Lies of P | Review

Lies of P é um soulslike que apresenta a proposta de entregar uma jornada desafiadora em um mundo de fantasia sombrio. O título usa como base de sua narrativa o conto infantil do Pinóquio, sendo que o game apresenta uma versão mais obscura deste clássico da literatura. O personagem já teve várias adaptações ao decorrer dos anos, principalmente nas telas do cinema, sendo a mais recente o filme dirigido pelo renomado diretor Guilherme Del Toro, em 2022.

Mas, além da inspiração nesta história infantil, o jogo também apresenta uma forte influência de jogos da FromSoftware, principalmente Bloodborne e Dark Souls. Assim sendo, em um mercado cada vez mais recheado de games do gênero souls, será que Lies of P consegue entregar algo único e realmente se destacar? Confira agora em mais uma review antecipada do Pizza Fria!

Um novo Bloodborne?

Lies of P desde o seu anúncio, intrigou os fãs com a sua atmosfera sombria e a promessa de entregar uma versão obscura da história do Pinóquio. Após vários trailers, alguns meses atrás o jogo recebeu uma demo no PC e pude ter meu primeiro contato com o game. Naquela época, mesmo tendo uma versão limitada para testar, já ficou claro que Lies of P apresenta fortes inspirações no clássico da FromSoftware, principalmente em relação a sua gameplay mais agressiva e atmosfera inspirada em obras vitorianas, mas com um toque mais sombrio.

Com está semelhança em mente, muitos fãs que até hoje esperam ansiosamente o lançamento de Bloodborne no PC ficaram ansiosos com o lançamento de Lies of P, justamente por ter um gostinho do que aquele game um dia fez todos nós sentirmos. Infelizmente, está semelhança acaba sendo um tropeço para a aventura do garoto mentiroso.

Lies of P
Para os jogadores veteranos no gênero, a forte insistência de Lies of P em se manter muito semelhante a outros títulos e a falta de algo original pode incomodar. (Imagem: Divulgação)

Pois, a partir do momento que temos um game que tenta ser muito similar a outro grande sucesso e não apresenta muitos elementos únicos, as comparações se tornam inevitáveis e isto rapidamente demonstra as fragilidades da obra, justamente por ela representar uma emulação imperfeita de outro título aclamado. Embora possa parecer que estou exagerando nesta comparação, na medida que eu progredir na análise, ficará claro a minha linha de pensamento, pois o novo game desenvolvido pela NeoWiz sabe muito bem os aspectos que eles tentam emular em relação a Dark Souls e Bloodborne e alguns deles funcionam e outros não. Portanto, vamos entender onde toda está narrativa começa.

A criação dos Titere

No mundo de Lies of P, os humanos encontraram uma essência poderosa que, após manipulada, poderia ser usada como energia. Assim, o inventor Geppetto criou uma série de bonecos robóticos que foram usados como auxílio para as pessoas. A tecnologia e as maquinas evoluiram de uma forma impressionante, algo que me lembrou até um pouco Fallout, entretanto, um dia as coisas acabam dando errado e estes robôs se tornam corrompidos e começam a atacar os seus mestres. Isto causa uma grande destruição que faz com que Geppetto desapareça e as pessoas da cidade de Krat entrem em desespero.

Lies of P
A busca pelo seu criador levará Pinóquio até os cantos mais sombrios de Krat. (Imagem: Divulgação)

Depois de um tempo, a mais recente criação do inventor, Pinóquio desperta e tem o principal objetivo de encontrar o seu criador e descobrir o seu papel neste mundo. Pelo caminho, ele terá que lidar com vários robôs corrompidos, criaturas mecânicas gigantescas e claro, também com o auxílio de NPCs que terão como objetivo guiar o garoto nesta jornada.

A história é contada pela ambientação e documentos

A narrativa de Lies of P segue a clássica forma de storytelling presente em jogos soulslike. A maior parte dos acontecimentos daquele mundo é contado através de documentos de texto que podemos encontrar espalhados pela cidade e também conversando com NPCs. O jogo apresenta uma área de hub na qual é possível conversamos com vários personagens daquele mundo. Além de dicas valiosas, eles também irão fornecer algumas informações sobre o passado deles e da cidade, entretanto, nada muito elaborado.

O título até tenta dar um ar de suspense e transmitir um ar poético para os diálogos, mas de forma geral, este elemento acaba não funcionando como deveria e apenas serve para disfarçar a superficialidade da história. O game ainda apresenta um sistema de verdade e mentira e podemos tomar estas decisões para mudar alguns rumos da campanha. Outra vez, é um sistema que acaba sendo muito superficial e decepcionante.

