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Hela | Preview

Na breve apresentação de Hela, o diretor criativo Martin Sahlin comentou que o sueco tem duas palavras para jogar – cada uma expressa a mesma ideia central, do jogo, mas com sentidos diferentes. A primeira é “spela”, que significa jogar conforme as regras, com o objetivo de vencer; a outra, “leka” seria jogar pelo puro prazer da descoberta. Talvez sejam as equivalentes em outra língua para o nosso “jogar” e “brincar”. Em todo caso, é sob o espírito de “leka” que Hela, da Windup Games, surge – um antídoto contra a indústria de games obcecada por listas de tarefas e urgências apocalípticas.

A sessão de gameplay de Hela foi uma transmissão por Discord uma semana antes da gamescom 2025, no dia 14 de agosto. Entre os fundadores do estúdio estão os criadores de Unravel (2016) e de Unravel Two (2018). Qual a visão em comum dos veteranos sobre todos estes jogos? As belas paisagens de bosques escandinavos e o uso peculiar da luz para valorizar a composição ao ar livre de forma a misturar personagens fantásticos em cenários aparentemente reais.

Hela, um jogo cooperativo e aconchegante

Para Sahlin, quem conduziu quase todo o evento, o título é seu projeto mais ambicioso: um jogo de aventura cooperativo em mundo aberto onde você é um rato com mochila mágica de sapo, ajudando uma bruxa milenar a cuidar de um ecossistema frágil. Tudo sem mortes, combate ou contagens regressivas. A bruxa adoeceu e precisa de seu exército de roedores para espalhar boas ações por aí.

Embora o vídeo tivesse muitos dos visuais em estágio pre-alpha, Hela parece promissor em todos os aspectos: visuais belíssimos; uma história de wholesome game para nos guiar por montes de quebra-cabeças sem punição, somente decifrar a ideia, então tentativa e erro; jogo cooperativo online para até quatro pessoas, ou offline com tela dividida para duas – em todos os sistemas.

Assim como os jogos Unravel, a ambientação é um triunfo: florestas escandinavas com essas luzes filtradas, cheias de teias de orvalho e cogumelos que servem de trampolins para os ratolinos. Mas a genialidade está na escala. Diminuto como como um rato, um tronco caído vira uma imensa ponte, uma xícara quebrada transforma-se numa catedral – e tudo convida à exploração lúdica. 

As mochilas de sapinho são mágicas, como as bolsas do gato Félix: os ratinhos tiram cordas que se prendem a animais, cordas suspensas e muitos apetrechos.
As mochilas de sapinho são mágicas, como a bolsa do gato Félix: os ratinhos tiram cordas que se prendem a animais, cordas suspensas e muitos apetrechos. (Imagem: Divulgação)

Martin é enfático: “Nos inspiramos no folclore nórdico, mas abandonamos seu lado sombrio. Aqui, a floresta não quer matar você como muitos dos nossos contos. Ela quer que você a preserve”. Pelo que ele disse, a bruxa é a comandante e distribui tarefas. No corpo da equipe de ratinhos, a jogabilidade ganha vida a depender se você joga sozinho ou com mais alguém.

Brincar em companhia

Aliás, parece que a proposta é mesmo um manifesto para brincar em companhia, pois a primeira mecânica revelada foi a das mochilas mágicas em forma de sapinhos que criam ganchos, cordas-bambas e trampolins – ferramentas para transformar os obstáculos em brincadeiras. Um exemplo disso foi o ratinho laçar sua nova amiga lebre para aproveitar a carona – puxado pela lebre, seu ratinho fica esvoaçante na ponta da corda enquanto você controla a direção para superar o desafio de atravessar por argolas pelo circuito.

Possivelmente, a habilidade principal do jogo para equipes sem quatro ratinhos é o uso das sombras imaginárias: Em modo solo, você invoca “clones” para resolver puzzles cooperativos. Odeio ser referencial, mas seria como tocar a Song of Eulogy em Majora’s Mask: você posiciona cópias para ocupar dois, três ou até mesmo quatro espaços ao mesmo tempo e solucionar os quebra-cabeças. A demonstração mostrou certa variedade, desde desafios nos quais cada ratinho precisava alcançar pedras diferentes simultaneamente com saltos até desafios em movimento.

Hela traz belas paisagens escandinavas, origem de seus criadores. (Imagem: Divulgação)
Hela traz belas paisagens escandinavas, origem de seus criadores. (Imagem: Divulgação)

A recompensa é a benfeitoria da gentileza, pois as memórias das pessoas ajudadas são reconstruídas – nada de enigmas sangrentos. Hela tem sua motivação na empatia de curar a bruxa, uma tarefa que requer entender as criaturas da floresta.

E, como comentei da lebre, os animais estão lá para criarmos amizade com eles. A natureza faz da fauna professores e veículos. Corra com esquilos para ganhar agilidade e aprender a planar, suborne alces com dentes-de-leão para ter uma espécie (desculpe) de “táxi florestal”, ou forme uma corrente de ratos montados em pássaros.

