Legacy of Kain: Soul Reaver 1-2 Remastered | Review
Acho que poucos jogos marcaram tanto minha infância quanto os da franquia Legacy of Kain. E, quando soube de Legacy of Kain: Soul Reaver 1-2 Remastered, fiquei extremamente animado de poder revisitar este grande clássico, que já deveria ter recebido mais jogos há muito. Mas, como isso ainda não está acontecendo, a Aspyr e a Crystal Dynamics trataram de remasterizar os dois primeiros jogos para Nintendo Switch, PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X|S, Xbox One e PC pela Epic Games Store e Steam. Assim, todo mundo poderá conhecer a magia do mundo de Legacy of Kain, que era sucesso nas bancas brasileiras, uma tradição gamer perdida desde então.
Contudo, logo quando vi a notícia da remasterização, fiquei preocupado. Afinal de contas, boa parte dos jogos dos anos 2000 não envelheceram bem. Sendo assim, nesta review cheia de ação e nostalgia, analiso ambos os títulos com um olhar nostálgico e, ao mesmo tempo, presentista, se é que posso definir assim. Vem comigo!
Uma história de vingança
Legacy of Kain: Soul Reaver 1-2 Remastered conta a odisseia de Raziel, um dos protagonistas mais marcantes dos anos 2000. Após ser traído por Kain e, teoricamente, levado para o fim da vida ao ser jogado do abismo, o vampiro retorna dos confins do mundo espiritual. Porém, Raziel volta diferente. O Deus Ancião o concede a habilidade de transitar entre o mundo espectral e o material. Mas afinal de contas, por qual motivo Kain traiu nosso protagonista? É simples: inveja. Raziel conseguiu evoluir ao ponto de criar asas, e seu mestre se sentiu traído, inferiorizado, algo que nos traz a essa história de vingança insana.
No segundo jogo, Raziel segue sua perseguição implacável ao seu antigo mestre, nos levando a enfrentar novos inimigos e a alternar entre o material e o imaterial para solucionar problemas, usar nossa Lâmina Espectral e a devorar as almas dos inimigos. No quesito narrativo, Legacy of Kain: Soul Reaver 1-2 Remastered não muda nada dos jogos originais, que já eram conhecidos por ter excelentes diálogos, sobretudo para aquele período. Aliás, uma coisa que percebi ao retornar a Nosgoth, foi a importância dos diálogos do jogo que, infelizmente, não está em português, uma demanda solicitada por fãs brasileiros. Com isso, conseguimos entender toda a jornada de vingança de Raziel, algo que fica ainda mais interessante com o tempo.
Jogabilidade aprimorada
Legacy of Kain: Soul Reaver 1-2 Remastered resolve praticamente todos os problemas observados nos jogos originais, incorporando melhorias técnicas que não tiram a essência da franquia. Portanto, problemas clássicos como clipping de cenários, câmera desajeitada, travamentos e os famigerados bugs foram resolvidos, tornando a exploração e a resolução dos inúmeros quebra-cabeças muito mais fluidas e agradáveis. Neste aspecto, confesso que o jogo acaba perdendo um pouco do brilho. Essas idas e vindas para o mundo espectral vão dando um nó em nossa cabeça, cortando um pouco da fluidez narrativa. Mas isso é mais uma opinião do que um fato…
Outra mudança interessante diz respeito aos controles, que estão muito mais precisos. Isso fica nitidamente perceptível durante as lutas e os quebra-cabeças, que exigem habilidade, atenção e muita paciência. Nos aspectos mais técnicos, o jogo está melhor e fica com uma sensação de que envelheceu melhor do que muitos dos outros jogos dos anos 2000. No entanto, marcas de seu tempo ainda são notáveis. A questão dos enigmas repetitivos, por exemplo, demonstra as limitações dos jogos eletrônicos naquela época, sobretudo no primeiro título. Além disso, os combates, que agora estão mais fluidos, ainda carregam consigo um ar datado.
Por fim, preciso falar dos mapas, que mostram como os jogos atuais evoluíram. Em Legacy of Kain: Soul Reaver 1-2 Remastered ainda conseguimos ficar perdidos, algo bem característico dos jogos da época, que penavam para criar mundos. E, embora esteticamente as coisas estejam melhores, elas ainda carregam consigo ares do passado, sendo a experiência desta coletânea uma excelente forma de análise da evolução dos jogos. Mas, no geral, gostei muito do que vi. Ou melhor, revi, mesmo com velhos problemas.
Um remaster interessante
Legacy of Kain: Soul Reaver 1-2 Remastered consegue trazer um trabalho de remasterização interessante. O jogo não perde em momento algum a essência dos originais e, além disso, consegue resolver problemas que tornariam a aventura em algo totalmente datado para a atualidade. Os gráficos trazidos nesta versão realmente melhoram aspectos imersivos, a aparência dos personagens e até mesmo traz um pouco mais de imersão para Nosgoth. Contudo, não exageram ao ponto de desconfigurar o que vi no passado. E isso é legal, sobretudo para os novos jogadores que nunca tiveram acesso aos títulos originais.
É claro, para boa parte dos gamers mais novatos, haverá aquele estranhamento comum aos jogos mais antigos, reflexo da gigantesca evolução obtida pelas desenvolvedoras, que se aprimoraram – e muito – em todos os aspectos, tornando os jogos atuais em verdadeiras epopeias. Enfim, é incrível poder ver como as coisas se transformaram em 20 e tantos anos…
Por fim, é interessante de se mencionar que a coletânea traz também alguns extras bacanas, como níveis perdidos, imagens e mais detalhes da lore, algo que é muito interessante, sobretudo para os fãs da franquia. E tudo isso pode ser facilmente acessado nos menus. Para os fãs, isso é quase ouro…
Vale a pena jogar Legacy of Kain: Soul Reaver 1-2 Remastered?
Legacy of Kain: Soul Reaver 1-2 Remastered traz dois clássicos negligenciados de volta ao centro de tudo. Com limitações da época e aprimoramentos que caíram muito bem, esse regresso é um grande lembrete do potencial desta franquia, que conta com personagens carismáticos e uma narrativa muito bem feita. Essa remasterização permite que uma nova geração explore um universo gótico, complexo e instigante, além de fazer uma visita aos jogos dos anos 2000 e todas as mecânicas utilizadas na época, sendo a jogatina quase um “trabalho arqueológico”.
Além disso, destaco novamente a profundidade da narrativa, co-escrita por Amy Hennig (de Uncharted) e Paul Jenkins, que trazem para esta série uma qualidade cinematográfica rara, sobretudo para a época. Agora, imagine um remake da franquia? Sei que é totalmente improvável, mas não vou mentir que já sonhei e ainda sonho com isso. Ou pelo menos um novo título. Enfim, espero que esse relançamento abra os olhos dos jogadores para este mundo caótico e cheio de potencial.
Concluindo, embora alguns aspectos do jogo nitidamente evidenciem suas origens nos anos 2000, como os quebra-cabeças repetitivos e o design de mundo beeeem confuso, a essência atemporal da história e a atmosfera envolvente tornam este remaster obrigatório tanto para fãs nostálgicos como eu, quanto para novos jogadores. Mais do que uma remasterização, é uma celebração de tudo o que faz Legacy of Kain ser uma série tão querida e especial. Portanto, se você nunca teve a chance de experimentar esses jogos ou quer reviver a grandiosidade de Nosgoth, não perca a oportunidade de mergulhar nessa jornada épica de vingança.
*Review elaborada no PlayStation 5, com código fornecido pela Aspyr.