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Hogwarts Legacy | Review

Anunciado em setembro de 2020 pela Portkey Games e Avalanche Studios, Hogwarts Legacy é um jogo que pretende contar uma história inédita envolvendo o universo Harry Potter, séculos antes do personagem existir. Se passando no século XIX, o título chega com a promessa de colocar os jogadores no papel de um(a) estudante da escola Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

Se apresentando como um imersivo RPG de ação em mundo aberto, como será que o jogo do universo Harry Potter, sem Harry Potter, se saiu? A resposta eu trago agora, em mais uma review antecipada do Pizza Fria!

Você pode ser quem quiser – ou quase

Ao começarmos nossa jornada em Hogwarts Legacy, nosso primeiro passo é montar nosso personagem. E ele pode ser feito como você quiser. Apesar de existir algumas opções de personagens pré-definidos, nós podemos editá-los livremente, escolhendo formato do rosto, cor da pele, se usa ou não óculos, estilo, tamanho e cor de cabelo, sardas e pintas, cor dos olhos e sobrancelhas, bem como o formato delas. Por último, o título nos oferece cinco opções de vozes masculinas e cinco opções de vozes femininas – todas em português, além de qual dormitório seu personagem será designado, podendo ser bruxo ou bruxa, independente das características que você escolher.

A partir daí, nossa história começa. Após uma introdução bem satisfatória, com momentos que funcionam como tutorial, mas também trazendo parte da tensão que a história visa oferecer, chegamos à Hogwarts e passamos pelo Chapéu Seletor. E é justamente nessa parte que senti que faltou mais apelo: respondemos apenas duas perguntas feitas pelo chapéu, e caímos em uma das populares casas da franquia: Grifinória, Lufa-Lufa, Corvinal e Sonserina. Aqui, deu Lufa-Lufa.

Hogwarts Legacy
Hogwarts Legacy traz as quatro casas de Hogwarts representadas (Imagem: Divulgação)

Estudante do quinto ano

Em Hogwarts Legacy, o seu personagem vem transferido para a imponente escola de magia. Apesar de novato, logo assumimos um papel de protagonismo, pois somos muito prestativos – como em todo bom RPG – e estamos dispostos ajudar aqueles que precisam, cumprindo diferentes missões. No começo da narrativa, grande parte das quests serão introdutórias, apresentando mecânicas de combate, uso e manipulação de magias, resolução de quebra-cabeças e afins, enquanto conhecemos alguns dos personagens que vão nos acompanhar ao longo da narrativa, como Sebastian Sallow, Natsai Onai e o Professor Fig.

No entanto, apesar de inéditos, o jogo também apresenta personagens com parentesco com alguns dos mais populares da série, como a Professora Weasley, o Diretor Black, e algumas surpresas, em especial em missões secundárias, além de estabelecimentos populares da franquia em Hogsmeade, como a J. Pippin’s Potions, a Olivaras, o Três Vassouras, o Cabeça de Javali, entre outras.

Hogwarts Legacy
Aula de Poções é uma das atividades de Hogwarts Legacy (Imagem: Divulgação)

Mas o foco da história de Hogwarts Legacy é inédito. Nosso personagem pode enxergar e manipular rastros de magia ancestral, e como ainda é um tanto inexperiente no assunto, se vê no meio de uma caçada e, como dita o rumo de uma boa história, só ele é capaz de salvar o mundo. De uma forma geral, a linha de missões narrativas do jogo é longa, e o progresso é muitas vezes ofuscado pela quantidade de conteúdo que o jogo tem.

Vejam bem: toda missão principal requer que o jogador esteja em um nível mínimo, e algumas ainda dizem que é preciso ter aprendido determinada magia para fazê-la. Por duas vezes, ávido para seguir a história principal, que tomava rumos interessantes, precisei parar meu progresso e fazer alguma missão secundária ou executar uma tarefa, participar de um desafio para ganhar XP suficiente até chegar ao nível que a missão exige. Por mais que isso tenha sido frustrante pra mim, entendo que está no jogo para que os jogadores aproveitem o máximo desse conteúdo extra.

Hogwarts Legacy
Hogwarts é um lugar gigante, repleto de conteúdo adicional (Imagem: Divulgação)

E abordando um pouco mais detalhado esse conteúdo extra, há muito o que fazer em Hogwarts Legacy. Muito mesmo! Seja em Hogwarts ou em Hogsmeade – os dois principais hubs do título – ou em uma das várias vilas representadas no game, há sempre algo a ser explorado. E tudo perfeitamente integrado ao gameplay e as mecânicas de bruxo do jogo. São desafios diferentes, que vão desde abertura de portas secretas até desafios de bater tempo em corridas de vassoura. São tantas mecânicas que algumas delas são facilmente desbloqueáveis com mais de 20h de jogo, de acordo com o ritmo do jogador.

