Uncharted: Legacy of Thieves Collection | Review
Já podemos considerar uma “tradição” da Sony o relançamento de sucessos da geração anterior, quando uma nova geração é lançada. Foi assim na mudança do PlayStation 3 para o PS4, quando recebemos The Last of Us Remastered e God of War III Remastered, por exemplo. Agora, com pouco mais de um ano de PlayStation 5 disponível ao público, chegou a vez de Uncharted 4: A Thief’s End e Uncharted: The Lost Legacy, que chegam em um mesmo pacote, intitulado Uncharted: Legacy of Thieves Collection.
No entanto, ao contrário das recentes Director’s Cut de Ghost of Tsushima e Death Stranding, que adicionaram conteúdo inédito em seus relançamentos, os dois jogos fazem o caminho oposto: perdem conteúdo ao chegar na nova plataforma. Mas como isso ocorreu? Os detalhes eu te conto agora, em mais uma análise antecipada do Pizza Fria!
Um sucesso absoluto e uma “DLC” estendida
Os dois jogos que fazem parte de Uncharted: Legacy of Thieves Collection foram lançados entre 2016 e 2017 para PlayStation 4. O primeiro a chegar foi Uncharted 4: A Thief’s End, em maio de 2016, sendo o jogo mais bem avaliado do ano no Metacritic, mas perdendo o prêmio de jogo do ano para Overwatch, da Blizzard. Mesmo assim, a última aventura do lendário explorador (e ladrão) Nathan Drake faturou dois prêmios naquela ocasião, sendo o de maior destaque o de melhor narrativa.
Já Uncharted: The Lost Legacy é uma expansão standalone de Uncharted 4, que traz uma história independente, protagonizada por Chloe Frazer, personagem que faz parte da franquia desde Uncharted 2: Among Thieves, e Nadine Ross, uma das antagonistas de A Thief’s End. A narrativa se passa após os acontecimentos do jogo base e o título foi lançado em 2017, contando com uma recepção muito boa, mas inferior ao jogo base.
Conhecendo A Thief’s End
Em 2016, eu ainda iniciava minha carreira como crítico de jogos e fui enfático em minha análise para outro portal: “Uncharted 4: Um dos melhores jogos de videogame da história“. Bom, de lá pra cá, muitos jogos marcantes foram lançados, inclusive The Last of Us Part II, que recebeu a única nota 100 que dei até hoje no Pizza Fria, e se tornou o jogo mais premiado da história.
Há muitos jogos bons no mercado, poucos jogos excelentes e alguns que são marcantes. Felizmente, de 2016 pra 2022, muita coisa mudou, mas minha opinião ainda permanece a mesma. Uncharted 4 é um dos melhores jogos já feitos. E, é claro, você pode discordar, concordar e tudo mais. Gosto é uma coisa muito pessoal. Cabe a mim, neste texto, explicar minhas razões.
Quando se define um projeto, você traça objetivos. E, fazendo um paralelo bem direto, um jogo é, nada mais que um projeto. A Thief’s End é um bem executado, que cumpre tudo aquilo que se propõe, e com alguma maestria. Temos uma narrativa intrigante com muitas surpresas (tanto que foi premiada no TGA), personagens carismáticos e vilões enigmáticos, e gráficos de ponta, que já eram muito belos em 2016, e ficaram ainda melhores com o poderio gráfico do PlayStation 5. Você vai levar cerca de 20 horas para terminar a história principal.
A vez de Chloe
O primeiro Uncharted sem Nathan Drake foi The Lost Legacy, e ele serviu justamente para provar que há vida para a franquia sem o nosso querido explorador. Chloe Frazer já se mostrava uma personagem forte e desafiadora desde sua primeira aparição, e vejo de uma forma natural a forma como ela pode ter assumido o protagonismo da franquia.
