The Thaumaturge | Review
The Thaumaturge é um RPG, focado em exploração e na tomada de decisões, desenvolvido pela Fool’s Theory e publicada pela 11 bit studios. Nele, somos convidados a acompanhar as traquinagens de Wiktor Szulski, um taumaturgo que se vê enrolado em um monte de conspirações e tretas depois de decidir voltar para sua terra natal, Varsóvia.
E aí, será que compensa acompanhar esse caso de família? É o que veremos agora, em mais uma análise mágica do Pizza Fria.
Wiktor e o maravilhoso mundo das investigações quase normais
Sentimentos, leitores e leitoras. Todos temos, muitos amamos e outros odiamos. Independentemente de nosso gênio, vivemos sentindo e pensando em coisas o tempo todo. A sofrência, afinal, é eterna. Oh, céus! Pois vejam só que interessante, há quem diga que nossos sentimentos e atribulações podem ser lidos como um livro aberto, contanto que a pessoa possua o dom e os pactos corretos. Bom, ao menos foi o que me disse um certo cavalheiro polonês que conheci ao enviar minha consciência ao passado, após uma sessão ininterrupta de 72 horas jogando Granblue Fantasy Relink.
Esse tal camarada, conhecido na praça como don Witão (ele odeia que escrevam seu nome com V), é o protagonista de nosso joguinho do momento: The Thaumaturge. Admito que diversos fatores me fizeram solicitar aos sábios mestres da Pizza que me fosse dada a oportunidade de analisar essa belezinha. O fato de ser desenvolvido fora dos lugares de sempre, sua temática de RPG/Investigativo, sua estética e, principalmente, pela época em que o título se passa.
Admito não ser nenhum expert em história, muito menos daquela que diz respeito aos nossos camaradas do velho continente. Contudo, títulos desse tipo servem como uma boa maneira de se interessar pela coisa ou, ao menos, tentar enxergar com um pouco mais de profundidade. Obviamente não substitui um bom e velho livro, mas já é algo. Dito isto, será que o jogo presta? Senão vejamos.
História
The Thaumaturge nos coloca para acompanhar a jornada de Wiktor Szulski, um camarada capaz de enxergar seres do outro lado do véu e “sentir” as emoções e pensamentos das pessoas, seja interagindo diretamente com elas ou com algum objeto que possuam ou tiveram contato recente. Além disso, ele possui a habilidade de realizar pactos com salutors, entidades que se conectam às falhas de personalidade de cada pessoa em troca de auxílio e poder. No caso de nosso camarada, seu salutor inicial se chama Upyr, e está ligado ao excesso de orgulho.
Após recuperar o controle de seus poderes com a ajuda de Ra-Ra-Rasputin , homenageado pela banda Boney M e conhecido como o primeiro duro de matar, nosso protagonista retorna para sua terra natal, Varsóvia, após receber uma notícia preocupante. A partir disso, a vida de Wiktor tomará rumos interessantes, que vão envolver de buscas por novos salutors até perigos que ameaçam o que restou de sua família e, até, toda a Polônia.
The Thaumaturge se passa em 1905, em meio ao domínio Russo. Varsóvia está em ponto de ebulição, e a opressão do czar, somado às diferenças culturais dos diversos povos que vivem no lugar, criam uma atmosfera propícia para todo tipo de desastre e problema que devemos enfrentar. De fato, Wiktor realmente escolheu um momento mágico para retornar ao lar.
A trama, sua ambientação e seus personagens são uns dos pontos altos da experiência. Varsóvia parece viva, vale a pena ser explorada e realmente passa a sensação de um lugar tão magnífico quanto miserável. Wiktor, por sua vez, é apresentado como um homem profundamente perturbado, mas multifacetado e cheio de conflitos interiores. As escolhas que fazemos, muitas complexas e com ramificações inesperadas, mostram ainda mais o cuidado que os desenvolvedores tiveram com essa parte da narrativa.
Jogabilidade
A jogabilidade de The Thaumaturge pode ser dividida em duas grandes fatias de um belo bolo. Na primeira, saboreamos a resolução de mistérios e uma busca por pistas, enquanto capturamos outros salutors e descobrimos mais sobre os eventos, sobrenaturais ou não, que se passam em Varsóvia. Na segunda metade, lidamos com as repercussões dessas paradas através dos bons e velhos sopapos na cara.
