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SIGNALIS | Review

SIGNALIS é mais um dos jogos que nos últimos anos têm apelado para a nostalgia dos jogadores mais antigos, ao revitalizar e reimaginar a estética dos antigos jogos de PS1. Talvez o gênero que mais tenha se destacado nessa tarefa seja o famoso Boomer-Shooter, porém os gêneros de terror e survival-horror também tem se destacado nessa reimaginação dessa estética. Porém, eu tenho notado que poucos desenvolvedores tiveram a audácia e a coragem de trazer de volta a clássica câmera fixa famosa pelos antigos jogos da franquia Resident Evil.

E é aí que SIGNALIS entra. O jogo, desenvolvido pelo estúdio rose-engine e publicado pela Humble Games traz não só a estética e a ambientação dos primórdios do survival-horror, mas também traz as bases das mecânicas e da gameplay para aprimorar e criar uma visão moderna da nossa tão amada (ou nem tanto) câmera fixa.

E se você também gosta de sofrer com poucos recursos, foge de monstros bizarros enquanto tenta achar a chave de um simples cofre. Vem comigo para mais uma review antecipada do Pizza Fria, porque eu tenho certeza de que SIGNALIS vai te surpreender!

O que é SIGNALIS?

Falando em termos técnicos chatos, SIGNALIS é um jogo survival-horror, isométrico com visuais sci-fi estilizados estilo PlayStation 1. Falando assim, SIGNALIS pode passar batido como apenas mais um jogo independente do gênero, mas é aí que você se engana. SIGNALIS, como citei anteriormente, traz o conceito de câmera fixa de volta e ainda por cima revoluciona essa mecânica ao simplesmente colocar o jogador em uma visão isométrica. Pode parecer uma decisão boba, mas pare para pensar que você nunca mais irá perder o sentido de direção, e ainda manterá a câmera fixa funcionando para agradar não só o público mais saudosista (eu) como aqueles que não estão tão acostumados.

Essa visão isométrica além de solucionar esses problemas, também de certa forma conserta o problemático e controverso “controle de tanque”. Isso se dá, justamente pelo fato de a câmera não mudar de posição e sentido, deixando a protagonista sempre num mesmo sentido e ângulo para o jogador, logo corrigindo os problemas desse tipo de controle. Porém chega de falar de termos técnicos, vamos para o que interessa de fato.

SIGNALIS
Acorde… (Imagem: Divulgação)

Acorde…

Em SIGNALIS, o jogador acorda da sua criogenia em uma instalação espacial no papel de Elster, uma aparentemente androide confusa com tudo o que está acontecendo. Ao explorar essa instalação, Elster encontrará diversos vestígios de que algo aconteceu aqui, e de que você não está sozinha, e cabe a você desvendar os segredos mais obscuros desses corredores escuros enquanto tenta… apenas tenta sobreviver…

Após um tutorial relativamente curto, que vai te introduzir os conceitos básicos do gênero, como combinar itens, como funciona alguns puzzles, e um pouco da exploração, Elster finalmente se dá conta de que na verdade ela estava a bordo de uma nave que sofreu um acidente em um planeta desconhecido congelado.

SIGNALIS parte dessa premissa, premissa essa simples, mas ao desenrolar do jogo essa narrativa vai sendo mais bem contada e apresentada através de documentos, diálogos com outros personagens, cutscenes e principalmente pela ambientação. O cenário de SIGNALIS é a maior fonte conhecimento do mundo e do que aconteceu de fato nessas instalações com essas pessoas, pois os corpos, os destroços, os enfeites, e cartazes não só nos contam o que aconteceu nestes lugares como também nos provam o que aconteceu.

SIGNALIS bebe muito de fontes diferentes quando o assunto é a sua temática e ambientação. O jogo traz o melhor do terror cósmico Lovecraftiano, o melhor do terror espacial de Alien: O Oitavo Passageiro, e também um pouco de distopias autoritárias. E por incrível que pareça, os desenvolvedores conseguiram contar uma excelente história misturando todas essas influências e temas, uma história que honestamente me prendeu do início ao fim e que eu gostaria que você experimentasse.

Falando agora da estética do jogo, vale ressaltar que ela é sim bastante inspirada nos jogos do clássico PS1, misturando modelos 3D com técnicas de texturização e de Pixel Art para criar esse visual lindíssimo do jogo. Entretanto, o jogo também intercala para uma visão em primeira pessoa em alguns momentos específicos da narrativa, principalmente para dar zoom em algum objeto ou mecanismo. Essa mudança de perspectiva é interessante por si só e serve para trazer uma dinâmica e um ritmo diferente para o jogo.

SIGNALIS
Criaturas grotescas com cutelos estão mais do que prontas para te bater quando você estiver sem vida no inventário. (Imagem: Divulgação)

Gameplay

SIGNALIS é tudo aquilo que os fãs de survival-horror querem, um jogo que não apela para os clichês de terror como jumpscares, o horror do jogo é montado através da ambientação, da narrativa e principalmente dos sons. Em outras palavras, o jogo acerta bem na parte “horror”.

