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Fort Solis | Review

Em uma era onde os games têm cada vez mais buscado uma integração íntima com o universo cinematográfico, Fort Solis surge como uma proposta fresca e ambiciosa, convidando jogadores a embarcarem em uma jornada eletrizante pelo deserto de Marte.

Com atores de grandes jogos envolvidos na produção, como Troy Baker (Joel, de The Last of Us) e Roger Clark (Arthur, de Red Dead Redemption 2), o título foi anunciado na Summer Game Fest de 2022 com pompa, afinal alguns de seus principais desenvolvedores assinaram os títulos citados acima. A expectativa cresceu e o lançamento se aproxima, acontecendo hoje. Tivemos acesso ao jogo nas últimas semanas e conto tudo que achei agora, em mais uma review antecipada do Pizza Fria!

Uma história sobre frustração

Fort Solis nos coloca no papel de Jack Leary, interpretado por Roger Clark, um engenheiro sênior de uma estação de pesquisa chamada Fort Minor, que opera em Marte, no ano de 2080. Ao lado de Jessica Appleton, interpretada pela atriz Julia Brown, engenheira júnior da mesma estação, os dois estão fazendo reparos quando recebem um pedido de ajuda da estação de Fort Solis, que entrou em lockdown. Jack vai até o local, consegue entrar na estação e inicia sua investigação sobre o que pode ter desencadeado o problema, enquanto conversa com Jessica pelo rádio.

A história de Fort Solis é dividida em quatro capítulos, que levei pouco mais de 5h para terminá-los em conjunto. O jogo se vende como um thriller psicológico de ficção científica, com influências vindas de de títulos como Firewatch e os trabalhos mais recentes da Supermassive Games, como Until Dawn e os jogos da antologia The Dark Pictures, por exemplo. No entanto, na prática, é bem diferente – falarei mais sobre isso quando tocar no assunto gameplay, por enquanto, falaremos da trama.

Fort Solis
Os gráficos do jogo são incríveis no PlayStation 5 (Imagem: Divulgação)

Toda a narrativa de Fort Solis é contada através da exploração e busca de registros que contem a história do que se passou em Fort Solis, e porque a base foi selada e está em lockdown. Seja em registros de áudio e vídeos deixados nas estações de trabalho e quartos dos personagens que o jogo nos apresenta, seja nas câmeras de segurança. Jogando como Jack, sua missão é descobrir sobre o problema e, bem… é isso.

A questão é que a partir do momento que o jogador percebe os rumos que a narrativa está tomando, as coisas desencadeiam muito rápido e, bem, o jogo acaba! Os capítulos não tem duração semelhante. Eu levei muito mais tempo para fazer os dois primeiros capítulos do que os dois últimos, por exemplo.

Um walk simulator com grife

O gênero walk simulator nos entregou grandes obras através do mercado independente, como o próprio Firewatch, citado pelos desenvolvedores como um título de inspiração, What Remains of Edith Finch ou The Vanishing of Ethan Carter. Em comum, todos esses jogos tinham orçamentos mais reduzidos e gráficos mais modestos do que Fort Solis, mas alcançaram sucesso de crítica e público dentro de suas características e definições.

Fort Solis
Você vai encontrar e analisar muitos objetos em Fort Solis (Imagem: Divulgação)

No FAQ de Fort Solis, disponível publicamente na Steam, os devs dizem este é o gênero que mais se aproxima do que é o game, dentro dos mais tradicionais. E, ao menos pra mim, considero o título um walk simulator. O jogo não tem nenhum tipo de combate, não tem inimigos para serem derrotados ou mesmo uma mecânica furtiva. O personagem só anda caminhando e não tem botão para que ele ande mais rápido. Até existem puzzles presentes, mas a imensa maioria não são obrigatórios para a conclusão da história.

