Weird West | Review
“O oeste. Uma terra de Oportunidades. Aventuras. Um lugar em que você pode ser um herói, um canalha, ou algo entre os dois. Faça as escolhas certas e aparecer aqui pode ser a melhor coisa que lhe aconteceu, se você sobreviver… Porque a questão é a seguinte: esse não é o Velho Oeste que você conhece, pois há poderes antigos em conflito, entidades estranhas espreitam na calada da noite com suas próprias regras e motivos peculiares. E não importa o lado que você assuma, é melhor tomar cuidado. Mas não me entenda mal, pois recompensas aguardam aqueles que são corajosos o suficiente para revelar os mistérios da terra das oportunidades. Entretanto, a oportunidade pode ter um preço bem alto…
Boas vindas ao Weird West. “
Esse é o monólogo de introdução de Weird West, e honestamente não existe maneira melhor de introduzi-lo. Entretanto, Weird West ainda é um videogame, mas que tipo de jogo é? Ação e aventura que mistura o subgênero de RPG de ação com simulador imersivo (ou “Immersive sim”), um subgênero de jogos focado na densidade de seus mundos, apresentando universos criveis com diversas possibilidades de se jogar e abordar as situações do game. Jogos que são categorizados como “Immersive sim’s” são os famosos Dishonored, Bioshock, System Shock e Deus Ex e talvez o estúdio que seja a cara do subgênero atualmente na indústria seja a Arkane Studios.
A Arkane sempre foi um sinônimo de qualidade desde os seus primórdios com Arx Fatalis, mas foi com Dishonored que ela se consagrou na indústria, trazendo e revitalizando os simuladores imersivos. Essa história da Arkane está diretamente relacionada com o lançamento de Weird West, visto que o diretor do jogo, Raphaël Colantonio, foi um dos fundadores da Arkane Studios, e saiu do mundo das grandes produções para criar jogos independentes.
Então por todo esse background, Weird West me chamou a atenção de cara, por contar com um time com uma visão experiente, somado à sua estética que é bastante única, pois jogos que misturam o velho oeste e fantasia são raros no mercado, e a promessa de revolucionar um subgênero. A soma de tudo isso só poderia me animar. Porém, Weird West, desde o seu anúncio, tinha uma luz de alerta para mim, que era a sua perspectiva “isométrica”, pois para mim, era impossível construir um mundo interativo e complexo como Deus Ex ou Dishonored nessa perspectiva. E eu nunca estive tão errado…
Ficou curioso para conhecer esse oeste estranho ? Então vem comigo para mais uma análise antecipada do Pizza Fria!
O que é Weird West ?
Weird West, não ironicamente, é um jogo estranho, e quando eu digo estranho, eu quero dizer que ele não parece com nenhum outro jogo do mercado, e até por isso é complicado de explicar como ele funciona, mas vamo la! Weird West possuí cinco histórias, com protagonistas diferentes, porém você deverá jogar todas em uma ordem específica. Os protagonistas dessa história são: A Caçadora de Recompensas, O Suinóide, O Protetor, O Lobisomem e A Onírica. Abaixo, os apresento:
- A Caçadora de Recompensas busca vingança contra aqueles que assassinaram seu filho e sequestraram seu marido.
- O Suinóide foi amaldiçoado, e agora é um Homem-Porco, sem memória alguma de quem ou o que ele era antes dessa maldição. Sua jornada é focada em descobrir quem você é, e o porque da sua maldição.
- O Protetor é um membro na “Nação do Fogo Perdido”, uma tribo indígena inspirada na cultura dos Anishinaabe, uma tribo indígena norte americana. O Protetor tem como objetivo investigar e caçar uma entidade chamada Wiindigo, o espírito da ganância, que está assolando as pessoas e consumindo suas almas atrás de tesouros perdidos.
- O Lobisomem é um devoto da igreja Absolutista e também um dos membros dos cães da Gavan, um exército de lobisomens que lutam pela fé absolutista. E você é um desses soldados amaldiçoados pela licantropia para lutar e defender sua fé contra as forças ocultas das Oníricas que atualmente exterminam seus irmãos de fé e atrapalham a balança da natureza.
- A Onírica é a última jornada e permite que você controle uma jovem e iniciante vidente que terá que lidar com visões do futuro e do passado para decidir o destino do Weird West.
Como você pode perceber, conforme essas histórias vão avançando, o game vai se tornando cada vez mais “Weird” e menos “West”. Em outras palavras, Weird West brilha na sua parte de fantasia, e quanto mais bizarra a história é, melhor ela é. Pegue por exemplo a primeira jornada da Caçadora de Recompensas, ela é uma simples história clichê de velho oeste, mas não significa que isso seja ruim, ela só é ofuscada pelas outras histórias.
