Concord | Review

Concord é um hero shooter em primeira pessoa, PvP, 5v5 e totalmente desenvolvido na Unreal Engine 5, sendo o projeto de estreia da Firewalk Studios, fundada em 2018 por ex-membros da Bungie e Activision. Atualmente sobre o guarda chuva da Sony, o game é mais uma das diversas apostas que a gigante japonesa está financiando para buscar um duradouro e lucrativo produto.

No entanto, em uma época repleta de jogos competitivos, como Concord se sai diante esse mercado? A resposta eu trago para você agora, em mais uma análise do Pizza Fria!

Conhecendo a galáxia de Concord

Em Concord, os personagens jogáveis são chamados de “Freegunners”, mercenários legalizados (semelhantes aos corsários da era das grandes navegações) que buscam trabalhos lucrativos e, em particular, missões que os coloquem em oposição a uma imensa facção conhecida como “A Guilda”, com a qual cada Freegunner tem razões pessoais para confrontar.

Surpreendentemente, Concord contém uma vasta quantidade de texto para auxiliar na construção do mundo, disponível no modo Guia Galáctico. Trata-se de um simples modo point & click, onde é possível ler sobre vários planetas, personagens, rotas utilizadas pelos Freegunners e eventos importantes que ocorreram no universo. Isso pode parecer um pouco fora do foco principal, e o problema é o quão monótono isso pode se tornar (mesmo que o game esteja completamente localizado para o Brasil), pois não há diálogos com áudio ou animações, mesmo nas interações mais significativas, como o passado de um personagem ou a história dos mapas em que jogamos. O máximo que encontramos são ilustrações dos Freegunners e cenários em um estilo que lembra pinturas.

Concord
Exemplo das animações em pinturas dos Freeguners (Imagem: Reprodução)

Se o que escrevi antes parece familiar, é provável que você tenha jogado a saga Mass Effect ou o indie Subverse. O conceito é de fato semelhante, especialmente com Subverse, devido à simplicidade visual e ao humor nos títulos e textos, embora muitos trocadilhos se percam na tradução. Além disso, toda semana ao iniciar o aplicativo, uma nova cena em 3D será exibida, avançando a história de cada personagem. Para aumentar essa imersão, duas vezes por mês, a Sony postará em seu canal do YouTube animações dos personagens em pequenas aventuras. Também foi prometido pelo menos um episódio de Secret Level dedicado a Concord (uma antologia de animações sobre jogos, com lançamento previsto para dezembro de 2024).

Em geral, a Firewalk Studios foi eficaz na criação de uma atmosfera convincente; os gráficos detalhados dão vida aos personagens e os dubladores, tanto os originais quanto os em português brasileiro, entregam atuações persuasivas. Narrativamente, o maior desafio é despertar interesse na trama, considerando a grande resistência dos jogadores ao projeto.

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Backstories Interessantes que poderiam ser mais relevantes com um modo de história individual. (Imagem: Reprodução)

O essencial está presente

Entrando no cerne da questão, o gameplay é decente? Com certeza, a expertise dos desenvolvedores em títulos anteriores da Bungie e Activision é evidente. Muitos dos fundamentos essenciais para o sucesso de um FPS estão solidamente implementados, com o design dos mapas e a diversidade dos modos de gameplay se destacando como pontos fortes. Estratégias como flanqueamento, uso de habilidades de controle de grupo e de cura/armadura podem levar a reviravoltas ou à derrota total do time adversário ao longo do jogo.

Dito isso, a impressão que fiquei é que, apesar de tático, Concord tende mais para o estilo de jogo de Destiny ou mesmo Call of Duty do que Overwatch. Isso é claro pelo “Time To Kill” reduzido e pelo fato de que várias habilidades dos personagens não dependem de cooldown, mas sim de eliminações ou assistências para recarga. Assim como em CoD, o desempenho individual tem um impacto significativo no resultado final.

O ritmo de Concord é bastante único e pode levar algum tempo para se adaptar. Personagens maiores realmente se movem mais devagar e, devido à sua grande hit box, tornam-se alvos fáceis, especialmente para danos críticos, enquanto o inverso é verdadeiro para personagens menores. Conseguir cura é desafiador; não basta se esconder por um momento e esperar pela regeneração automática para estar pronto para a batalha novamente. Há vários pacotes de cura espalhados pelo mapa que levam um tempo considerável para reaparecer após serem coletados.

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Um modo de corrida contra o tempo com alvos também existe para quem gosta de disputar no placar de lideres (Imagem: Reprodução)

Gostei bastante disso, assim como o design do mapa e a qualidade do som, onde passos e habilidades são facilmente distinguíveis em diferentes distâncias. Saber onde você e seus inimigos podem recuar para se curar ou capturar um ponto estratégico adiciona uma camada interessante de estratégia ao jogo.

Um campo de treinamento, seis modos de jogo, doze mapas e dezesseis personagens compõem todo o conteúdo competitivo no lançamento de Concord. Embora não seja um lançamento robusto, é suficientemente funcional para que não se torne repetitivo rapidamente. A duração de cada partida contribui para isso, com objetivos sendo alcançados rapidamente, às vezes até de maneira abrupta. O elenco de personagens é personalizável ao seu gosto para as partidas, e dependendo da formação escolhida, você recebe bônus de renascimento, como maior alcance, melhor movimentação e curas potencializadas, o que afeta as partidas mais do que se poderia esperar.

