Assassin’s Creed Valhalla | Review
Chegou a era dos vikings em Assassin’s Creed! A franquia mais popular da Ubisoft aproveita um dos períodos históricos mais populares da cultura pop para servir de pano de fundo em Assassin’s Creed Valhalla, game que chega nesta terça-feira, 10, para a atual e a próxima geração de consoles.
Considerada uma das culturas mais ricas da chamada Idade do Ferro, a Ubisoft tinha muito material para explorar em seu jogo. E nós, mais de mil anos depois da era viking, temos muito material para comparar, com séries de sucesso mundial que retratam os nórdicos, como Vikings e The Last Kingdom. E como será que essa obra se saiu? A resposta eu trago agora, em mais uma review antecipada do Pizza Fria!
Para Valhalla!
Como dito acima, Assassin’s Creed Valhalla nos leva para o fim da era viking, em uma época em que os Filhos de Ragnar, como ficaram conhecidos os herdeiros do lendário Ragnar Lothbrok – há divergências histórias sobre sua existência, mas isso é assunto para os pesquisadores – já estão buscando se instalar na Inglaterra. Nós controlamos Eivor, que pode ser um personagem do gênero masculino ou feminino, a escolha é sua e as mudanças no gameplay são apenas estéticas. Há, inclusive, uma terceira via, em que o personagem muda de sexo no meio do gameplay, agindo de acordo com os traços de DNA encontrados nas análises de Layla Hassan.
Assim como os dois últimos jogos principais da franquia, Origins e Odyssey, o jogo segue no estilo RPG ocidental. Ou seja: nos oferece mapas enormes para explorar, uma história gigante e profunda, missões secundárias, atividades extras e muitas, muitas horas de gameplay. Tudo aquilo que já vimos nos jogos mais recentes, mas com uma nova temática, e claro, novos elementos de jogabilidade.
Entre esses novos elementos que são oferecidos estão a possibilidade de se viajar entre mapas. A medida já havia sido introduzida no Season Pass de Odyssey, mas agora chega como um recurso de Valhalla. Além da Noruega, você vai visitar a Inglaterra e mais algumas outras regiões, guardadas como segredos pela produção. Há todo um mistério de porque Layla está revivendo as memórias de Eivor, e o jogo já nos reserva algumas surpresas nas primeiras horas.
Um gameplay que segue se aprimorando
Se nos dois últimos jogos houve algumas críticas direcionadas para a forma de evolução dos personagens, Valhalla tenta mudar essa mecânica. Se nos últimos jogos, além de evoluir o nível do personagem, era preciso conseguir e aprimorar os equipamentos, agora não há mais tantos equipamentos para serem coletados. Você ainda pode encontrar armas espalhadas pelo mapa, mas em um número consideravelmente menor do que em Odyssey. O foco agora é em nível de poder, que sobe conforme você distribui seus pontos de habilidade obtidos em uma espécie de “mapa astral”, semelhante ao visto em Final Fantasy X.
Outra mudança importante na forma de progressão está no gerenciamento da sua base na Inglaterra. Após deixar a Noruega e partir para o Reino Uinido, a narrativa nos coloca como responsável por uma base, que deve ser aprimorada, visando oferecer melhorias para Eivor. Aqui, as referências podem ter vindo de Fallout 4, por exemplo. É preciso evoluir o assentamento, conseguindo suprimentos e trazendo cada vez mais pessoas, dispostas a ajudar aos nórdicos se estabelecerem na nova região.
E é a partir desse assentamento que toda a história é ditada: como Eivor, você deve fazer alianças com regiões próximas, fortalecendo sua presença na Inglaterra. Essa ajuda, claro, vem em forma de missões variadas, que vão desde recuperar uma cidade tomada por outro grupo de nórdicos, ou fortalecer a presença de um rei saxão na região. O que importa é que aquela determinada região se alie ao seu assentamento.
