Cronos: The New Dawn | Review
Survival horror é um ótimo gênero, e evoluiu muito ao longo das décadas, sendo muito mais do que monstros e sustos. Cronos: The New Dawn, game da Bloober Team para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC, via Steam e Epic Games Store, e Switch 2, vem exatamente nessa pegada. No jogo, somos colocados na pele de uma viajante do tempo que precisa resolver uma série de mistérios em uma Polônia soviética, marcada pela estética brutalista da URSS e tecnologias retrofuturistas. Agora, misture isso a uma praga que transforma humanos em monstros que se fundem, ficando mais fortes? Pois é. Neste caótico cenário podemos ver conspirações, caos e muitos pedaços espalhados pelo mapa.
Até aí, a ideia até que parece boa, não é? Mas será que o título é imersivo, misturando bem a narrativa com a jogabilidade, ou é algo meio que “mais do mesmo”? É o que vamos descobrir desta odisseia obscura totalmente vivida em terceira pessoa. Confira nossa análise antecipada de Cronos: The New Dawn!
A ambientação: uma Polônia dos tempos da URSS
Sinceramente, acho que a parte da ambientação foi a primeira grande coisa que me chamou a atenção em Cronos: The New Dawn. Ela impressiona, sobretudo por ir nos enveredando aos poucos aos seus encantos (se é que posso dizer isso). Como já mencionado, o jogo se passa em um universo alternativo, no qual o brutalismo arquitetônico da Europa Oriental é misturado a elementos retrofuturistas que me lembraram demais a sensação de rejogar Dead Space. Só por esse aspecto, o jogo já havia me conquistado. Mas ainda há muito a ser dito aqui. Enfim, retornando… O contraste entre paredes de concreto acinzentadas e tecnologias anacrônicas deixa tudo bem mais tenso.
Para melhorar, no centro dessa realidade complexa, está a Mudança, um estranho evento surgido nos anos 80, que devastou a humanidade e deixou para trás incontáveis criaturas grotescas, nascidas da fusão entre corpos e resíduos do que restou da civilização. E é justamente neste cenário que nós, jogadores, incorporamos uma viajante a serviço de um misterioso grupo, que precisa se lançar em missões entre o futuro e o passado, explorando fendas temporais em busca de respostas, em uma pegada bem cinematográfica (e tensa!).

Portanto, essa ambientação de ir e vir no tempo não é somente um pano de fundo banal de um jogo de terror, mas sim parte essencial de toda a experiência narrativa e de jogabilidade. As ruas destruídas, os prédios flutuantes de Nowa Huta e os ambientes carregados de simbolismo de um passado conturbado dão a sensação de estar diante de um mundo que se despedaçou, mas ainda guarda memórias, histórias e tragédias. Particularmente, comecei achando o jogo meio parado, com alguns problemas de jogabilidade tal, mas após muita paciência, boas horas de jogatina, fiquei fissurado para saber o que me esperava no final. Honestamente, valeu muito a pena. Só falarei isso.
Entendendo mais a missão de nossa viajante e tudo a sua volta
Como dito acima, Cronos: The New Dawn interliga as coisas da narrativa com a jogabilidade, e tudo vai fazendo sentido no decorrer das coisas. Tudo aqui é construído de maneira calma, sem pressa alguma. Isso talvez possa ser um problema para alguns, mas não foi o meu caso. Como sempre disse, adoro a parte narrativa tanto quanto a jogabilidade. Falando nisso, neste jogo em terceira pessoa, temos uma missão: resgatar pessoas importantes do passado, extraindo suas “essências” para preservá-las no futuro, as levando para a “ascensão” em uma máquina bisonha. Esse recurso não é somente mecânico: cada pessoa que você captura impacta diretamente a jornada, fortalecendo ou afetando a sanidade da personagem.
Com isso, ao carregar muitas essências, naturalmente, o traje da protagonista ficará mais poderoso, mas nada é de graça nessa vida. Com tanto poder, a viajante terá de lidar com sussurros perturbadores e distorções visuais que simulam uma descida gradual à loucura. Esse equilíbrio entre ganho e sacrifício é uma das marcas registradas da narrativa de Cronos: The New Dawn, que nos coloca constantemente diante de dilemas éticos e estratégicos, mesmo que as escolhas de diálogos sejam limitadas a duas opções.

