Little Orpheus | Review

Little Orpheus é um jogo lançado em 2020 para o Apple Arcade, sistema de assinatura de jogos voltados para o ecossistema de dispositivos da Maçã. Embora tenha sido um título extremamente exclusivo, o game faturou alguns prêmios importantes da indústria, como o de melhor jogo casual no TIGA Awards, e ainda mantém uma média regular no Metacritic, de 71 pontos.

Seja pelas indicações ou prêmios recebidos, Little Orpheus se mostrou grande o suficiente aos olhos da equipe da The Chinese Room para dar um salto maior, e ser lançado para outras plataformas. O game chegaria nesta terça, 1º de março, para consoles e PC, mas foi adiado por tempo indeterminado em função dos conflitos recentes envolvendo a Rússia e a Ucrânia. Mesmo assim, antes de tudo acontecer, tivemos acesso antecipado à versão do game que chegará ao público e contarei tudo para você agora, em mais uma análise antecipada do Pizza Fria!

Uma história inacreditável

Veja bem, caro leitor. A vida é feita de imensas singularidades. Eu, por exemplo, tenho um amigo chamado João Paulo. Praticamente todas as vezes que nosso grupo se reúne para tomar uma, o Jampa vai ter alguma história para contar. E por que eu tô falando dele aqui, e não do camarada Ivan Ivanovich, protagonista de Little Orpheus? Porque o João tem a história d”O Golfinho e o Camarão”, que eu sou muito curioso para conhecer o final, e acaba que esse momento nunca chegou. Coisas da vida. Se jogos não tivessem o aviso de que “é uma obra de ficção qualquer semelhança é mera coincidência”, eu poderia acreditar que as histórias são as mesmas, tamanha a incredulidade dos relatos.

Mas chega de divagações. Vamos aos fatos! O ano é 1962 e a NASA quer levar um homem à Lua. Mas estamos no meio da Guerra Fria e a URSS, é claro, não vai ficar pra trás. Enquanto os americanos pensam em ir para fora da Terra, nós, soviéticos, decidimos que o melhor caminho é explorar as profundezas do nosso planeta. Então, temos um encontro marcado no Centro da Terra.

Little Orpheus
Um T-Rex e um cosmonauta, como toda boa história tem que ter (Imagem: Divulgação)

Assim, em uma remota região da Sibéria, Ivan Ivanovich embarcou em um foguete de perfuração carregando Little Orpheus, uma cápsula de energia atômica, rumo ao objetivo principal. Seu destino é um vulcão adormecido em que nosso camarada entrou e desapareceu. Três anos depois, Ivan reaparece e diz ter salvo o mundo. Tamanha bravura não passaria despercebida, camarada! Mas é preciso de convencimento.

Assim começa a saga de Ivan Ivanovich. Ao melhor estilo de uma série de comédia pastelão dos anos 60, nosso herói é interrogado por um general soviético cheio de bravatas, pois, afinal, como explicar alguém que fica desparecido três anos no centro da Terra e reaparece sem Little Orpheus? A poderosa bomba caiu nas mãos dos nossos inimigos ou explodiu? Ivan é um traidor que merece ser fuzilado? O que aconteceu nesse período? Essas e outras perguntas são respondidas ao longo de cerca de 3h30 de gameplay, acompanhados de uma boa dose de humor, com dublagem em inglês imitando soviéticos. Poético.

Little Orpheus
O centro da Terra é um lugar curioso (Imagem: Divulgação)

Da telinha pra telona

Little Orpheus foi inicialmente projetado como um game mobile, e mesmo portado para outras plataformas, essas características não deixam de aparecer. É claramente um jogo para celulares, seja em escopo ou gameplay, que ganhou uma oportunidade fora do seu ‘habitat’: tudo é feito para que os jogadores não enjoem da experiência com rapidez.

Os gráficos são simples, porém, agradáveis o suficiente para cumprirem a proposta do jogo. Little Orpheus conta com 8 episódios principais, e um bônus, cada um com uma fase, e a trilha sonora é bem adequado para eles. Os estágios são todos em 2D, com rolagem lateral, mas completamente diferentes, e salvo um elemento de gameplay aqui e acolá, são bem variadas em sua essência. Seja explorando uma floresta tropical com um T-Rex te perseguindo e pterodáctilos roubando a sua bomba, ou seja navegando pelo estômago de uma baleia, há muita criatividade aqui.

