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Cross the Moon | Review

Histórias envolvendo vampiros sempre foram intrigantes. Desde o lançamento de Drácula, de Bram Stoker em 1897, as criaturas sobrenaturais bebedoras de sangue foram se tornado cada vez mais populares, gerando várias adaptações no cinema, TV e até mesmo nos games. Entretanto, embora tenhamos grande títulos como Castlevania e Vampire: The Masquerade – Bloodlines, as criaturas da noite ainda não possuem uma presença tão forte no mundo dos jogos, principalmente se compararmos com os zumbis.

Assim sendo, logo que vi a oportunidade de fazer a review para o Pizza Fria de um game que apresenta uma narrativa inédita envolvendo vampiros, não perdi a chance e pulei de cabeça nesta aventura. Cross The Moon é um visual novel linear desenvolvido por Patrick Rainville que foi lançado no dia 18 de junho para Nintendo Switch, Xbox One, Xbox Series X|S, PlayStation 4 e PlayStation 5, sendo que o título também está disponível no PC, via Steam.

Uma história que começa bem

Cross The Moon começa com um narrador misterioso nos falando sobre o quanto a lua e seus fragmentos são fascinantes, como seu brilho consegue ser diferente a cada noite que se passa, sendo algo especial. Logo após isso, nossa história começa apresentando o primeiro protagonista, Lux. O personagem está trabalhando em um bar de uma boate noturna, e observando a distancia seu amigo se divertindo com a nova namorada. Ele aparenta estar chateado com está situação, pois não aprova o novo relacionamento que seu parceiro está envolvido. Depois de sermos apresentados a está situação, um homem se aproxima da mesa do bar e pede uma bebida.

Neste momento, é revelado que Lux, na verdade, é um vampiro e os dois começam a conversar. A conversa não demora muito para chegar no amigo do protagonista, assim , ele e o humano misterioso começam a ter uma conversa bem filosófica sobre a sociedade em que vivem. Depois de um tempo, mudamos para uma cena em que Lux e seus amigos decidiram se alimentar deste humano, de forma consentida, pois o homem queria passar pela experiência de ser mordido por vampiros.

Cross the Moon
A luz de um luar, sendo o cenário perfeito para o narrador iniciar a narrativa (Imagem: Reprodução)

Durante este período de alimentação dos personagens, o homem caído no chão começa a falar coisas sem sentido, entretanto isto é totalmente ignorado pelas criaturas sobrenaturais. Neste momento, temos uma pequena amostra de como Lux não se dá nada bem com a namorada de seu amigo, sendo que eles quase começam uma discussão ali em cima do cara que estão se alimentando. Enquanto o tempo passa, eles decidem ir para um terraço tomar um ar, largando o corpo do homem ali no chão. Entretanto, ao voltarem, o corpo do humano tinha desaparecido.

Após este acontecimento, eles voltam para suas vidas normais e fingem que nada aconteceu. Porém, no dia seguinte o corpo deste homem é encontrado em um córrego de uma maneira bizarra e misteriosa, tudo indicando que ele pode ter participado de algum ritual sobrenatural. Neste ponto, a história começa, iremos assumir a perspectiva de diversos personagens diferentes na narrativa, sendo que em algum ponto elas vão se conectar para levar a um ponto de ruptura.

Cross the Moon
A história começa pra valer depois de um assassinato misterioso (Imagem: Reprodução)

Uma sociedade de vampiros e humanos

A parte mais interessante de Cross The Moon é o mundo apresentado. Pois temos aqui uma sociedade em que os vampiros e humanos convivem entre si, porém não de uma forma muito amigável. Assim, pessoas tratam as criaturas sobrenaturais como se eles tivessem uma espécie de doença contagiosa. Com este fator presente, os vamps são isolados em uma comunidade separada dos seres humanos, tendo seus próprios costumes e objetivos. Alguns dos vampiros seguem os costumes tradicionais, com uma grande parte deles dormindo durante o dia e trabalhando a noite em minas.