Já para evoluir o assentamento, houve a introdução de uma prática viking, que substitui as batalhas Odyssey. As incursões estão lá, e elas são usadas justamente para pilhagem e aprimoramento da sua base. Ao invadir regiões ricas, devidamente apontadas no mapa, o jogador consegue recursos que vão ajudar no desenvolvimento do assentamento.
E por falar no mapa, além das regiões apontadas como propensas à incursões e as “torres”, que devem ser sincronizadas pela viagem rápida, são as poucas regiões que aparecem disponíveis. Não há mais as populares “?” para os jogadores. Agora estão dispostas luzes brilhantes em cores brancas, azuis claras e douradas, cada uma responsável por um tipo de atividade extra. Recursos como viagem automática de cavalo ou barco seguem presentes.
Além disso, há outras mudanças que o jogador vai notar ao começar a jogar Assassin’s Creed Valhalla. A história introduz a Ordem dos Anciãos e a Ordem dos Assassinos de uma forma direta na Noruega, e por isso, Eivor começa o jogo sem habilidades conhecidas da franquia, como o Salto de Fé e a Lâmina Oculta, que está de volta à franquia, agora com o nome oficial. É preciso adquirir tais recursos conforme você joga, o que naturalmente aumenta o grau de dificuldade até chegar à este ponto. Até mesmo o Manto é um recurso opcional, já que o título relembra os primórdios da franquia, quando era possível se misturar à multidões ao usá-los.
Por outro lado, a águia, que aqui é um corvo, perdeu muita importância. Sem a função de marcar inimigos, o corvo é quase decorativo, sendo usado apenas com o intuito de verificar o que são as luzes do mapa. Não tem sequer participação na narrativa. A função de marcar inimigos, inclusive, existe como um “modo escuta”, ao apertar R3. Assim, os inimigos são destacados em vermelho e os pontos de interesse aparecem conforme as luzes brilhantes do mapa.
Skål!
Ao adotar os vikings como temática principal para Assassin’s Creed Valhalla, a Ubisoft entrou de cabeça na cultura dos países nórdicos. Por isso, o jogo oferece diversos tipos de atividades extras, que servem para o jogador distrair um pouco em meio à narrativa, ou mesmo ganhar pontos de habilidade ou recursos que o ajudarão a melhorar o personagem.
Um dos meus passatempos preferidos foram os Repentes, disputas de palavras em que você e o NPC duelam para ver quem ofende mais, sempre rimando. Ao melhor estilo RPG, e com uma boa localização, o jogo nos oferece três opções que tornam as batalhas divertidas de se acompanhar, tudo em português.
Há também as disputas de quem consegue beber mais, que funcionam a base de Quick Time Events, jogos de dados, fanáticos da Ordem te caçando, tesouros escondidos, animais lendários para caçar, entre muitas outras coisas. Ao todo, são mais de 15 atividades extras que o game oferece, incluindo aquelas com fundo narrativo.
“Não louve o dia, até que a noite chegue”
Escolhi uma das frases mais famosas da série Vikings para falar da ambientação e dos gráficos de Assassin’s Creed Valhalla. E é incrível a semelhança entre as duas obras. Ainda na Noruega, no começo do jogo, minha noiva até citou que a vila era “igualzinha” a do Ragnar, da série. E realmente é muito semelhante ao que já vimos na TV.
A ambientação de Valhalla chama muito atenção por muitos detalhes que conhecemos através da cultura pop. Eu não tive a oportunidade de ver uma aurora boreal pessoalmente, mas o show que é a noite nessa parte do jogo chega a ser assustador. É para apontar a câmera e admirar, enquanto faz uma viagem automática, acompanhado de uma bela ambientação sonora.
Já nas cidades e vilas inglesas, o jogo também acerta, apontando para as pequenas vilas que já vimos nas TVs, bem como as referências dos assentamentos vikings e das casas comunitárias. Mas houve uma certa preocupação em dissociar os Filhos de Ragnar que estão no jogo com aqueles que conhecemos na TV, mudando até mesmo características físicas de alguns deles. A personalidade, por incrível que pareça, ainda lembra bastante aqueles que já conhecemos.