Little Orpheus
Laika teve um destino bem melhor, segundo Ivan Ivanovich (Imagem: Divulgação)

Para ultrapassar os níveis, o jogo nos mostra mais uma prova de que foi uma adaptação mobile: além do analógico esquerdo, usado para movimentação, temos apenas três botões disponíveis: quadrado, para interagir com objetos, X para pular e O para agachar/rolar. Little Orpheus apresenta uma única cena de combate, e é em seu nível bônus. Toda a história principal é focada em elementos de plataforma e resolução de puzzles simples, que oferecem desafios muito pequenos, além de alguns Quick Time Events.

Os puzzles, ao contrário das fases, são repetidos em demasia. Basicamente temos que ultrapassar determinadas partes do nível sem ser visto por monstros, ativar plataformas colocando bolas no lugar certo ou mover uma caixa para acessar um lugar mais alto. Esses artifícios são usados em praticamente todos os ambientes do game. Acaba que, após os primeiros três episódios, o título fica extremamente fácil, e ao menos por mim, passou a ser jogado apenas para saber como a história terminaria.

Little Orpheus
Por Marx! Como um barquinho e uma lâmpada, ainda acesa, vieram parar no estômago de uma baleia? (Imagem: Divulgação)

Soma-se a isso o fato de que tive alguns problemas responsivos no controle. Usar o botão de interação, em alguns momentos, foi na base da sorte. Hora funcionava, hora não. Tive algumas falhas em cenas de perseguições, em que os botões de saltar e agachar/rolar também deram problema e foi preciso reiniciar do checkpoint mais próximo. Foi um pouco frustrante, mas não chegou a ser um grande problema porque Little Orpheus é curto, e há muitos checkpoints nas fases. Eu levei, em média, 20 minutos para terminar cada episódio. Após terminá-los, você pode revisitá-los em busca de colecionáveis e skins, o que gera algum fator replay.

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Talvez eu possa contrabalancear o meu peso com o dessa morsa gigante apenas dando um passo para trás (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Little Orpheus?

Bom, e é isso. Little Orpheus é um jogo com escopo pequeno, curto, mas que oferece diversão. Ele também é bem construído: os gráficos são simples, porém funcionais, e foram bem expandidos para telas maiores. O trabalho sonoro também é criativo, seja com a trilha, que acompanha bem as fases, seja com uma boa e divertida dublagem. O gameplay tem problemas por ter puzzles repetidos, pouca inovação, mas a real diferença entre os estágios, somado ao fato de ser uma experiência curta, não o torna uma experiência cansativa. Ele pode facilmente ser jogado em momentos onde não há muito tempo disponível, e você pode se divertir com isso.

Ao terminar o jogo, a sensação que fiquei é que nosso camarada Ivan Ivanovich é bem criativo, mas talvez ele pudesse passar aqui e pegar umas aulas com meu amigo Jampa. Afinal, a história de Little Orpheus chegou ao fim, mas a d”O Golfinho e do Camarão” ainda é uma incógnita pra mim.

Little Orpheus já está disponível para assinantes Apple Arcade no iPhone, iPad, Mac e Apple TV. O título terá versões para PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch e PC, via Steam e Epic Games Store, porém, foi adiado por tempo indeterminado devido aos acontecimentos recentes envolvendo a Rússia e a Ucrânia.

*Review elaborada em um PlayStation 5, com código fornecido pela Secret Mode.

Little Orpheus

US$ 12,99
6.8

História

8.0/10

Gráficos e Sons

8.0/10

Gameplay

5.0/10

Extras

6.0/10

Prós

  • História divertida
  • Trilha sonora premiada
  • Bom visual
  • Legendado em PT-BR

Contras

  • Gameplay muito simples
  • Pouco desafio nos puzzles
  • Controles pouco responsivos

Lucas Soares

Jornalista e fã de videogames desde criança. Já teve Mega Drive, Game Boy Color, PS1, PS2, PS3, PS4, PSVR, PS Vita, Nintendo 3DS e agora tem "só" um PS5, um Nintendo Switch e um PC Gamer. Para ele, o melhor jogo da história é Chrono Trigger, mas Metal Gear Solid 3, Final Fantasy X, The Last of Us Part II e Red Dead Redemption 2 completam o Top-5.