Os poderes de Wiktor permitem que ele “sinta” e interprete emoções e pensamentos deixados por pessoas em determinados objetos e outros elementos do cenário, prato cheio para que curiosos como nós possamos xeretar até cansar, não é mesmo? Certas interações nos dão pistas sobre novas missões secundárias, contextualização acerca da realidade social e política e da época, soluções alternativas para problemas, novos salutors para caçar, e por aí vai.
The Thaumaturge recompensa essa curiosidade, na verdade, com boas quantidades de experiência para fortalecer nosso herói e suas chamadas dimensões, que dão acesso a novas habilidades e poderes que liberam certos diálogos específicos, capazes de facilitar certas situações ou, até, mudar o rumo de diversos eventos. Foi um ponto que me agradou bastante.
Com isso, sempre temos muitos incentivos para realmente nos inteirar dos acontecimentos e nos deixar levar pela cidade e suas diversas personalidades. Um negativo, entretanto, é que o título não chegou com legendas na boa e língua portuguesa. Sendo assim, o aproveitamento pode ser severamente impactado caso o jogador não tenha certo domínio de inglês. Que gafe, Wiktor!
Contudo, toda essa função, eventualmente, acaba em treta. Para isso, The Thaumaturge coloca seu protagonista para sair no murro, junto de seus bichinhos sobrenaturais, contra toda sorte de malfeitor através das boas e velhas batalhas de turno. Tanto Wiktor quanto seu salutor, escolhendo dentre os vários obtidos, possuem uma série de habilidades e magias para lidar com toda a situação.
As batalhas, em sua maioria, giram em torno de tirar a barra de foco dos inimigos para deixá-los abertos para ataques poderosos, usar salutors específicos para negar vantagens da oposição e distribuir status negativos para geral. Muitas dessas habilidades, ao serem melhoradas com níveis e modificadores, aplicam efeitos adicionais quando usadas em conjunto. Isso adiciona mais uma camada estratégica muito bem vinda.
O único negativo, nesse quesito, é que as lutas, eventualmente, acabam caindo na mesmice. Selecionar o salutor ideal, aplicar sangramento, tirar foco, ataque forte, e por aí vai. Ao encontrar uma estratégia vencedora, não há muito por que mudar, e os desafios acabam sendo trivializados.
Sons e Visuais
The Thaumaturge conta com visuais isométricos bem charmosos, com animações bem feitas, uma cidade bem realizada e salutors fascinantes e legais de ver. Eu realmente curti a apresentação visual, e não tive dificuldade alguma para me sentir na Varsóvia da época.
O departamento sonoro também agrada, com músicas bem pertinentes para os momentos e vozes bem dubladas, que nos passam as emoções da forma que deveriam ser. No geral, o conjunto da obra me agradou bastante, ajudando os outros elementos na construção de uma boa atmosfera.
Vale a pena comprar The Thaumaturge?
Chegou a hora, salutores e salutoras. Será que este joguenho vale mesmo a pena? Bom, hora de repensar tudo que delirei até agora para podermos nos decidir. The Thaumaturge nos oferece uma premissa intrigante, com bons personagens, uma atmosfera maneira e mistérios legais de investigar. Os combates são interessantes, o sistema de salutors foi bem implementado e temos escolhas que fazem diferença.
Do lado negativo, apontamos que a falta de legendas no brazuca atrapalha consideravelmente, além das lutas ficarem meio repetitivas em alguns momentos e, em raras ocasiões, o título apresentar alguns bugs como o personagem agarrar, ficar com a cabeça girando, e esse tipo de coisa.
Mas, no fim das contas, eu ainda acho que The Thaumaturge foi uma experiência muito agradável. Fiquei entretido do começo ao fim, e realmente senti que o título explorou bem tanto sua premissa quanto o período tulmutuoso pelo qual se passa. Portanto, podem ir tranquilos na onda do Dr. W. Não irão se arrepender.
The Thaumaturge chega nesta segunda-feira, 4, para PC, via Steam, Epic Games Store e GOG.com. O game tem versões confirmadas de PlayStation 5 e Xbox Series X|S, que ainda não ganharam data de lançamento.
*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela 11 bit studios.
The Thaumaturge
Prós
- Premissa e trama interessantes de se acompanhar
- Wiktor é um protagonista multifacetado, fugindo das normas
- Salutors adicionam uma boa camada de estratégia ao combate
- Representa de maneira interessante um recorte de tempo tumultuoso
- Visuais capcrichados criam uma atmosfera instigante
Contras
- Faltaram aquelas legendas no jeito
- Combate fica meio repetitivo depois de um tempo
- Bugs aqui e acolá