Bounty Star | Review
A Annapurna Interactive e a DINOGOD lançaram um dos jogos mais peculiares do ano: Bounty Star. Disponível para PC via Steam, PlayStation 5 e Xbox Series X|S, o título chega com uma proposta bem diferente, unindo combate entre mechas, gerenciamento de base e elementos de sobrevivência em um cenário de velho oeste pós-apocalíptico. A combinação pode parecer bem improvável à primeira vista, mas é justamente dessa ousadia que o jogo tira sua força.
Mais do que um jogo de ação e aventura, Bounty Star aposta em um ritmo cadenciado, alternando momentos de combate explosivo com outros de pura contemplação, quase como em uma “fazendinha”. Mas afinal, será que essa mistura dá certo? Falarei sobre isso e muito mais nesta análise. Vem ver!
Um faroeste bem moderno
Ao contrário do que percebi na preview, Bounty Star tem uma narrativa, e ela fala sobre recomeços. Clementine, ou somente Clem, é apresentada como uma mulher marcada pela perda, vivendo em uma Arizona totalmente devastada, onde o calor do deserto e a solidão são tão pesados quanto o seu passado. Anos após o prólogo (que não vou dar spoiler sobre), ela é chamada de volta a ação, voltando para um robô de combate, o Raptor MKII. Nisso, ela encontra uma chance de reconstruir a vida, mesmo que isso pese em sua consciência.
Com isso, posso dizer que a ambientação é um dos pontos mais fortes do jogo. O cenário, que é praticamente um “velho oeste futurista”, traz cidades desérticas, máquinas abandonadas e uma sociedade praticamente destruída pela violência. Mesmo tendo uma pitada de humor, Bounty Star nos deixa com uma sensação de melancolia, reforçada pela trilha sonora incrível, que traz guitarras de faroeste com sintetizadores industriais. Essa mistura cria um pano de fundo único, que diferencia Bounty Star de outros jogos do gênero.

Porém, vale ressaltar que a narrativa não se aprofunda tanto em temas complexos. Ainda assim, ela é bem contada e conduzida com ritmo. Os diálogos são naturais, e Clem é uma protagonista cativante, sendo humana, imperfeita e sarcástica na medida certa. A dublagem de Bounty Star é outro destaque, transmitindo sentimentos humanos em todos os personagens. Sobre Clem, a cada missão, ela se transforma, nos deixando mais engajados na trama.
Uma ótima mistura de jogabilidades
Particularmente, percebo que o grande charme de Bounty Star está justamente na maneira como ele alterna os ritmos da jogabilidade. Entre uma caçada e outra, Clem retorna à sua base, um ranchinho perdido no meio do nada. Lá, temos que nos aprofundar em uma rotina que vai muito além de simples intervalos entre missões, botando a mão na massa. Assim, é possível cozinhar refeições que geram buffs temporários, cultivar plantações, coletar água, fabricar munição e até consertar estruturas danificadas. É quase um sim farm.
Essa parte funciona como um contraponto interessante à ação trazida por Bounty Star. Ela cria uma sensação de pertencimento e continuidade, transformando a base em um lar para nossa protagonista. Ainda que a mecânica seja bem simples, há um prazer quase terapêutico em cuidar do lugar, ver a plantação crescer e se preparar a próxima missão. Com isso, o jogo cria uma forma inteligente de reforçar a temática da reconstrução da personagem ao longo da narrativa.

Durante o desenvolvimento do jogo, novas estruturas e funcionalidades podem ser desbloqueadas, permitindo maior autonomia e personalização. Felizmente, esse aspecto não é lá tão profundo quanto Stardew Valley ou Harvest Moon. Todavia, cumpre seu papel como elemento de respiro e progressão. Essa rotina cria um ciclo natural para nossa jogatina: trabalhar, se preparar, lutar e voltar para casa. Ao fazermos cada um desses passos, temos a sensação de dar continuidade a vida de Clem, nos envolvendo bastante com a personagem.
Combates práticos, mas divertidos
Quando chega o momento da ação, Bounty Star mostra um pouco mais de sua intensidade. Mas não espere batalhas insanas ou impossíveis, tais como em soulslikes. As missões são aceitas a partir de um quadro de recompensas, onde Clem escolhe seus alvos e parte para o campo de batalha a bordo do Desert Raptor MKII, sendo praticamente uma extensão da protagonista. Essa parte da pancadaria é, sem sombra de dúvidas, a melhor coisa do jogo.
Seu sistema de combate é um dos pontos mais empolgantes. Cada mecha possui ataques corpo a corpo e à distância, e a alternância entre eles é essencial para o sucesso. O impacto dos golpes é bem representado, cada pancada, disparo ou explosão carrega peso e impacto visual. As batalhas são variadas, com inimigos que podem ser drones, mercenários armados e outros mechas hostis, nos obrigando a adaptar nossas estratégias constantemente.

