parte rumo a PNF-404, o planeta no qual Olimar se acidentou. Contudo, a brigada também se acidenta ao entrar na atmosfera e a nave evacua todos os oficiais separadamente. Cabe a você, o jogador, assumir o papel do inexperiente recruta.
O mais curioso desta vez é que, ao contrário de seus precursores, Pikmin 4 traz opções para personalizar o avatar em vez de personagens definidos como foram Olimar, Louie, Charlie, Brittany e Alph.
Além de separar a equipe, o problemático pouso fez com que a nave da brigada se desabastecesse… E, para piorar, o sinal de emergência de Olimar atraiu muitos viajantes espaciais curiosos, que também se acidentaram! Pelo visto, a atmosfera de PNF-404 tem algo que causa acidentes de pequenas naves.
Mesmo com “retconning”, a história começa interessante e cheia de possibilidades, apresentando diversos personagens diferentes.
A motivação é clara e amontoada: sobreviva durante o dia, busque exploradores perdidos (que podem ser membros da brigada ou aventureiros) e, quando puder, descubra o que aconteceu com o capitão Olimar.
Minha aposta pessoal é que a nova equipe de desenvolvedores estava, ao mesmo tempo, preocupada em apresentar a adormecida franquia Pikmin a um público maior e renovado.
Contudo, esse monte de gente e a narrativa repaginada afeta mais que a história e a motivação, afeta também o ritmo do jogo, principalmente no começo.
O dia a dia da aventura de Pikmin 4
Pra quem não conhece, o ciclo básico em um jogo Pikmin é uma mistura de aventura com estratégia e gerenciamento de tempo e recursos. Tal ciclo exige do jogador direcionar o tipo pikmin certo para a tarefa certa. Em grupos, os pikmin carregam itens grandes necessários, removem obstáculos e criam o que for necessário pelo caminho.
Uma vez que a nave S.S. Shepherd está parada e com o tanque vazio, nossa missão virou um conjunto de missões: além de resgatar tripulantes, exploradores curiosos e Olimar, devemos encontrar uma substância que sirva como combustível.
Durante os primeiros minutos, descobrimos que a nave aceita uma substância chamada “purpuríneo” (sparklium, pra quem for jogar em inglês) para alimentar seus motores. O que é o tal do purpuríneo? É um brilho muito leve encontrado em diversos objetos de PNF-404: num relógio de parede, cartas de baralho, frutas e até em criaturas abatidas.
Coloque na lista de coisas por fazer: recolher purpuríneo para decolar a nave.
É aí que os pikmin entram para ajudar a encontrar esses objetos e a levá-los de volta para a nave. Antes fosse só isso, afinal, alguns objetos estão em lugares inalcançáveis, como o outro lado de um lago, ou é necessário abater um predador que está pelo caminho.
Com a ajuda dos pikmin, que não fazem nada sem serem ordenados, é a sua vez de completar as missões dadas no posto de comando, onde estão reunidos todos os personagens. Este posto de comando se transforma aos poucos numa pequena colônia de náufragos galácticos. É nele também que acontece a reunião matinal a cada dia da missão.
Todos os objetivos, sejam principais ou secundários, são dados pelos personagens e mostrados como notificações em seu tablet. Completá-las é inerente ao jogo, indissociável.
A capitã da nave, por exemplo, é responsável por treinar o nosso “salvacão” companheiro de aventura, Otchin. O treinamento é feito trocando os pontos ganhos a cada resgate por novas habilidades, como nadar ou estontear inimigos quando Otchin ataca.
Otchin, aliás, funciona tanto como um superpikmin quanto como um segundo capitão. Os pikmin se agarram em seu pelo para atravessar corpos de água e o obedecem. Com o progresso, alternamos o controle entre recruta e cão, o que abre possibilidades estratégicas.