A história do game nos leva para a Índia, em busca da lendária Presa de Ganesha. E, ao contrário do seu antecessor, que faz um “tour” por vários países e, consequentemente, nos mostra vários ambientes, a expansão independente se concentra apenas em um país (mas com belos cenários), com um escopo de produção bem mais reduzido. A experiência é relativamente curta, com cerca de 8 horas de gameplay,
No entanto, o fim de The Lost Legacy funciona quase como um prelúdio para o que pode acontecer em jogos futuros. Não acho que a Naughty Dog abriria mão de lançar novos títulos de uma das suas propriedades intelectuais mais bem sucedidas nos últimos anos, e este próprio relançamento vai servir como um termômetro sobre o que vem a seguir.
Um gameplay familiar
Os dois games que compõe a Uncharted: Legacy of Thieves Collection compartilham dos mesmos elementos de jogabilidade. E isso não deveria ser uma surpresa, afinal, The Lost Legacy é a expansão de A Thief’s End. Os jogos mantém uma fórmula familiar para quem acompanha os trabalhos mais recentes da Naughty Dog, seja na trilogia que antecedeu o quarto jogo, seja no primeiro The Last of Us.
No entanto, ambos os jogos trouxeram uma novidade em relação ao que víamos antes na franquia: mapas abertos. Tanto a trilogia Uncharted quanto o primeiro The Last of Us são jogos lineares, que nos faziam ir sempre à frente. Agora, há espaços enormes dedicados que, embora o objetivo ainda seja chegar ao mesmo ponto final, trazem algumas missões secundárias (em especial The Lost Legacy), colecionáveis e diferentes formas de superar os inimigos.
Tanto Nathan quanto Chloe ganharam o auxílio de uma corda, que é utilizada para saltar entre plataformas, e um gancho, preso em veículos, que serve, basicamente, para mover portas e outros obstáculos do caminho. Isso gerou um dinamismo que ainda não havia na franquia.
Porém, os problemas seguem os mesmos das versões de PlayStation 4. Os inimigos, ao menos na dificuldade padrão (moderado), são bem burros. Quando você fica agachado e oculto na grama, eles só te notam se chegarem muito perto. Além disso, quando você chama atenção deles, eles dificilmente deixarão seus postos. Por fim, tanto os parceiros que Nathan têm em A Thief’s End , quanto Nadine Ross em The Lost Legacy são “invisíveis” para os inimigos, só sendo notados após entrar em combate. Se você gosta de abordagens stealth, pode se decepcionar com essas falhas. Para piorar, se você der um tiro para qualquer direção em um ambiente com inimigos, todos eles, imediatamente, vão descobrir sua localização. Quase como uma colmeia.
Um belo trabalho audiovisual
Os dois jogos da Legacy of Thieves Collection também compartilham do mesmo estilo gráfico, mesmo separados por um ano. São jogos com visuais impressionantes, desde o detalhamento dos cenários, aos rostos dos personagens, passando por pequenos detalhes no gameplay que acabam fazendo bastante diferença para os mais detalhistas.
Isso porque, quando chove, o cabelo e as roupas dos personagens ficam molhadas. O mesmo acontece quando saímos da água. Andar pela lama deixa pegadas, além de sujar a roupa de barro. Fora as marcas de roda de carro, que se destacam por serem criadas a medida que você anda pela lama. Outro detalhe legal é na bandoleira, que agora existe e não deixa mais armas flutuando nas costas de Nathan. Ela fica presa e, quando entramos nos carros, tiramos as armas das costas e guardamos ao lado do câmbio. Pequenos detalhes que são bem interessantes.
Por fim, por ser uma remasterização, o pecado continua o mesmo. A Thief’s End não conta com muitos animais no jogo, mesmo quando você está em Madagascar, uma ilha tropical, e não encontra uma cobra sequer na selva. Em suma, temos pássaros e ratos. Por outro lado, The Lost Legacy acabou inserindo alguns macacos, que nos mostram alguns dos caminhos do jogo, e também reserva uma bela cena com elefantes indianos, quase ao fim do jogo.
Para todos os gostos, e bolsos
Uncharted: Legacy of Thieves Collection chega ao PlayStation 5 com opções para todos os tipos de jogadores. Isso porque o game traz aquele pacote básico de melhorias que já estamos acostumados a ver em versões otimizadas para o console: feedback háptico no DualSense, em especial nas cenas com carros, loadings quase instantâneos e Áudio 3D em dispositivos compatíveis, como o Headset sem fio PULSE 3D.