Um detalhe que traz um nível a mais de dificuldade e que diferencia Bounty Star de outros títulos do gênero é o sistema de temperatura do mecha. As ações realizadas durante cada missão, como disparar armas, esquivar ou usar habilidades especiais, alteram a temperatura da máquina. Se o medidor atingir níveis extremos, o robô entra em colapso temporário, deixando Clem vulnerável. Assim, temos uma camada tática importante, exigindo atenção e controle de ritmo. Para deixar tudo mais interessante, ainda temos de lidar com fatores como hora do dia e condições climáticas, que afetam o desempenho do mecha.
Por fim, Bounty Star nos apresenta tipos de armamento variados, que vão de armas de corte, impacto ou explosão, cada uma com vantagens e desvantagens específicas contra diferentes inimigos, incentivando o jogador a experimentar combinações. Essa variedade de opções ajuda a manter os combates frescos e dinâmicos, mesmo após várias horas de jogo. Tudo isso misturado, traz uma profundidade interessante aos combates do jogo que, embora não sejam extremamente difíceis, têm seu valor.

Personalização é sempre algo positivo!
Continuando o assunto acima, a personalização do Raptor MKII é bem divertida, nos dando variedades de escolha. o MKII pode ser equipado com diferentes armas corpo a corpo, como espadas energéticas, martelos e até lança-chamas, além de armas de fogo, como metralhadoras, lança-granadas e rifles de precisão. Com isso, cada combinação altera significativamente o estilo de combate, permitindo que a gente adeque o mecha ao nosso estilo de jogo.
Há também algumas habilidades especiais, como escudos, propulsores de salto e dispositivos de recarga, que ampliam a versatilidade dentro de cada batalha. O sistema de progressão é acessível, mas oferece espaço para experimentação. Conforme Clem avança na narrativa, novos módulos e peças são desbloqueados, nos estimulando a testar diferentes configurações.

Assim, o equilíbrio entre planejamento e execução é o que torna o combate de Bounty Star realmente recompensador. Entrar em uma missão sem preparar o loadout certo pode ser bem frustrante, ou até memso fatal. Portanto, sempre cheque os equipamentos antes de sair para as missões. Embora o nível de dificuldade inicial de Bounty Star seja muito brando, gradualmente, ele vai compensando a facilidade com variedade e fluidez, e há sempre espaço para aprimorar as habilidades do jogador.
Aspectos audiovisuais
Visualmente, o estilo gráfico de Bounty Star me agrada, trazendo uma beleza modesta, mas muito eficaz. O estilo artístico adotado aposta em traços cartunescos com texturas de cel-shading, combinando muito bem com o clima de western futurista. As paisagens dos desertos do Arizona, iluminadas por pores do sol avermelhados ou pela névoa azulada da madrugada, criam momentos belíssimos. Além disso, o design dos mechas é irado, sendo bem robusto e funcional, transmitindo perfeitamente a sensação de peso e poder das máquinas.
Já a trilha sonora é bem interessante, com um estilo de música country tocando ao fundo, misturando guitarras secas e sintetizadores em tons melancólicos. Em alguns momentos, somos apresentados a excelentes canções cantadas. Nas batalhas, a música dita o ritmo, se intensificando com riffs distorcidos, algo que reforça a ideia de combate. Com isso, Bounty Star, traz em sua trilha diálogos com o tema central do jogo, conseguindo se mesclar aos aspectos visuais e narrativos, o que é incrível.

Vale a pena jogar Bounty Star?
Bounty Star é um jogo que traz experiências autorais e bem criativas, sendo uma grata surpresa em 2025. O título, que não é genial, mas tem seu valor, mistura de maneira improvável diversos gêneros que, contra todas as expectativas, funcionam muito bem. A narrativa de redenção de Clem é envolvente, o combate entre mechas é divertido, e o ciclo de vida no rancho traz uma camada inesperada de humanidade e sossego, fugindo um pouco da tensão sentida em boa parte dos jogos atuais.
Ainda que Bounty Star tenha lá seus momentos de repetição e algumas tarefas simplificadas, ele compensa com ambientação, trilha sonora e personagens marcantes. O título nos apresenta uma aventura que combina a brutalidade da guerra com a tranquilidade da reconstrução, seja da personagem, ou do mundo em que ela vive.
Portanto, se você busca um jogo diferente, com identidade e alma, mas que seja leve, oferecendo tanto ação quanto introspecção, Bounty Star é uma aposta que pode ser interessante. É como eu havia dito antes, não reinventa o gênero, mas mostra que ainda há espaço para inovação em meio a tantos jogos vazios e problemáticos.
Por fim, Bounty Star é uma espécie de jogo híbrido bem-sucedido que une ação, estratégia e narrativa pessoal em um universo cativante, com uma ótima trilha sonora e gráficos condizentes com a proposta. Com uma ambientação inspirada em um Velho-Oeste caótico e uma protagonista complexa, mas bem carismática, o jogo entrega uma experiência autêntica e emocionalmente rica, nos levando a uma experiência muito divertida, sendo ideal para qualquer tipo de jogador.
*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela Annapurna Interactive.


