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CONCIERGE | Review

O estúdio brasileiro Kodino Games faz sua estreia com CONCIERGE, um suspense point and click de atmosfera surreal que convida o jogador a explorar os mistérios de um hotel coberto pela neve. Inspirado por cults modernos como Who is Lila? e Yume Nikki, o game apresenta seis histórias interligadas em uma narrativa não linear, marcada por enigmas desafiadores e ambientes repletos de segredos.

Mas será que a experiência consegue alcançar o mesmo impacto de suas referências? Descubra na análise exclusiva do Pizza Fria!

O hotel e seus inúmeros mistérios

Em CONCIERGE, controlamos um homem que acorda em um quarto de hotel após um sonho perturbador. Do lado de fora, uma forte nevasca impede qualquer saída, restando apenas a opção de explorar o local. Logo em seguida, o jogador está livre para investigar os quatro andares do prédio da maneira que desejar.

Não há indicações claras na interface que mostrem o que fazer. A única certeza é que precisamos entrar nos seis quartos disponíveis e descobrir a história das pessoas hospedadas ali. Embora não exista uma ordem fixa para o enredo se desenrolar, os enigmas estão tão bem escondidos pelo cenário que dificilmente o avanço acontecerá como planejado inicialmente.

CONCIERGE
O concierge do hotel protagoniza diversas cenas aleatórias, trazendo histórias e dicas para o jogador. (Imagem: Higor Neto/Reprodução)

Apesar da proposta surrealista e de uma narrativa pouco explicativa — a sensação é de embarcar em um trem já em movimento — o game apresenta uma quantidade considerável de diálogos, documentos e revelações. As histórias contadas são compreensíveis, mas a forma como são transmitidas é o grande trunfo de CONCIERGE. Mesmo mais objetivo que Yume Nikki, o título mantém mistérios e abre espaço para interpretações. Ao final da jornada, esse aspecto se mostra um dos mais marcantes da experiência.

Diferentes perspectivas, transições criativas e cenários que revelam mais do que qualquer diálogo tornam a exploração envolvente e imersiva. Mesmo com ritmo lento, os poucos ambientes disponíveis garantem descobertas constantes, muitas delas opcionais.

CONCIERGE
O humor também tem espaço, com animais escondidos pelo cenário. (Imagem: Higor Neto/Reprodução)

Visuais e sons convidativos

Apesar dos visuais escuros e intimidadores e da solidão do hotel, CONCIERGE não apela para sustos em nenhum momento. A parte técnica foi cuidadosamente trabalhada em cada detalhe dos ambientes, garantindo que o foco seja a imersão nesse universo. A trilha sonora transita entre melodias suaves, que acompanham momentos de narrativa, até tons mais nervosos e cacofônicos em cenas alucinantes. Os elementos do hotel também se destacam: pisos rangendo, goteiras, correntes de ar e vitrola, sons que podem ser ouvidos de diferentes andares e cômodos, ampliando a sensação de realismo.

Os visuais se dividem entre dois extremos: o vazio minimalista do hotel e o imaginário macabro revelado pelas histórias. Ambos são bem trabalhados, e a transição entre esses estilos proporciona os momentos mais impactantes do game.

CONCIERGE
O uso de fones de ouvido é altamente recomendado para aproveitar toda a experiência sonora. (Imagem: Higor Neto/Reprodução)

Puzzles realmente desafiadores

O próprio jogo alerta que é praticamente impossível descobrir todos os segredos. As soluções não são óbvias e exigem muito tempo de reflexão; pensar fora da caixa não é apenas um slogan. Ao usar o telefone do hotel, é possível pedir ajuda no enigma atual. Essa função auxilia, mas a repetição da mesma dica enigmática até a resolução pode gerar frustração, principalmente quando se busca solução para outro desafio.

Mesmo utilizando apenas o mouse, a variedade de situações em que a jogabilidade se transforma é impressionante. Esses momentos fazem referência a diversas obras conhecidas na internet nos últimos anos, mas sem deixar de agregar à narrativa central.

CONCIERGE
São nos desfechos dos enigmas que o suspense e o desconforto se tornam ainda mais intensos. (Imagem: Higor Neto/Reprodução)

Vale a pena jogar CONCIERGE?

A direção de Yan Boente e a arte de Lucas Gerose oferecem uma experiência de suspense e desconforto que instiga sem recorrer a monstros ou sustos. Os enigmas são desafiadores e recompensadores, enquanto a harmonia entre trilha sonora e visuais cria uma atmosfera imersiva e memorável.

A sensação é de vivenciar uma obra que mistura o estilo do animador David Romero com a narrativa dos filmes de David Lynch e Satoshi Kon. No entanto, em nenhum momento CONCIERGE parece apenas emprestar elementos de suas inspirações: trata-se de uma obra original, altamente recomendada para fãs de suspense e de grandes desafios.

O jogo brasileiro CONCIERGE chega nesta quarta-feira, 17 de setembro, exclusivamente para PC, via Steam

*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela Digital Tribe.

CONCIERGE

8.3

História

8.5/10

Gameplay

8.0/10

Gráficos

8.5/10

Sons

9.0/10

Extras

7.5/10

Prós

  • Atmosfera surreal imersiva, que mistura mistério e desconforto
  • Puzzles extremamente desafiadores
  • Trilha sonora variada, que acompanha bem os diferentes momentos do jogo.
  • Direção de arte consistente, com contraste entre minimalismo e elementos macabros.
  • Narrativa não linear, permitindo múltiplas interpretações.

Contras

  • Jogabilidade de alguns mini games deixa a desejar
  • Ritmo lento, que pode afastar jogadores menos pacientes.
  • Dicas repetitivas no sistema de ajuda, pouco úteis em alguns enigmas.