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Gamedec | Review

Gamedec é um RPG isométrico desenvolvido pela Anshar Studios e publicado pela Anshar Publishing. Ambientado em um universo cyberpunk, com algumas pitadas de noir para temperar, o jogo nos coloca no capote surrado de um Gamedec, um detetive que resolve crimes e outros mistérios misteriosos dentro do universo dos videojogos eletrônicos. Não, sério.

Curioso para saber sobre o que se trata essa parada, e se ela vale o preço de nossa investigação? Pois venham comigo em mais essa empreitada do Pizza Fria!

Videojogos misteriosos

É chegado o dia, leitora. Finalmente. No passado estão meus dias de jogador por hobbie, no mundo da luz, do sol e dos unicórnios. Não mais, leitor! Agora sou um detetive casca-grossa, com um escritório sombrio em uma parte barra pesada da cidade. Com o controle mais nervoso da região. Ou, como falam nas ruas, um Gamedec. É a nova era.

E agora, tão logo abri meu email, vi uma mensagem de uns camaradas de um tal Pizza Fria, me solicitando a investigação sobre o nível de maravilhidade (palavra usada no ramo, confia) de um título chamado – curiosamente- Gamedec. Admito que meus instintos de investigador ficaram aguçados. Primeiro, pelo nome da parada e de minha profissão serem iguais. Segundo, por ser tratar de um RPG focado em história. Sensacional.

Falando sério agora, admito que fiquei deveras intrigado com a proposta da parada. Um detetive vivendo em um mundo cyberpunk, com toques de noir, que tem por profissão desvendar crimes e desaparecimentos de pessoas dentro dos universos virtuais de videojogos. O tipo de gente que contratariam, por exemplo, para descobrir onde estão todos os jogadores que sumiram em Sword Art Online. Ou, ainda, onde fui parar depois de começar a jogar Stardew Valley. Perguntas e mais perguntas.

Gamedec
Mais um dia ruim do lado errado da cidade. (Imagem: Divulgação)

Comecemos pela história. Gamedec nos coloca no papel de um detetive de videojogos eletrônicos , criado por nós, que vive uma existência relativamente miserável em Warsaw City no século 22. Aparentemente, viver na penúria e com boletos atrasados não é uma alegria exclusiva de nossa geração. Fascinante! De todo modo, um trampo acaba aparecendo e nos vemos envolvidos na busca de um rapaz que desapareceu em um MMO, digamos, um pouco não ortodoxo.

Um caso leva até outro, e acabamos nos vendo amarrados em intrigas maiores do que apenas trolls ou cheaters zoando com o frifas da galera no fim de semana. Devo admitir que fiquei bem amarrado por quase toda duração da história, ainda que tenha me perdido um pouco para o final. De toda forma, a maioria dos personagens, situações e diálogos são bem escritos e agradam.

E a escrita precisa ser boa. Afinal, Gamedec é um jogo (como bem evidenciado pelo manual) puramente narrativo. Não há grandes combates, frases de efeitos, pé na cara ou soco na porta. Não senhores e senhoras, quase tudo é resolvido no bom e velho diálogo. Ou variações dele, de todo modo. As poucas altercações são resolvidas escolhendo opções, sem envolver nenhuma complexidade. Mas não pensem que não temos mecânicas.

Gamedec
Ainda vamos conversar um bocado. (Imagem: Reprodução)

Cada MMO que visitamos conta com uma mecânica específica. Um deles, por exemplo, funciona como uma versão imersiva de simuladores de fazendinha (meio Harvestella), na qual devemos colher e plantar algumas coisas como parte de nossa investigação. Em outra, baseada em um Japão feudal, precisamos realizar tarefas para entrar em um clã. Algumas funcionam melhores que as outras, mas não podemos dizer que faltem tentativas.

Além disso, Gamedec tem como trunfo o sistema de profissões e deduções. Saquem só, cada resposta que damos permite que ganhemos pontos em 4 atributos diferentes, que podem ser utilizados para liberar uma profissão. Cada uma delas dá acesso à diálogos e ações específicas para facilitar nossa vida. Isso é bom, mas por vezes nos vemos tomando decisões contrárias ao que faríamos apenas para ganhar esses pontinhos para levar nossa especialização para um lado ou outro. Em um jogo focado em roleplay, forçar-nos a agir fora de personagem é um pouco chato.