Essa ideia de adquirir a “essência” alheia traz novas camadas para o jogo. Isso fica ainda mais interessante quando vamos conhecendo os personagens através de textos deixados pelos mapas. Quando finalmente os encontramos, ficamos curiosos para saber como a narrativa se utilizará deles, que são muito profundos e carregam consigo cargas totalmente distintas. Porém, aqui fica meu destaque para O Guardião, outro viajante que fica no hub principal. O estranho personagem (que não me é estranho), tem sua relação com nossa protagonista bem aprofundada, sendo extremamente complexa e ambígua, nos deixando sempre com um pé atrás. Com tudo isso, Cronos: The New Dawn deixa a gente fissurado no que virá à seguir.
Jogabilidade: poderia ser melhor…
Se a narrativa de Cronos: The New Dawn pode ser considerada a espinha dorsal, a jogabilidade talvez seja o músculo que dá movimento para a experiência. Porém, tem lá suas falhas. O combate é intenso, mas em alguns momentos acaba ficando truncado, algo ainda mais cruel misturado com as quedas de FPS que o jogo apresentou no PlayStation 5. Confesso que a corrida extremamente lerda da protagonista, a ausência de um movimento de esquiva e as travadas dadas ao longo dos mapas quase me fizeram desistir de jogar, mas fui persistente. Fora isso, a ideia do jogo não foge ao padrão, exigindo reflexos rápidos e tática, sobretudo pela limitação de balas e outros utensílios.
Essas dificuldades, somadas a minha péssima mira no Dualsense representaram momentos de muita, mas muuuuita tensão. Com isso, cada maldito inimigo derrotado não representava apenas uma vitória, mas também uma forma de me sentir desafiado pelo jogo, que traz constantemente a sensação de perigo. Para se ter uma ideia, algumas criaturas caídas podem simplesmente ser absorvidas por outras, em um processo de fusão, tornando-as ainda mais fortes e letais. Aí já viu, né!? Já estava difícil sem fundir, imagina fundindo? Esse sistema insano aumenta a tensão, nos fazendo decidir se queimamos o inimigo morto ou saímos no tiro com o que tiver de vir. Essa emoção de Cronos: The New Dawn é realmente singular.

Falando em inimigos, essas aberrações desgraçadas contam com estilos únicos. Existem os corredores, que avançam freneticamente em busca de um abate rápido; os que cospem ácido, nos forçando a agir rapidamente; os brutamontes, focados exclusivamente em nos arrebentar no meio; e outras criaturas mais fracas e furtivas, que mudam o ritmo do combate com emboscadas. Essa variedade garante que cada encontro seja diferente, exigindo adaptações constantes de estratégia.
Tudo isso é legal, não vou mentir, trazendo um nível de desafio que nos mantém ligados. Porém, a jogabilidade poderia ser mais refinada. Os movimentos são lentos demais, algo que pode até ser justificado pela armadura da viajante, é verdade, mas, nem por isso, precisava ser tão devagar. Sem uma mínima habilidade de esquiva, acaba sendo um sufoco só conseguir se safar de golpes de um inimigo corpo a corpo. Com os frames caindo, então, é quase uma penitência. Essas coisas são fáceis de se arrumar e, felizmente, não tiraram o brilho da minha experiência com Cronos: The New Dawn. Só dificultaram bastante… Por fim, os puzzles trazidos pelo jogo são bem tranquilos e não cortam a narrativa.