Uma dessas mecânicas, importada diretamente de Animais Fantásticos, é a de captura de animais. Ao levarmos para a nossa Sala Precisa – um lugar que nos entrega justamente aquilo que mais precisamos no momento – podemos criar uma verdadeira “fazendinha Pokémon” por lá. Capture animais diferentes, machos e fêmeas, faça-os cruzar e ter filhotes para ganhar melhorias de itens. Como disse acima, tudo perfeitamente integrado à proposta do jogo.

Hogwarts Legacy
A mecânica de montaria é uma das últimas a ser desbloqueada em Hogwarts Legacy (Imagem: Divulgação)

O bê-á-bá dos RPGs

Hogwarts Legacy é um título que bate o pênalti no meio do gol. Sem trazer nenhuma grande adição ao gênero de RPG, o título se contenta em “fazer o básico”, entregando uma experiência bem feita e agradável. Há uma enorme linha de missões, há um inventário variado, há equipamentos aos montes e com status e debufs diferentes, há um sistema de nível com indicação de vida, ataque e defesa, mas não há só isso.

É inegável que Hogwarts Legacy pegou inspiração em RPGs famosos dos últimos anos, como a recente trilogia Assassin’s Creed e The Witcher 3: Wild Hunt. Seja na apresentação e disposição dos menus, nos recursos de batalha ou no mapa recheado de conteúdo, o título mirou onde deu certo e seguiu à risca, adaptando-se a própria realidade.

Hogwarts Legacy
Dragões. Um clássico dos RPGs (Imagem: Divulgação)

Isso porque Hogwarts Legacy traz sua própria originalidade, e isso vem de Harry Potter. Por usarmos magia, o combate é essencialmente à longa distância. O game nos oferece, além do feitiço básico, algumas opções de feitiços ofensivos, alguns poucos defensivos, outros de furtividade e alguns poderosos, mas desbloqueáveis apenas no fim do jogo. Combiná-los é essencial para vencer um simples duelo. Há também uma opção de Talentos, que surge após algumas horas de jogo, em que podemos distribuir pontos em aptidões bruxas, desde melhorias para magias secundárias, para a eficácia geral, Arte das Trevas, furtividade e até mesmo melhorias para a Sala Precisa.

O título também mescla bem como usar novos esses elementos ao longo do gameplay. Ao desbloquearmos novas mecânicas – normalmente associadas à novas magias – passamos por um pequeno tutorial para entender o processo e avançamos. O legal é que muitas dessas mecânicas que são desbloqueadas ao longo do jogo não perdem valor, pelo contrário. É bem comum você estar mesclando magias que aprendeu no começo com aquelas que aprendeu na reta final para superar obstáculos e puzzles. É um ponto interessantíssimo.

Hogwarts Legacy
Se defender é fundamental para ter sucesso no combate de Hogwarts Legacy (Imagem: Divulgação)

Variedade?

Se o combate de Hogwarts Legacy é divertido e variado, o mesmo não se pode dizer de alguns outros elementos do jogo – que se repetem em exaustão e com mecânicas cansativas. O principal ponto que me incomodou foram os inimigos, e até mesmo as boss battles, que são pouco criativas. Os duelos que enfrentamos, de uma forma geral, são contra duendes e aranhas, aos montes, e ocasionalmente bruxos das trevas, Inferni e trasgos. Mesmo que haja variação entre eles, é essencialmente o mesmo tipo de inimigo, com forma de se combater de forma similar. E os combates são exageradamente longos, já que, num ritmo de progressão normal, o personagem não fica overpower.

Além disso, muitos dos puzzles do jogo se repetem à exaustão. Portas secretas em Hogwarts, em que precisamos fazer combinações matemáticas, ou destravar cadeados usando os analógicos são tarefas exaustivas mesmo após dominadas, pois não mudam a fórmula. Há ainda a inserção de colecionáveis aleatórios, como as páginas do Guia de Campo que é preciso preencher – espalhadas e escondidas pelo mapa. Lógico que, em especial as críticas desse parágrafo são voltadas para os que visam os 100% e interferem pouco no gameplay, mas é importante ressaltar que são itens que tiram atenção do jogador sem uma razão justificada.

Hogwarts Legacy
Os Inferni são um tipo de inimigo em Hogwarts Legacy (Imagem: Divulgação)

Referências por todas as partes

Mesmo fazendo parte da geração que cresceu junto com Harry Potter, Hermione e Rony, eu nunca li um livro de Harry Potter. Vi ao menos uma vez todos os oito filmes da saga principal e assisti aos três filmes de Animais Fantásticos. E se minha memória não me falha, eu peguei diversas referências que os fãs vão adorar ao jogar Hogwarts Legacy.

