Iwakura Aria | Review
Visual novels de mistério sempre me chamaram a atenção, especialmente por sua abordagem singular na construção de narrativas. Normalmente centradas no desenvolvimento aprofundado de personagens e caracterizadas por um ritmo inicial mais contido, essas obras frequentemente se desenrolam em cenários aparentemente banais, até que elementos estranhos e inquietantes começam a surgir, instigando a curiosidade do jogador e revelando os segredos sombrios ocultos sob a superfície. Diversos títulos exploraram com sucesso essa fórmula, adicionando camadas de horror gótico que enriquecem ainda mais a experiência, como é o caso do meu visual novel favorito, The House in Fata Morgana.
Foi justamente por conta desse apreço que minha atenção foi imediatamente capturada ao conhecer Iwakura Aria. A proposta do novo jogo da MAGES, centrada em um mistério que gira em torno de uma empregada contratada para trabalhar em uma mansão luxuosa, remete a esse tipo de ambientação carregada de tensão e horror. Naturalmente, fiquei curioso para descobrir aonde essa nova trama poderia me levar e quais revelações estariam a minha espera nesta história.
Prometendo uma narrativa intensa, repleta de mistérios e reviravoltas, a pergunta central é: Iwakura Aria está à altura das expectativas e consegue entregar uma história marcante? Descubra agora, em mais uma review antecipada do Pizza Fria!
Uma nova vida na mansão da família Iwakura
Em Iwakura Aria, assumimos o papel de Ichiko Kitagawa, uma jovem órfã que, em meio às dificuldades da vida nas ruas, tenta sobreviver vendendo seus desenhos. Seu destino começa a mudar quando é abordada pelo chefe da influente família Iwakura, que, ao perceber seu talento artístico, decide lhe oferecer uma oportunidade: trabalhar e residir na luxuosa mansão da família como empregada.
Após um período de reflexão, Ichiko aceita a proposta, acreditando estar diante da chance de recomeçar sua vida em condições dignas. No entanto, logo após sua chegada, enquanto aprende as tarefas domésticas que deverá desempenhar diariamente, ela se depara com a figura enigmática de Aria Iwakura, a herdeira da família. Envolta em um ar de mistério, Aria logo desperta a curiosidade de Ichiko, dando início a uma relação que se tornará o centro da narrativa.

À medida que o vínculo entre as duas se intensifica, Ichiko passa a descobrir os segredos obscuros que envolvem a mansão e a história da família Iwakura. O desenrolar da trama, por sua vez, é fortemente influenciado pelas escolhas do jogador, que terá o poder de determinar o rumo da história culminando em múltiplos finais, que exploram diferentes desfechos para o enredo de mistério.
O forte da narrativa é o desenvolvimento de Ichico e Aria
Iwakura Aria apresenta uma estrutura narrativa marcada por algumas limitações significativas, especialmente no que diz respeito ao seu escopo espacial e elenco de personagens. Toda a trama se desenrola exclusivamente dentro da mansão da família Iwakura, cenário que, embora visualmente bem trabalhado, restringe a diversidade de ambientes exploráveis. Além disso, a história conta com apenas quatro personagens que participam ativamente do enredo, o que impõe ao jogo o desafio de sustentar o interesse do jogador ao longo de toda a campanha com recursos bastante limitados em termos de locações e interações.

Essa estrutura intimista, no entanto, funciona de maneira eficaz em certos aspectos, em especial no desenvolvimento da relação entre Ichiko e Aria. A conexão entre as duas protagonistas é cuidadosamente construída e se torna, indiscutivelmente, o coração emocional da narrativa. Inicialmente marcadas por uma certa distância e desconfiança, as personagens encontram um elo comum por meio da arte, especialmente no apreço compartilhado por desenhos e pinturas. Essa paixão se transforma no alicerce de um vínculo crescente, que não apenas fortalece o relacionamento entre elas, mas também impulsiona o jogador a mergulhar nos segredos obscuros que envolvem a família Iwakura.
O jogo se destaca justamente ao explorar com sensibilidade e impacto algumas de suas principais temáticas. Questões como abuso familiar, pressões sociais impostas por famílias de elite — como a expectativa de que a filha herdeira se case o mais rapidamente possível — e outros elementos de teor mais sombrio são abordados de maneira que adiciona densidade emocional à narrativa. Ainda que nem todos os momentos se beneficiem igualmente da estrutura fechada e do elenco limitado, Iwakura Aria consegue extrair força dramática desses limites, transformando-os, em parte, em virtudes narrativas.
Nem todos os personagens são tão bem desenvolvidos
Infelizmente, ainda que Iwakura Aria seja bem-sucedido no desenvolvimento emocional e narrativo das suas duas protagonistas, o mesmo não pode ser dito dos demais personagens centrais da trama. Imane Iwakura, o pai de Aria, e Sui Miyuachi, a cozinheira da mansão, possuem participações frequentes na narrativa, algo natural, considerando o número reduzido de personagens ativos, mas ficou em falta uma construção mais profunda e envolvente ao longo da história.
Ambos acabam funcionando mais como instrumentos expositivos, contribuindo pontualmente para revelar elementos do passado da família Iwakura, do que como personagens com motivações e conflitos próprios que despertem o interesse do jogador. O roteiro até se esforça para inserir reviravoltas envolvendo Imane em momentos específicos, tentando adicionar complexidade ao seu papel na trama. No entanto, esses momentos raramente conseguem torná-lo verdadeiramente cativante, sobretudo quando comparado à densidade emocional e à evolução de Ichiko e Aria.
Uma boa trama de mistério
Grande parte da trama de Iwakura Aria gira em torno da constante sensação de estranheza que envolve Aria Iwakura. À medida que os dias passam após sua chegada à mansão, Ichiko começa a notar uma série de eventos perturbadores que colocam em xeque a aparente normalidade daquele ambiente. Barulhos inquietantes, como o choro de um bebê vindo de algum lugar desconhecido, sacos misteriosos contendo o que parece ser sangue sendo descartados no lixo, e uma inquietante sensação de estar sendo constantemente observada são apenas alguns dos elementos que compõem esse clima de tensão crescente.