Lies of P
Faltou elementos mais originais na trama. (Imagem: Divulgação)

Por exemplo, no hotel de Krat, podemos conversar com uma senhora de cadeiras de rodas que sempre estará localizada na frente de um quadro refletindo sobre o passado. O game dá a entender que em alguma parte da história teremos uma longa e poética conversa sobre o assunto, mas isto nunca acontece. E isto é algo que ocorre várias vezes durante a narrativa, deixando no ar certos pedaços da história e perdendo a oportunidade de tornar a trama mais interessante.

Entretanto, um ponto que o game acerta é ao contar fatos do mundo por meio da própria ambientação. Durante a exploração, encontramos documentos de texto e cartazes espalhados pelo cenário que contam de uma forma subjetiva alguns dos acontecimentos da cidade de Krat. Assim sendo, aos poucos, podemos ir montando na nossa cabeça o que levou aquela região a ficar tão decadente.

O game também tenta expandir a narrativa por meio de missões secundarias. Mas este fator acaba não sendo muito eficaz, já que os diálogos são simples e os objetivos que devemos realizar são bem básicos. A maioria deles incluem irmos em determinado local do mapa, coletarmos um objeto e trazermos de volta. No começo é até legal, mas logo se torna algo repetitivo.

Lies of P é soulslike no very easy

Em Lies of P, o protagonista pode andar, correr, atacar usando espadas leves e pesadas, esquivar e até mesmo realizar ataques especiais usando o seu braço mecânico. Logo no começo do jogo, podemos escolher qual será nosso estilo de combate, focando em ataques mais agressivos ou até mesmo uma abordagem mais defensiva. Entretanto, quando a aventura começa, alguns aspectos da gameplay acabaram me incomodando.

Primeiramente, Lies of P é um game muito fácil. Lembram de toda a discussão se Dark Souls deveria ter easy mode? Bom, agora ele existe. E claro, isto não seria um problema, mas o jogo acaba se tornando uma experiência inconstante por causa desse fator, pois, não temos aquele sentimento de progressão ao superarmos desafios durante a aventura.

Lies of P
Lies of P é um soulslike fácil demais e isto acaba prejudicando a experiência dos jogadores que buscam algo mais desafiador. (Imagem: Divulgação)

Na campanha, teremos que enfrentar vários robôs corrompidos, e embora inicialmente o combate contra eles seja interessante, podemos atacar com ataques leves e pesados, tacar bombas, desviar e afins, mas logo uma coisa fica perceptível… os confrontos não são tão desafiadores quanto eles aparentam ser. Pois, é muito fácil “quebrar” os combates no jogo, simplesmente desviando dos ataques e realizando um golpe finalizador por trás. E sim, eu sei que este golpe também existe em outros jogos do gênero, só que o problema aqui é que está mecânica acaba quebrando totalmente o desafio presente nas lutas.

Outro aspecto que o jogador deve ficar atento no game é que as armas gastam na medida que a usamos. Portanto, elas vão causando cada vez menos dano, sendo preciso usarmos em tempo real um item que restaura o poder dela. Embora inicialmente está mecânica pareça um ponto de atenção, durante os confrontos em si isto não serve de muita coisa.

As espadas demoram bastante tempo para se degastarem e quando usamos o item, ela recupera a força rapidamente. Acredito que este aspecto poderia ser melhor balanceado, pois este fator apenas já seria o suficiente para tornar a experiência desafiadora, algo que está em falta no jogo. Outro ponto de destaque é que existem duas barras de ataques especiais que enchem na medida que atacamos os inimigos e quando elas chegam no máximo, podemos realizar um ataque especial.

Lies of P
O protagonista possui vários ataques especiais que servem como uma grande vantagem em lutas contra chefes. (Imagem: Divulgação)

Embora Lies of P apresente várias opções durante os confrontos, os inimigos morrem muito rápido mesmo com o protagonista no nível mais baixo e o título entrega poucos desafios para manter o jogador engajado. Outro aspecto que torna a aventura ainda mais fácil, é o alto número de “fogueiras” de checkpoint. Praticamente em cada esquina do mapa temos uma e elas são sempre próximas das áreas na qual lutamos contra chefes. Este elemento acaba tirando aquele sentimento de exploração e farming até o boss, que é um aspecto tão marcante neste gênero.