Basicamente, a única mecânica presente em Fort Solis são Quick Time Events (QTE), aqueles momentos em que devemos apertar os botões mostrados na tela o mais rápido possível para evitar perder. Acontece que o jogo também não tem Game Over, então se você errar, mudará apenas alguma linha de fala e só. No entanto, o jogo tem dois finais, e um está diretamente ligado a… errar as QTEs. É complicado…

Fort Solis
Um dos poucos puzzles obrigatórios do jogo é ligar esse servidor (Imagem: Divulgação)

Uma “tech demo” de altíssimo nível

Fort Solis foi anunciado em junho de 2022 e chamou muita atenção pelo seu visual de ponta. E, depois de jogar, foi bem prazeroso ver onde o mercado caminha. Usando todo o poder do motor gráfico Unreal Engine 5.2, a qualidade visual é de tirar o fôlego. Mesmo sendo um jogo indie, ficou visível que o jogo não economiza em produção, oferecendo gráficos em 4K e motion captures com atores renomados, que ajudam a enriquecer a atmosfera realista e imersiva que o game tenta inserir o jogador.

A parte sonora também acompanha esse nível de qualidade. A dublagem, em inglês, é de altíssimo nível, e todo a qualidade que o som pode oferecer fica ainda mais acentuada ao explorar o local. Por não ter combate, muito do que ouvimos são as conversas no rádio entre Jack e Jessica, além dos poucos sons ambientes que vem da estação, fora, claro, das pequenas interações com os registros que encontramos no jogo. Como o jogo oferece um gameplay mais parado, acabei optando por jogar em modo qualidade, e achei a experiência excelente.

Fort Solis
Não, você não dirige o carro (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Fort Solis?

Fort Solis é uma experiência que oscila entre altos e baixos. Por um lado, temos um excelente audiovisual, aproveitando-se das mais recentes tecnologias gráficas para proporcionar uma atmosfera impressionantemente realista e envolvente. A dublagem de alta qualidade e a atenção meticulosa aos detalhes sonoros também merecem aplausos. No entanto, o jogo parece tropeçar quando se trata de gameplay e construção de narrativa. A inconsistência na duração dos capítulos e a falta de mecânicas de jogo mais variadas podem frustrar jogadores que buscam uma experiência mais tradicional e desafiadora.

Dito isto, se você é alguém que valoriza a arte visual e sonora nos videogames e tem um apreço por “walk simulators” que focam mais na atmosfera e na narrativa do que na ação pura, Fort Solis pode ser uma adição valiosa à sua coleção. No entanto, se espera um jogo com mecânicas profundas e um enredo mais bem construído, pode ser melhor aguardar por uma promoção. Em última análise, Fort Solis é um exemplo de que ter um grande orçamento e talento no elenco não garantem automaticamente um jogo impecável. Vale a pena, mas com ressalvas.

Fort Solis chega hoje, 22 de agosto, para PlayStation 5PC e macOS, via Steam.

*Review elaborada em um PlayStation 5, com código fornecido pela Dear Villagers.

Fort Solis

6.5

História

5.5/10

Gráficos e Sons

9.5/10

Gameplay

5.0/10

Extras

6.0/10

Prós

  • Gráficos impressionantes e de alta qualidade.
  • Excelente dublagem e atenção meticulosa aos detalhes sonoros.
  • Participação de atores renomados, enriquecendo a experiência.
  • Boa localização em português do Brasil

Contras

  • Falta de mecânicas de jogo variadas.
  • Duração e progressão inconsistente dos capítulos.
  • Gameplay pode ser visto como pouco desafiador ou envolvente.
  • Falta de consequências significativas para as ações do jogador.
  • Narrativa não tão bem desenvolvida ou surpreendente.

Lucas Soares

Jornalista e fã de videogames desde criança. Já teve Mega Drive, Game Boy Color, PS1, PS2, PS3, PS4, PSVR, PS Vita, Nintendo 3DS e agora tem "só" um PS5, um Nintendo Switch e um PC Gamer. Para ele, o melhor jogo da história é Chrono Trigger, mas Metal Gear Solid 3, Final Fantasy X, The Last of Us Part II e Red Dead Redemption 2 completam o Top-5.