Way of the Hunter | Review
Jogos de caça sempre me chamaram muita atenção, mesmo eu não sendo muito favorável à prática na vida real. E quando soube do desenvolvimento de Way of the Hunter, game da Nine Rock Games distribuído pela THQ Nordic, que será lançado em 16 de agosto para PC, PlayStation 5 e Xbox Series X|S, logo tive interesse em embarcar em mais um título do gênero. Só para se ter uma dimensão, jogos de caça estão na minha vida de jogador desde 2003, com a clássica franquia Deer Hunter e outros títulos.
De jogos mais voltados para a simulação, outros para arcade ou que tentavam abarcar uma série de coisas (e falhavam), as experiências foram das mais variadas. Desta forma, ao me aventurar em Way of the Hunter, confesso não ter ido com muita empolgação, sobretudo se eu parar para lembrar das últimas experiências no estilo, que inclusive foram tratadas em outras análises aqui no Pizza Fria. No entanto, já adianto ao leitor ou leitora que a experiência trazida aqui está longe de ser frustrante, e até traz uma narrativa de plano de fundo, além de um modo multiplayer. Enfim, chega mais que eu explico tudo!
Uma história em um jogo de caça?
Incrivelmente, ao iniciar Way of the Hunter, logo fui surpreendido por uma cutscene e um pano de fundo familiar. E eu adorei isso. Embora não esteja muito presente na realidade brasileira, a caça esportiva e legalizada é muito cultuada nos Estados Unidos da América e, tal como outro esporte, carrega consigo uma série de aspectos que podem ser compartilhados. Aliás, é bastante comum ver pais e filhos em experiências de caça em filmes, livros e séries. De imediato, logo lembro de The Ranch, uma comédia meio drama da Netflix.
Portanto, ao jogar o modo offline de Way of the Hunter, você praticamente estará envolvido em uma trama, executando missões, se relacionando com alguns personagens através de e-mails, ligações e cartas, além de… caçar. Sim! Afinal de contas, o jogo é sobre isto. E olhe, toda essa atmosfera criada ainda nos serve como um tutorial bem detalhadinho, explicando como utilizar as armas, como comprar novos aparatos, a perseguir os animais, a ética da caça em si (que inclusive é abordada nas cutscenes, sendo algumas delas em formato de HQ, o que adorei) e diversos outros pontos relevantes não só para a jogabilidade, mas também para o quesito imersão.
Ou seja, Way of the Hunter já chegou surpreendendo positivamente, trazendo aspectos culturais e uma narrativa para um gênero onde praticamente não existe muito espaço para isso. Bem… até agora. Mas será que a jogabilidade acompanha este ponto positivo? Eu explico.
Um simulador de respeito
Pois é, como o subtítulo já entrega, Way of the Hunter é um excelente simulador. Ouso dizer que é o melhor que já joguei até então. O título traz uma autêntica experiência de caça, colocando o jogador para explorar grandes territórios nos EUA e na Europa, e caçar diversas espécies de animais, que inclusive reproduzem de forma bem realista seus respectivos modos de vida em habitats incrivelmente detalhados. Outro ponto que é bem comum de jogos de caça, e que Way of the Hunter segue é a questão das armas presentes, sendo elas réplicas de modelos originais, algo interessante para a imersão do caçador.
Ao longo da jogatina, podemos observar as transformações dos ecossistemas do jogo, que reagem e se adaptam ao que iremos fazer, colocando nossas habilidades de caça à prova. E olha… é realmente um simulador, pois não é nada simples a tarefa de rastrear e derrubar um animal. Qualquer movimento brusco ou tiro errado e… já era! Sendo assim, como já é de se imaginar, é um título que requer calma, sendo completamente diferente dos jogos de tiro que estamos comumente habituados.
Desta forma, vale ressaltar aqui que, embora seja um excelente título, Way of the Hunter é um jogo nichado, feito especificamente para os fãs do gênero. Digo isto pois alguns jogadores podem se sentir frustrados por andar e rastrear suas presas por longos minutos, em um cenário de total calmaria, com pássaros cantando, o som do riacho batendo nas pedras… ah! É uma sensação bem gostosa, que também faz parte de todo o processo de simulação e imersão do game. Porém, para que não fiquemos distraídos com tantas belezas, o título nos dá um “sentido de caçador”, que auxilia a encontrar detalhes mínimos que fazem toda a diferença no processo de caça.