Os elementos fundamentais de um game de tiro moderno estão presentes: Concord conta com AntiCheat (EAC), suporte para monitores Ultra Wide, FPS sem limites, FOV ajustável, crossplay e progressão cruzada entre as plataformas – PS5 e PC -, personalização completa dos comandos e várias opções de acessibilidade. Há personalização para várias características visuais dos Freegunners, como roupas e poses para vitórias e derrotas. Contudo, essas personalizações são bastante simples e, para um título pago, o fato de 70% delas serem apenas recolorações é decepcionante. Esse ponto se conecta com os diversos aspectos que o game deixa a desejar, então vamos explorar o outro lado dessa questão.

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Personalização inesperadamente fraca. (Imagem: Reprodução)

As desvantagens

Depois da base sólida de gameplay ser experienciada, Concord me parece sofrer bastante em apresentar densidade de conteúdo para seus jogadores. Existem diversos desafios diários, semanais e sazonais para serem completados, geralmente bem simples como causar X de dano, capturar X pontos ou curar certa quantidade. Absolutamente tudo resulta em apenas XP para sua conta ou personagens e para ambos, sua recompensa são itens cosméticos, títulos e frases para seu ID dentro do jogo, mas que acabam não sendo caprichados muito menos variados.

A comparação torna-se obrigatória: em Call of Duty, busca-se melhorias para as armas, séries de pontuação e camuflagens ao longo dos níveis. Em Overwatch, o foco está em desempenhar bem seu papel, conquistar novos heróis e acumular pontos competitivos para obter uma arma dourada para o personagem predileto. No entanto, no jogo da Firewalk, nada disso se faz presente. Em Concord, a progressão é tão básica que por vezes parece inexistente, como se toda a ação se limitasse às partidas. A ausência de habilidades supremas restringe a variedade de jogadas e estratégias. Além disso, a falta de um chat de texto e de comandos detalhados para ações como agrupar-se ou curar limita ainda mais o gameplay.

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Mas o trabalho em equipe funciona (inesperadamente) muito bem (Imagem: Reprodução)

Não é segredo para ninguém que Concord vem sofrendo com poucos jogadores (desde suas betas inclusive) resultando em um número de jogadores bem pequeno na América do Sul, ou seja, isso acabou me levando para servidores americanos/europeus praticamente toda partida e a conexão foi um constante problema durante minhas quase 20 horas de teste. Nada desastroso, mas incômodo. Os tempos para encontrar partidas também são preocupantes, se na semana de lançamento podia chegar a 3 minutos em uma tarde de sábado, daqui a semanas pode ser alarmante.

Claro, temos que abordar o elefante na sala. Concord custa US$ 39,99. No Brasil, o preço é de R$ 199,50. A Sony parece estar tentando replicar a estratégia de Helldivers 2, mas o problema é que, tirando os visuais, o título não justifica esse preço. Posso imaginar dois cenários em que isso seria aceitável: um lançamento anual como o Call of Duty (com campanha, multiplayer e modo coop/survival) e o que foi planejado originalmente para Overwatch 2, com missões, árvore de talentos, etc. No entanto, Concord não oferece nada disso e, como mencionado anteriormente, ainda há vários aspectos que são insatisfatórios para um jogo de tiro competitivo.

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7 minutos de busca no dia do lançamento é preocupante (Imagem: Reprodução)

Vale a pena comprar Concord?

Senti-me transportado de volta a 2016 com o lançamento de Overwatch, quando havia queixas sobre o preço do título ser elevado para o que oferecia. As diferenças são notáveis, considerando que a Firewalk Studios não possui a reputação que a Blizzard tinha naquela época, e o cenário dos games também era distinto. A proliferação de jogos free-to-play, battle royale, criadores de conteúdo e o ambiente competitivo mudaram drasticamente. Overwatch se encaixou perfeitamente naquela época, mas Concord parece que não se adaptou bem ao contexto de 2024.

Promessas para as próximas temporadas incluem mais do que foi mencionado aqui, tudo gratuitamente para quem adquiriu Concord: espere por novos modos, mapas, Freegunners e uma variedade de cosméticos. A comunicação com o consumidor se manteve decente até o lançamento; agora, resta observar quanto investimento permanecerá em um projeto que tem o desafio de competir com jogos de fácil acesso e características atraentes de 2024, como XDefiant, Valorant (agora nos consoles), Marvel Rivals nos próximos meses, além de games que mantêm uma sólida base de usuários, como Overwatch e Fortnite.

Minha avaliação é, contudo, positiva. Concord tem uma estrutura robusta, com 16 personagens que realmente apresentam jogabilidades distintas e sinergias interessantes, além de modos e mapas com potencial para competições e gráficos e animações de alta qualidade. A impressão, porém, é que a Sony apressou o desenvolvimento de um projeto que necessitava de mais tempo para desenvolver uma progressão mais gratificante e, sobretudo, para criar mais conteúdo. Ainda que exista a possibilidade de se tornar gratuito, a presença de tantos concorrentes consolidados e a resistência dos jogadores são tão grandes que, mesmo com um suporte excelente e um modelo free-to-play, talvez não seja suficiente para solidificar a posição de Concord no mercado.

Concord foi lançado oficialmente no dia 23 de agosto para PlayStation 5 e PC, via Steam e Epic Games Store. No entanto, aqueles que adquiriram a Edição Digital Deluxe, puderam jogar três dias antes – no dia 20 de agosto.

*Review elaborada em um PC equipado com uma RTX, com código fornecido pela Sony.

Concord

R$ 199,50
6.5

Carisma e Identidade dos personagens

6.0/10

Gráficos e Sons

9.0/10

Gameplay

7.0/10

Conteúdo e Longevidade

4.0/10

Prós

  • Ótimos Gráficos e Animações
  • Potencial Competitivo
  • Conteúdo Pós Lançamento Gratuito

Contras

  • Servidores vazios e com conexão mediana
  • Conteúdos de história deslocados
  • Progressão fraca e pouco recompensadora
  • Pouco o que "masterizar" com os personagens