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Tunic | Review

Desenvolver jogos é uma tarefa difícil, que envolve muita coisa além da paixão por videogames. Geralmente, grandes produções de jogos contam com mais de trezentos funcionários para as mais diversas áreas, seja para programação, arte, animação, áudio, game design, level design e por aí vai. Entretanto por meados de 2010, o público entendeu que para fazer bons jogos não é necessário investimentos milionários e equipes gigantescas, e isso abriu espaço para desenvolvedores menores explorarem suas criatividades e criarem jogos incríveis. E em 2022 essa chama dos jogo independentes continua acessa como nunca, e Tunic é a prova disso.

Tunic é um jogo de aventura e exploração com uma estética de cair o queixo. O jogo foi desenvolvido quase que inteiramente por Andrew Shouldice, sendo responsável por toda parte técnica e criativa do jogo, e foi publicado pela Finji. Tunic é muito inspirado em jogos de aventura clássicos como os jogos originais da franquia Zelda, mas ainda assim traz um ar de modernidade ao mostrar inspirações mais atuais da indústria como Dark Souls e Hollow Knight, que também são sinônimos de excelentes aventuras.

Tunic é um jogo que possuí uma aura de nostalgia, ao relembrar jogos que jogamos na infância, seja Zelda ou não, mas principalmente por trazer essa direção de arte que mais parece que saiu de um livro de fábulas infantil, e não me entendam mal, eu acho isso incrível e é de longe um dos maiores atrativos do jogo. E caso você queira relembrar aquele gosto de jogar videogames na infância enquanto toma um achocolatado e come um biscoito, vem comigo para mais uma análise do Pizza Fria!

O que é Tunic?

Tunic, como eu disse anteriormente, é um jogo de aventura com um foco gigantesco na exploração e na descoberta de segredos (que diga-se de passagem são muitos). O jogador controla essa simpática raposinha sem nome (mas que eu apelidei de Tunico), que acorda em uma praia sem nenhum equipamento e muito menos explicações do que fazer. E é a partir daqui que Tunic começa, cabe à você jogador descobrir os mistérios dessa ilha, desvendar seus segredos e caçar todo tipo de tesouro perdido, e principalmente entender o que trouxe essa raposinha até aqui.

Acho importante ressaltar que logo no começo algumas dessas perguntas são respondidas, mas faz parte da aventura descobri-las então não quero estragar a experiência de ninguém.

Essa ilha misteriosa é dividida em algumas poucas partes, que funcionam como mapas ou fases, porém cada uma dessas partes é de uma densidade absurda. E quando eu digo densidade,eu quero dizer que há diversas coisas para se fazer e lugares para explorar em cada um desses mapas, seja cavernas acima ou abaixo do mapa, lugares atrás de cachoeiras, atrás de árvores, passagens secretas e atalhos para desbloquear. Ou seja, por mais que os mapas não sejam grandes em extensão, eles tem muito conteúdo.

O jogo tem alguns pilares essenciais, e como você já deve ter notado, a exploração é o principal deles, mas também o que adianta explorar uma área com inimigos se o combate não funciona? Infelizmente muitos jogos passam por isso, mas em Tunic o combate por mais simples que seja, ele funciona de maneira espetacular, e isso somado à um design de inimigos de dar inveja até em grandes produções, cria um ambiente que funciona muito bem dentro dos seus termos. Outro ponto em que o jogo brilha é na sua parte artística, que vai desde os gráficos até a excepcional trilha sonora.

Tunic
Tunic esbanja carisma em tudo que ele tem ! (Imagem: Divulgação)

A estrutura do jogo

O mundo de Tunic é estruturado de maneira bastante simples, muito parecido com os jogos originais da franquia Zelda, ou até mesmo os modernos “metroidvanias”, onde algumas áreas do jogo somente são acessíveis quando o jogador pegar uma certa habilidade ou equipamento. Talvez o exemplo mais claro disso no jogo seja a possibilidade de cortar as gramas e abrir caminho com a espada. Porém, o jogo tem um diferencial nessa filosofia toda de design, visto que muitas dessas “habilidades” já estão em posse do jogador desde o começo, você só não sabe.