Apesar de Pikmin 4 começar fácil, algo que muda com o progresso e os desafios impostos, o prazer em organizar a rota do dia e “limpar” uma área é deliciosamente compensatório! Otchin influencia esse sentimento de facilidade extrema, mas logo se mostra muito necessário.
(Voltei a Pikmin 3 Deluxe para comparar algumas coisas e, no final, senti uma falta imensa de Otchin como personagem auxiliar. É incrível como o cãozinho ajuda com a fluidez da exploração de um jeito inalcançado pela mera adição de mais capitães em jogos anteriores.)
Aliás, para maximizar o prazer de jogar sua aventura, ao não impor um limite de tempo para concluir a jornada, Pikmin 4 remove o principal marco gerador de ansiedades existente em Pikmin 1 e Pikmin 3. Esta característica o deixa estranhamente parecido com Pikmin 2 e significa que o jogador pode demorar quanto quiser para vasculhar cada cantinho de PNF-404.
E, claro, em clássico estilo pikminesco, a exploração é feita em incursões com a luz do dia, já que predadores ficam mais ferozes à noite, inviabilizando uma jornada segura dos nossos exploradores nanicos.
Assim sendo, em circunstâncias normais, cada dia dura cerca de 15 minutos reais. Cabe a nós, nesse meio tempo, bancar o arqueólogo e recolher os tesouros sobre a superfície. Nem só tesouros com purpuríneo, já que em Pikmin 4 temos a novidade de uma matéria-prima genérica, umas pedras azuis lapidadas que se transformam em uma espécie de moeda.
A matéria-prima serve para ser trocada na nave por bolotas de lama e ampliar as rotas ou terminar a construção das pontes e das paredes tanto quanto serve para “comprar” upgrades no posto de comando, como o aparelho que chama pikmin ociosos para a sua localização. Este catálogo de melhorias fica com o cientista e cresce com o desenrolar do tempo.
Ao entardecer, é hora de juntar os pikmin e voltar para a segurança da S.S Shepherd.
Nesta hora, os tradicionais gráficos saltam na tela mostrando quantos pikmin perdemos, quantos colhemos, além dos tesouros recolhidos naquele dia. Em seguida, uma segunda reunião diária, desta vez para fechar o dia, traz diálogos até bem-humorados entre os tripulantes, porém monótonos em sua apresentação, pois avançamos caixas de texto com a imagem da nave iluminada de fundo.
Mas pera lá! Algumas coisas subvertem essa rotina da luz do dia!
Cavernas e Dandori
Mais uma vez, Pikmin 4 flerta com o segundo jogo e, sem seguir um tema específico, os objetos carregados de purpuríneo são chamados “tesouros”. Não são partes como em Pikmin 1 nem frutas, como em Pikmin 3.
As semelhanças com Pikmin 2 continuam: as cavernas com vários subníveis voltaram e lá o tempo praticamente não pára. Assim, é possível gastar horas no mesmo dia ao partir de uma caverna para outra. Agora elas se parecem com tubos de drenagem, ainda assim são cavernas que chegam em três sabores: cavernas de exploração, desafios Dandori e batalhas Dandori.
Dandori é uma palavra japonesa para a prática de organizar tarefas estrategicamente e trabalhar efetivamente para executar planos.
Quem nos apresenta a batalha Dandori é uma criatura com a cara repleta de folhas vermelhas – um “folhano”, segundo um membro da brigada – que parece sequestrar aqueles exploradores perdidos e desacordados para transformá-los em… mais folhanos!
Daí surge a dúvida: será que ele teria sequestrado Olimar e o transformado em um folhano?
Quando cavernas Dandori entram em cena, o gameplay tradicional da campanha dá espaço a desafios que testam a sua habilidade e condecoram o jogador com medalhas de bronze, prata, ouro ou platina a depender dos resultados.
