Assassin’s Creed Shadows | Review
Desde sua estreia em 2007, Assassin’s Creed evoluiu de um jogo de ação furtiva baseado em parkour para uma franquia de RPGs de mundo aberto cada vez mais ambiciosos. Com Assassin’s Creed Shadows, a Ubisoft leva a série ao Japão feudal, um cenário há muito tempo desejado pelos fãs. Ambientado no final do século XVI, o título coloca os jogadores no controle de dois protagonistas distintos: Naoe, uma assassina shinobi ágil e furtiva, e Yasuke, o lendário samurai com um estilo de combate brutal e imponente. A promessa é de uma experiência que mescla exploração, espionagem e batalhas intensas em um mundo aberto repleto de detalhes históricos.
Entretanto, essa nova abordagem traz mudanças significativas na gameplay, algumas bem-vindas, outras questionáveis. A clássica escalada livre foi substituída por pontos específicos de travessia, limitando a mobilidade dos personagens, enquanto elementos icônicos da franquia, como a visão de águia e a presença dos Isu, foram reduzidos ou removidos. Por outro lado, o game impressiona visualmente e introduz mecânicas inovadoras, como um sistema dinâmico de estações do ano e a interatividade entre os protagonistas. Mas será que essas novidades conseguem capturar a essência da série e entregar a experiência definitiva de Assassin’s Creed no Japão? É a resposta que eu busco trazer agora, em mais uma review do Pizza Fria!
Intrigas, honra e conspirações: o Japão feudal ganha vida
A franquia Assassin’s Creed sempre teve como um de seus maiores trunfos a recriação histórica de cenários icônicos, e Shadows eleva essa tradição ao transportar os jogadores para o Japão feudal do século XVI. O game se passa durante o período Azuchi-Momoyama, um momento de grandes conflitos e transformações lideradas pelo daimiô Oda Nobunaga. Esse pano de fundo serve como um cenário ideal para uma história de conspirações, intrigas políticas e batalhas entre diferentes clãs. De vilas pacatas a castelos fortificados, passando por templos sagrados e portos movimentados, cada local é retratado com um alto nível de detalhes, reforçando a sensação de imersão na época.
A trama de Shadows acompanha dois protagonistas com motivações distintas. Naoe, uma shinobi da província de Iga, vê sua terra natal e sua família ser destruída pelas forças de Nobunaga e parte em busca de vingança. Já Yasuke, baseado no histórico samurai africano que serviu Nobunaga, tem um arco focado em redenção e na luta para encontrar seu lugar em um mundo que o respeita, mas ainda o vê como um forasteiro.

Suas histórias se entrelaçam à medida que suas jornadas os levam a enfrentar inimigos em comum, os Shinbakufu, criando uma dinâmica interessante entre os dois. No entanto, o ritmo da narrativa pode ser um obstáculo para alguns jogadores, já que o encontro entre os protagonistas leva mais de 10 horas para acontecer, tornando o início do game um pouco arrastado.
As missões também apresentam algumas novidades narrativas. Naoe, por exemplo, pode realizar rituais de meditação chamados Kuji-Kiri, que a levam a reviver memórias do passado, oferecendo um contexto mais profundo sobre sua jornada. No entanto, essa mecânica é subutilizada, pois, após um certo ponto, as sessões de meditação deixam de incluir viagens ao passado, tornando-se apenas um ritual sem grande impacto narrativo.

Yasuke tem seu próprio caminho, com missões mais diretas e brutais, destacando seu papel como guerreiro de força avassaladora. A forma como as histórias de ambos se entrelaçam cria momentos marcantes, mas ao meu ver, o título falha ao dar mais peso para o desenvolvimento de Yasuke em detrimento de Naoe, que é quem porta a hidden blade.
Além disso, algumas omissões chamam a atenção, como a tradicional presença dos Isu — a civilização ancestral que sempre teve um papel no universo de Assassin’s Creed — foi praticamente zerada, o que pode desagradar fãs que acompanham o lore mais profundo da série.
Arte das sombras e da lâmina: as mecânicas de Assassin’s Creed Shadows
Desde que a franquia Assassin’s Creed adotou elementos de RPG em Origins, o gameplay tem evoluído para oferecer experiências mais variadas e estratégicas. Shadows dá continuidade a essa evolução ao introduzir duas abordagens distintas de combate e exploração, refletidas nos protagonistas. Naoe representa a furtividade, com mecânicas focadas em assassinatos silenciosos, parkour e ferramentas ninjas. Já Yasuke traz um estilo de jogo brutal e direto, com golpes poderosos, armadura resistente, um arco e uma abordagem voltada para o confronto aberto. Essa dualidade de estilos permite que o jogador adapte sua abordagem de acordo com a situação, tornando cada missão mais dinâmica e flexível.
O game também traz de volta elementos clássicos da franquia, como as torres de sincronização, que revelam pontos de interesse no mapa. No entanto, a Ubisoft optou por remover a tradicional presença da águia como companheira dos assassinos, um detalhe que me desapontou, como um veterano da série. Em seu lugar, Shadows enfatiza a construção de uma rede de batedores, nada mais do que espiões que permitem que os jogadores descubram onde estão alvos e o objetivo da próxima missão. Embora seja interessante, eu rapidamente mudei para o modo guiado, onde os objetivos aparecem marcados no mapa-mundi. A Visão de Águia retorna, mas de forma limitada: apenas Naoe pode utilizá-la.

