Grounded | Review
Querida, Encolhi as Crianças! Sim, esta é a primeira referência que me vem a cabeça quando jogo Grounded, game desenvolvido pela Obsidian Entertainment. Desde seu lançamento exclusivo para Xbox One, Xbox Series X|S e PC, via Steam e Microsoft Store até sua chegada para PlayStation 4, PlayStation 5 e Nintendo Switch, eu já vinha flertando com a possibilidade de jogá-lo.
No entanto, só quando a edição mais atual chegou ao PS5, consegui ter tempo. E, honestamente, confesso que fiquei muito feliz de jogar um game do Xbox Game Studios no meu console da Sony. Talvez tenha sentido uma pontinha de esperança com o fim dos exclusivos… Enfim, não é a hora de falar disso. Estou sonhando alto demais.
Mas, retornando ao mundo de Grounded: Fully Yoked Edition, naturalmente me surgiram diversos questionamentos ao encarar mais um título no estilo sobrevivência com construção de itens, algo que tem surgido aos montes no mundo dos jogos. Daí me veio aquele questionamento crucial: será que vale a pena encarar uma experiência totalmente nova, em um estilo cada vez mais comum? Através desta pergunta, desdobrarei minha análise. Confira!
O pano de fundo e a Fully Yoked Edition
A aventura proposta por Grounded lembra exatamente a premissa do filme de 1989 que citei no início: o jogo multiplayer no coloca na pele de uma das quatro crianças que foram encolhidas, chegando ao tamanho de formigas. Assim, o quintal de casa acabou se transformando em um mundo perigoso e desafiador, nos forçando a criar meios para sobreviver entre aranhas, formigas e outras ameaças perigosas. Assim, o objetivo do jogo é simples: entender o que fez com que os personagens fossem encolhidos e, naturalmente, tentar voltar ao tamanho normal. Mas o jogo é longo e a tarefa não é nada simples…
Um simples quintal vira um grande mapa, cheio de biomas diferentes, desafios, chefes assustadores, dungeons profundas e muito mais. Para conseguirmos sobreviver, tal como em qualquer outro jogo do tipo, em Grounded, precisamos construir uma base, aprimorar armaduras, armas e outros equipamentos essenciais para conseguir lidar com as ameaças, que ficam ainda piores ao longo da noite.
Com a Fully Yoked Edition, Grounded traz seu conteúdo atualizado, acrescentando novidades interessantes. Uma delas é a possibilidade de interagir com as Colônias de Formigas espalhadas pelo quintal, podendo tê-las como aliadas (ou não). Além disso, a atualização traz um Novo Jogo+ com a história e cenários remixados, dando uma sobrevida para quem curtiu a experiência e adiciona 20 novos itens. Desta forma, essa é a versão mais completa do game desde o seu lançamento em 2020, sendo a última grande adição de conteúdo planejada pela Obsidian.
Neste ponto, Grounded mandou muito bem, em realizar essa ideia em forma de jogo, mas de uma maneira única e muito divertida. No entanto, a história é mais um leve detalhe, importando mais o espírito explorador e curioso de cada jogador ou jogadora. De toda forma, a experiência de ser encolhido é bem imersiva aqui, e eu particularmente adorei isso.
Como é a jogabilidade?
O pano de fundo traz todo o charme de Grounded. No entanto, o que seria dele se a jogabilidade fosse sem graça? Pois é, não é o caso aqui. Misturando sobrevivência, sandbox e RPG (sim, RPG!), temos um jogo focado na progressão dos personagens, que precisam de ciência para ir evoluindo. Inclusive, a cada novo aprendizado, temos um sonoro “Science!”, ressaltando a importância dessa belezinha até no jogo. Ou seja, Grounded tem uma árvore de habilidades bem interessante, nos fazendo ir cada vez mais fundo no mundo do jogo, indo em busca de mais ciência e conhecimento sobre a história em que estamos inseridos.
Neste ponto, caímos de paraquedas na narrativa, sendo apenas apresentados a proposta do jogo por meio de uma cutscene. Fora isso, tudo vai se desenrolando de acordo com nossa ousadia na exploração, sendo possível encontrar laboratórios, peças tecnológicas, robôs e muito mais. E, para isso, precisamos sobreviver. Portanto, é extremamente importante conseguir criar uma base para guardar seus pertences e ter uma bancada para aprimorar os itens. Contudo, é mais importante ainda manter as localizações identificadas com plaquinhas que você pode criar e nomear, algo que não te deixará perdido no enorme mundo de Grounded.
Isso será muito útil, pois o sentimento de encontrar novidades é recompensador, nos fazendo querer ir mais e mais além de nossos domínios. E, para tentar se guiar, a dica de ouro é olhar para o alto, onde será possível ver experimentos e outros itens que nos chamem visualmente a atenção. Com isso, somos gradativamente guiados em um mundo completamente novo e repleto de possibilidades. Construir tirolesas para agilizar as andanças, encarar dungeons com puzzles e chefões e explorar cada canto do mapa tornam Grounded em um survival único, mesmo tendo alguns aspectos comuns ao gênero.