Além disso, também temos presente no game uma grande corporação que domina o mercado de sangue sintético. Usando um discurso humanitário a favor da harmonia na sociedade, está empresa conseguiu lucrar muito dinheiro vendendo uma versão artificial de sangue, produto que deveria diminuir a necessidade dos vampiros se alimentarem de seres humanos. Embora o discurso da companhia inicialmente pareça algo bom, ela na verdade esconde diversos segredos que são revelados durante a história, momentos em que descobrimos mais sobre a origem dos vamps.

Drama de vampiros adolescentes

Embora tenhamos um mundo que apresente diversos conceitos interessantes de uma sociedade com criaturas sobrenaturais, a narrativa prefere seguir em sua maior parte a história de Lux, Aurore e seus amigos. Embora os personagens tenham uma profundidade, como por exemplo a trajetória de Lux e seus questionamentos sobre estar apaixonado por seu melhor amigo, em grande parte da história eu sentia que o game estava deixando de focar no que realmente importa. Para exemplificar, temos uma situação em que está acontecendo uma investigação que aparenta estar próxima de grandes revelações, entretanto quando o momento chega… voltamos para Lux e seus dramas adolescentes.

Alguns personagens se destacam

Embora Cross The Moon foque a maior parte da narrativa em Lux, que é o personagem menos interessante do game, temos outros personagens que se destacam. Entre eles temos Aurore, a irmã de Lux. Ela é inteligente e focada no que quer, tendo como objetivo primário logo no inicio da história de conseguir um emprego na grande corporação da cidade. Esta sua meta não é bem vista por alguns membros de sua família, pois eles consideram que ela está entrando em um terreno perigoso e deveria seguir o rumo padrão dos vampiros nas minas.

Eu logo consegui me identificar com a personagem, pois todos nós quando éramos jovens passamos por momentos em que temos que tomar alguma decisão importante, a escolha de uma faculdade por exemplo, e nem sempre nossas escolhas estão alinhadas com o pensamento de nossos pais.

Cross the Moon
Aurore é uma das melhores personagens do game, pois seus dilemas são facilmente compreendidos pelo jogador (Imagem: Reprodução)

Nestes poucos momentos da narrativa, Cross The Moon foi incrível na minha experiência. Pois o game se esforça tanto em estabelecer histórias de triângulos amorosos, drama adolescente…. entretanto acaba deixando de lado o desenvolvimento de pequenas narrativas que na minha visão seriam infinitamente melhores, como núcleos familiares e a situação da sociedade em si.

Outra personagem que aparece bem pouco, porém logo se destacou é a prima de Lux. Inclusive, ela faz parte de uma banda que toca pelo mundo todo e ocasionalmente faz shows na cidade de sua família. Sempre que ela aparece, traz presentes de diversos locais para Lux, sendo que desta vez ela trouxe discos das bandas que seu primo gosta. Seu papel narrativo aqui basicamente é apresentar um grupo de vampiros rebeldes que será importante na história, entretanto é interessante notar como uma personagem que apareceu brevemente conseguiu ser mais intrigante do que Lux durante toda o jogo.

Cross the Moon
O jeito que a Aziliz usa um tapa olho é diferente….. (Imagem: Reprodução)

Ainda existem diversos outros personagens que eu poderia citar, pois estamos falando de um visual novel linear, ou seja, não temos aqui elementos de gameplay além de apertar A e nem escolhas durante a história. Sendo assim, o game passa a sensação de assistir um filme. Porém, em determinados momentos aparecem colecionáveis na tela, normalmente um símbolo dentro de uma xicara de café. Quando isso acontece, devemos apertar B para então liberarmos um arquivo de texto que conta mais detalhes da narrativa e do mundo apresentado.

Um mistério que não empolga

Outro fator importante que deve ser dito, é que Cross The Moon não conseguiu me empolgar no mistério que apresentou. Embora sejam mostradas diversas reviravoltas durante a campanha, pela falta de foco da narrativa, elas acabaram perdendo seu impacto. Assim sendo, na reta final quando as peças deveriam começar a se encaixar e as respostas finalmente aparecerem….. o resultado acaba não sendo satisfatório. Está situação acaba causando um sentimento que todo o desenvolvimento dos personagens ao decorrer do game não levou a lugar nenhum.

