AnálisesMobileNintendoPCSlide

Is This Seat Taken? | Review

Você está em um evento público e se depara com poucos assentos. É costumeiro e educado perguntar: “Este lugar está ocupado?”. O pessoal da Poti Poti, estúdio independente formado por apenas cinco pessoas entre Barcelona e Bruxelas, levou essa pergunta a sério – e transformou em jogo. O resultado é Is This Seat Taken?, puzzle relaxante publicado pelo selo Wholesome Games Presents, com lançamento em agosto de 2025 para Steam, Nintendo Switch, iOS e Android.

Este não é um jogo sobre derrotar chefes, salvar mundos ou vencer. Ele é sobre uma missão muito mais íntima e caótica: fazer cada personagem se sentar no lugar perfeito. No lugar perfeito segundo eles, claro.

Ao longo desta mini-análise eu vou te contar porque Is This Seat Taken? é um jogo sem manias e merece um espaço na sua estante digital.

Usando apenas o mouse e o clique simples, o jogo te coloca no papel de um organizador social em situações variadas – um ônibus lotado em Barcelona, um cinema em Nova Iorque, uma recepção de casamento em Londres ou até um barco turístico pelos canais de Bruxelas. Cada pessoa tem consigo as suas manias: tem quem deteste cheiro forte de perfume, tem quem só queira dormir, tem quem insista em sentar sozinho.

Em outros níveis, algumas querem carregar o celular e não gostam de que outras pessoas olhem suas telas; contudo, algumas gostam ver vídeos que outras estão assistindo. E agora? E o desafio é descobrir essas preferências, respeitar as peculiaridades e arrumar o quebra-cabeça humano. Para isso, basta passar o cursor sobre a figura para ver a lista de exigências no lado esquerdo da tela.

Na verdade, nada de humano. As manias ganham vida em formas geométricas – quadrados, triângulos, um círculo que comenta que se comer torta vai virar uma elipse… E tem mais: as formas costuram a simples e efetiva narrativa da campanha, pois trata do clássico dilema de se sentir diferente diante de um monte de caixinhas formatadas. 

Tela inicial de Is This Seat Taken?, com a paleta de cores reduzida e charmosa que guia toda a experiência. Todinho em português do Brasil. (Imagem: Captura de tela / Carlos Maestre)
Tela inicial de Is This Seat Taken?, com a paleta de cores reduzida e charmosa que guia toda a experiência. Todinho em português do Brasil.
(Imagem: Reprodução / Carlos Maestre)

Tudo isso embalado na belíssima paleta de cores reduzida e das fofas ilustrações digitais que contam a história do losango Nat – quem gostaria de ser atriz mas é diferente demais do esperado. Embora o enredo não vá ganhar prêmios nem revolucionar as narrativas em jogos eletrônicos, o título entrega muito bem pequenos diálogos entretidos entre uma fase e outra, e proporciona uma rara e gostosa cadência durante a jogatina. O melhor: Is This Seat Taken? está muito bem traduzido ao português do Brasil e difícil mesmo vai ser querer avançar as cenas sem ler.

O resultado é um puzzle lógico, mas sem a tensão de cronômetros ou placares. Nada de estresse: Is This Seat Taken? está mais perto de montar um pequeno desafio de Lego, relaxante e sem compromisso, do que de resolver um cubo mágico sob pressão.

Organizar passageiros barulhentos, sonolentos e antissociais em um ônibus lotado é só o começo da missão. (Imagem: Captura de tela / Carlos Maestre)
Organizar passageiros barulhentos, sonolentos e antissociais em um ônibus lotado é só o começo da missão.
(Imagem: Reprodução / Carlos Maestre)

Dinâmica social: Todos ao vento e ninguém perdeu o assento

A graça em Is This Seat Taken? está nas esquisitices caricatas das formas – fáceis de reconhecer em pessoas reais do seu dia a dia. Quem nunca sentou longe de alguém em um jantar? Ou quem nunca se afastou de uma pessoa fedida no busão? Chega a ser engraçado.

Para não dizer que somos motivados pela distância, quem é que nunca preferiu ficar perto de alguém conhecido num show? Ou quis ficar no melhor cantinho durante um passeio para tirar belas fotos?

Pois essa é a experiência central do título: literalmente encaixar as formas em espaços limitados de acordo com as preferências. Pense em cada fase como um quebra-cabeça espacial: você tem um número restrito de cadeiras, sofás ou bancos, e personagens com regras próprias que precisam coexistir em harmonia. 

Do cinema às recepções de casamento, cada ambiente propõe novos dilemas sociais para resolver. (Imagem: Captura de tela / Carlos Maestre)
Do cinema às recepções de casamento, cada ambiente propõe novos dilemas sociais para resolver. (Imagem: Reprodução / Carlos Maestre)

As fases são, aliás, um cenário estático – como a viagem em trem ou a limusine pela cidade. Elas começam com a primeira remessa de forminhas, algumas têm até bagageiros. Nós temos o poder de orientar as pessoas e também de reorganizar certos elementos do cenário, como mover pratos de comida ou cafezinhos, abrir e fechar poltronas na arquibancada do estádio… Tudo para encontrarmos a melhor solução. Ao resolver um grupo, outras formas distintas aparecem em cena e a fase segue por três, quatro, ou mesmo várias rodadas.