Batalha Dandori
A batalha Dandori em especial é uma mistura caótica de combate e coleta que lembra muito o modo multijogador de Pikmin 3 Deluxe. Mesmo sem entender porque a tela precisa estar dividida ao jogar contra a máquina, é uma forma divertida de testar habilidades multitarefa. A recompensa é sempre avançar na história e resgatar personagens de exploradores perdidos que foram transformados em folhanos…
Opa! A lista de coisas por fazer acaba de crescer: encontrar uma cura para essas pessoas!
Desafio Dandori
O outro estilo de caverna traz desafios Dandori, nos quais você deve coletar todos os tesouros dentro de um limite de tempo e com um número limitado e pré-definido de pikmin. Nos últimos cenários, Pikmin 4 deixa de lado a aparência de jogo fácil e testa até os melhores jogadores.
Cavernas “clássicas”
As cavernas que não são desafios nem batalhas Dandori contêm tesouros, inimigos e a exploração habitual, assim como a grande maioria dos “chefes”. Aliás, um dos aspectos mais fascinantes em Pikmin 4 é conferir a criatividade colocada nas criaturas e descobrir, chefe a chefe, como superá-las.
Ainda mais importante, é nestas cavernas que você vai resgatar muitos exploradores e, por isso, sua colônia de náufragos espaciais vai aumentar ao redor da S.S Shepherd a cada dia.
Neste instante, reforço a crítica ao volume de texto por personagem, às redundâncias e à qualidade em geral: com tanta gente na sua colônia de resgatados, cada um tem o próprio leque de missões secundárias e de falatório. No final das contas, cada resgate significa inflar ainda mais o tempo gasto no posto de comando antes de viajar para uma área.
Vale dizer que algumas dessas cavernas são releituras daquelas vistas em Pikmin 2, mas, no geral, muito mais curtas e menos cruéis. Acredito que a palavra que esteja buscando seja “refinadas”, as cavernas em Pikmin 4 são refinadas, polidas e não se excedem em extensão nem em dificuldade.
Exclusivamente nestas cavernas encontramos os tipos de pikmin diferentes dos primários (vermelhos, amarelos e azuis), o que significa o retorno de lançar um tipo numa flor para transformá-los em outro tipo.
Vale lembrar aqui que o tempo dentro das cavernas avança de um jeito diferente em relação à superfície uma vez que o relógio do dia só avança em um sexto, independente de quantos minutos a gruta tenha durado.
Explorar de dia, explorar de noite
Alerta! Subversão do que é pikmin clássico!
Em certo momento, teremos a oportunidade de partir em expedições noturnas – não vou deixar o propósito para não entregar pontos da história.
Eu tenho impressões mistas sobre essas expedições porque elas trazem um jeito novo de jogar pikmin que foge da estratégia e da exploração homeopática por um lado, mas, por outro, parece completamente fora de lugar.
Digo isso porque é muito legal ver a tentativa de emplacar outro subgênero de estratégia, defesa de torres, no jogo, um feito com ritmo caótico e que traz variedade a Pikmin 4. Só que parece quebrar com toda a fragilidade e com todas as restrições de explorar durante o dia.
Basicamente, as expedições noturnas são praticamente um jogo de tower defense e consistem em defender um “lampireiro” (lembra muito um formigueiro luminoso) até o amanhecer. (Não se preocupe, pois a noite é mais curta que o dia!)
Contudo, as criaturas no topo da cadeia alimentar ficam ainda mais vorazes à noite e são atraídas pela luz dos lampireiros, por isso avançam até eles para destruí-los.
Ainda bem que temos um novo tipo de pikmin para esta tarefa, o pikmin pirilampo. Só podemos usar este tipo nessas jornadas e eles têm qualidades peculiares.
A primeira é que eles se multiplicam com grânulos “pirilampeiros” (!), pedrinhas luminosas que lembram muito os fragmentos de estrelas de Super Mario Galaxy. Não vivem em uma cebola, como os demais, assim recrutamos novos pikmin pirilampos sempre que retornamos.