Um gráfico simples, porém incrível

Um dos grandes destaques do título é o seu visual. O game embora tenha gráficos simples, consegue apresentar de uma forma sensacional um ambiente gótico em que vampiros são presentes. Temos aqui boates noturnas com vamps sempre a espreita, ambientes escuros que passam uma sensação de imersão naquele mundo, principalmente quando a lua está presente.

Cross the Moon
Embora tenha um gráfico simples, o game consegue impressionar com o seu visual (Imagem: Reprodução)

Além disso, o game consegue fazer bom uso das animações em momentos de ação, pois por termos aqui um visual simples, para os acontecimentos causarem impacto é usado um sistema de tremulação. Para exemplificar, temos uma situação em que está acontecendo uma discussão, em momentos de frases agressivas a tela dá uma tremida, o que mostra que aquela ação teve agressividade.

O título também consegue apresentar ambientes muito variados. Entre alguns deles temos, casas, boates noturnas, escolas e até mesmo um local com visual gótico que serve como casa para vampiros perdidos. Todos estes locais são muito bem detalhados e conseguem passar um sentimento de imersão, o que acaba tornando as situações presentes nestes lugares mais interessantes.

Ótimo uso da trilha sonora

Cross The Moon consegue fazer um ótimo uso da sua trilha sonora. Em momentos de diálogos, temos uma trilha mais calma para conseguirmos acompanhar as conversas com bastante atenção. Entretanto, quando a ação começa uma música mais agitada toca, com o objetivo de empolgar o jogador. Eu admito que achei a trilha dos momentos de ação bem medianas em comparação com as outras. No geral, as músicas mais interessantes foram as que tocam durante interações em boates ou bares.

Em relação aos sons ambientes, o game não apresenta esse tipo de efeito sonoro com muita frequência. Normalmente ele acontece apenas em momentos que alguma ação importante é realizada, como por exemplo um barulho de tiro ou ataque.

Vale a pena comprar Cross The Moon?

Cross The Moon não apresenta nada de novo em relação as histórias de vampiros que já conhecemos. Embora o game apresente diversas propostas narrativas interessantes, como uma sociedade em que vamps e humanos vivem em conjunto, a história segue um outro caminho com foco em drama de adolescentes sobrenaturais.

Outro fator que deve ser levado em consideração é que não existem elementos de escolha e nem gameplay. Portanto, durante o game o foco é totalmente na narrativa, e em alguns momentos ela consegue ser bem devagar, o que pode incomodar os jogadores que querem que algo importante aconteça logo.

Entretanto, a ambientação a trilha sonora conseguem tornar a experiência bem agradável, até mesmo nos momentos em que não está acontecendo nada de muito relevante.

Assim sendo, eu recomendo o título para os fãs de visual novel e de histórias envolvendo vampiros, pois é nos momentos em que Cross The Moon foca em sua mitologia sobrenatural que as coisas realmente brilham.

*Review elaborada em um Xbox Series S, com código fornecido pela Ratalaika Games.

Cross the Moon

R$18,45
6.5

História

6.0/10

Gameplay

6.0/10

Gráficos e Sons

8.0/10

Extras

6.0/10

Prós

  • Questionamentos sobre a sociedade
  • Vampiros
  • Ambientação
  • Trilha Sonora
  • Aziliz Amanite

Contras

  • História sem foco
  • Drama adolescente
  • O protagonista é o personagem menos interessante
  • O mistério não empolga
  • Sem localização em PT-BR

Leandro Paiva

Um estudante de jornalismo e o primeiro estagiário do site. Degustador nato de coxinha e pizza fria com ketchup. Amante de RPG, principalmente aqueles em que é possível pescar em vez de fazer a missão principal. Piadista em tempo integral e um grande degustador de café. Defensor de Birds of Prey e da DC em geral nas horas vagas.