Com tudo isso em mente vale ressaltar que cada uma dessas histórias são bastante curtas, levando cerca de 5 ou 6 horas para serem terminadas, então, calculo que a maioria dos jogadores vão gastar entre 25 e 30 horas para terminar Weird West. E toda essa troca de protagonistas, histórias, personagens e objetivos traz uma boa dinâmica para o jogo, não deixando você enjoar da narrativa nunca. Porém, como nem tudo são flores, o título não armazena todas as habilidades desbloqueadas entre um personagem e outro, somente um ou outro progresso e itens são mantidos, o que pode acabar desanimando aqueles que preferem explorar um pouco mais atrás de tesouros, itens e habilidades relevantes.
O gameplay
Antes de explicar um pouco mais do universo de Weird West, acho importante explicar como o título funciona em termos de mecânicas. Como eu disse acima, trata-se de um jogo isométrico de ação e aventura com elementos de RPG e “Immersive Sim”, ou seja o jogo herda um pouquinho de cada um desses gêneros, trazendo um mundo denso e interativo dos simuladores imersivos, uma customização de estilo de jogo parecido com um RPG de ação, e uma narrativa densa e complexa como se fosse um RPG clássico, como a franquia Baldur’s Gate.
Weird West não é exatamente um jogo de mundo aberto, mas você pode sim andar livremente pelo mapa e ir para qualquer lugar à qualquer momento. Entretanto o game traz um mapa global com apenas alguns pontos de interesse, e você pode explorar livremente somente essas localizações que são instanciadas de maneira separada. Para exemplificar, você pode explorar livremente uma cidade, mas ao sair dela, o mapa do mundo é aberto, e você pode escolher uma nova localização para ir, seja uma cidade, uma caverna, um templo ou uma mina abandonada, para explorá-la livremente dentro do limite daquela zona.
Entretanto, durante esse trajeto entre uma localização e outra, o jogador pode se deparar com alguns encontros aleatórios, como um emboscada de bandidos, um ataque de lobos ou ursos, uma caravana mercante, entre outras coisas. Porém, alguns desses encontros são possíveis de evitar apenas seguindo em frente, caso você tenha um cavalo. E falando no cavalo, ele serve para diminuir o tempo de viagem entre um ponto e outro, diminuindo as chances de acontecerem esses encontros, isso obviamente se você tiver um (ou roubar um).
Falando ainda um pouco sobre a jogabilidade em si do jogo, vale destacar que por mais que Weird West seja um jogo isométrico, controlar esses protagonistas não é igual a maioria dos jogos nessa perspectiva. Normalmente em jogos com esse tipo de visão, a câmera do jogo é estática e segue o personagem do jogo (como em Diablo ou Path of Exile), ou se comporta independente do personagem (como por exemplo em jogos de estratégia ou MOBA’s).
Entretanto, em Weird West, a câmera se comporta de uma maneira um pouco diferente, visto que aqui a câmera segue e orbita o protagonista, permitindo que o jogador possa girar a câmera pelo cenário, mas não “desprendê-la” do personagem. Tudo isso para permitir que o jogador analise e entenda todo o cenário à sua volta para decidir como e com o que abordar cada situação do jogo, mas mantendo um campo de visão somente na volta do protagonista.
E quando eu digo “como” abordar as situações do jogo , é importante destacar que Weird West incentiva a criatividade, permitindo que você resolva os problemas das maneiras mais diferentes, engraçadas e criativas possíveis. Seja atirando em uma lamparina para começar um incêndio, distraindo os guardas com uma garrafa, ou até mesmo lidar com a situação sem matar ninguém.
Um mundo vivo!
Weird West com certeza possui um dos mundo mais vivos que eu já vi em um videogame, pois apesar das localizações principais da história serem fixas e pré-determinadas, as localizações secundárias e eventos aleatórios são completamente gerados via algoritmo. E esse sistema irá gerar cidades inteiras em locais novos, missões novas, personagens e etc. Tudo isso de maneira dinâmica, criando aventuras e situações diferentes para cada jogador.
Mas só isso não é o suficiente para criar um mundo crível, então, além disso, o mundo do jogo é dinâmico e se adapta conforme as ações do jogador, permitindo até mesmo que você dizime uma cidade e volte mais tarde para ver ela assombrada por fantasmas, ou até mesmo dominada por bandidos. Você pode também matar personagens importantes para a história a para as missões secundárias, e mesmo assim continuar a sua aventura, pois o jogo se adapta às suas escolhas e ações dando um novo rumo para as histórias.
E toda essa dinamicidade do jogo esta atrelada à jogabilidade também, pois o jogador pode abordar as situações de maneira sorrateira, ou entrar atirando em tudo que se move, ou até mesmo tentar resolver com diplomacia e diálogo, pois o lema de Weird West é sempre dizer “sim” para as escolhas do jogador.
A soma de todo esse dinamismo do mundo e da variabilidade do personagens do jogo cria um ciclo de gameplay que é impossível enjoar de jogar, pois enquanto você controla a Caçadora de Recompensas e explora as habilidades dela mais voltadas para o uso de armas de fogo e tiroteio, em contrapartida você também controlará o Suinóide, que possui habilidades que lhe darão mais vida e resistência enquanto você foca em ir correndo pra cima que nem louco para bater nos bandidos. E isso estou levando em conta somente dois personagens, imagine as possibilidades de jogabilidade e da variabilidade das habilidades de todos os personagens.
