Call of Duty: Black Ops 7 | Review
Essa é, provavelmente, uma das análises mais complicadas que já escrevi. Sempre fui muito fã da franquia Call of Duty, ficando com a tarefa de analisar anualmente os jogos lançados. Porém, confesso não ter sentido o hype com o anúncio de Call of Duty: Black Ops 7. A cada ano, nós, fãs esperamos que a série se reinvente pelo menos um pouco para manter a relevância. Ao mesmo tempo, paira sobre cada lançamento a pressão de conquistar jogadores novos, reconquistar veteranos e sustentar um ecossistema que inclui os modos multiplayer, Zombies, Warzone, eventos sazonais e todo um aparato de progressão, que vai até o próximo título.
A promessa deste novo jogo é a seguinte: aprofundar o conteúdo de longo prazo, fortalecer os modos sociais e corrigir erros do passado. Com isso, Black Ops 7 tenta se posicionar como um título robusto, com múltiplas experiências interligadas por sistemas de progressão, além de uma campanha que, no papel, deveria servir como porta de entrada para um universo narrativo expandido. Mas será que o jogo realmente entrega o que se propõe? Veremos esse e vários outros detalhes nesta análise!
Campanha prometeu tudo e entregou absolutamente nada
Há anos a comunidade de Call of Duty discute o que realmente significa uma “campanha Black Ops“. A sub-série sempre foi marcada por experimentações narrativas, quebras de expectativa, personagens memoráveis e reviravoltas que flertavam com paranoia, espionagem e manipulação psicológica, pegando períodos reais como a Guerra Fria como pano de fundo. Porém, com Black Ops 7, havia uma ponta de esperança de que essas características retornassem com força. Infelizmente, o jogo passou longe disso.
A campanha deste ano abandona a tradição de missões cuidadosamente roteirizadas e substitui tudo por uma estrutura cooperativa genérica, com ambientação reciclada do futuro mapa de Warzone. O que deveria ser uma jornada militar cheia de tensão e intrigas, se transforma em uma grande repetição de objetivos e confrontos que parecem existir apenas para preencher tempo e justificar recompensas cosméticas. Lamentável.

O tom do jogo tenta emular o surrealismo ocasional dos Black Ops mais antigos, mas faz isso de forma completamente tosca, sem propósito narrativo. Logo no primeiro nível, quando o jogador é transportado para ilhas flutuantes e criaturas deformadas, o que deveria ser surpreendente se torna confuso. Sinceramente, é tosco demais, sendo um verdeiro balde de água fria nos fãs. Nada do que acontece tem peso dramático; os eventos se sucedem sem que as motivações dos personagens façam efeito. É algo vazio demais, até para uma franquia de jogos de tiro.
Ainda mais estranho é como personagens icônicos aparecem sem função narrativa alguma. David Mason, por exemplo, retorna como protagonista, mas parece ter sido incluído apenas para servir de isca nostálgica, já que não há qualquer desenvolvimento dramático digno do legado do personagem. Encontros com figuras como Raul Menendez, na forma de simulacros grotescos em batalhas de chefes ainda mais ridículas, nos deixam mais com a sensação de frustração do que com vontade de continuar. Machetes gigantes? Pelo amor dos deuses…

Essa sensação de artificialidade está presente em tudo. No roteiro, na técnica, na ambientação, nos personagens… Tudo em Call of Duty: Black Ops 7 parece sem vida, sem criatividade. Em diversos momentos, a campanha parece zombar involuntariamente de si mesma, como quando um chefe derrota o jogador mediante… um arroto tóxico ou machetes caindo do céu. É o tipo de escolha criativa que faz o jogo parecer uma grande piada. Com isso, o veredito aqui é simples: a campanha de Black Ops 7 é, talvez, a mais fraca da história da série. Isso para não chama-la de patética.
Um jogo mais voltado para o Endgame
Se há algo que a campanha deixa claro, é que boa parte do esforço de design parece ter sido direcionado especificamente para o modo Endgame, desbloqueado após sua conclusão. Trata-se de um híbrido de PvE de extração com elementos roguelike, que convida o jogador a completar contratos, coletar recursos e extrair dentro de um tempo-limite, tudo enquanto constrói um personagem por meio de classes, perks e habilidades que mudam radicalmente o estilo de jogo. Logo de cara, este modo é confuso, mas vai se simplificando, tendo um estilo similar ao que tínhamos do saudoso DMZ.
Assim, o Endgame traz um pouco do que a campanha deveria ter sido, encaixando dando mais profundidade aos inimigos bizarros e aos ambientes variados, que fazem mais sentido dentro da lógica de repetição e progressão. O modo não esconde sua intenção de ser o núcleo de conteúdo a longo prazo, e sua profundidade o coloca entre as experiências mais interessantes de Black Ops 7. Mas ainda fica a sensação de que falta algo.