Uma das principais mudanças em Shadows é a ausência da escalada livre. Diferente dos jogos anteriores, onde os personagens podiam escalar praticamente qualquer superfície, agora dependemos de pontos específicos, acessíveis por meio do arpão de Naoe. A mudança torna o jogo mais realista, mas pode frustrar veteranos da franquia, que estavam acostumados com a liberdade de movimento vista em títulos anteriores. Yasuke, por sua vez, tem mobilidade ainda mais restrita, escalando apenas onde há pontos de apoio, sendo incapaz de andar sobre cordas devido ao seu peso. Essas diferenças tornam tanto Naoe quanto Yasuke únicos na exploração, mas também podem gerar momentos de frustração ao limitar a liberdade do jogador.
O combate reflete bem as diferenças entre os protagonistas. Naoe utiliza ataques rápidos e precisos, podendo eliminar inimigos com a hidden blade. Sua jogabilidade é fortemente baseada em stealth, com ferramentas como shurikens, bombas de fumaça e kunais para desestabilizar inimigos. Yasuke, por outro lado, é quase um açougueiro. Seus golpes são devastadores, passando a sensação de que está “cortando papel” com suas armas. Ele é tão absurdo que pode derrubar portas com sua força bruta. Além disso, os assassinatos realizados por ele são chamados de “assassinatos brutais”, que não só eliminam o alvo, mas também chamam a atenção de inimigos próximos. Essa diferença reforça a identidade dos personagens e influencia diretamente como o jogador deve abordar cada missão.

Uma novidade interessante é o sistema de progressão baseado em estações do ano. O jogo se passa ao longo de ciclos completos de primavera, verão, outono e inverno, com cada estação trazendo mudanças visuais e mecânicas. No inverno, por exemplo, a neve pode cobrir ou revelar rastros e dificultar a movimentação de NPCs, enquanto no verão a vegetação densa oferece esconderijos naturais para infiltrações furtivas. É uma mecânica que adiciona profundidade ao mundo do game e incentiva o jogador a adaptar sua abordagem de acordo com as condições ambientais. O ciclo de dia e noite também retorna, influenciando a segurança de fortalezas e a patrulha de inimigos.
A jogabilidade também traz um sistema de notoriedade, semelhante ao visto em jogos antigos da série. Se o jogador for detectado em uma invasão, uma recompensa será colocada por sua morte, fazendo com que patrulhas inimigas se tornem mais agressivas. Para se livrar dessa perseguição, é possível trocar de personagem ou esperar a troca da estação. Também há a opção de usar batedores para reduzir a notoriedade, adicionando uma camada extra de estratégia ao título. Esse sistema reforça a sensação de ser um assassino operando nas sombras, mas pode se tornar um incômodo em algumas situações, especialmente quando o jogador deseja explorar livremente.

Dito isso, preciso ressaltar que um dos maiores pontos positivos de Shadows é a fluidez dos combates e das animações. Cada golpe desferido por Yasuke transmite peso e impacto, enquanto os movimentos ágeis de Naoe fazem jus à fantasia de jogar como um verdadeiro ninja. As animações de parkour são mais refinadas do que nos jogos anteriores, com transições suaves entre saltos, corridas e escaladas.
Apesar das muitas melhorias, Shadows ainda mantém algumas escolhas questionáveis em seu gameplay. A ausência de uma mecânica que permita ao cavalo seguir automaticamente para um ponto de interesse, algo presente em jogos anteriores, pode tornar a exploração muito cansativa. Além disso, o sistema de níveis, inspirado nos RPGs modernos da série, continua presente, fazendo com que o jogador encontre áreas onde os inimigos são mais poderosos, limitando a liberdade de exploração e obrigando a seguir por um caminho específico. Para aqueles que preferem a abordagem clássica da franquia, essa limitação pode ser frustrante.