Progressão de personagem

Em Lies of P, na medida que matamos inimigos e derrotamos chefes, coletamos pontos que se assemelham as souls de outros jogos do gênero e de maneira semelhante, podemos usar estes pontos para tornar o garoto mais forte. Para isto, devemos ir até o hotel de Krat e falar com uma personagem presente lá. Logo, podemos aumentar o HP, stamina, força e até mesmo energia para podermos realizar mais ataques especiais.

Além disso, neste local também encontramos uma ferreira na qual é possível tornarmos as nossas espadas mais fortes. Mas, para melhorarmos isto, temos que encontrar um item especifico que fica espalhado pelo mapa e é necessário pontos suficientes. Entretanto, é bem simples de encontrar, basta sempre explorar os ambientes antes de avançar para o próximo cenário que sempre terá um ou dois destes itens.

Na medida que tornamos Pinóquio mais forte, os confrontos se tornam ainda menos interessantes. Na minha jornada, priorizei turbinar a vida do protagonista e a após alguns poucos upgrades, praticamente quase não morri mais durante a jornada, com algumas mortes ocasionais em chefes apenas. Outro aspecto vital no jogo é o braço mecânico do protagonista. Inicialmente temos acesso a um gancho que podemos usar para puxar os inimigos, entretanto, na medida que avançamos é possível liberarmos mais opções, como um braço elétrico ou até mesmo de fogo. Cada um destes braços será útil dependendo do ambiente que os players estiverem explorando.

Por exemplo, em determinado segmento iremos para uma fábrica e enfrentaremos vários inimigos a curto alcance. Portanto, é mais vantajoso usarmos o braço elétrico, pois, ele causa grande dano num curto range e atordoa os inimigos. É interessante que a desenvolvedora teve esse cuidado para cada situação que enfrentamos pode ser contornada de maneira mais inteligente se soubermos usar os itens equipados, uma pena que é difícil termos o sentimento de superar o desafio devido à baixa dificuldade.

Elementos souls que funcionam e outros que nem tanto

Lies of P é um caso interessante para um jogador que já zerou muitos soulslike. O grande sentimento que tive jogando o jogo é que ele usa muitos dos acertos presentes em outros jogos e ao mesmo tempo comete os mesmos erros. Por exemplo, um grande problema presente em títulos que seguem a mesma linha é o aspecto da esquiva.

Principalmente em títulos mais antigos, desviar dos ataques dos inimigos nem sempre funciona e o personagem acaba levando dano mesmo estando distante do inimigo. Isto acontece muito em Lies of P, principalmente durante lutas contra chefes. A desenvolvedora chegou a afirmar recentemente que aprimorou este aspecto da esquiva, e realmente sinto que está melhor em comparação a demo, mas longe do ideal.

Agora um aspecto que funciona muito bem são os atalhos que podemos liberar no mapa. Sempre que chegamos em um local novo, teremos uma porta fechada que na medida que avançamos, podemos libera-la e usar como atalho para termos uma locomoção mais rápida e claro, podermos ir e vir para darmos upgrade no Pinóquio, sendo que vale mencionar que o game também apresenta fast travel entre pontos que já descobrimos.

Lies of P
Alguns aspectos clássicos do gênero soulslike funcionam e outros nem tanto. (Imagem: Divulgação)

Entretanto, um aspecto meio nickping mas que me desagradou, foi que sempre que o protagonista morre para um chefe, as “almas” dropam na porta da luta contra o boss. E eu não gosto disso, já que tira totalmente o sentimento de adrenalina e perigo que teríamos se precisássemos coletar os pontos perdidos enquanto evitamos ataques da criatura. Vale lembrar também que o game apresenta um sistema que permite invocarmos um espirito para lutar ao nosso lado contra um boss, tornando as lutas very super ultra easy. Entretanto, precisamos de um item para isto e ele é limitado, o que acaba dando um certo balanceamento para que o jogador decida com sabedoria quando usar.

As lutas contra chefes poderiam ser mais…

Lies of P apresenta uma boa quantidade de lutas contra chefes. Na medida que exploramos os bairros de Krat, em algum momento iremos nos deparar com um grande chefe mecânico que precisa ser derrotado para avançarmos para a próxima região. O título entrega uma boa variação visual neste quesito, sendo que cada um dos bosses é único e visualmente impressionante.