Em toda fase, você desbloqueia novos cenários e mais figuras, que exigem ajustes criativos na hora de organizar os assentos. O jogo não pune: se errar, basta rearranjar até encaixar todo mundo. E isso garante aquele ritmo aconchegante, quase terapêutico.

Aliás, a dificuldade é bem ajustada e nem sempre as coisas ficam necessariamente mais difíceis. 

Um exemplo de fases que aliviam a dificuldade é o portão de embarque no aeroporto, em Londres. Nela, você deve ler para qual voo o portão opera. No começo, formas com voos para vários lugares aparecem para esperar e se misturam tanto nos assentos quanto nas filas. Mas, rodada a rodada, restam menos voos diferentes, portanto o quebra-cabeça é daqueles que se desembaraça, que fica mais fácil com o superar o turno. O alívio é uma recompensa e tanto!

Nada de humanos: as manias viram formas geométricas fofas, cada uma com suas esquisitices. (Imagem: Captura de tela / Carlos Maestre)
Nada de humanos: as manias viram formas geométricas fofas, cada uma com suas esquisitices. (Imagem: Reprodução / Carlos Maestre)

Outro exemplo simples é o das viagens em ônibus: o passageiro sonolento só quer dormir, logo ele precisa de silêncio. Mas outras forminhas gostam de ouvir música alta ou mesmo de conversar entre elas – algo que perturba as que gostariam de sossego. Assim, não dá pra deixá-las próximas. Outra, mais reservada, quer sentar sozinha e com certeza vai inviabilizar uma das poltronas duplas. Droga! Menos espaço para operar.

E há algo mágico em ser o psicanalista de manias, testar combinações e rearranjar até que todos estejam satisfeitos. É gostoso experimentar e descobrir as relações que fazem sentido. E, caso esteja pensando nisso, sim, existem múltiplas soluções. E, com elas, quando todas as figurinhas estiverem contentes, Is This Seat Taken? libera a confirmação para continuar o experimento social.

A campanha costura pequenas vinhetas narrativas, como a do losango Nat que sonha em ser atriz. (Imagem: Captura de tela / Carlos Maestre)
A campanha costura pequenas vinhetas narrativas, como a do losango Nat que sonha em ser atriz. (Imagem: Reprodução / Carlos Maestre)

O prazer da jogatina não vem de “passar de fase rápido”, mas de observar como personalidades diferentes se complementam em espaços cada vez mais desafiadores – ônibus apertados, limusines chiques, cinemas lotados, casamentos caóticos. E rir sozinho por traçar paralelos com pessoas que conhecemos ou com acontecimentos corriqueiros.

Ah! Embora seja single-player, Is This Seat Taken? funciona bem acompanhado: quando minha esposa se sentou (rá) ao meu lado e começou a dar palpites, o jogo ficou mais caótico e engraçado, até a conversa fora da tela e a negociação viraram parte do jogo.

Algumas fases aliviam a dificuldade, como no aeroporto de Londres, em que as filas vão se organizando naturalmente.
Algumas fases aliviam a dificuldade, como no aeroporto de Londres, em que as filas vão se organizando naturalmente. (Imagem: Captura de tela / Carlos Maestre)

Vale a pena jogar Is This Seat Taken?

Com cinco cidades para visitar, todas com uma mão cheia de fases mais um nível extra, Is This Seat Taken? rende cerca de 5 a 6 horas de jogo – tempo mais do que justo para o que se propõe, a depender da sua habilidade. É daqueles indies perfeitos para zerar em alguns dias, entre pausas de jogos mais densos.

A trilha sonora acompanha o tom leve, com músicas tranquilas que embalam o quebra-cabeça sem criar distrações. E a arte é charmosa sem ser carregada, funcionando bem tanto no PC quanto nas telas menores de celular e Nintendo Switch. 

Is This Seat Taken? é como resolver o quebra-cabeça mais humano de todos: entender as manias dos outros. É um jogo polido, conciso, divertido e cheio de charme. Para quem gosta de puzzles relaxantes e adora encontrar graça nas esquisitices cotidianas, é uma poltrona que vale muito a pena ocupar.

 Is This Seat Taken?, um jogo de puzzles lógicos, já está disponível para PC, via Steam, Nintendo Switch, Android e iOS.

*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela Wholesome Games Presents.

Is This Seat Taken?

BRL 34,99
9

Diversão

10.0/10

Gráficos e Sons

9.0/10

Gameplay

9.0/10

Conteúdo

8.0/10

Prós

  • Personagens engraçados, cheios de manias reconhecíveis.
  • Mecânica simples de entender, mas criativa na aplicação.
  • Atmosfera relaxante, sem cronômetro ou pressão.
  • Cenários variados que mantêm o frescor da proposta.
  • Humor leve e cotidiano, fácil de se identificar.

Contras

  • Por que jogos assim acabam?

Carlos Maestre

Jornalista que mergulhou na pesquisa de acessibilidade digital graças à eterna necessidade de inverter o eixo Y - hábito cultivado desde GoldenEye 007. Cresceu com a Nintendo e já teve mais entusiasmo pela Microsoft; no fundo, ainda espera reencontrar a Rare de outros tempos. Entre caçadas por conquistas e sessões intermináveis de Stardew Valley, vive sob a ameaça de uma intervenção a qualquer momento por culpa de suas fazendas virtuais.