Além disso, o jogo adota uma abordagem cuidadosa ao entregar informações ao jogador. Muitas pistas são reveladas de maneira sutil, por meio de diálogos enigmáticos e observações quase imperceptíveis feitas por Ichiko. Esses fragmentos, muitas vezes desconexos em um primeiro momento, ganham significado apenas em pontos mais avançados da história, proporcionando um efeito narrativo recompensador. Quando o jogador consegue conectar essas peças e antecipar os rumos da trama, a experiência se torna ainda mais envolvente.
Gráficos e trilha sonora
Por se tratar de um visual novel, Iwakura Aria não apresenta um gameplay tradicional. A experiência do jogador se resume, essencialmente, à leitura dos diálogos, à realização de escolhas ocasionais que influenciam o rumo da história e à seleção pontual de cômodos dentro da mansão para visitarmos. Mesmo nesse último aspecto, que poderia oferecer certa margem de exploração, o jogo opta por uma abordagem bastante guiada: os ambientes importantes para a progressão narrativa são destacados em vermelho, enquanto os demais raramente apresentam conteúdo relevante.
Como mencionado anteriormente, o escopo do jogo é bastante limitado, e essa restrição se reflete diretamente em seu aspecto visual. O número de cenários é reduzido, os personagens são poucos, e suas expressões durante os diálogos são mínimas e muitas vezes repetitivas. Ainda assim, Iwakura Aria consegue encontrar soluções criativas dentro dessas limitações. A direção de arte merece destaque, especialmente pelo uso inteligente de rascunhos e ilustrações em estilo de esboço para retratar momentos específicos da trama.
Um exemplo particularmente impactante é uma cena envolvendo Aria e seu pai, na qual o jogo opta por não mostrar explicitamente o que aconteceu. Em vez disso, recorre a uma sequência de imagens estilizadas em forma de rascunho, sugerindo os eventos de maneira simbólica e deixando ao jogador a tarefa de interpretar e reconstruir os acontecimentos. Esse recurso é utilizado em diversos momentos ao longo da narrativa e funciona como uma solução estética e narrativa eficaz, que transforma as limitações técnicas do título em um estilo próprio de linguagem visual.

Outro elemento digno de menção é a trilha sonora. Composta majoritariamente por peças instrumentais, a música de Iwakura Aria reforça com sensibilidade as emoções centrais da narrativa. Ela acompanha o desenrolar da trama de maneira discreta, mas eficaz, intensificando a sensação de fragilidade da protagonista e acentuando o tema recorrente da perda da inocência.
Vale a pena comprar Iwakura Aria?
Iwakura Aria se destaca por apresentar uma narrativa envolvente, capaz de desenvolver com competência seu mistério central e entregar boas reviravoltas graças ao desenvolvimento das duas protagonistas, Ichiko e Aria. A relação entre ambas é o fio condutor da história e oferece ao jogador momentos de grande tensão. No entanto, não se pode ignorar os tropeços que surgem ao longo do caminho, especialmente em função do escopo restrito da obra. O subdesenvolvimento de personagens coadjuvantes importantes e a constante repetição de cenários — consequência direta da ambientação única na mansão — acabam limitando parte do potencial narrativo do jogo.
Ainda assim, mesmo com essas limitações estruturais, Iwakura Aria consegue cumprir sua proposta de entregar uma boa narrativa de mistério. É uma experiência que, apesar de não ser perfeita, merece ser conferida por fãs de visual novels, desde que o jogador esteja ciente das restrições técnicas e narrativas que moldam a obra.
Iwakura Aria foi desenvolvido pela MAGES e chega no dia 14 de agosto de 2025 para Nintendo Switch e PC via Steam.
*Review elaborada em uma PC equipado com uma Geforce RTX, com código fornecido pela PQube.