Principalmente na cinemática de apresentação, foi feito um excelente trabalho para introduzir um ar de superioridade nestas criaturas. Entretanto, o game acaba decepcionando na variedade de golpes que estes monstros robóticos apresentam. É bem fácil entender o ritmo de ataques de cada um destes robôs e contra atacar cada um deles usando as habilidades de Pinóquio. Porém, mesmo com está ausência de desafio, as lutas são uma das partes mais interessantes do jogo, principalmente porque os locais que os combates são realizados marcam bastante durante a campanha.

Trilha sonora

As trilhas são um aspecto de grande destaque em Lies of P. O game sabe muito bem usar músicas com um tom de música clássica para criar uma ambientação opressiva e obscura durante o game. Além disso, as lutas contra os chefes sempre apresentam faixas únicas e marcantes, tornando estes confrontos ainda mais épicos.

Gráficos e desempenho

Lies of P apresenta visuais impressionantes. O game é fortemente inspirado em Bloodborne e entrega uma atmosfera vitoriana e obscura que foi corrompida pela rebeldia da criação de Geppetto. Além disso, o jogo acerta ao apresentar uma grande variedade de ambientes, todos com objetos que lembram bastante obras de arte renascentistas, dando uma energia quase que mística para a atmosfera.

Somado à isso, as ruas da cidade são escuras e sempre com uma nevoa deixando a ambientação ainda mais ameaçadora, tornando a exploração por estes locais algo impressionante. Também existem vários períodos do dia no game, as vezes está de manhã, chovendo, de noite… e por mais que tenhamos está variação, o game sempre encontra formas de tornar a ambientação bela e sombria.

Lies of P
A ambientação vitoriana e sombria é um dos grandes acertos de Lies of P. (Imagem: Divulgação)

Minha experiência foi no PlayStation 5. O game apresenta dois modos gráficos: Qualidade e Desempenho. No modo qualidade temos uma resolução 4K dinâmica e uma maior riqueza de detalhes visuais, mas 30 FPS. Já no modo desempenho, a resolução é mais baixa e o título roda em 60 FPS. Ambos os modos funcionam muito bem, sendo que a maior parte da minha jornada foi no modo desempenho e não tive problemas envolvendo quedas de frames.

Além disso, encontrei poucos bugs durante a campanha, sendo que o único que aparecia uma vez ou outra eram inimigos simplesmente parados que não reagiam mesmo se eu chegasse perto deles. Tirando isto, tudo rodou de forma fluida, os loadings são rápidos e não tive nenhum travamento.

Vale a pena comprar Lies of P ?

Lies of P é um game que segue a “receita de bolo” do soulslike à risca. O jogo apresenta uma jornada que fica muito no seguro emulando os aspectos mais conhecidos e de destaque do gênero e se recusa a ousar e apresentar algo original. A ambientação embora seja belíssima e atmosférica, não apresenta algo muito original, principalmente se compararmos com outros games que entregam uma atmosfera semelhante. Além disso, a história poderia ser um elemento de destaque se apresentasse elementos mais únicos e que tornassem o game algo marcante, situação está que infelizmente não acontece.

Para os jogadores de primeira viagem, o título pode funcionar, principalmente por ele ser mais acessível no quesito dificuldade. Porém, para os jogadores que gostam de serem desafiados e terem uma verdadeira sensação de progressão com aprendizado das mecânicas do jogo, Lies of P pode decepcionar.

Lies of P foi desenvolvido pela NeoWiz e chega no dia 19 de setembro, com versões para Xbox One, Xbox Series X|SPlayStation 4, PlayStation 5 e PC, via Steam.

*Review elaborada no PlayStation 5, com código fornecido pela NeoWiz.

Lies of P

+ R$ 299,90
7.3

História

7.0/10

Gameplay

7.0/10

Gráficos e Sons

10.0/10

Inovação

5.0/10

Prós

  • A ambientação e atmosfera é muito boa
  • O game apresenta inimigos e chefes visualmente impressionantes
  • A trilha sonora é excelente e torna a atmosfera do game ainda mais sombria e melancólica
  • Legendas em PT-BR

Contras

  • O game apresenta pouco conteúdo original e segue a risca a "receita de bolo" do souls like
  • A história é desinteressante e com poucos momentos marcantes
  • O nivel de dificuldade é muito baixo para um jogo do genêro
  • A progressão de personagem poderia ser melhor

Leandro Paiva

Um estudante de jornalismo e o primeiro estagiário do site. Degustador nato de coxinha e pizza fria com ketchup. Amante de RPG, principalmente aqueles em que é possível pescar em vez de fazer a missão principal. Piadista em tempo integral e um grande degustador de café. Defensor de Birds of Prey e da DC em geral nas horas vagas.