Questões audiovisuais
A experiência de Cronos: The New Dawn não seria a mesma sem sua direção artística e sonora. Alinhando todo o estilo brutalista tradicional da URSS com o retrofuturismo, tudo funciona muito bem. Porém, há muito mais em jogo. O estilo gráfico apresentado traz uma camada extra de tensão, seja pela escuridão enfrentada com uma lanterna, pela névoa em alguns ambientes ou os corredores estreitos repletos de carne e outras vísceras. Cada detalhe gráfico de Cronos: The New Dawn parece ter sido bem pensado. A ideia dos gráficos é a de ser realista, enfatizando toda a parte grotesca deste mundo e suas criaturas, que dialogam com luzes em diferentes tons e sons medonhos.
Aliás, falando da questão sonora, o jogo consegue se destacar imersivamente neste ponto. O tempo todo somos cercados de barulhos que nos obrigam a manter o nível de atenção constante, esperando por qualquer surpresa. Sons ambientais, como o eco de passos em corredores vazios ou os gritos distorcidos de inimigos em fusão, intensificam o clima de terror psicológico. A ideia do jump scare aqui é pouco utilizada, mas nem por isso o jogo deixa de causar arrepios. Soma-se isso a sua trilha sonora bem de fundo, que transita entre o sombrio e o minimalista, criando tensão em momentos de silêncio e explosão ao se iniciar confrontos.

Concluindo, os gráficos de Cronos: The New Dawn são bem agradáveis, embora não sejam totalmente de última geração. Porém, atendem perfeitamente ao que a proposta pede, com personagens muito bem desenhados e animados, inimigos assustadores (mesmo de bundinha de fora, haha) e um sistema de iluminação que transforma totalmente os ambientes, sobretudo em cenas que destacam o vermelho (você irá entender ao jogar). Somado ao áudio, tudo fica extremamente interessante para botar aquele clima de terror lá em cima, ainda que a proposta do jogo não seja exatamente nos dar sustos ou algo do gênero.
Vale a pena jogar Cronos: The New Dawn?
Chegou a hora de responder a fatídica pergunta: vale a pena jogar Cronos: The New Dawn? Olha, este é um jogo que me conquistou mais pela narrativa e toda a sua atmosfera. Se fosse pela jogabilidade, talvez eu não tivesse curtido tanto a experiência. Essa mistura entre o brutalismo da URSS e a pegada retrofuturista criaram uma identidade única. Some a isso a narrativa cinematográfica e carregada de simbolismos, que nos coloca entre idas e vindas no tempo, diante de dilemas que envolvem sobrevivência, sacrifício e escolhas éticas. Ainda que o ritmo inicial possa parecer lento, a paciência é recompensada por uma trama profunda, capaz de prender a atenção até o final, tendo pra lá de 14 horas de narrativa.
Um ponto de destaque me Cronos: The New Dawn é a integração entre história e mecânicas. A extração de essências, por exemplo, adiciona camadas narrativas e emocionais únicas, nos fazendo questionar o tempo todo qual é o nosso objetivo com isso. Além disso, a presença de personagens marcantes reforça a complexidade dessa jornada, que nos mantém atentos para o que virá a seguir. É claro que nem tudo é perfeito: a jogabilidade, por vezes lenta e prejudicada por quedas de desempenho, pode frustrar em alguns momentos, sobretudo contra muitos inimigos. Mas, mesmo assim, o sistema de combate estratégico e o design variado de inimigos conseguem manter a adrenalina alta e o senso de perigo constante.
Por fim, a direção audiovisual fecha a experiência com chave de ouro. Os cenários realistas, os detalhes grotescos, a iluminação dramática e a trilha sonora inquietante criam um ambiente imersivo, que valoriza o clima de terror psicológico sem depender de sustos fáceis. Apesar de ter suas falhas técnicas pontuais, Cronos: The New Dawn entrega uma experiência intensa e memorável, que mistura ação, tensão e profundidade narrativa de forma envolvente. Portanto, sim: vale muito a pena jogar este título, especialmente se você curte um survival horror diferente, desafiador e cheio de identidade.
*Review elaborada em um PlayStation 5, com código fornecido pela Bloober Team.
Cronos: The New Dawn
R$ 339,90Prós
- Legendado em português brasileiro
- Ambientação imersiva, trazendo uma sensação de tensão constante
- Gerenciamento de recursos e espaços dão mais amplitude para o clima de sobrevivência
- Inimigos desafiadores na medida certa
Contras
- Desempenho no PlayStation 5 acabou deixando a desejar, comprometendo um pouco a jogabilidade
- Jogabilidade poderia ser um pouco mais refinada