Além disso, depois de deixarem os grânulos no lampireiro, eles teletransportam para o comandante! Não bastasse isso, em grupos grandes, eles avançam em inimigos com um ataque carregado e letal.
O ritmo habitual escapa nestas incursões em favor de uma loucura acelerada por alguns minutos, uma loucura extremamente divertida. Angustiante até.
Porém, o único propósito delas é, ao amanhecer, recolher um item para progredir na história ao custo de remover a sensação de continuidade, pois parecem muito desconexas do restante do nosso progresso, do que construímos ao longo da aventura.
Limitações criativas no uso e tipos de pikminhos
Por incrível que pareça, todos os tipos de pikmin estão presentes. Desta vez, o uso estratégico deles foi potencializado, pois algumas restrições inéditas nos obrigam a pensar melhor as situações.
Um exemplo: ao começar, temos o controle de um grupo restrito a 20 pikmin, enquanto nos outros jogos já dava pra buscar logo 100. Para ampliar o contingente do pelotão, devemos encontrar expansões em forma de bulbo (“alhofloras”).
Vai piorar, já que só até três tipos de pikmin descem a campo em um determinado momento.
Assim, para recolher um tesouro que exige a força de 100 pikmin quando nosso limite é 50, talvez seja obrigatório buscar soluções criativas. Ainda bem que os pikmin diferentes têm habilidades diferentes, como os roxos, que têm a força de 10 pikmin.
Existem outras variações, como a maré, que está alta até meio-dia em algumas regiões e é baixa durante a tarde, permitindo a passagem de pikmin que não sejam azuis ou alados.
Com todos os tipos de pikmin presentes, fica fácil dizer que um ponto forte é ter os quebra-cabeças ambientais entre os mais variados de toda a franquia. Imagine as possibilidades:
- Pikmin vermelhos, imunes ao fogo
- Pikmin amarelos, imunes à eletricidade e mais leves, por isso são arremessados mais alto
- Pikmin azuis, sabem nadar e resistentes a ataques de água
- Pikmin de gelo, novo tipo imune a ataques de gelo e capazes de congelar tanto inimigos quanto corpos d’água
- Pikmin pirilampos, o tipo noturno que se junta para atacar inimigos, imune a todos os efeitos adversos e que se teletransportam
- Pikmin roxos, dez vezes mais pesados e fortes que os demais. Eles atordoam inimigos quando arremessados
- Pikmin pedra, não são empalados nem esmagados e ainda quebram paredes de vidro e cristais
- Pikmin alados, os rosas, capazes de voar e carregar objetos por cima de obstáculos
- Pikmin brancos, imunes a veneno, são venenosos eles próprios e os mais rápidos
Jogabilidade e combate renovados
Inimigos em Pikmin 4 seguem a tradição de serem diversos e muito bem animados.
Todo ser vivente tem um ponto fraco próprio e uma abordagem única e os encontros ficam registrados na Piklopédia, uma enciclopédia repleta de curiosidades sobre fauna e flora e de comentários dos tripulantes.
Preciso destacar como o combate mudou graças a duas inovações que mudam radicalmente o jogo.
Já falei da primeira delas, Otchin, o salvacão parceiro. Nós podemos andar por separado ou montá-lo e, se montado, os pikmin se prendem ao pêlo. Neste caso, se o jogador calcular o tempo certinho, faz um ataque de investida numa criatura capaz de atordoá-la e que, ao mesmo tempo, lança toda a infantaria pikmin pra cima dela.
Essa estratégia é quase um rolo-compressor, apesar de não ser infalível – basta dizer que alguns predadores são à prova de certos movimentos.
Outra possibilidade seria ter muitos pikmin de gelo sobre Otchin para congelar os predadores, diminuindo o risco, mas diminuindo também a recompensa. Mas estou fugindo do assunto!
