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Hell Clock | Review

Hell Clock é um jogo de ação isométrico, com foco em hack and slash e mecânicas roguelike, desenvolvido pela Rogue Snail e publicado pela Mad Mushroom. Nele controlamos Pajeú, um sertanejo de Canudos que bate de frente com todo tipo de bizarrice, deste mundo e do outro, em sua jornada para resgatar seu mentor Antônio Conselheiro. Inusitado, não é mesmo?

Mas e aí, será que vale a pena encarar essa missão? É o que saberemos agora, em mais uma adorável análise do Pizza Fria!

Revivendo a história (mais ou menos)

O Brasil, leitores e leitoras deste que pode ser considerado o site mais incrível desta bela nação, é um país com uma história longa e cheia de bons momentos. Ainda que se focar nas desgraças e dores de cabeça seja mais prático e comum, principalmente se você for um camarada ranzinza como eu. Mas, de toda forma, ainda acho que temos muita coisa boa para nos orgulhar, tanto pelo nosso povo quanto pela terra em que pisamos todo santo dia.

Mas, infelizmente, nem tudo são flores. A história brasileira também conta algumas narrativas bem tristes que nos assombram até hoje, mesmo décadas ou séculos após seu acontecimento. Uma delas, a mais importante para nosso jogo de hoje, foi conhecida como a guerra de Canudos, na qual milhares de pessoas foram mortas, no sertão, pelas forças nacionais no final do século XIX. Acontecimento esse, inclusive, que serve como inspiração para um clássico da literatura brasileira conhecido como Os Sertões, de Euclides da Cunha.

Mas o que tudo isso tem a ver com videojogos, vocês devem estar se perguntando. Oras, tudo! Hell Clock, nosso jogo de hoje, se passa precisamente nesse período conturbado de nossa história, inclusive contando com personagens da época e acontecimentos reais. Quer dizer, menos os demônios, magias e outras coisas do tipo. Sabem como é, não é mesmo?

Hell Clock
Vamos buscar a review, compadre. (Imagem: Divulgação)

História

Hell Clock acompanha a jornada de Pajeú, um guerreiro e sobrevivente do massacre de Canudos. Nosso amigo foi um dos poucos que salvaram daquele pesadelo, e acordo apenas para descobrir a extensão da tragédia e que seu mentor, Antônio Conselheiro, desapareceu no meio da bagunça. Após perceber que o Conselheiro pode ter sido levado pelo submundo, Pajeú decidi encarar o problema e salvar o bom homem.

Eu curti demais a premissa do jogo, tanto pela sua originalidade quanto pela proposta de explorar um acontecimento tão sensível de nossa história coletiva. O jogo não pisa no freio ao mostrar os efeitos do massacre, tanto nos poucos sobreviventes que vemos quanto no próprio Pajeú, e acredito que sirva como um bom lembrete para não nos esquecermos do passado e para nos interessarmos por conhecer o que, de fato, aconteceu.

Contudo, acredito que Hell Clock poderia ter ido ainda mais longe neste quesito. Ainda que o jogo use esse período de pano de fundo, ele é mais focado na aventura de Pajeú e sua busca por Antônio Conselheiro, encontrando algumas pessoas apenas nesse meio tempo. Talvez seria interessante mostrar além, principalmente tendo em vista a riqueza de relatos do período e as oportunidades que ficam em aberto.

Hell Clock
Aonde está, Conselheiro? (Imagem: Divulgação)

Jogabilidade

Hell Clock é, em sua forma mais básica, um roguelike de ação com visão isométrica no qual vamos lutando contra uma série de inimigos, reunindo experiência e mais habilidades, até chegarmos no grande chefão. Se morrermos perdemos tudo e voltamos do começo, mas com alguma moeda para gastar e deixar nosso boneco mais forte de uma maneira permanente. Além disso, podemos comprar alguns itens, equipamentos e habilidades que deixam nossa jornada mais fácil de pouquinho em pouquinho.

Pajeú começa com algumas habilidades simples que podem ser colocadas nos botões de ação do controle, e gatilhos, conforme desejarmos. Começamos apenas com algumas poucas, mas vamos liberando mais conforme vencemos chefes e avançamos em nossa jornada. Elas possuem diversos efeitos, mas geralmente se enquadram em dano puro, dano em área, controle de grupo, invocações e alguma proteção para nosso herói. Saber quais usar, e como montar uma build de sucesso, é essencial para ir longe.

Além disso, Hell Clock permite que ajustemos os níveis de cada habilidade individualmente. Isso é uma faca de dois legumes, porque algumas delas ganham um aumento significativo de dano e, proporcionalmente, de gasto dos nossos recursos. Saber quais manter em que nível também é algo importante. Afinal, para que manter uma skill de dano contínuo com um DPS monstro se não temos energia para manter ela batendo muito tempo? Estratégias, leitores e leitoras. Estratégias.