De uma forma geral, as missões de assassinato dos Shinbakufu, especialmente, são um dos destaques do jogo, exigindo adaptação para serem concluídas. Algumas delas exigem que o jogador utilize tanto Naoe quanto Yasuke, alternando entre furtividade e força bruta conforme necessário. É uma mecânica que adiciona variedade ao gameplay, mas também pode ser um pouco restritiva, já que algumas missões exigem abordagens específicas para serem completadas e, uma vez escolhidas, não podem ser trocadas. Ainda assim, a combinação dos dois estilos proporciona momentos únicos e incentiva o jogador a experimentar diferentes estratégias.
Beleza e performance andam lado a lado
Visualmente, Assassin’s Creed Shadows é um dos jogos mais impressionantes da franquia. Os cenários são riquíssimos em detalhes, desde templos e castelos meticulosamente recriados até campos floridos e cidades movimentadas. A iluminação dinâmica, combinada com o sistema de estações do ano, torna cada ambiente único. Além disso, o jogo introduz um novo sistema de física para o cabelo dos personagens, tornando os movimentos mais naturais, seja no cabelo solto de Naoe ou nas tranças de Yasuke.

No PlayStation 5 Pro, o jogo oferece um modo de equilíbrio que roda a 40 FPS de forma estável, mantendo um ótimo nível de qualidade gráfica. Já no modo desempenho, a taxa de quadros sobe para 60 FPS, garantindo mais fluidez na jogabilidade, embora as cutscenes pareçam travadas em 30 FPS, criando uma quebra visual perceptível. No modo Qualidade, temos 30 FPS, gráficos em 4K e visuais ainda mais incríveis.
No entanto, nem tudo é perfeito. A movimentação da água parece ter sido um passo atrás e decepciona, especialmente após o que vimos em Odyssey e Valhalla. Na região do esconderijo, independente do modo gráfico escolhido, o jogo está sempre em 30 FPS. Mas um dos problemas mais notáveis é a sincronização labial inexistente em português. Mesmo com o jogo dublado, os personagens não movem a boca de maneira natural, algo que só funciona corretamente no modo imersivo, onde o áudio está em japonês. É uma questão que compromete a experiência e pode causar estranhamento para jogadores nacionais. Ainda assim, a dublagem brasileira é de boa qualidade, com interpretações convincentes, embora as falas de crianças sejam um ponto fraco.

Vale a pena comprar Assassin’s Creed Shadows?
Assassin’s Creed Shadows é um jogo ambicioso que entrega um dos cenários mais impressionantes da franquia, com um Japão feudal vibrante, repleto de detalhes e mudanças dinâmicas que impactam a jogabilidade. A dualidade entre Naoe e Yasuke adiciona variedade às missões, permitindo que o jogador escolha entre uma abordagem furtiva ou brutal, e o sistema de espionagem traz uma nova camada estratégica à série. Além disso, a qualidade gráfica é indiscutível, com animações refinadas e um nível de detalhe que reforça a imersão. Para quem sempre sonhou com um Assassin’s Creed no Japão, Shadows é uma realização visualmente deslumbrante.
No entanto, algumas decisões podem dividir os fãs. A remoção da escalada livre e da águia como ferramenta de reconhecimento limita a exploração, enquanto a ausência de sincronia labial em português prejudica a imersão para quem joga dublado. Além disso, o ritmo inicial arrastado e a falta de elementos tradicionais da franquia, como a presença dos Isu e mecânicas clássicas de assassinato, podem fazer com que o jogo pareça menos um Assassin’s Creed e mais um RPG de ação ambientado no Japão feudal. Essas escolhas não necessariamente tornam o jogo ruim, mas podem desapontar aqueles que esperavam uma experiência mais fiel às raízes da série.
Se a intenção for mergulhar em uma jornada épica pelo Japão do século XVI, com combates intensos, um mundo detalhado e uma história que se desenrola de forma cinematográfica, Assassin’s Creed Shadows é uma excelente opção. Mas se o que você busca é a essência dos primeiros jogos da franquia, com furtividade mais tradicional e liberdade total de exploração, talvez seja necessário ajustar as expectativas. No fim, a resposta para a pergunta depende do que cada jogador espera da experiência. Shadows é um jogo divertido, tecnicamente impressionante e bem executado, mas sua identidade como um Assassin’s Creed pode ser questionada.
Assassin’s Creed Shadows chegará no dia 20 de março para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC, incluindo Steam Deck. O título também pode ser adquirido na Nuuvem, seja através de gift cards, seja através da compra direta. Comprando pela Nuuvem você tem eventuais cupons e ainda pode parcelar em até 12x no cartão. Os links acima auxilia o Pizza Fria a continuar crescendo!
*Review elaborada em um PlayStation 5 Pro, com código fornecido pela Ubisoft.