Porém, ainda me questiono: por que sacrificar a campanha, que sempre teve peso na franquia, para nutrir um modo que agrada apenas uma parte da comunidade? A resposta não é tão simples, mas o resultado é evidente: o single-player virou algo “só para estar ali”, enquanto o Endgame parece ter absorvido toda a energia criativa, que foi bem escaça em Call of Duty: Black Ops 7.
Multiplayer: o sopro de esperança desta versão
O multiplayer de Call of Duty: Black Ops 7 é simultaneamente familiar e renovado. A Treyarch resgatou algumas boas ideias de Black Ops 4, aprimorou alguns sistemas de Black Ops 6 e introduziu mecânicas ousadas que expandem o ritmo frenético característico da franquia. O destaque, sem dúvida, é o insano wall bounce, uma variação acrobática que nos permite dar impulsos contra superfícies e criar rotas alternativas durante a batalha. A princípio, parece apenas um truque exagerado, mas sua integração ao design dos mapas mostra que ele foi pensado para ser parte central. Observá-lo em ação é testemunhar que a movimentação da série atingiu um novo patamar.
O omnimovement, introduzido no jogo anterior, retorna ainda mais refinado. A sensação de fluidez é clara, e veteranos vão perceber rapidamente como a velocidade aumentada altera completamente o timing dos confrontos. A jogabilidade privilegia reflexos e criatividade, embora isso possa alienar novos jogadores no início. Há menos espaço para hesitação; cada combate dura um piscar de olhos. Isso não é bem uma novidade, mas é a tônica da franquia Call of Duty: quem atira mais rápido e melhor, vence. Ou seja, o TTK (time to kill) é mais rápido que de outros jogos de tiro lançados atualmente.

Outro ponto positivo é a inclusão dos attachments, modificadores avançados capazes de transformar o funcionamento das armas. Eles funcionam como uma ponte entre a progressão tradicional e a personalização mais profunda vinda de Modern Warfare 3, oferecendo novas razões para o jogador experimentar arsenais diferentes. A remoção da skill-based matchmaking em grande parte das playlists também altera a atmosfera das partidas. Sem o rigoroso pareamento por habilidade, as sessões se tornam menos previsíveis, com variações maiores de desafio. Isso é bom e ruim ao mesmo tempo, gerando partidas mais caóticas, mas também podendo gerar desigualdade de habilidades.
Os mapas inéditos como Blackheart, Toshin e Forge refletem perfeitamente essa nova filosofia e a questão da jogabilidade multiplayer. Todos os mapas obrigam a nós, jogadores e jogadoras a explorar a verticalidade do ambiente, passagens surpreendentes e estruturas pensadas para saltos sucessivos que trazem vantagem de posicionamento. Alguns jogadores mais habilidosos conseguem redesenhar por completo sua circulação pelo cenário, criando oportunidades únicas de flanqueamento. Concluindo, o multiplayer não é perfeito, mas demonstra cuidado. É uma evolução coerente, mesmo que ainda preso ao ciclo anual da franquia.

Zombies pode ser uma grata surpresa para alguns fãs
Se há um modo que realmente carrega a chama criativa dos desenvolvedores, este modo é Zombies. Desde Black Ops 2, a comunidade ansiava por um retorno à atmosfera sombria, misteriosa e decadente dos mapas clássicos, e Black Ops 7 finalmente entrega algo nessa direção. Assim, Ashes of the Damned é uma carta de amor aos fãs mais antigos. O mapa interliga múltiplas áreas temáticas conectadas por estradas infestadas de mortos-vivos, misturando tudo o que veio antes, mas em um nível atualizado.
A ambientação volta a ser densa, opressiva, carregada de detalhes que comunicam decadência e todo o caos de uma invasão zumbi. Desta forma, aquela sensação de apocalipse que faltou em Black Ops 6 retorna com força total. A exploração do mapa incentiva experimentação, criando rotas de sobrevivência que variam conforme o estilo de jogo e o número de jogadores. O modo Amaldiçoado, que adiciona modificadores de dificuldade e até resgata sistemas antigos de pontuação, reforça a sensação de desafio clássico, dialogando com a identidade do modo.