O jogo realmente nos dá uma boa variedade na forma de montar nosso boneco, algo que se torna ainda mais crítico ao vermos que os inimigos tomam muito dano antes de morrer, principalmente quando estamos começando um novo ato. Isso é um pouco enjoado, visto que temos tempo para completar cada run e alguns deles nos prendem um bocado. Contudo, isso acaba por gerar uma tensão e urgência, somado ao relógio dos infernos, que faz o jogo se tornar um tanto quanto emocionante.

Hell Clock
A build da girada é quebrada. (Imagem: Divulgação)

Em se tratando de melhorias, Hell Clock nos permite gastar a experiência que acumulamos em cada run de maneiras diferentes. Inicialmente, podemos utilizar nossa grana para comprar alguns itens que melhoram os atributos básicos de Pajeú, tendo seus valores randomizados para nos fazer contar um pouquinho com o apoio divino.

Depois, temos uma árvore de evoluções bem legal focada, em sua maioria, na melhoria de nossas capacidades de dano, velocidade de ataque, o nível máximo que podemos colocar nossas habilidades, o tempo máximo de cada tentativa, e por aí vai. Ela é simples, mas ao menos nos dá uma sensação real de progresso e facilita a vida do jogador sempre que conseguimos melhorar algo.

Outro gasto de Hell Clock são as relíquias, itens que podemos equipar e conferem modificadores interessantes para as habilidades de Pajeú. Por exemplo, uma peixeira muda o dano base de uma skill para trovão, fazendo com que nosso herói saia rodando e lascando raios na cabeça de qualquer um doido o suficiente para ficar em seu caminho.

Isso tudo, somado, faz com que o título tenha uma boa fundação rogue e uma quantidade legal de opções ao jogador, garantindo que sempre estejamos evoluindo um pouquinho e que as dificuldades sejam vencidas com o tempo. Contudo, ainda acho que algumas melhorias poderiam ser mais evidentes, para diminuir aquele lance dos inimigos serem parrudos demais e levarem uma vida para serem derrotados.

Hell Clock
O que devo melhorar? (Imagem: Divulgação)

Sons e Visuais

Hell Clock possui visuais bem legais, com um estilo desenhado que me agradou bastante. O título é bem animado, o combate parece impactante e achei os inimigos, principalmente os chefes, bem interessantes. Devo dar um salve em especial para os cenários, principalmente aqueles que demonstram o sertão. Contudo, tive um pouco de lag ao enfrentar muitos bonecos ao mesmo tempo.

A trilha sonora também me agradou bastante, com músicas que completam bem a ação que está rolando na tela, uma sonoplastia competente e, melhor ainda, uma dublagem profissional. Gostei, ainda, da forma que adicionaram regionalismos nas falas das personagens.

Hell Clock
Façam fila, por favor. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena jogar Hell Clock?

Hell Clock, leitores e leitoras de meus olhos, é uma boa prova de que o mercado nacional consegue entregar jogos de qualidade. Temos um rogue competente que, salvo um ou outro tropeço aqui e acolá, fornece uma experiência bem legal, competente e que não deve em nada para outros títulos do gênero, até ultrapassando muitos deles se posso ser sincero.

O jogo tem uma temática bem original, uma quantidade considerável de opções de builds, diversas formas de melhorar nosso personagem, um fator rejogabilidade interessante e, também, um gameplay fácil de pegar e jogar. De negativo cito apenas que os inimigos possuem vida demais, em alguns momentos, e que a trama poderia explorar mais seu potencial.

Ao fim e ao cabo, Hell Clock me agradou bastante por uma série de motivos. Achei que o jogo entrega tudo que queremos e, no geral, consegue ter sucesso naquilo que se propõe. Entregando, inclusive, uma experiência que pode servir tanto quanto porta de entrada para curiosos sobre rogue quanto aos fãs de longa data. Se for sua praia, pode ir sem medo. Não vão se arrepender.

Hell Clock foi lançado no dia 22 de julho para PC, via Steam, por R$ 59,99.

*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela Mad Mushroom.

Hell Clock

BRL 59,99
8.5

História

8.0/10

Gameplay

9.0/10

Gráficos e Sons

8.0/10

Extras

9.0/10

Prós

  • A trama possui uma premissa bem original
  • Jogabilidade divertida e frenética, com emoção adicional por conta do relógio da morte
  • Muitas opções de builds, entre habilidades e relíquias
  • Boa variedade de melhorias para desbloquearmos
  • Dublado e legendado em português

Contras

  • Pode ter lag em alguns momentos mais caóticos
  • A trama poderia explorar mais sobre o período histórico em que se passa
  • Alguns inimigos tem vida demais, demorando muito para serem derrotados

Matheus Jenevain

    Redator de idade não especificada e habilidade excepcional (segundo o próprio, acredite se quiser). Curte Metroidvanias, RPGs e jogos de luta. Reza toda noite, intensamente, para receber um remake de God Hand. Nunca foi atendido.