Tunic também possui o que chamamos de “backtracking”, que para quem não sabe, é quando o jogador é incentivado à voltar em áreas para explorar novamente, para acessar novos segredos ou caminhos com habilidades novas. Entretanto, esse sistema para ser bem aplicado, exige que o jogo tenha um bom level design, que crie mapas interessantes de se navegar e explorar e com uma boa variedade de inimigos, e Tunic entrega esse level design com maestria. Os mapas do jogo não são só divertidos de explorar, mas também de entendê-los, de verificar cada canto atrás de um baú e principalmente de voltar para explorar o mesmo lugar com habilidades novas.

Tunic é um jogo que não te da muitas explicações do que está acontecendo, do que fazer e muito menos pra onde ir. Então, cabe ao jogador explorar esses cenários e ir descobrindo e entendendo cada pedacinho desse mundo. Essa exploração recompensa o jogador de diversas formas diferentes, seja com atalhos, com itens consumíveis, com mais poções de vida, com “checkpoints”, com mercadores e muito mais.

E quando eu digo que você precisa ir atrás de pedacinhos é quase que literalmente, visto que o maior e mais importante coletável do jogo são as páginas do caderno. O caderno no jogo funciona como uma enciclopédia desse mundo, e suas páginas estão espalhadas por toda a ilha, cada página dessa está devidamente numerada, ou seja se você pegar as páginas 25 e 27, terá uma lacuna de informações em seu guia.

Por mais bobo que seja coletar páginas, elas são sua maior fonte de informações do jogo, seja com mapas, informações de inimigos e chefes, localizações de tesouros e itens, mas talvez a maior importância do caderno seja contar a história da ilha e consequentemente a história do jogo, tudo isso de uma forma bastante ilustrativa e intuitiva de entender, com ilustrações bastante carismáticas e fáceis de entender.

Tunic
Um exemplo de como é o caderno dentro de jogo, e de como ele é fácil de entender. (Imagem: Reprodução)

Durante a sua jornada em Tunic, você com certeza irá se deparar com algumas escritas estranhas e até impossíveis de entender, mas essas escritas são parte da exploração do jogo. Não quero entrar em muitos detalhes nessa parte, porque acredito que a experiência de tentar entender essa alfabeto novo, é bastante interessante.

O combate

Como eu já adiantei anteriormente, o combate do jogo é bastante simples e traz muito de outros combates de jogos mais famosos. Para isso o jogador tem à sua disposição três recursos que são: a vida, a energia (ou stamina), e a “mana”. A barra de vida dispensa explicações, mas vale ressaltar que existem diferentes formas de recuperá-la dentro de jogo, mas a mais comum são as poções de vida que são restauradas após o jogador descansar em um templo. A energia serve para o jogador desviar dos golpes dos inimigos e a mana serve para usar itens mágicos ou magias encontradas ao longo do jogo.

Durante o combate, o jogador pode travar a câmera em um inimigo, semelhante ao que a franquia Dark Souls faz, e com essa mira travada o jogador tem a sua disposição três itens que podem ser equipados ao mesmo tempo, itens esses que podem variar entre a sua espada, bombas, itens mágicos, ou itens consumíveis que podem te ajudar no combate de outras maneiras. Porém, você não pode trocar esses itens no meio da ação, visto que ao abrir o inventário o jogo não pausa, então é bom se preparar bem antes de entrar naquela caverna desconhecida e ser pego de surpresa sem os equipamentos certos.

Fora esses equipamentos, o jogador pode também equipar um tipo de “carta”, que lhe dará alguns bônus passivos, como um aumento de defesa, de dano, ou até mesmo algumas outras vantagens mais relevantes, como a poção começar a restaurar “mana” ao invés de vida. Utilizar essas cartas de forma inteligente é uma tarefa interessante, visto que existem várias delas espalhadas pelo mapa e muitas delas valem a pena o esforço de procurar.