A segunda inovação é a inclusão de um sistema de mira automática. Em especial, veteranos vão sentir a mudança descomunal que este sistema introduz. Diga adeus a pikmin lançados em excesso, em direções erradas e fora do terreno.
Jogar com a mira automática depois de encarar Pikmin 1+2 é uma daquelas mudanças da água para o vinho.
Mesmo com tanta vantagem, ela se confunde um pouco quando objetos estão muito perto uns dos outros e, infelizmente, não há uma opção para dosar a sensibilidade ou desligá-la.
Sim, ela é mais útil que atrapalhada, mas a mira automática atrapalha um pouco especialmente em desafios e batalhas Dandori.
Pikmin 4 traz ainda itens no inventário como bombas, minas de proximidade, minas rastreadoras e cenouras pikpik, entre outros. Bombas, agora, são lançadas pelo recruta, em vez de serem carregadas pelos pikmin, assim como os demais itens.
A novidade é interessante e uma das principais razões que tornam este jogo tão mais fácil. Em cavernas ou em situações apertadas, temos a chance de deixar os pikmin distantes e minar o campo ao redor dos inimigos, eliminando a complexidade da batalha.
No final das contas, os itens são aceleradores e facilitadores, mas um tanto roubados e me vi voluntariamente deixando-os de lado.
Por fim, outra melhoria vale a pena ser mencionada: o jogador pode, a qualquer momento, apertar – (menos) e escolher retroceder no dia da missão. Soa como uma colher de chá, eu mesmo achei que seria facilidade demais. Porém, o recurso é, na verdade, um excelente salva-vidas.
Retroceder é voluntário, claro, uma funcionalidade que evita frustrações, especialmente quando o exército de pikmin é aniquilado sem dó nem piedade em um subsolo de caverna. Ou por um mole incrível do jogador.
Modos multijogador
Epa, aqui não tem como retroceder!
Pikmin 4 conta com dois tipos de modo multijogador.
Durante a campanha, um segundo jogador ajuda o primeiro, mas de uma forma bem diferente daquela vista em Pikmin 3 Deluxe, na qual cada um controla um capitão e divide o time de pikmin.
É uma pena, pois desta vez o jogador prossegue normalmente enquanto o segundo jogador ganha uma mira sobre a tela e tem a habilidade de alternar itens e disparar pedras nos inimigos. E só.
A experiência é limitada e, sinceramente, dispensável para jogadores adultos. O movimento de câmera somado à imprevisibilidade de movimentação do primeiro jogador causa angústia e certa inação.
Esse recurso é mais interessante para quem tem crianças pequenas e querem auxiliar na aventura delas ou ganhar um copiloto que quer se sentir incluído e participativo.
O segundo modo multijogador de Pikmin 4 conta com as batalhas Dandori, aquelas descritas lá em cima, mas colocando dois jogadores competindo pela coleta de tesouros e abate de criaturas em alguns poucos cenários.
E este modo, sim, é bem divertido e tem todas as melhorias de jogabilidade da história principal. Apesar de não ter online e de não termos achado a batalha Dandori tão divertida quanto a Batalha Bingo em Pikmin 3 Deluxe, o confronto é equilibrado e não deve ser ignorado.
Gráficos, sons e Pikmin 4 em PT-BR
Os visuais de Pikmin 4 estão entre os mais bonitos já vistos no Switch e sem exagero.
Destaque e espetacular mesmo é a iluminação oferecida pelo Unreal Engine – a mudança sutil durante a passagem do dia com tons azuis pela manhã e alaranjados pela tarde é embasbacante, por falta de palavra melhor ou para evitar uma mais suja.
Os ambientes são dinâmicos, a animação dá vida a criaturas irreais e a mistura de texturas cartunescas com texturas realistas embebeda o jogador numa aventura fantástica que parece mentira e verdade ao mesmo tempo.
Por falar em texturas realistas, é fantástico ver o Switch demonstrar a renderização por um ambiente cujos materiais são folhas translúcidas, o brilho areia refletindo sob a luz do sol… A variedade é surreal para o console.