Cooperação no centro da experiência

Hela se mostra um título promissor em um dos meus quesitos favoritos para um jogo: ser cooperativo. O título deve atrair igualmente fãs de It Takes Two, Stardew Valley e Unravel Two. Quem sabe até quem gostava de fazer as incursões de Destiny.

E o multiplayer tem tudo para ser uma experiência orgânica. Até quatro jogadores online (ou dois locais) exploram livremente, com habilidades que se complementam: um constrói uma ponte enquanto outro segue outro rumo e se balança de um cipó para alcançar cogumelos raros. E o número de jogadores não afeta a tarefa: segundo o diretor criativo, “os puzzles foram projetados para funcionar com uma ou com quatro pessoas. As ‘sombras’ são muletas criativas, não downgrade”. Portanto, a mudança na quantidade de pessoas talvez só afete a bagunça.

Cooperação entre amigos e pequenos roedores é a palavra-chave do jogo. (Imagem: Divulgação)
Cooperação entre amigos e pequenos roedores é a palavra-chave do jogo. (Imagem: Divulgação)

Parte do objetivo da equipe é coletar objetos reluzentes para alimentar o caldeirão da bruxa. Ficamos à espera para ver como a história vai se desenvolver e para saber se o jogo estará em português do Brasil quando sair, em data a ser confirmada. Entre outras recompensas, estão chapéus e roupas para seu rato – afinal, disseram na transmissão que “um animal fofo é melhor ainda com um chapeuzinho”. E sem microtransações, já que tudo se acha na floresta.

Entre as vozes dos interlocutores e os sons provisórios, não deu para perceber muito da parte sonora, uma vez que a compilação da prévia ainda não contava com temas e efeitos sonoros finais. Contudo, dados o escopo deste título e o cuidado dos criadores em obras anteriores, dá pra imaginar coisa boa vindo aí.

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Resolva puzzles sozinho, entre duas pessoas no mesmo sistema ou com até quatro pessoas online. (Imagem: Divulgação)

Destaque na gamescom 2025

Na véspera da feira de 2025, que vai rolar até o dia 24 de agosto, Hela recebeu três indicações ao prêmio gamescom: Melhor Jogabilidade, Mais Divertido e Mais Acolhedor (no original em inglês, Best Gameplay, Most Entertaining e Most Wholesome). A equipe da Windup Games estará presente na cabine Indie Arena, onde os visitantes terão a chance de experimentar o jogo e conversar com os desenvolvedores.

A campanha de divulgação convida os fãs a votarem online – e, como diz o estúdio, “a bruxa e seus ratinhos agradecem cada voto”. A nomeação reforça o que já me parecia evidente: Hela é uma aventura que aposta na empatia, na cooperação e na leveza como forças transformadoras, e talvez por isso tenha conquistado espaço entre os destaques da feira.

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Venho reforçar o valor dessas mochilas mágicas de sapinhos. E as belas paisagens da natureza sueca. (Imagem: Divulgação)

O que esperar de Hela?

Hela pode ser mais ousado do que parece: por trás da estética adorável e dos promissores visuais, notei uma filosofia criativa no pessoal da Windup Games e me aproprio das curiosas palavras suecas em sua versão para a língua portuguesa: sem urgência, Hela convida um grupo de amigos – sejam dois, sejam três ou mesmo quatro – a brincar como um ratinho em situações benevolentes por composições naturais e iluminadas. Este mundo aberto parece carregar uma não-linearidade “cuidadosa”, pois missões são sugestões, não obrigações.

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Como é que ela chegou lá em cima? Exploração é apenas uma fração das atividades. (Imagem: Divulgação)

Hela está previsto para ser lançado em todas as plataformas em 2026, publicado pela Knights Peak, mas a prévia já plantou a semente: em tempos de atividades hipercompetitivas, o título aposta que cooperar regando flores pode ser tão viciante quanto explodir planetas. “Queremos que atravessar um rio seja tão divertido quanto derrotar um chefe. Afinal, qual criança pensa em ‘objetivos’ quando brinca?”, questionou Martin próximo do fim da sessão.

Não quero me adiantar e dizer que temos um super jogo aconchegante, mas, da minha parte, por parecer essa aventura de temática leve e em conjunto, já listei Hela como um daqueles títulos obrigatórios de lançamento. Se quiser ficar de olho, a página oficial de Hela está no ar. O jogo já conta com páginas na Steam, PlayStation Store e Xbox Store. Resta apenas chegar à loja digital da Nintendo. O game, porém, foi confirmado para Nintendo Switch 2 na Nintendo Direct: Partner Showcase de julho de 2025.

*Preview elaborada após um hands-off à convite da Knights Peak.

Carlos Maestre

Jornalista que mergulhou na pesquisa de acessibilidade digital graças à eterna necessidade de inverter o eixo Y - hábito cultivado desde GoldenEye 007. Cresceu com a Nintendo e já teve mais entusiasmo pela Microsoft; no fundo, ainda espera reencontrar a Rare de outros tempos. Entre caçadas por conquistas e sessões intermináveis de Stardew Valley, vive sob a ameaça de uma intervenção a qualquer momento por culpa de suas fazendas virtuais.