Tunic é um jogo por via de regra fácil, mas quando o assunto são as batalhas contra os chefes a história fica um pouco diferente. Embora hajam poucos chefes ao longo da jornada, todos eles são bastante divertidos de enfrentar, e apresentam um conjunto de golpes e estratégias completamente diferentes entre si, e isso torna cada um desses encontros únicos e entender como cada um desses chefes funciona pode ser uma tarefa bastante divertida. Os chefes do jogo são difíceis caso você queira enfrentá-los na cara e na coragem, somente com a espada e o escudo, mas se você for aquele explorador que encontrou dezenas de itens úteis no caminho eu te garanto que essa dificuldade vai ser bastante amenizada.

Tunic
Algumas das opções de customização do jogo, incluindo até mesmo customizações no combate. (Imagem: Reprodução)

Para colaborar com esse combate, o jogo tem uma boa variedade de inimigos, onde cada um deles possuí um comportamento completamente diferente, ou seja você nunca encontrará aqui o mesmo inimigo, porém com a aparência diferente, muito pelo contrário, os inimigos são esteticamente diferentes e agem de maneiras diferentes dependendo do animal que eles são. Por exemplo, no jogo há os inimigos sapos, mas existem no mínimo três tipos de sapos diferentes com golpes diferentes, comportamentos diferentes e também fraquezas diferentes. Tudo isso traz uma excelente variabilidade para um combate simples mas que com o tempo de jogo se torna complexo.

Isso levando em conta somente os inimigos do tipo sapo, mas há diversos outros tipos como os jacarés, as fadas, os orcs, aranhas e etc.

Tunic
Tunico em apuros (Imagem: Divulgação)

A arte

Acredito que a parte artística de Tunic dispensa comentários, mas só pra não passar em branco. O jogo tem uma arte bastante simples, mas que encaixa como uma luva na proposta do jogo que é criar essa aventura simples e aconchegante, então esses modelos mais simples funcionam muito bem para criar essa experiência.

Porém, depois de ter terminado o jogo eu entendo que essa escolha de arte foi muito além do “bonitinho”, mas que essa falta de detalhes e as cores vibrantes, ajudam o jogador a entender o que é importante ou não no cenário, visto que ele é bastante denso como disse anteriormente, então é importante saber diferenciar o que é um ponto de interesse e o que é só um matinho no canto.

Levando em conta a parte sonora do jogo, a trilha sonora desse jogo é absurdamente boa, todas as músicas casam perfeitamente com o momento do jogo inclusive nas batalhas contra os chefes (inclusive já coloquei na minha Playlist todas elas), as músicas empolgam e dão um ritmo para a luta. Entretanto, pelo fato de haver poucos chefes, existem também poucas músicas de chefes, que são as mais marcantes.

Tunic
A simplicidade estética de Tunic, relembra alguns clássicos de aventura (Imagem: Divulgação)

Vale a pena jogar Tunic?

Tunic é essa aventura com um ar infantil como se fosse uma fábula, mas não aquela aventura trágica e dolorosa que pune e judia o jogador. Muito pelo contrário é aquele acampamento aconchegante que vai te relembrar de jogar videogame depois da escola em um dia chuvoso. Tunic também é aquele tipo de aventura de literalmente capa e espada, e não tenta ser mais que isso, ele sabe o seu papel e cumpre ele de forma excepcional. O jogo me manteve vidrado pelas 10 horas que eu levei pra terminar a história principal, mas eu ainda quero voltar para a ilha para me aventurar com o Tunico novamente.

Tunic está disponível para  Xbox One, Xbox Series X|S e PC, via SteamGOG.com e Epic Games Store. Assinantes Xbox Game Pass podem jogar gratuitamente em ambas as plataformas.

* Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce GTX, com código fornecido pela Finji.

Tunic

+ R$ 57,99
8.8

Gráficos

10.0/10

Gameplay

9.0/10

História

7.0/10

Extras e Variabilidade

10.0/10

Acessibilidade

8.0/10

Prós

  • Gráficos
  • Trilha sonora
  • Gameplay
  • Tradução PT-BR
  • Tem o Tunico

Contras

  • Duração
  • Não pode usar o inventário no meio do combate

Matheus Feldmann

Game Designer de formação, preservador de jogos antigos, amante de MMORPG's, Jogos de Luta, jogos indies e RPG's em geral. Também assumo o posto de maior defensor de jogos ruins, especialmente Daikatana.