A segunda mecânica é da dedução. Enquanto papeamos e investigamos, juntamos uma série de pistas. Elas são organizadas em uma tela com pequenos nodes, contendo nossa hipótese sobre determinado fato. Quem matou, como, essas coisas. Podemos deduzir de maneira correta ou não, o que muda a forma que determinadas coisas acontecem e os finais de cada caso. Isso é chique demais, e me vi pensando em jogar de novo para pensar no que ocorreria caso eu deduzisse algo de forma A ou B. As escolhas fazem diferença, e reverberam em casos futuros.

Fora isso, precisamos andar e clicar em tudo que estiver na tela para saber o que anda rolando pelo pedaço. É tudo bem simples e intuitivo, mas o personagem tem um hábito de agarrar em alguns lugares e senti falta de uma opção de mostrar tudo que pode ser interagido de uma vez, ao estilo de Shadowrun por exemplo. Bom, se há a opção não encontrei caçando pelo menu e pela configuração de controles.

Gamedec
Xeroque Rolmes 2077. (Imagem: Divulgação)

Sons e Visuais

Gamedec conta com visuais bonitos, com mundos variados e artes bem feitas para os personagens, tanto nos jogáveis quanto nos NPCs. Gostei demais de como juntaram a estética cyber com a noir, e me peguei pensando como poderia ser quase uma ode a Blade Runner. Ficou muito bem casado com a câmera isométrica, e desempenhou o papel com gosto.

A sonoplastia é OK, com algumas vozes salpicadas aqui e ali e alguns efeitos. Mas nada demais. A música também é mediana, com faixas simples mas bem encaixadas com o tema de cada caso. Não ouvi nada que vá me causar lembranças, e achei que faltou um certo tranco em alguns momentos, quando a música que tocava era algo quase meditativo.

Gamedec
A disparidade entre os visuais dos cenários e casos de Gamedec é interessante. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Gamedec?

É chegada a hora, caras e caros clientes. Vejamos se Gamedec vai entregar o que prometemos, ou se nos largará sozinhos e deprimidos na fria chuva de uma noite de inverno. Peguemos os dados e analisemos, então. Antes de mais nada, é preciso saber que esse é um título puramente narrativo. Então, espere mais leitura constante do que tiros e bombas.

A história é bem escrita, com personagens interessantes e situações inusitadas. Ainda que ela perca força para o final, achei que a experiência como um todo foi boa e que as decisões tiveram um impacto real. Fora isso, o jogo implementa bem uma mecânica de evolução do personagem baseado nessas decisões, ainda que ele force um pouco a mão para irmos em determinadas direções. Fora isso, cada caso tem uma pegada diferente de jogabilidade, algumas melhores e outras não. O visual é chique, mas o som não acompanha tanto assim.

Ao fim e ao cabo, lindezas, eu me agradei bastante de Gamedec e até pretendo jogar novamente para ver no que dariam outras decisões. Ele pode ficar meio enfadonho em um momento, mas nada que quebre a banca. Os visuais são legais, as escolhas tem peso e o tema é bem singular. Contudo, ele é restrito para aqueles que manjem de inglês, porquê não veio traduzido para o nosso Brasil. Uma lástima. Mas, de todo modo, recomendo.

Gamedec já está disponível para PC, via Steam, e Nintendo Switch, e estará gratuito na Epic Games Store entre os dias 12 e 19 de janeiro de 2023.

*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce GTX, com código fornecido pela Anshar Studios.

Gamedec

+ R$ 57,99
8

História

8.0/10

Jogabilidade

8.0/10

Sons e Visuais

7.0/10

Extras

9.0/10

Prós

  • Visuais muito legais e bem realizados
  • Premissa única e bem explorada
  • Variedade de mecânicas para cada caso, mesmo que algumas não sejam tão felizes
  • Escolhas apresentam consequências em curto e longo prazo
  • Sistema de dedução, profissão e as decisões convidam a um bis

Contras

  • Som abaixo da média, com músicas básicas e um tanto sem sal
  • Seria interessante ver tudo interativo de uma vez só. Se há, não é de fácil acesso
  • Um jogo narrativo como esse sem tradução limita muito o público

Matheus Jenevain

    Redator de idade não especificada e habilidade excepcional (segundo o próprio, acredite se quiser). Curte Metroidvanias, RPGs e jogos de luta. Reza toda noite, intensamente, para receber um remake de God Hand. Nunca foi atendido.