Falando agora da parte mecânica e da jogabilidade, SIGNALIS é um jogo bem “truncado”. Em outras palavras, controlar a Elster é bastante difícil. Entretanto pra ser honesto, isso nunca chega a ser um grande problema, e é de certa forma um charme do jogo. Esse atrito todo torna o combate um pouco duro e difícil, porém o jogo facilita bastante com assistência de mira, por exemplo. Mas não há uma grande variedade assim de inimigos e o foco do jogo não é o combate. Isso tudo só reforça aquele conceito que eu tratei anteriormente que SIGNALIS traz conceitos e mecânicas antigas para um paladar moderno.

O jogo traz um excelente level design, um verdadeiro labirinto cheio de mistérios, inimigos, itens, portas trancadas e tudo aquilo que há de bom. O jogo tem um balanço incrivelmente perfeito entra mapas grandes e abertos para explorar, e setores mais lineares e guiados, sendo o primeiro desses cenários o mais frequente. Entretanto, apesar do jogo quase sempre permitir que você ande livremente pelo mapa e explorá-lo da maneira que achar melhor, ele nunca te deixa perdido no que fazer. O seu objetivo, o seu próximo puzzle é sempre muito claro, o que é um ponto positivo para as pessoas que não estão tão acostumadas assim com o vai e vem que o gênero traz.

SIGNALIS
“Grandes buracos são cavados secretamente onde os poros da Terra deveriam bastar, e as coisas que deveriam rastejar aprendem a andar – Necronomicon – Lovecraft” (Imagem: Divulgação)

Vai e vem esse que vai te obrigar a procurar chaves e cartões de acesso para abrir novas portas, itens misteriosos, caixas trancadas e tudo mais. SIGNALIS traz tantos itens desse tipo que se fosse em qualquer outro jogo você facilmente se perderia no meio de tanta coisa. Mas os desenvolvedores trouxeram um bom design de itens que, combinado com a ambientação e o level design, guia o jogador sempre para “o caminho certo” do jogo.

Infelizmente, eu tenho uma grande crítica ao level design de SIGNALIS que é a quantidade de portas bloqueadas e inúteis, diversas vezes eu quase morri correndo de uma criatura e quando cheguei na porta pra fugir dela, a porta estava trancada. Isso não seria um problema se essas portas fossem abertas em algum momento do jogo, porém não, 70% das portas do cenário são apenas figurativas e servem somente para confundir e atrapalhar o jogador. Diversas vezes eu me perguntei por que colocaram a porta ali.

Todo esse complexo level design não seria tudo isso sem uma boa quantidade de puzzles e enigmas para resolver né? Então… é aqui que SIGNALIS brilha de verdade.

O dia que fiquei 3 horas olhando para um cofre

Jogos de survival-horror sempre foram pautados por bons puzzles, porém com o passar dos anos esses puzzles foram ficando cada vez mais repetitivos e mais fáceis, deixando esse papel de criar bons puzzles para jogos como The Witness, FEZ ou Tunic. Mas foi justamente aí que SIGNALIS me pegou desprevenido. O game não só trouxe os melhores puzzles que vi em um survival-horror nos últimos anos, como trouxe um dos melhores puzzles que eu tive o prazer de jogar.

SIGNALIS brinca com os puzzles do jogo das mais diferentes formas, seja com frequências de rádio, código Morse, itens escondidos, criptografia e até reflexo em alguns pontos específicos. Boa parte desses puzzles exige que você preste atenção em todo o ambiente, em todas as salas e principalmente que você pense, e pense muito.

Como eu disse todas essas misturas de conceitos e de mecânicas envolvendo os puzzles cria uma profundidade para eles que honestamente eu não lembro de ter visto nem nas maiores franquias do gênero de survival-horror.

SIGNALIS
Só nesse enigma eu tive que tirar um certificado em Engenharia Elétrica. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena jogar SIGNALIS?

SIGNALIS é um excelente jogo, e é extremamente competente em tudo que ele se propõe a fazer, desde o combate até a narrativa. Obviamente o jogo tem sim pontos fracos que ficam bastante evidentes da metade pro final, mas todos os outros pontos fortes do jogo são tão fortes que é impossível não recomendar para os amantes do gênero de survival-horror, e digo mais, para os amantes do gênero de puzzle.

SIGNALIS chega na próxima quinta-feira, 27, para Nintendo Switch, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S, PC via Steam e Humble Games.

*Review elaborada em um PC equipado com uma RTX com código fornecido pela Humble Games.

Signalis

8.8

História

8.0/10

Gameplay

7.0/10

Gráficos e Ambientação

10.0/10

Puzzles e Extras

10.0/10

Prós

  • Puzzles complexos e diferentes
  • Boa variedade de conteúdo
  • História engajante
  • Level Design espetacular

Contras

  • Falta de tradução PT-BR
  • Excesso de Portas Inúteis
  • Alguns documentos importantes são grandes e pouco convidativos a ler.
  • Combate pode ser frustrante, mas vale lembrar que não é o foco do jogo.

Matheus Feldmann

Game Designer de formação, preservador de jogos antigos, amante de MMORPG's, Jogos de Luta, jogos indies e RPG's em geral. Também assumo o posto de maior defensor de jogos ruins, especialmente Daikatana.