Combates são interessantes e essenciais
Imagine viver em um mundo cheio de formigas, aranhas e outros insetos? Pois é, não teria como não pensar em lutas colossais, algo que Grounded traz com uma proporção bem única. Pequenos insetos se tornam grandes monstros, tendo diferentes padrões de ataque. Por outro lado, nós podemos atacar de perto e de longe, dependendo da arma que queremos utilizar. Além disso, temos também a defesa e o tão comum parry, velho conhecido dos fãs de soulslike. Contudo, ser bom de briga não é tudo…
Para isso, precisamos aprimorar nossas armas e armaduras, para lidar com inimigos cada vez mais fortes e bem preparados. Aliás, temos de ter muito cuidado ao longo da progressão, já que quanto mais longe estamos do ponto inicial, mais difícil será lidar com os inimigos. Portanto, entre em dungeons e confrontos de maneira calculada. Afinal de contas, caso o personagem morra, perderemos todos os itens, retornando automaticamente para a nossa base. Mas fique tranquilo: o corpo estará no mesmo lugar e você poderá recuperar tudo. Menos a vida perdida, é claro.
Educativo e preocupado com os jogadores
Grounded tem uma pegada educativa legal, sendo inclusive um bom jogo para crianças, sobretudo por não ter violência explícita e falar bastante sobre ciência. E, para melhorar, o jogo tem uma opção que atenua a aparência das aranhas do jogo, caso você tenha fobia, sendo um detalhe simples, mas que respeita um possível medo de quem poderá jogar. Consequentemente, torna-se ainda mais amigável para os pequenos. Todavia, as crianças vão “cortar um dobrado” para aprender todas as dinâmicas do jogo. Para isso, eu indicaria jogar em modos mais fáceis, no estilo sandbox, em que você pode fazer as coisas sem muita preocupação com os inimigos.
Sim, Grounded oferece esse tipo de customização, que inclusive limita os inimigos de partirem pra cima, já que alguns deles não são nada pacíficos nos modos normais. Desta forma, acredito que o jogo atende um público muito mais amplo, fazendo jus aos seus mais de 20 milhões de jogadores desde o lançamento. Além disso, há toda a questão do trabalho em equipe no modo multiplayer, que certamente renderá boas risadas e muitos desafios compartilhados, tornando a experiência em miniatura em algo menos solitário.
Além disso, seguindo essa veia “educativa”, Grounded traz consigo um binóculo que serve para registrarmos cada uma das criaturas encontradas ao longo das andanças pelo quintal. E tudo isso gira em torno dos itens em tamanho real espalhados pelo mapa. Por exemplo: um refrigerante irá acumular insetos que gostem de doce, como formigas e abelhas, mostrando os impactos que o lixo pode trazer a um bioma tão invisível para nós. E tudo isso é apresentado de uma maneira bem agradável. Ah, e antes que eu me esqueça, o jogo é legendado para o português brasileiro, facilitando ainda mais a nossa vida.
Vale a pena jogar Grounded?
Sinceramente, toda a atmosfera trazida pelo jogo é muito agradável e divertida. Sua jogabilidade é gradativamente explicada, o que facilita bastante o processo. No entanto, o jogo nos permite descobrir coisas novas sem uma ordem definida, algo que acho legal, mas pode soar mais difícil para alguns. Contudo, gosto da ideia da Obsidian de nos dar liberdade para ir fazendo as coisas e aprendendo cada vez mais. Isso é bem bacana, e traz um tom extra de desafio. O fato do jogo não totalmente linear me agrada.
Sobre os gráficos e sons, Grounded não deixa nada a desejar, trazendo algo muito próximo ao que observamos em jogos como Fortnite. Ou seja, a parte audiovisual encaixa perfeitamente com a proposta do jogo, mas não necessariamente o torna um game infantilizado. Muito pelo contrário, em alguns momentos o jogo demanda bastante da gente, o que pode dificultar para os pequenos. Felizmente, como já disse mais acima, Grounded tem diversas opções de customização de partida, que facilita bastante para quem quer curtir sem preocupação ou quer viver no extremo de um jogo de sobrevivência.
Sobre erros, confesso ter percebido poucos glitches e bugs, algo que certamente veio sendo corrigido desde 2020. Com isso, inclusive posso acrescentar que esse é um dos melhores momentos para se jogar Grounded, já que sua última grande atualização de conteúdo está disponível gratuitamente. Portanto, se você é fã de jogos de sobrevivência com uma pegada diferenciada, este título é pra você. Caso você não seja, vale a pena dar uma chance assim mesmo. Quem sabe toda a atmosfera nostálgica de Grounded não prenda você?
*Review elaborada em um PlayStation 5, com código fornecido pela Obsidian.