Outro ponto interessante de Way of the Hunter é a possibilidade de se calibrar a arma para dar tiros em distâncias predefinidas, de forma que a trajetória da bala seja bem precisa, levando em consideração a respiração do caçador, o vento e a gravidade. Estes aspectos são explicados brevemente no tutorial, assim como os pontos vitais que facilitam o abate do animal. Vale lembrar que, quanto mais nós atiramos, menor é o valor da presa, seja para ser taxidermizada ou vendida por conta de sua carne. Todo detalhe é essencial para a qualidade da caçada, e Way of the Hunter é um jogo exigente.
Porém, sua exigência pode ser regulada em quatro níveis de dificuldade, que permitem a jogadores novatos ou que querem uma experiência sem muitos desafios, a encararem o mato. E isso é muito bom. E o melhor de tudo é que tal experiência pode ser compartilhada com amigos no modo multijogador. Ah, e outro ponto relevante que vale ser tratado nesta parte é que em Way of the Hunter nós podemos fazer os trajetos à pé ou com três veículos disponíveis. Mas cuidado: tal como um simulador, o ronco de um jeep (que é meio lento), vai espantar os animais em um raio considerável.
A riqueza dos detalhes
Way of the Hunter traz na “arte da caça” uma série de aspectos relevantes, que são essenciais para um jogo de simulação. O jogo, que nos leva para dois ecossistemas no Noroeste Pacífico e na Transilvânia, em áreas lindíssimas e bem retratadas, com ciclos de dia e noite com 24 horas, além de vento e clima variáveis. Outro aspecto positivo é relacionado aos comportamentos dos animais, que são incrivelmente realistas. Além disso, a própria caçada é bem simulada através de rastros, sangue e outros detalhes que nos levam às nossas presas.
Contudo, uma parte que me chamou a atenção de forma extremamente positiva foi a possibilidade de, ao encontrar o animal abatido, sermos colocados em um menu que mostra a trajetória do disparo e o percurso da bala dentro do animal, mostrando se pontos vitais foram ou não atingidos. Outra coisa bem cultural dos EUA retratada no game (e que eu confesso achar um pouco mórbida), é a possibilidade de se taxidermizar os animais caçados, os transformando em verdadeiros troféus de caça, que ficam espalhados em sua cabana.
Por último, mas não menos importante, a economia de Way of the Hunter permite ao jogador comprar novos equipamentos, licenças de caça para outros lugares e alguns serviços de taxidermia para seus troféus.
Vale a pena comprar Way of the Hunter?
Como aspectos inovadores, ressaltando-se aqui a história, Way of the Hunter é o jogo de caça que mais me cativou até então. Trazendo consigo além da narrativa uma série de detalhes e ferramentas pertinentes para levar a experiência de um simulador de caça a outro nível, é um jogo muito bem produzido. Seus gráficos são maravilhosos e muito bem detalhados, embora os animais, sobretudo os pássaros, pudessem ser mais bem feitinhos, a qualidade sonora dos tiros, diálogos e dos ambientes é imersiva e a jogabilidade é fluida e customizável.
Tudo funciona perfeitamente bem, embora ainda tenham alguns pequenos glitches e bugs no jogo. Mas já adianto que, em minha experiência, foram questões bem pontuais, não atrapalhando severamente a jogabilidade. Outro ponto que merece ser destacado como negativo é a ausência de legendas em português, que facilitariam ao jogador a compreensão de termos de caça e até mesmo da história que está sendo narrada.
Outro problema é a falta de naturalidade do modelo do protagonista, algo nítido no Modo Foto. Tudo bem, não é lá um grande crime, mas o cara parece um bonecão de cera, haha. Por último, o jogo poderia ter mais carros, equipamentos e armas. algo que pode ser facilmente resolvido em atualizações. Fora esses pontos, o jogo é excelente.
Aliás, é de se ressaltar aqui o desempenho de Way of the Hunter na versão de PC, rodando em 4K e com todas as configurações no ultra em uma GeForce RTX 3060 Ti, sem apresentar travamentos constantes ou aquelas quedinhas enjoadas no número de quadros por segundo.
Desta forma, vale citar novamente que Way of the Hunter é um jogo muito específico, sem tanta ação e extremamente focado na experiência de caça, que requer muita, mas muita, paciência. Assim, se você é fã deste estilo de jogo meio “incomum” para nós brasileiros, vá fundo e aposte sem medo na criação da Nine Rock Games. Se você quer dar uma chance ao título, SABENDO QUE NÃO É UM FPS DE AÇÃO, também é uma boa pedida, entregando um material bem interessante e explicativo para os novatos. Concluindo, Way of the Hunter entrega o que promete e, por isso, foi um jogo que me surpreendeu. Então pegue seu rifle e boa sorte no mato!
*Review elaborada em PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela THQ Nordic.