Falando ainda do universo do jogo, é importante destacar que há diversas facções espalhadas pelo mapa, as principais são:
- A Nação do Fogo Perdido: é uma tribo fictícia inspirada no povo Anishinaabe, a Nação do Fogo Perdido não é uma tribo nativo do Weird West, entretanto eles estão aqui em busca do espírito Wiindigo e com certeza entrarão em conflitos com as facções locais. É importante ressaltar que a representatividade do povo Anishinaabe foi feita com muito carinho e cuidado com todo o respeito à cultura, pois os desenvolvedores tiveram um árduo trabalho de pesquisa para evitar uma má representação desse povo como na maioria das obras de velho oeste.
- The Dagger & Bones Hunting Co.: Essa facção é representa um grupo de caçadores de monstros e criaturas paranormais e todos os membros são especialistas nesse assunto. A D&B foi pioneira em caçar e estudar as criaturas paranormais, e por isso quando o assunto é lidar com o paranormal, muito provavelmente eles são a sua melhor opção.
- As Oneiristas: Um culto de profetas e videntes que acreditam ser responsáveis por manter o destino e o curso da linha do tempo em ordem. As Oneiristas são compostas por mulheres estudiosas do oculto, que jamais atacarão os inocentes à não ser que elas tenham profetizado que ele irá interferir no curso do destino.
- Os Absolutistas: São um culto religioso que tem como objetivo acabar com o paranormal no mundo, e para isso eles contam com um exército de Lobisomens para trucidar todos os hereges que se oporem ao curso natural da vida e da morte. Os Absolutistas obviamente vivem em guerra contra As Oneiristas, pois acreditam que elas são uma ameaça à balança natural do mundo.
Essas são algumas das diversas facções e tribos espalhadas pelo Weird West, e entender como cada uma delas se relaciona com as outras e como você deve ou não se comportar no meio desses conflitos é muito interessante, mas lembrando que aqui estão somente alguns grupos, dentro do jogo há diversas outras facções, tribos, cidades e grupos que se comportam de maneiras bem diferentes.
O combate e controles
Apesar de Weird West trazer uma excelente variabilidade no gameplay, a jogabilidade em si não é muito agradável, principalmente durante o combate. E o motivo desse problema é bastante simples, você não pode controlar a câmera enquanto mira ou se prepara para um ataque. Isso gera situações bastante desagradáveis, pois imagine que há um inimigo vindo pelas suas costas, você terá que guardar a arma para girar a câmera para só assim mirar e atirar nele, tornando o combate bastante lento e contraintuitivo.
Infelizmente esse é um problema do jogo derivado da escolha do controle de câmera que comentei anteriormente, visto que, ou você orbita a câmera, ou controla a mira da arma (pois para ambos os movimentos utiliza-se o mesmo botão), mas quero deixar claro que por mais que o combate não seja muito satisfatório e prazeroso, você pode sempre evitá-lo, e que, após algumas horas de jogo, você se acostuma com esse problema.
Outro problema bastante evidente de Weird West é o seu sistema de interação com o mundo, visto que o personagem somente pode interagir com o objeto mais próximo dele e somente esse. Falando assim parece meio óbvio, mas estamos falando de um jogo em que você pode interagir com praticamente qualquer coisa. Agora imagine como você irá interagir com uma mesa de pôquer cheia de moedas e cartas, todas interativas e você quer pegar uma moeda específica. Esse sistema as vezes gera esse tipo de situação onde você não consegue pegar ou interagir com um item específico no meio de vários outros itens.
Esse é um problema que seria evitado caso o jogo fosse controlado com um tipo de cursor, ou mouse para você selecionar um item específico, ou até mesmo quem sabe uma lista com todos os itens próximos do personagem, para agradar também o público que joga no controle.
Vale a pena comprar Weird West?
Weird West é um jogo inovador, que tenta trazer um ar novo para subgêneros de jogos que estão parados no tempo, enquanto traz um universo muito interessante, interativo e convincente, visto de uma perspectiva diferente do normal. Entretanto, por se tratar de um “Immersive Sim” pioneiro nessa perspectiva isométrica, o jogo peca em alguns elementos de movimentação e combate, porém o universo do jogo é tão interessante e a rotatividade de personagens principais na campanha traz uma dinâmica de histórias e jogabilidade tão boa que, honestamente, fica difícil não recomendar Weird West para aqueles que se interessaram nem que seja um pouquinho pelo título.
Weird West chega nesta quinta-feira, 31, para PlayStation 4, Xbox One, Xbox Series X|S e PC, via Steam e GOG.com. Assinantes Xbox Game Pass poderão jogar gratuitamente tanto no PC, quanto no console.
* Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce GTX, com código fornecido pela Devolver Digital.