O desempenho no modo portátil de Pikmin 4 é mantido intacto e, minha única ressalva, é que os controles por movimento no modo portátil não se parecem com os controles de movimento quando jogando com o Pro Controller ou com Joy-Cons separados do tablet. Eu não consegui decifrar o que causa isso nem consegui calibrar a minha percepção para jogar com movimentos no portátil.
Os sons são outro espetáculo à parte: pela primeira vez temos sons dos passos dos pikmin, a distorção das vozes baixo a água, os ruídos típicos de um quintal silencioso e isolado do meio urbano – o jogador escuta os grilos, as folhas ao vento, as criaturas.
Historicamente, a música em Pikmin está programada para mudar de acordo com a ação e o momento, por exemplo, do combate, e não é diferente.
Os temas sonoros são dinâmicos e a trilha se ajusta ao momento do inimigo, instrumentos são adicionados caso pikmin estejam em perigo, outros instrumentos ou notas surgem quando um movimento brusco acontece.
E, claro, resta falar sobre a tradução. Joguei toda a aventura em português do Brasil, já que Pikmin 4 é o primeiro game da franquia a ser traduzido.
Joguei as primeiras duas áreas outra vez em inglês para comparar e, sim, o texto original é o mais fraco da história de Pikmin. Os personagens meio que descaracterizam a ideia de ficar perdido numa ilha deserta sozinho e, com a chegada deles, vai-se embora muito da autorreflexão e do “silêncio”.
Desta forma, os dilemas do protagonista e sua contemplação dão espaço a diálogos mastigados, formatados como num desenho infantil.
E a tradução reflete isso, mesmo trazendo criatividade e uma roupagem bem bacana e abrasileirada. E, infelizmente, Pikmin 4 em PT-BR tem seus erros primários, vestígios da falta de uma revisão cuidadosa.
Vale a pena comprar Pikmin 4?
Dandori é o mantra de Pikmin 4 e resume o que é um jogo Pikmin.
Pikmin 4 abusa desse conceito e mostra tudo que a franquia tem a oferecer – parece simples, mas é meticuloso e, às vezes, complicado; transforma conclusão das diversas tarefas em satisfação pessoal; exige um jogador multitarefas e onisciente sem ser punitivo.
Pikmin 4 não está livre de falhas e nem de dissidência dos veteranos – no geral, a repaginada é para melhor, mas às custas de uma história e construção de personagens sintéticas e superficialmente modernas.
A qualidade da nova jogabilidade oscila entre adições legais, como Otchin e cavernas meticulosamente arquitetadas, e outras mecânicas que precisavam de mais trabalho, como o posto de comando e os itens. Isso sem falar das expedições noturnas, que são alucinantemente divertidas, mesmo se descoladas da proposta do jogo.
Mesmo com a maior perda, o recorte dos modos multijogador, a campanha é duradoura, pois os créditos só virão com quase 30 horas de jogo para quem buscar 100% e, ainda assim, existe uma surpresa incrível e desafiadora depois dos créditos.
Eu ainda estou digerindo o impacto de Pikmin 4 em mim, alguém que considera Pikmin 3 um marco no Wii U e um dos grandes jogos da Nintendo na última década (já faz 10 anos!). Sim, acho que Pikmin 4 é minha aventura Pikmin favorita mesmo com as objeções apontadas.
Fãs da série devem jogar assim que puderem. Quem tem um Nintendo Switch tem um forte candidato a seu acervo pessoal, pois este é um marco do console e um jogo parecido somente com os outros Pikmin, diferente de todos os outros. Se estiver em dúvida, recomendo muito que baixe a demonstração pela Loja Nintendo.
Tudo dito, Pikmin 4 reinventa a franquia sem perder a essência divertida e relaxante. Imperdível para nintedistas.
*Review elaborada com código fornecido pela Nintendo.