Bloodless | Review

Desenvolvido desde 2019 pelo estúdio brasileiro Point N’ Sheep, Bloodless é um jogo de ação e aventura que prioriza golpes não letais e contra-ataques. No controle da ronin Tomoe, que volta à sua terra natal após anos de ausência, descobre-se que o local está mais conturbado do que nunca, enfrentando o desafio de restaurar a ordem sem derramar sangue.

Conforme indicado pelo nome do jogo (sem sangue), o jogo não envolve matar adversários, desde simples mercenários da floresta até o mais implacável dos chefes. Essa abordagem única para um jogo de ação foi bem-sucedida? O Pizza Fria teve a chance de experimentar esse projeto nacional em antecipado, então vamos à análise!

O que Bloodless oferece?

Bloodless atua como um beat ‘em up clássico, onde avançamos e atacamos tudo em nosso caminho. Os inimigos indicam a intenção de atacar com um brilho vermelho ou branco, sendo o primeiro um golpe que não pode ser defendido e o segundo, um ataque que pode ser desviado com um parry. Após um parry bem-sucedido, o oponente é desarmado e foge. O combate não se torna monótono, pois Bloodless introduz ataques de Ki e habilidades especiais, que são golpes diretos que enfraquecem o inimigo até que esteja vulnerável a desarmamento. A cada 30 minutos, um novo inimigo ou chefe é apresentado, cada um com estilos e tempos de ataque distintos, mantendo o game interessante.

O mapa se desvia dos padrões clássicos de briga de rua, adotando elementos do gênero metroidvania e oferecendo missões secundárias que, embora centradas em combate, trazem recompensas valiosas como novos movimentos e aumento de vida. Coletamos plantas para criar poções para Tomoe, que aumentam seu dano, reduzem o consumo de vigor e curam (algo essencial). Bloodless compartilha aspectos do gameplay de soulslike, especialmente a dificuldade elevada, onde Tomoe pode morrer rapidamente apesar das melhorias na barra de vida. Alguns combates opcionais são extremamente desafiadores e requerem grande foco e paciência do jogador.

Bloodless
Clássico (Imagem: Reprodução)

Criatividade é a alma do projeto

O parry é certamente um elemento popular em jogos de ação há alguns anos. No entanto, ao contrário de jogos como Sekiro e Stellar Blade, após um parry bem-sucedido, não realizamos um ataque violento e elaborado em câmera lenta. Em vez disso, simplesmente desarmamos o oponente, que então foge. A equipe da Point ‘N Sheep explorou bem essa mecânica, criando inimigos com nomes e personalidades únicos que, após serem derrotados, podem voltar em missões principais ou secundárias, seja buscando vingança ou como aliados inesperados.

A narrativa varia constantemente de tom, alternando entre humor e temas mais sérios como vingança, arrependimento e o impacto de nossas escolhas na vida dos que nos cercam. A campanha, com duração entre 6 e 8 horas se focada apenas nas atividades principais, possui uma quantidade significativa de diálogos. O desenvolvimento é rápido, mas não apressado, graças às falas objetivas dos personagens e aos eventos relevantes que ocorrem com frequência.

Contribuindo para a identidade única do jogo, a parte técnica se destaca. Cada área do mapa de Bloodless apresenta uma paleta de cores própria, tanto nos cenários quanto nos inimigos, variando não apenas entre regiões, mas também conforme o rumo da conversa, com cenas que mudam para tons mais vermelhos em momentos de intensidade ou violência, ou para cinza e branco em momentos de reminiscência.

A experiência sonora de Bloodless é incrível. As escolhas musicais durante a exploração e os combates são ao mesmo tempo familiares à temática do jogo e únicas pela diversidade de instrumentos. Efeitos sonoros e visuais são empregados em vários diálogos para enfatizar palavras específicas (de maneira similar ao indie brasileiro de sucesso, Celeste), o que é eficaz em manter a atenção do jogador, especialmente porque o jogo não conta com dublagem.

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A ideologia pacifista da protagonista acaba resultando em que as cenas de violência sejam mais impactantes. (Imagem: Reprodução)

Pequenas observações

Apesar da progressão satisfatória e objetiva, Bloodless possui exploits muito fáceis de serem realizados e que quebram um pouco o ritmo. Os recursos são finitos, então você poderia ficar sem itens de cura, dinheiro e buffs, mas não é o que acontece. Como no Metal Gear de 1987, basta voltar uma tela que os itens vão estar lá novamente. Identifiquei em três diferentes locais caixas que reaparecem e fornecem dinheiro uns 80% do tempo, e isso remove todo o desafio de cumprir tarefas secundarias desafiadoras para ser pago e liberar uma melhoria ou desbloquear um fast travel. Certamente os itens de cura são propositais, mas isso acaba sacrificando uma progressão mais especial que o jogo poderia ter.

Outra detalhe é que o desfecho da história me pareceu um pouco abrupto demais e dois personagens em especifico pareciam não ter suas histórias completas. Seria muito interessante ainda poder explorar a região e conversar com os personagens após os créditos subirem, mas o game volta do seu ultimo ponto de save. Talvez tenha sido deixado um tanto em aberto para algum tipo de expansão ou sequência. Único problema técnico experienciado foi que ao iniciar o jogo a primeira vez, recebi a conquista de ter desbloqueado todos os pontos de viagem rápida, fora isso, a jogatina foi lisa.

O fato de a luta ser a única mecânica pode desagradar a alguns, já que não há quebra-cabeças ou mini-games para variar o ritmo. A única interrupção é a leitura dos diálogos da campanha e das atividades secundárias, o que difere, por exemplo, de um Yakuza. Contudo, como mencionei anteriormente, a campanha é breve e novas melhorias e adversários são introduzidos regularmente, proporcionando uma constante sensação de novidade.

Bloodless
Mais um exemplo da variedade visual que o jogo apresenta. (Imagem: Reprodução)

Vale a pena comprar Bloodless?

Para os entusiastas de games desafiadores, Bloodless é uma escolha acertada, já que traz uma variedade de inimigos, chefes e atividades opcionais que oferecem desafios além dos contra-ataques. A narrativa é enriquecida por visuais e trilha sonora que ampliam a imersão no jogo, e ao concluir a campanha, os desdobramentos da história e o desenvolvimento dos personagens são tocantes. O gameplay é eficiente e respeita o tempo do jogador, com carregamentos rápidos entre áreas e diálogos com chefes reduzidos após o primeiro encontro. Bloodless oferece uma progressão simples, porém gratificante, com uma duração de campanha bem balanceada que evita a monotonia.

Bloodless estará disponível para PC, via Steam, no dia 29 de agosto de 2024.

*Review elaborada em um PC equipado com uma RTX, com código fornecido pela 3D Realms.

Bloodless

9.1

Visuais e Sons

10.0/10

Jogabilidade

9.0/10

História

9.0/10

Extras

8.5/10

Prós

  • Combate fluído e desafiador
  • Conteúdo extra relevante e em boa quantidade
  • Ausência de carregamentos
  • Visuais e sons caprichados
  • Narrativa envolvente

Contras

  • Desfecho um pouco abrupto