O mais interessante, no entanto, são as opções gráficas, já que Uncharted: Legacy of Thieves Collection pode ser jogado em três modos diferentes:
- Modo Fidelidade: Resolução 4K nativa com 30 FPS travados.
- Modo Desempenho: 60 FPS, com resolução 4K aprimorada em 1440p em TVs 4K, ou resolução 1080p otimizada a partir de uma resolução-base de 1440p com suavização melhorada em TVs 1080p.
- Modo Desempenho+: 120 FPS em resolução 1080p, sendo necessário um display com 120Hz ou superior.
Talvez sejam meus olhos míopes e cansados, mas mesmo jogando em uma TV 4K 120Hz, eu não notei diferença entre os modos Desempenho e Desempenho+. Como é um jogo em terceira pessoa, que não exige uma movimentação tão rápida de câmeras, isso passe despercebido pela maioria das pessoas. Minha opção, em grande parte do gameplay, foi jogar no Modo Desempenho.
Por fim, quem já jogou qualquer um dos títulos no PS4, pode recuperar o save da PlayStation Network (desde que seja assinante PS Plus e tenha feito backup) ou de um dispositivo USB, e utilizá-lo para continuar a aventura de onde parou. Para os colecionadores de troféus, fiquem em paz que todas as conquistas obtidas surgirão automaticamente.
Upgrade x Perda de conteúdo
O upgrade para Uncharted: Legacy of Thieves Collection, assim como aconteceu nas Director’s Cut de Ghost of Tsushima e Death Stranding, será pago. Ele estará disponível para aqueles que compraram A Thief’s End ou The Lost Legacy, e dará acesso à coleção com os dois jogos remasterizados. Ou seja, você precisa ter apenas um dos jogos para ter acesso à atualização gráfica, e também ao outro jogo. Ainda não há preço no Brasil, e os assinantes do serviço PS Plus que resgataram o Uncharted 4 pelo serviço não terão o upgrade disponível.
Dito isso, pondero sobre o principal problema de Legacy of Thieves Collection: a perda do multiplayer. Enquanto A Thief’s End e The Lost Legacy compartilham servidores de multiplayer, e contam com uma base sólida de jogadores, as melhorias do PlayStation 5 só estão disponíveis no modo singleplayer, o único que a coletânea conta. Quem quiser jogar o modo multiplayer, precisa ter instalada a versão de PS4 de um dos jogos no SSD do PS5. É um problema? É, mas pode ser “contornado” já que Uncharted 4 é um dos jogos disponíveis gratuitamente na PS Plus Collection, que está disponível para todos os assinantes PS Plus no console.
Vale a pena comprar Uncharted: Legacy of Thieves Collection?
Enfim, chegou o momento do nosso veredito. Uncharted: Legacy of Thieves Collection, com certeza, vale seu investimento, mas apenas se você não tiver jogado os dois títulos na geração passada, e também tiver alguma história prévia com a franquia. Digo isso porque todas novidades da versão de PS5 são gráficas, mas houve a retirada do multiplayer. E se você planeja começar a jogar uma premiada franquia, com narrativa sequencial, do fim, eu te recomendaria fortemente adquirir a Uncharted: The Nathan Drake Collection, disponível para PS4 e retro compatível com o PS5, que conta com os três primeiros jogos da franquia remasterizados, e iniciar do primeiro jogo. Valerá a pena.
De toda forma, no conjunto da obra, apesar de contar com excelentes jogos, o lançamento de Legacy of Thieves Collection poderia ter sido facilmente substituído por um patch de atualização com os recursos disponíveis no PS5, como aconteceu com The Last of Us Part II e God of War. Seria uma atitude mais justa e transparente com os consumidores.
Uncharted: Legacy of Thieves Collection será lançado nesta sexta-feira, 28 de janeiro, para PlayStation 5, com o preço sugerido de R$ 249,50 na PlayStation Store. Uma versão para PC também está confirmada, e será disponibilizada em data posterior.
*Review elaborada com código fornecido pela Sony.