A primeira delas é por Hogwarts em si. O castelo é enorme, e é fácil se perder por lá sem utilizar o caminho traçado com destino no minimapa. São muitos andares, e um espaço realmente gigante e tudo está representado lá, basta você explorar. Há ainda lugares icônicos, como uma breve visita à Azkaban, e até um certo momento com as Relíquias da Morte. Isso sem contar o óbvio, como a eficácia de feitiços, a inclusão da viagem rápida usando pó de flu, mensagens chegando por correio-coruja, entre outros.

Hogwarts Legacy
Sr. Olivaras ainda é o responsável por te dar a primeira varinha (Imagem: Divulgação)

Gráficos e desempenho de ponta

Joguei Hogwarts Legacy em um PlayStation 5 e, honestamente, não praticamente tenho do que reclamar em termos visuais e desempenho. Joguei a maior parte do jogo no modo Desempenho HFR, que oferece taxa de quadros “ultra-alta”, com +100 FPS com VRR ativo. Só tive alguns bugs visuais, como reflexos de sol piscando de acordo com o ângulo da câmera, mas é totalmente irrelevante diante do primor técnico que foi entregue. Nenhuma missão bugou, e o jogo não fechou em nenhum momento. Ponto positivo!

Minhas únicas criticas quanto ao visual do jogo se dão em dois elementos. O primeiro deles é o cabelo dos personagens, imóvel, mesmo em cutscenes (inclusive, cadê a opção de pausar cenas?). O segundo é quando entramos na água – sim, é possível nadar, mas não mergulhar, no jogo -, e que saímos secos. A movimentação da água, por sinal, é incrível, gerando respingos e ondas ao pular, mas o fato do personagem sair seco me fez pensar se é algum tipo de magia pré-estabelecida. Talvez eu tenha entendido tudo errado…

Hogwarts Legacy
Hogwarts Legacy é visualmente incrível (Imagem: Divulgação)

Trilha sonora épica

Hogwarts Legacy também brilha quando o assunto é seu trabalho sonoro. O game é incrivelmente bem construído nesse aspecto, com músicas variadas e que combinam perfeitamente com a ocasião. A imersão sonora e o Áudio 3D são aspectos incríveis, muito bem feitos. A dublagem em português do Brasil é boa, variada e com muitos dubladores, mas poderia ter sido mais simplificada. Talvez seja um reflexo do produto original, mas não há gírias ou abreviações na localização, sendo feita com uma linguagem direta. Talvez porque o jogo se passa no século XIX.

Acessibilidade em dia

Outro ponto que merece destaque em Hogwarts Legacy é a acessibilidade. Além de ser dublado em português, o game traz recursos voltados para pessoas com baixa visão e surdos, desde configuração do tamanho de legendas em todas as cenas, incluindo alto contraste, leitor de menu, mira e modo feitiço automáticos, controle para canhotos, diversas opões de configurar a câmera e quatro opções de dificuldade, sendo que na dificuldade mais baixa, até alguns puzzles podem ser resolvidos de forma automática, caso o jogador decida por isso.

Hogwarts Legacy
Com diferentes níveis de dificuldade, Hogwarts Legacy é indicado para todos os fãs de Harry Potter (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Hogwarts Legacy?

Hogwarts Legacy é uma carta de amor aos fãs da franquia, e é mais uma prova de que, assim como os filmes Animais Fantásticos, é possível continuar entregando material de qualidade inspirado na obra original – sem a participação direta da controversa autora. O título acerta em quase tudo que se propõe, e entrega um RPG robusto, com muito conteúdo, e amplamente acessível, voltado para fãs de diferentes idades. A tarefa árdua fica para os complecionistas, que precisarão repetir, por diversas vezes, as mesmas mecânicas.

Hogwarts Legacy será lançado na próxima sexta-feira, 10 de fevereiro, para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC, via Nuuvem. Compradores da Deluxe Edition terão acesso ao título a partir de terça, 7. As versões de PlayStation 4 e Xbox One serão lançados no dia 4 de abril, enquanto a de Nintendo Switch segue programada para 25 de julho.

*Review elaborado no PlayStation 5, com código fornecido pelo WB Games.

Hogwarts Legacy

+ R$ 219,98
9.1

História

8.0/10

Gameplay

9.0/10

Gráficos e Sons

9.5/10

Extras

10.0/10

Prós

  • Criação de personagens
  • Acessibilidade
  • Muita fidelidade à obra original
  • Gráficos e trilha sonora marcantes
  • Ótimo desempenho no PS5

Contras

  • Inimigos repetidos
  • Progressão da história principal
  • Complecionistas terão que repetir muitas ações

Lucas Soares

Jornalista e fã de videogames desde criança. Já teve Mega Drive, Game Boy Color, PS1, PS2, PS3, PS4, PSVR, PS Vita, Nintendo 3DS e agora tem "só" um PS5, um Nintendo Switch e um PC Gamer. Para ele, o melhor jogo da história é Chrono Trigger, mas Metal Gear Solid 3, Final Fantasy X, The Last of Us Part II e Red Dead Redemption 2 completam o Top-5.