Liberté | Review

Jogos e representações em geral sobre a França revolucionária sempre foram muito atraentes pra mim. E por isso me animei para jogar Liberté, game da Superstatic e da Anshar Publishing lançado para PC, via Steam. Com uma proposta ousada de ser um “deck-builder roguelite” ambientado na Revolução Francesa, o game busca inovar ao mesclar gêneros distintos. Mas será que a experiência cola? Analisaremos isso e muito mais nesta review do Pizza Fria

Uma Revolução Francesa… diferente…

Em Liberté, assumimos o papel de René, um civil envolvido em uma grande intriga entre as quatro facções mais influentes da cidade: a Igreja, a Tribo, o Príncipe e os Rebeldes. O personagem simplesmente acorda sem lembrar quem é ou o que está acontecendo. Até aí, tudo bem. É uma realidade paralela e fictícia, e até parece ter alguma relação com o período. Porém, a coisa começa a ficar bizarra com a chegada de uma criatura gigante, Lady Bliss, que invade a coroação do Príncipe Phillip, deixando o país sem um líder. Essa criatura bizonhamente lovecraftiana simplesmente aparece do nada e se comunica com nosso protagonista em uma história um tanto quanto esquisita.

A narrativa em Liberté segue o estilo roguelite, continuando conforme você joga. Desta maneira, você visitará as mesmas áreas e conversará com os personagens, algo que fará a história ir se desenvolvendo em cada reencarnação de René. Cada corrida dará várias chances de escolher entre as quatro facções para ganhar Favor e completar desafios, mantendo a tônica do estilo. Vale ressaltar também que Liberté oferece a opção de jogar como alguns dos personagens secundários, tendo mais de 40 horas de diálogos. Porém, Liberté tem uma história incomum, meio maluca, mas faz sentido pro estilo. Contudo, há mais coisas a se falar do jogo e bem, a história não é o ponto alto.

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(Imagem: Divulgação)

Um roguelite diferenciado

Liberté tem a ousada proposta de mesclar o estilo deck-builder com roguelite. A ideia é realmente interessante e bem dinâmica. Contudo, derrapa na jogabilidade geral, que fica repetitiva e acaba tendo pouco desafio, com inimigos pouco inteligentes ou talvez meio bugados. Mas vamos focar nos pontos legais por enquanto. O fato de nós termos a oportunidade de desbloquear cartas e criar decks com diferentes habilidades passivas, além de mecânicas de mudança de gameplay para tornar o protagonista mais forte é uma excelente ideia. E o game conta com mais de 100 cartas de habilidades e talentos. Ou seja, podemos criar vários estilos de jogo com armas de fogo, espadas e até mesmo uma guitarra!

Ao longo do início do game, vamos aprendendo os comandos básicos como ataques, evasão e por aí vai. Após passar por esse período, vamos desbloqueando cada vez mais cartas, podendo chegar a 40 por cada deck. Inicialmente, lutamos com um deck de combate à distância, corpo a corpo e de habilidades furtivas. Mas ao ir se aprofundando, podemos ir escolhendo novas cartas. Mas o problema surge quando vamos combater. A mecânica de luta é meio simplória e pouco polida. Lembra Hades apenas na visão isométrica. Se conseguisse misturar o que Hades fez com a criação de decks variados, seria um épico. Mas infelizmente Liberté passa beeem longe disso.

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(Imagem: Divulgação)

Existem alguns elementos no combate que são repetitivos e acabam ficando chatos. Quase todo inimigo de armadura tem que ser gradativamente atacado da mesma maneira, as habilidades dos adversários são meio estranhas, mas são um trunfo da IA para rebater suas habilidades, tornando rapidamente a jogabilidade em algo complexo. Existem também algumas maldições, como um enxame que segue você após matar inimigos e entendo a ideia de dificultar o jogo. Contudo, passa da ideia de dificuldade e se torna algo irritante, desbalanceado. Sendo assim, Liberté acerta em alguns pontos, mas falha nas mecânicas mais básicas.

Outros detalhes relevantes

Liberté não tem grandes gráficos, mas isso nem se configura como um problema se compararmos com os já citados acima. Todavia, vale mencionar as limitações de seus mapas que, embora bonitos, deixam a sensação de repetição e de que falta algo novo. E isso vai se repetindo a cada nova corrida. É normal de um roguelite, mas preciso dizer que vai nos cansando. Suas ilustrações em geral são bonitas, condizendo com a proposta. Aliás, a arte do jogo é realmente interessante.

As dublagens são boas e simples, condizendo com a proposta do jogo. Mas o áudio em geral poderia ser melhor, pois há muitas repetições de sons. Esse é um detalhe besta, mas eu acabo sempre notando trilha sonora, os ruídos do jogo e outros detalhes. Liberté é um jogo com uma proposta muito arrojada, mas com gráficos e sons simples. E, honestamente, se a parte de combate funcionasse bem, nada disso faria diferença, colocando o jogo em um ótimo nível. Contudo, não me pegou, sendo muito cheio de explicações e com ação que deixa a desejar.

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(Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Liberté?

Não gosto de ser crítico com jogos de orçamentos mais limitados, mas a verdade precisa ser dita. Liberté ousou muito na proposta e eu admiro muito isso. Contudo, deixou a desejar no aspecto mais importante, que era a parte da jogabilidade mais primordial: o seu combate. Vejo que a ideia foi bem ousada e parabenizo os desenvolvedores por isso. Aliás, prometo tirar ainda mais um tempo para rejogar o game e ver um pouco mais do que ele oferece. Mas nestas corridas, infelizmente foi algo que não se encaixou pra mim.

Liberté traz artes bacanas e uma história meio maluca. Essa ideia de uma mulher gigante e despida no meio de uma praça, um coração gigante e tudo mais… sei lá. Deturpou demais a ideia da Revolução Francesa e mesmo não sendo um purista ou um jogador que quer a própria busca da realidade narrada neste tipo de jogo, achei a ideia uma viagem. Talvez ela até seja boa para um roguelite, que consiste em múltiplas repetições, mas pra mim também não foi lá um ponto muito alto. Adoro histórias viajadas, mas este não foi o caso.

E mesmo falando desta forma de Liberté, ainda o indico para fãs de jogos inventivos e ousados. Ele não fez meu estilo e não agradou no aspecto de jogabilidade, mas não consigo ser desonesto de dizer que a ideia foi ruim, pois não foi mesmo. Assim, concluo esta crítica dizendo que Liberté pode ser uma surpresa para alguns justamente por conta desta mistura ousada. Não espere por um Hades ou algo do tipo, mas vá de coração aberto. Os desenvolvedores merecem esse respeito por tamanha ousadia.

*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela Anshar Publishing.

Liberté

R$ 41,99
7.2

História

7.0/10

Jogabilidade

7.3/10

Gráficos e sons

8.0/10

Extras

6.6/10

Prós

  • A ideia de mesclar roguelite e deck-builder é bem ousada
  • As artes do game são interessantes
  • Mais de 100 cartas para criar seus decks

Contras

  • O combate é meio simplista, mesmo com as cartas
  • O jogo conta com muitas limitações
  • A história é uma verdadeira viagem
  • Poderia ser mais polido no geral
  • Título nos deixa com uma sensação de que "falta algo"

Álvaro Saluan

Historiador e cientista social de formação, é completamente apaixonado por videogames e escreve sobre o tema há uns bons anos. Vê os jogos para além do entretenimento, considerando todo o processo como uma grande e diversificada arte.