O problema, porém, está fora do design: a instabilidade técnica sofrida nos PCs. Bem, pelo menos foi o meu caso. Quedas de desempenho, falhas em scripts de easter eggs e crashes inesperados são frequentes o suficiente para frustrar. Isso prejudica o brilho de um modo que, conceitualmente, é um dos melhores da Treyarch em anos. Além disso, tive que lidar com bugs que não permitiam encerrar as partidas. Isso é chato demais! Quando (e se) funcionar plenamente, o modo Zombies de Call of Duty: Black Ops 7 tem tudo para ser lembrado como um dos grandes. Mas, por enquanto, ainda dá uns vacilos.
Vale a pena jogar Call of Duty: Black Ops 7?
Olha, eu detesto essa ideia de jogos anuais. Isso tira todo o brilho que uma franquia pode ter, além, claro, de esgotar a capacidade criativa das equipes envolvidas. Com isso, Call of Duty: Black Ops 7 é, essencialmente, um jogo de dualidades. Poucas vezes a série apresentou um contraste tão forte entre acertos claros e equívocos tão evidentes. A meu ver, esta é uma das piores edições da franquia em anos. Isso se não for a pior.
A campanha é um desastre imenso: sem direção, sem identidade, sem alma. É difícil encontrar nela algo que remeta ao legado da sub-série. Para muitos fãs, isso será imperdoável. Como experiência narrativa, Black Ops 7 deixa a desejar mais do que qualquer outro título da série principal. Ela não nos motiva a seguir e, para piorar, precisa ser jogada com outros jogadores. A cada nova missão, o pensamento de “o que esses caras estavam pensando quando fizeram isso?” surge. Chega a dar vergonha alheia.
Por outro lado, o multiplayer e os Zombies mostram que ainda existe uma certa força na franquia. Os pulos na parede adicionam profundidade genuína ao combate, ainda que bem fora da realidade dos jogos de guerra; os mapas são bem-projetados para o sistema de movimento; o sistema de progressão está mais coeso; e a experiência Zombies talvez seja a melhor da Treyarch na última década. Bem, isso quando não está travando ou tendo algum bug.
O resultado final é um jogo fragmentado: excelente em alguns aspectos, decepcionante em outros. Para quem busca uma campanha memorável, Black Ops 7 é um erro grave. Para quem vive de multiplayer e Zombies, há material suficiente para garantir meses de diversão, ainda que com ressalvas. Porém, olhando o preço atual, de cerca de R$ 349,00, acho que vale a pena esperar uma promoção. Enfim, fico triste com tudo isso, mas Call of Duty, que já foi um símbolo de inovação, hoje parece estar perdido. A franquia precisa urgentemente reinventar-se, ou vai seguir vivendo de lampejos de um passado não muito distante. Black Ops 7 oferece ambos, mas nenhum deles por completo. É como disse anteriormente: falta algo.
Call of Duty: Black Ops 7 foi lançado em 14 de novembro para Xbox Series X|S, Xbox One, PC, via Game Pass, Microsoft Store, Battle.net e Steam, e PlayStation 5 e PlayStation 4.
*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela Activision.
Call of Duty: Black Ops 7
R$ 349,00+Prós
- Multiplayer oferece mapas mais variados e bem planejados para o novo sistema de movimentação
- Zombies tem excelente atmosfera e retorno ao estilo clássico
Contras
- Campanha é extremamente fraca e mal roteirizada
- Personagens clássicos são mal aproveitados
- Identidade geral do jogo é inconsistente e deixa muito a desejar
- Chefes bizarros e mal concebidos quebram a imersão
- Alguns bugs foram percebidos no modo Zombies e no multiplayer