O meu ponto de crítica em relação à isso é que Assassin’s Creed Valhalla é muito escuro nas noites norueguesas. Tudo bem, acredito que faça parte da ideia de ambientação, mas chega a ser brutal a diferença de luz em uma noite inglesa e uma noite na Noruega. Por se tratar de uma obra de ficção, poderia haver um equilíbrio maior para deixar o jogador mais confortável.
Por Odin!
Infelizmente, Assassin’s Creed Valhalla não passa imune à críticas. E elas são muitas, em especial em relação aos bugs e ao desempenho do jogo. Esta análise foi feita em um PlayStation 4, o primeiro modelo, e por mais que o videogame não tenha esquentado muito, houve momentos em que claramente deu para sentir sua limitação.
Os loadings são muito longos, e muito frequentes. Seja para fazer uma viagem rápida, seja para a primeira inicialização. Eles vão demorar muito, e podem representar uma queda no ritmo do jogo. Há ainda loadings para entrar em cutscenes, e às vezes parece que a programação do jogo sofre um atraso, com flashs de cenas in-game aparecendo antes da cena começar, mas depois de entrar na tela de carregamento. Eu também tive alguns curtos congelamentos enquanto explorava, talvez para que o sistema carregasse a região em questão.
Houve também alguns bugs que comprometeram o gameplay. Em incursões, é preciso do apoio da sua tripulação para entrar em áreas onde estão os espólios, arrombando portas e baús. Em mais de uma vez, precisei do apoio de um NPC e ele simplesmente não apareceu. Em outra, um dos NPCs travou a porta e o que deveria me ajudar a abrir não chegou ao destino. Também tive problemas em que cheguei em uma missão, de história, e ela não iniciou. Travou todos os botões e não conseguia fazer nada. Tive que fechar o aplicativo e voltar para o jogo, e só assim, consegui jogar a tal missão.
Por falar em fechar o aplicativo, Assassin’s Creed Valhalla crashou três vezes. De todos os erros, este é o mais gritante, pois é uma quebra enorme de ritmo. Mesmo o título já na sua versão 1.0.2, era de se esperar que esse tipo de coisa fosse corrigida. Por fim, há ainda bugs engraçados, em que personagens se movem mais rápido do que deveriam ou objetos se comportam de maneira viva, se movendo quando deveriam estar parados. Com um jogo de tamanho investimento e expectativa, eu esperava uma atenção maior.
Vale a pena comprar Assassin’s Creed Valhalla?
Mesmo diante dos problemas que citei acima, Assassin’s Creed Valhalla me divertiu bastante durante as quase 25 horas que joguei para elaboração dessa review. Ainda não terminei a história principal, e sinto que ainda há um longo caminho pela frente, principalmente ao se considerar as diversas atividades extras.
Com gráficos bonitos, e mais uma excelente ambientação, a Ubisoft entrega seu principal jogo do ano com falhas que podem ser consideradas graves. Mas ao se sustentar em um pano de fundo que é um enorme sucesso da cultura pop, aprimorando e adaptando seu gameplay para os elementos mais modernos e condizentes com a narrativa, Assassin’s Creed Valhalla é uma excelente opção para os fãs da franquia e do mundo viking.
No entanto, talvez seja uma boa escolha esperar que a publisher corrija os bugs e melhore a experiência. Não é ruim, tanto que tive longas sessões de jogatina em que mal vi a hora passar, mas seria menos frustrante se não houvessem tantas falhas técnicas.
Assassin’s Creed Valhalla chega nesta terça-feira, 10, para Xbox Series X|S, PlayStation 4, Xbox One, Google Stadia e PC, via Ubisoft Store e Epic Games Store. A versão de PlayStation 5 estará disponível no lançamento do console, no dia 12 de novembro. Quem comprar o game na atual geração de consoles, receberá uma atualização gratuita para a nova geração, desde que a compra seja feita com o mesmo tipo de mídia (física ou digital).
*Review elaborada no PlayStation 4 padrão, com código fornecido pela Ubisoft.